10/08/2016
VIVER
NO PARADOXO PARA VIVER UMA VIDA FECUNDA
Festa de São Lourenço
Primeira Leitura: 2Cor 9,6-10
Irmãos, 6 “Quem semeia
pouco colherá também pouco e quem semeia com largueza colherá também com
largueza”. 7 Dê cada um conforme tiver decidido em seu coração, sem pesar nem
constrangimento; pois Deus “ama quem dá com alegria”. 8 Deus é poderoso para
vos cumular de toda sorte de graças, para que, em tudo, tenhais sempre o necessário
e ainda tenhais de sobra para toda obra boa, 9 como está escrito: “Distribuiu
generosamente, deu aos pobres; a sua justiça permanece para sempre”. 10 Aquele
que dá a semente ao semeador e lhe dará o pão como alimento, ele mesmo
multiplicará as vossas sementes e aumentará os frutos da vossa justiça.
Evangelho: Jo 12,24-26
Naquele tempo disse
Jesus a seus discípulos: 24 “Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de
trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas se
morre, então produz muito fruto. 25 Quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem
faz pouca conta de sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna. 26 Se
alguém me quer servir, siga-me, e onde eu estou estará também o meu servo. Se
alguém me serve, meu Pai o honrará”.
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Neste dia 10 de agosto celebramos a
festa de São Lourenço, diácono e mártir. Uma das funções do diácono na época
era distribuir as ajudas aos pobres. Lourenço foi feito diácono pelo Papa Sisto
II.
Lourenço era um
dos sete diáconos de Roma, ou seja, um dos sete homens de confiança do Sumo
Pontífice. Seu trabalho era de grande responsabilidade, pois era encarregado de
distribuir as ajudas aos pobres.
No ano 257/258 o
imperador Valeriano publicou um decreto de perseguição no qual ordenava que
aquele que se declarasse cristão seria condenado à morte. No dia 06 de agosto
no mesmo ano o Papa Sisto II foi assassinado pela polícia do imperador enquanto
estava celebrando a santa Missa com quatro de seus diáconos.
Quatro dias
depois, 10 de agosto de 258, o diácono Lourenço foi martirizado. A antiga
tradição disse que quando Lourenço viu que o Sumo Pontífice estava para ser
assassinado, disse: “Pai meu, tu te vais sem levar teu diácono?”. E o Papa
Sisto II lhe respondeu: “Filho meu, dentro de poucos dias tu me seguirás”.
Lourenço ficou muito feliz quando ouviu a palavra do Papa Sisto II.
Quando foi preso e
conduzido ao martírio pelo imperador Valeriano, o Papa Sisto II deu ao diácono
Lourenço o encargo de distribuir tudo o que tinha aos pobres. Quando o
imperador Valeriano impôs a Lourenço de entregar-lhe os tesouros da Igreja dos
quais tinha ouvido falar, Lourenço reuniu os pobres, as virgens consagradas, e
as viúvas diante do imperador e disse com coragem: “Eis aqui os nossos
tesouros, que nunca diminuem, e podem ser encontrados em toda parte”. Por essas
palavras ele foi colocado vivo sobre um braseiro ardente até a morte. Ele foi o
mártir romano mais celebrado depois dos apóstolos Pedro e Paulo. Até seu nome
consta na primeira oração eucarística.
Nessa festa nos é
proposto um evangelho luminoso. Jesus nos recorda que “Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um
grão de trigo; mas se morre, então produz muito fruto”. Estas palavras
retratam a perfeição do diácono Lourenço. Ele soube entregar a vida e por isso
é fonte de vida. Ele viveu servindo os pobres e foi martirizado pelos pobres.
Ali há uma vida gastada no serviço por amor ao próximo. Ali há um diácono, ou
seja, um servidor. Daí São Lourenço nos está convidando a servimos, a estarmos
abertos às necessidades dos homens e mulheres de hoje, dos pobres, dos
marginalizados e excluídos. Nos dias de sua vida Lourenço semeou com
generosidade a semente do amor, da fé, da esperança no coração de seus irmãos.
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Mensagem do Evangelho
Ser cristão, a partir do texto do evangelho
lido neste dia, é aprender a viver no paradoxo. Paradoxo significa pensamento
ou argumento que contraria os princípios básicos e gerais que costumam orientar
o pensamento humano, porém, nele, contém verdade e sabedoria de viver. Trata-se
de um raciocínio aparentemente contraditório, porém contém nele uma sabedoria
que nos faz crescermos em todos os sentidos. Viver
no paradoxo é a lei da vida.
“Em
verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo que cai na terra não morre,
ele continua só um grão de trigo; mas se morre, então produz muito fruto. Quem
se apega à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo
conservá-la-á para a vida eterna”. É o verdadeiro paradoxo: morrer para viver
e produzir mais frutos como trigo.
Segundo Jesus, não se produz vida sem dar a
própria. Um grão de trigo que morre e cai não terra produz muitos outros grãos
de trigo. Este é o paradoxo. Não se pode viver sem aprender a morrer. Esta
morte é a culminação de um processo de doação de si mesmo: “Quem se apega
à sua vida vai perdê-la”. É o paradoxo! Não se pode receber vida sem
doá-la para o bem do próximo. Não se pode receber o perdão divino sem dar nosso
perdão ao próximo: “Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a
quem nos tem ofendido”, assim rezamos no Pai-Nosso. É o paradoxo! Para ser
feliz é preciso fazer o outro feliz. Para ser amado e ser amoroso é preciso
amar e ser amoroso para com o outro. Amar é dar-se em abundância até
desaparecer, se for necessário. A fecundidade não depende da transmissão de uma
doutrina e sim da transmissão e da vivencia do amor fraterno. “Quem não ama
permanece na morte. (...) Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é
amor”, diz-nos São João (1Jo 3,14b; 4,8).
“Em
verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo que cai na terra não morre,
ele continua só um grão de trigo; mas se morre, então produz muito fruto. Este
é o primeiro paradoxo apresentado por Jesus no evangelho de hoje.
Na metáfora do grão de trigo que morre na
terra, a morte é a condição para que se libere toda a energia vital que a
semente contém, e a vida ali encerrada se manifeste plenamente. Com esta
metáfora Jesus afirma que o homem tem muitas potencialidades e que somente o
dom total de si libera essas potencialidades para que exerçam toda sua
eficácia. O fruto começa paradoxalmente no mesmo grão que morre porque se não
cair na terra não dá vida, não frutifica, é infecundo. A morte da qual fala
Jesus não é um acontecimento isolado e sim é a culminação de um processo de
doação da própria vida.
Por isso, dar a própria vida é condição para
a fecundidade, é a suprema medida do amor. Para Jesus essa entrega da própria
vida para o bem de todos não é uma perda para o homem; não significa frustrar a
própria vida e sim uma vida fecunda. Aquele que sabe fazer o outro viver bem
tem uma vida cheia de alegria. É uma vida feliz e fecunda. Quando deixarmos de
crescer, ficaremos envelhecidos antes do tempo. Enquanto estivermos abertos
para o crescimento, permaneceremos jovens, e jovens fecundos. O medo de crescer
é o medo de tomar conta de si próprio.
“Quem
se apega à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo
conservá-la-á para a vida eterna”. É a segunda afirmação paradoxal de Jesus
no evangelho de hoje.
Não se pode produzir vida (dar frutos) sem
dar a própria vida (morrer). A vida é fruto do amor e não brotará vida, se o
amor não for pleno, se não chegar a ser um dom total. Amar é dar tudo, entregar
tudo sem guardar nada para si, até desaparecer, se for necessário, como individuo
ou como comunidade. Jesus vai se entregar pelos demais. Ele é solidário com os
necessitados e por eles aceita a morte, mas logo prevê já o fruto: “Dou
minha vida para retomá-la” (Jo 10,17).
“Quem
se apega à sua vida, perde-a”
O temor de perder a vida e o tempo é o grande
obstáculo para o compromisso pelos demais, porque o amor à própria vida pode
levar alguém a praticar as injustiças e a ficar silêncio diante de uma
realidade que necessite de sua colaboração. O silêncio dos bons diante da
maldade faz com que a maldade avance. Mas aquele que oferece sua vida pelos
demais, ama verdadeiramente, se esquece do próprio interesse e segurança, luta
pela vida, pela dignidade em meio de uma sociedade onde reina a morte.
Como Jesus, muitos homens e mulheres de ontem
e de hoje para dar vida deram sua própria vida porque estavam convencidos de
que o fruto supõe uma morte, e a entrega exige uma fé na fecundidade do amor.
Um desses homens é São Lourenço cuja festa é
celebrada neste dia (10 de agosto). Lourenço
era o primeiro dos sete diáconos da Igreja de Roma em 258. Valeriano perseguia
os membros da hierarquia eclesiástica: bispos, presbítero, diáconos. Lourenço
era o principal dos sete diáconos encarregados de socorrer os pobres e de
administrar os bens temporais da Igreja. Lourenço era chamado até “diácono do
Papa”. O Estado, na pessoa de Valeriano, cobiçava os bens temporais da Igreja.
“É rica, sim, a Igreja, não o nego.
Ninguém no mundo é mais rico que ela. O próprio imperador não tem tanta riqueza
como a Igreja tem. Não recuso a entregar-lhe esses bens. Deixe-me um prazo para
unir e inventariar esses bens tão copiosos e preciosos”. Lourenço
chamou e reunir todos os pobres e os doentes e os levou para o imperador e
disse: “Eis os tesouros da Igreja que
nunca diminuem e podem ser encontrados em toda parte!”. Por essa razão,
o diácono Lourenço foi martirizado em 10 de agosto de 258.
Que tenhamos a
caridade de são Lourenço para com tantos pobres e doentes que necessitam de
nossa ajuda, seja nosso tempo para dar um pouco de nossa atenção, seja nossa
ajuda material. “Não é louvável no pobre sua pobreza, mas sua humildade; nem
condenável no rico sua riqueza, mas seu orgulho. Sejam ricos ou pobres, Deus dá
sua graça aos humildes. Desapropria-te de ti mesmo e lança-te nos braços de
Deus” (Santo Agostinho). Na nossa sociedade há mártires, homens e mulheres que
foram capazes de morrer por um ideal de fraternidade como também na Igreja.
Sentir-se Igreja não é somente estar batizado
ou ser batizado. Sentir-se Igreja é viver e assumir com claridade e decisão um
serviço pelo bem dos que são necessitados. “Quem semeia pouco colherá também
pouco e quem semeia com largueza colherá também com largueza. Dê cada um conforme
tiver decidido em seu coração, sem pesar nem constrangimento; pois Deus ama
quem dá com alegria... Aquele que dá a semente ao semeador e lhe dará o pão
como alimento, ele mesmo multiplicará as vossas sementes e aumentará os frutos
da vossa justiça” é o recado de São Paulo para todos nós através da
Primeira Leitura de hoje.
P.Vitus
Gustama, SVD
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