terça-feira, 29 de março de 2016

31/03/2016




O SENHOR ABRE NOSSA INTELIGÊNCIA  ONDE SEU NOME É ASSUNTO DA CONVERSA


Quinta-Feira da I Semana da Páscoa


Primeira Leitura: At 3,11-26


Naqueles dias, 11 como o paralítico não deixava mais Pedro e João, todo o povo, assombrado, foi correndo para junto deles, no chamado “Pórtico de Salomão”.  12 Ao ver isso, Pedro dirigiu-se ao povo: “Israelitas, por que vos espantais com o que aconteceu? Por que ficais olhando para nós, como se tivéssemos feito este homem andar com nosso próprio poder ou piedade? 13 O Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó, o Deus de nossos antepassados glorificou o seu servo Jesus. Vós o entregastes e o rejeitastes diante de Pilatos, que estava decidido a soltá-lo.  14 Vós rejeitastes o Santo e o Justo, e pedistes a libertação para um assassino. 15 Vós matastes o autor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos, e disso nós somos testemunhas. 16 Graças à fé no nome de Jesus, este Nome acaba de fortalecer este homem que vedes e reconheceis. A fé que vem por meio de Jesus lhe deu perfeita saúde na presença de todos vós. 17 E agora, meus irmãos, eu sei que vós agistes por ignorância, assim como vossos chefes. 18 Deus, porém, cumpriu desse modo o que havia anunciado pela boca de todos os profetas: que o seu Cristo haveria de sofrer. 19 Arrependei-vos, portanto, e convertei-vos, para que vossos pecados sejam perdoados. 20 Assim podereis alcançar o tempo do repouso que vem do Senhor. E ele enviará Jesus, o Cristo, que vos foi destinado. 21 No entanto, é necessário que o céu o receba, até que se cumpra o tempo da restauração de todas as coisas, conforme disse Deus, nos tempos passados, pela boca de seus santos profetas. 22 Com efeito, Moisés afirmou: ‘O Senhor Deus fará surgir, entre vossos irmãos, um profeta como eu. Escutai tudo o que ele vos disser. 23 Quem não der ouvidos a esse profeta, será eliminado do meio do povo’. 24 E todos os profetas que falaram, desde Samuel e seus sucessores, também eles anunciaram estes dias. 25 Vós sois filhos dos profetas e da aliança, que Deus fez com vossos pais, quando disse a Abraão: ‘Através da tua descendência serão abençoadas todas as famílias da terra’. 26 Após ter ressuscitado o seu servo, Deus o enviou em primeiro lugar a vós, para vos abençoar, na medida em que cada um se converta de suas maldades”.


Evangelho: Lc 24,35-48


Naquele tempo, 35os discípulos contaram o que tinha acontecido no caminho, e como tinham reconhecido Jesus ao partir o pão. 36Ainda estavam falando, quando o próprio Jesus apareceu no meio deles e lhes disse: “A paz esteja convosco!” 37Eles ficaram assustados e cheios de medo, pensando que estavam vendo um fantasma. 38Mas Jesus disse: “Por que estais preocupados, e por que tendes dúvidas no coração? 39Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo! Tocai em mim e vede! Um fantasma não tem carne, nem ossos, como estais vendo que eu tenho”. 40E dizendo isso, Jesus mostrou-lhes as mãos e os pés. 41Mas eles ainda não podiam acreditar, porque estavam muito alegres e surpresos. Então Jesus disse: “Tendes aqui alguma coisa para comer?” 42Deram-lhe um pedaço de peixe assado. 43Ele o tomou e comeu diante deles. 44Depois disse-lhes: “São estas as coisas que vos falei quando ainda estava convosco: era preciso que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”. 45Então Jesus abriu a inteligência dos discípulos para entenderem as Escrituras, 46e lhes disse: “Assim está escrito: o Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia 47e no seu nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. 48Vós sereis testemunhas de tudo isso”.
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O Senhor Quer Salvar As Pessoas Ao Nosso Redor Através de Nós


Israelitas, por que vos espantais com o que aconteceu? Por que ficais olhando para nós, como se tivéssemos feito este homem andar com nosso próprio poder ou piedade?... Graças à fé no nome de Jesus, este Nome acaba de fortalecer este homem que vedes e reconheceis”, disse Pedro no seu discurso para os judeus.


No seu discurso, Pedro sempre aparece falando em nome do grupo dos apóstolos. No texto de hoje, Pedro se sabe e se reconhece pecador. Não faz muito tempo que ele negou Jesus como seu Mestre (cf. Lc 22,34.54-62). O acontecimento é recente. Pedro reconhece ser um pecador, nem mais piedoso, nem mais santo que qualquer outro. Por isso, com toda sua humildade Pedro reconhece que o poder para curar o paralitico não é seu, mas procede de Cristo. Ele exerce sua missão com muita humildade e se mantém humilde.


Pedro nos ensina a termos consciência de nossos limites e das responsabilidades que nos vem de Deus. É deixar passar através de nossa vida os benefícios que Deus quer fazer, por meio de nós, para tantos irmãos que sofrem. Isto é ministério. E os ministérios são muito e variados na Igreja do Senhor.


O homem que não andava jamais em toda sua vida e que agora passa a andar subitamente pelo poder de Jesus é símbolo da humanidade salva pela ressurreição do Senhor. A ressurreição é uma potência de vida, de alegria e de exaltação. É preciso que acreditemos na força da ressurreição do Senhor, pois ela venceremos tudo na vida. A verdadeira paralisia é a incapacidade de reagir apesar da força que temos dentro de nós.


Jesus Nos Traz Shalom Como Presente De Sua Ressurreição


A cena do texto do evangelho lido neste dia é a continuação da cena do evangelho do dia anterior. O relato começa com o testemunho dos discípulos de Emaús, isto é, aqueles que em sua trajetória viveram a experiência pessoal do encontro com o Senhor ressuscitado no caminho e na fração do pão. É a experiência que enche seus corações e os impulsiona a anunciarem ou contarem a grande noticia de que Jesus vive e vive realmente.      


Durante a partilha dessa experiência, Jesus aparece no meio deles e os saúda com o Shalom (paz): “A paz esteja convosco!”. Shalom é um termo que expressa a harmonia entre o homem e Deus, entre as pessoas, entre as pessoas com a natureza e a harmonia dentro da própria pessoa. Por isso, Shalom é o paraíso aqui na terra.


Em que consiste a paz ou melhor dizer o shalom que Jesus nos oferece? A paz que o Senhor ressuscitado nos oferece não consiste na tranqüilidade que se sente quando um está plácido e comodamente está sentado ou vive sem que ninguém ou nada o incomode. A paz de Cristo ressuscitado que nos oferece consiste em saber que somos amados, protegidos e compreendidos por Deus. Trata-se de uma relação harmoniosa com Deus, com o próximo, consigo próprio, e com a natureza. Quando cada elemento ocupa seu próprio lugar e desempenha seu próprio papel responsavelmente, haverá a paz. Os discípulos recebem o shalom do ressuscitado. Mas receber a paz de Deus não é suficiente. É preciso viver o shalom, isto é, viver em harmonia com todos. A harmonia sempre cria uma beleza. As cores que se colocam harmoniosamente nos apresentam uma beleza admirável. Dizia Santo Agostinho: “Não basta ser pacifico. É necessário ser promotor da paz. Não basta estar disposto a perdoar ou ignorar os inimigos, é preciso amá-los e ter compaixão... Deves amar a paz sem odiar os que fazem a guerra” (Serm. 357,1).


A paz esteja convosco!”. “Uma saudação que ressoava no Natal: ‘Paz na terra’ [Lc 2,14]. Uma saudação bíblica já anunciada como promessa efetiva do reino messiânico. Mas agora é comunicada como uma realidade que toma corpo neste primeiro núcleo da Igreja nascente: a paz de Cristo vitorioso sobre a morte e das causas próximas e remotas dos efeitos terríveis e desconhecidos da morte.... A paz do coração é a felicidade autêntica. Ajuda a ser forte na adversidade, mantém a nobreza e a liberdade da pessoa, inclusive nas situações mais graves; é a tábua de salvação, a esperança nos momentos em que o desespero parece nos vencer... É o primeiro dom do Ressuscitado, o sacramento de perdão que ressuscita” (Paulo VI) .


Na Eucaristia o Senhor se faz presente entre nós para nos manifestar todo o amor que ele nos tem. A partir desse amor é que Ele nos concede seu perdão e sua paz. Ao participar da Eucaristia, nós devemos nos sentir amados por ele. Por isso, a participação na Eucaristia nos compromete a darmos testemunho da vida nova que Deus infundiu em nós. Devemos, portanto, ser construtores da paz. Trata-se de uma paz que brota do amor sincero que nos faça próximos do nosso próximo em suas angustias e esperanças, como Jesus que aparece, repentinamente, no meio dos discípulos.


Depois da ressurreição Jesus apareceu no meio dos discípulos que estavam com o medo. Mas sem duvida nenhuma, o assunto entre eles era sobre Jesus. E Jesus tinha prometido aos discípulos: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou Eu no meio deles” (Mt 18,20). Cada conversa sobre Jesus e assuntos ligados a ele, Jesus está presente para dar o shalom, a paz e para acalmar qualquer situação por fervente que ela pareça ser. Ele está presente para dar ajuda em cada conversa sobre ele e sobre os seus ensinamentos. Jesus aparece no momento em que a experiência individual começa a ser coletiva, comunitária em Jesus, sem destruir a experiência pessoal/individual. O Ressuscitado é a força que interpela à comunidade e é experiência de unidade. Por isso, desta vez, Jesus é reconhecido na comunidade reunida em Seu nome.


A dúvida e o medo dos discípulos são evidentes, como em todas as aparições do Ressuscitado. E Jesus tem que acalmá-los: “Por que estais preocupados e por que tendes dúvidas no coração?”. Para acabar com a dúvida dos discípulos Jesus come com eles. Mas a comunidade deve ter algo para oferecer a Jesus, é algo que os alimenta diariamente: o peixe: “Tendes aqui alguma coisa para comer?”, pergunta-lhe Jesus. “Deram-lhe um pedaço de peixe assado”, comenta o evangelista Lucas. Será que temos algo a oferecer a Jesus ou somente pedimos algo de Jesus? O que devemos oferecer a Jesus é aquilo que nos sustenta e dignifica diariamente. A partir daquilo que oferecemos a Jesus é que podemos alimentar a multidão faminta de tudo.


O fruto da presença de Jesus no meio dos discípulos que conversam sobre ele é a abertura do entendimento, o horizonte ampliado sobre a vida: “Jesus abriu a inteligência dos discípulos para entenderem as Escrituras”, assim comenta o evangelista Lucas. A inteligência  nos capacita a resolvermos os problemas, pois a       inteligência é o conjunto de funções psíquicas e psicofisiológicas que contribuem para o conhecimento, para a compreensão da natureza das coisas e do significado dos fatos. Estar aberto a Deus e conversar com Deus permanentemente nos leva a compreendermos tudo na nossa vida, pois o próprio Deus abrirá nossa inteligência.


Nós podemos também reconhecer Jesus na fração do pão eucarístico, na Palavra bíblica proclamada, meditada e partilhada, e na comunidade reunida em Seu nome partilhando o que se tem para quem é carente em tudo. Nós necessitamos, como a primeira comunidade, de uma catequese especial para que seja aberto nosso entendimento a fim de entendermos a vida e as coisas que acontecem nela, pois nada escapa do olhar de Deus quando deixamos que ele tenha espaço nas nossas conversas e quando seu lugar está bem no meio de nós. Em cada Eucaristia ele aparece no meio de nós e é o principal alimento no qual se encontra a força necessária para nossa vida. Ao se alimentar da Eucaristia, cada um deve se converter em força para os outros, especialmente para aqueles que não têm mais ânimo para lutar, pois estão céticos em tudo e sobre tudo na vida. Estas pessoas precisam escutar novamente a promessa infalível de Jesus: “No mundo vocês terão tribulações, mas tenha coragem: eu venci o mundo” (Jo 16,33b). Cada cristão deve se converter nesta frase: “Não tenha medo! Jesus venceu o mundo”. O cristão é aquele que acalma e serena os outros, pois ele sabe que está sempre com o Jesus ressuscitado.


Com os olhos da fé na Fração do Pão e na força de sua Palavra é que saiamos da celebração para dar testemunho de Cristo na vida. Aos Apóstolos, a ultima palavra que lhes dirige é esta: “Vós sereis testemunhas de tudo isso”. Desde princípio, ser apóstolo é ser testemunha da ressurreição de Jesus Cristo (At 1,22). Ser cristão é ser testemunha de que viver a vida com Deus e com todas as suas conseqüências é uma vida vitoriosa, uma vida que não termina na morte, e sim na ressurreição com Jesus. Deus pode tardar, mas nunca falha. Atrás da cruz de Jesus está a vida sem fim. Precisamos ter um olhar penetrante além dos sentidos para entender o recado de Deus.


NÃO VÁS EMBORA, SENHOR
Rabindranath Tagore


“Se a porta de meu coração estiver fechada, ó Senhor, arromba-a e entra em minha alma. Não vás embora, ó Senhor!


Se algum dia nas cordas do alaúde, não ressoar teu doce nome, por piedade, espera um pouco, não vás embora, ó Senhor!


Se alguma vez tua voz não romper meu sono profundo, acorda-me com rumor do trovão, não vás embora, ó Senhor!


Se algum dia, em teu trono, eu preferir sentar outro, ó Rei de todos os meus dias, não vás embora, ó Senhor!”


“Faz tua esta minha casa e acende nela a tua lâmpada. Enche-a com a tua luz: ganharão valor também os sofrimentos.


Sejam dissipadas as trevas dos ângulos mais secretos, e, estabelecida a tua luz bendita, que eu ame as pessoas que devo amar. Faze tua esta minha casa e acende nela a tua lâmpada.


Tua lâmpada transformante tem uma chama imóvel, em instantes transforma em ouro todas as minhas manchas negras. Faze tua esta minha casa e acende nela tua lâmpada.


Eu acendo luzes, mas bruxuleiam e só produzem fumaça. Manda os raios da tua luz sobre os umbrais da minha casa. Faze tua esta minha casa e acende nela tua lâmpada”.


Fonte: Noibedo, Oferta, pp 26 e 30. Ed. Paulinas, 1996.


P. Vitus Gustama,svd

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