segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Domingo,20/11/2016




DEUS É MISERICORDIOSO PARA QUEM SE CONVERTE

CRISTO, REI DO UNIVERSO
XXXIV DOMINGO DO TEMPO COMUM


Evangelho: Lc 23,35-43


Naquele tempo: 35 Os chefes zombavam de Jesus dizendo: 'A outros ele salvou. Salve-se a si mesmo, se, de fato, é o Cristo de Deus, o Escolhido!' 36 Os soldados também caçoavam dele; aproximavam-se, ofereciam-lhe vinagre, 37 e diziam: 'Se és o rei dos judeus, salva-te a ti mesmo!' 38 Acima dele havia um letreiro: 'Este é o Rei dos Judeus.' 39 Um dos malfeitores crucificados o insultava, dizendo: 'Tu não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós!' 40 Mas o outro o repreendeu, dizendo: 'Nem sequer temes a Deus, tu que sofres a mesma condenação? 41 Para nós, é justo, porque estamos recebendo o que merecemos; mas ele não fez nada de mal.' 42 E acrescentou: 'Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado.' 43 Jesus lhe respondeu: 'Em verdade eu te digo: ainda hoje estarás comigo no Paraíso.'
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O texto do evangelho deste domingo pertence ao relato lucano da paixão de Jesus (cf. Lc 21,1-23,56). De modo muito simples, Lucas relata a crucificação de Jesus, o sacrifício supremo para a salvação da humanidade. Lucas omite muitas das minúcias relatadas por Marcos: o nome aramaico Gólgota, o vinho misturado com mirra, as pessoas que balançavam a cabeça, e o desafio a respeito de Jesus destruir o templo e reconstruí-lo. No entanto, a ênfase permanece essencialmente nos mesmos fatos. Há aqui pelo menos três alusões a Salmos de lamentações nos vv.34-36(Sl 22,18: repartindo as vestes, lançaram sortes; Sl 22,7: olhando...zombavam; Sl 69,22: vinagre). Essas alusões indicam que a experiência de Jesus tem paralelo na experiência do justo que sofre, descrito em Salmos. Havia dois outros crucificados naquela ocasião. Lucas diz apenas que eram malfeitores, enquanto Mateus e Marcos dizem que eram ladrões. Todos os quatro evangelistas nos dizem que Jesus foi crucificado entre outros dois, evidentemente seu modo de ressaltar o fato de que ele foi crucificado como se fosse um criminoso (cf. Lc 22,37).


Lucas relata o povo em geral simplesmente observando. Execuções eram funções populares e sem dúvida havia muitas pessoas presentes nesta. Mas eram as autoridades e não o povo, que zombavam de Jesus (cf. Sl 22,6-8). Elas empregam dois epítetos: O Cristo de Deus e o Eleito/Escolhido. Essas duas expressões indicam o favor especial de Deus e sem dúvida estas pessoas estavam contrastando palavras que falavam de favor com a triste situação real de Jesus ali na cruz. Por isso, a inscrição “Este é o Rei dos Judeus” que foi colocada no alto da cruz era como um insulto final. No entanto, há ironia aqui, porque embora Jesus não fosse rei nos termos da expectativa popular, ele era, apesar de tudo, Rei de Israel ( leia o pedido de um dos crucificados no v. 42: ele usa a expressão “com teu reino/ no teu reinado”. Isto supõe a existência de um rei num reinado). Também é irônico que essa inscrição tenha sido o primeiro enunciado que se escreveu a respeito de Jesus e, provavelmente, a única coisa que se escreveu a respeito de Jesus, em toda a sua vida terrena.


De acordo com Mc 15,32, os criminosos que foram crucificados com Jesus também o ridicularizaram. A versão de Lucas, entretanto, é singular pelo fato de apresentar a conversa entre Jesus e um dos malfeitores e o insulto do outro. Para esse outro malfeitor, um Messias que morre na cruz e não salva a si mesmo nem aqueles que lutaram pela sua causa representa uma insanável contradição. Merece tão-somente ironia e desprezo. O verbo escolhido pelo evangelista é “insultar”, que tem simultaneamente o sentido do escárnio e da reverência. Como sempre, diante do escárnio, Jesus não profere nenhuma palavra. O malfeitor que vai fazer algum pedido a Jesus (conhecido popularmente como “bom ladrão” embora nenhum ladrão seja bom) repreendeu o outro pelo fato de este aderir aos insultos a Jesus e diz a seu colega que suas sentenças eram justas, mas a de Jesus, não. Assim, outra vez o leitor recebe a informação de que Jesus é inocente. “Nem sequer temes a Deus? “, disse o “bom ladrão”. Para a Bíblia, não temer a Deus é a atitude do estulto e do ímpio. “Nem sequer” parece introduzir um agravante em relação aos escárnios dos chefes e dos soldados.


Diferentemente do primeiro malfeitor, esse “bom ladrão” confessa, sem atenuantes, a sua culpa, reconhece a inocência de Jesus e a ele faz uma oração sincera: “Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinando” (v.42). “Lembra-te de mim” é uma oração que, na tradição religiosa bíblica e judaica, os moribundos e os homens perseguidos pela desgraça dirigem a Deus. Vamos aprofundar um pouco mais para os detalhes desta frase.


Primeiro, o bom ladrão chama Jesus pelo nome “Jesus”. Ele sabe que com Jesus pode usar esta intimidade; sente-o como amigo, pois chamar alguém pelo nome significa intimidade, amizade. Diante do amigo, ele se sente seguro apesar do sofrimento que ele tem. Segundo, tão grande é a humildade do bom ladrão arrependido que nem tem coragem de pedir de Jesus a salvação. Ele já se confessou culpado dos atos pelos quais estava sendo crucificado. O que agora quer é ser lembrado por Jesus. Ele não sabe orar bonito com palavras poéticas. Ele pede a Jesus apenas para ser lembrado: “lembra-Te de mim quando entrares no Teu Reinado”. Ele considera Jesus como amigo que compreende seu sofrimento. Terceiro, a única pessoa que reconhece em Jesus o Rei esperado é este bom ladrão. Ele sabia que sua condenação pela Corte Romana não seria seu último julgamento. Pois ele reconhecia que teria que prestar contas a Deus por seus atos (cf. 1Cor 5,10). Por isso, ele chamou a atenção do seu colega ao lado:” Nem ao menos temes a Deus? Recebemos o castigo merecido. E este, nenhum mal fez”. Aqui, através de sua honesta confissão de culpa é que ele deu seu primeiro passo em direção à salvação. Foi este o ponto de partida para a vida eterna.


Com uma solenidade Jesus abriu a boca somente para o bom ladrão: “Em verdade, eu te digo, hoje estarás comigo no Paraíso” (v.43). Com este gesto de solidariedade, Jesus dá a salvação a quem crê e se converte. Sofrendo e morrendo como homem, sentindo a dor dos pregos e a humilhação da nudez, na qualidade de Filho de Deus, Ele dirige uma promessa solene ao ladrão arrependido (em verdade). Depois desta expressão “em verdade” Jesus sempre diz algo muito importante. Jesus também dá segurança a esse ladrão arrependido: “Eu te digo”. Aqui, Jesus não reza, não pede a Deus, ele garante. Já que o ladrão arrependido confia em Jesus prontamente (“Jesus, lembra-te de mim”), Jesus também responde com a sua pessoa, assegurando-lhe uma vida de comunhão com ele (estarás comigo), e logo(“hoje”). A um pedido que remetia ao futuro (“quando entrares no teu reino”), Jesus responde, remetendo ao presente(“hoje”). Tudo isto quer nos dizer que não há situação humana de miséria e de pecado que exclua alguém da salvação; também para o malfeitor que morre por causa de seus delitos há esperança de futuro. Jesus na cruz não salva a si mesmo, mas os pecadores que se convertem e confiam nele.


Outras Mensagens do Evangelho deste Domingo      


1. O evangelista Lucas quer dirigir um apelo aos cristãos das suas e das nossas comunidades: Contemplai o vosso Rei pregado na cruz! Diante d´Ele torna-se ridículo qualquer ambição de glória de nossa parte, qualquer vontade de domínio, qualquer desejo de alcançar os primeiros lugares, de receber aplausos, elogios e títulos honoríficos. Do alto da cruz Jesus indica a todos quem é o rei que Deus escolhe: é aquele que sabe que a única maneira de dar glória a Deus é descendo ao último lugar para servir o pobre, o excluído; rei é aquele que ama a todos, inclusive aqueles que o combatem; é aquele que perdoa sempre, que salva e que se deixa derrotar por amor. A onipotência de Deus não é a de domínio. Ele é onipotente porque ele ama a todos imensamente e se coloca sem limites e sem condições a serviço do homem. E vimos isso em Jesus Cristo que se inclina para lavar os pés dos discípulos. É este o autêntico semblante do Deus onipotente, o Rei do Universo.


2. Estaríamos, porém, equivocados se, no episódio dos dois malfeitores, realçássemos somente a misericórdia. Na verdade, está fortemente presente também o juízo, que é a outra face da misericórdia. Um pecador olha para Jesus na cruz, pede perdão e é acolhido no Seu reino. Um outro pecador, olha o mesmo Jesus na cruz e o insulta. Por que um sim e o outro não? Este é o mistério do amor de Deus e da liberdade do homem, que importa sempre recordar, mas que não se pode sondar, a não ser cada um no interior de si mesmo. Diante da cruz, como de qualquer outro gesto de Deus, os êxitos possíveis são dois: com o primeiro, para recordar que a misericórdia de Deus está sempre disponível; e com o segundo, para não olvidar (não esquecer-se) jamais aquele santo temor que nos torna humildes e vigilantes.


3. “Em verdade te digo, hoje tu estarás comigo no Paraíso”. Quando começa o paraíso? Onde está ele? O paraíso começa no dia, no momento em que o homem se arrepender e receber o perdão dos seus pecados. Não pense que o paraíso existe tão-somente após a morte. O paraíso é a promessa que Deus faz a quem confessa Jesus Cristo como seu Senhor e a quem se converte. Onde está este paraíso? Em qualquer lugar onde Jesus está.


Será que você tem Cristo no seu coração? Será que Jesus Cristo é o seu Senhor? Se Jesus Cristo está no seu coração, se ele é o seu Senhor, então você está vivendo no paraíso, mesmo que esteja rodeado de dificuldades, de tribulações, de pessoas adversas, que nada entendem de seu privilégio.


Jesus disse ao ladrão arrependido que o paraíso estava reservado para HOJE e não amanhã. E evangelista João escreveu na sua primeira carta: “Amados, AGORA somos filhos de Deus” (1Jo 3,2). Quantos e quantos cristãos não têm esta certeza; não entende este privilégio.


Ouçamos esta palavra de Jesus na cruz: “Hoje estarás comigo no paraíso”. O novo nascimento é o início de uma vida nova. É necessário nascer de novo pela fé em Jesus Cristo como nosso Senhor e Salvador. Jesus é a nova esperança para quem perdeu a esperança. Veja a condição do ladrão arrependido: morrendo por causa de seus pecados, e sem ninguém para ajudá-lo a sair de sua angústia. Ninguém, a não ser Jesus Cristo, o Senhor, o Único é capaz de socorrer o condenado.


 4. “Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino”. É uma oração simples, mas profunda porque sai do fundo do coração. Muitas vezes nos preocupamos demais com a forma de orarmos, como se pelo fato de usarmos uma linguagem mais burilada é que seremos ouvidos por Deus. Deus ouve é o coração, não as palavras. Quando o pobre publicano orou dizendo:” Senhor Deus, tem piedade de mim, pecador”, suas palavras comoveram o Senhor.


A história do ladrão arrependido é a mesma de cada um de nós: quem de nós não foi malfeitor algumas vezes? Quem, alguma vez, não truncou a vida de algum irmão: com o ódio, as calúnias, as maledicências, as injustiças? Quem de nós não provocou pequenos ou grandes desastres na sociedade, na comunidade e na família? Se estivéssemos sozinhos, o nosso caminho nos conduziria ao desespero. Mas está presente Jesus Cristo que nos acompanha e, por isso, o nosso caminho terminará com certeza no paraíso. E feliz qualquer um de nós que confessa que Jesus Cristo é o seu Senhor, o seu Rei. Ele está no paraíso.


P. Vitus Gustama,svd

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