05/06/2018
O
HOMEM, CRIATURA DE DEUS, É A IMAGEM DO DEUS ABSOLUTO
Terça-Feira
do IX Semana Comum
Caríssimos, 12 esperais
com anseio a vinda do Dia de Deus, quando os céus em chama se vão derreter, e
os elementos, consumidos pelo fogo, se fundirão? 13 O que nós esperamos, de acordo com a sua promessa,
são novos céus e uma nova terra, onde habitará a justiça. 14 Caríssimos, vivendo nesta esperança, esforçai-vos
para que ele vos encontre sem mancha e em paz. 15ª Considerai
também como salvação a longanimidade de nosso Senhor. 17 Vós, portanto, bem-amados, sabendo disto com antecedência,
precavei-vos, para não suceder que, levados pelo engano desses ímpios, percais
a própria firmeza. 18 Antes
procurai crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus
Cristo. A ele seja dada a glória, desde agora, até o dia da eternidade.
Evangelho: Mc 12,13-17
Naquele
tempo, 13as autoridades mandaram alguns fariseus e alguns
partidários de Herodes, para apanharem Jesus em alguma palavra. 14Quando
chegaram, disseram a Jesus: “Mestre, sabemos que tu és verdadeiro, e não dás preferência
a ninguém. Com efeito, tu não olhas para as aparências do homem, mas ensinas,
com verdade, o caminho de Deus. Dize-nos: É lícito ou não pagar o imposto a
César? Devemos pagar ou não?” 15Jesus percebeu a hipocrisia deles, e
respondeu: “Por que me tentais? Trazei-me uma moeda para que eu a veja”. 16Eles
levaram a moeda, e Jesus perguntou: “De quem é a figura e inscrição que estão
nessa moeda?” Eles responderam: “De César”. 17Então Jesus disse:
“Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. E eles ficaram
admirados com Jesus.
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Viver o Presente Com Alegria Na Espera Da
Vinda Gloriosa Do Senhor
“Esforçai-vos para que Ele vos encontre sem
mancha e em paz. Precavei-vos, para não suceder
que, levados pelo engano desses ímpios, percais a própria firmeza. Procurai crescer na graça e no
conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”, são conselhos do autor da Segunda Carta de São Pedro que lemos na
Primeira Leitura de hoje. Terminamos hoje a leitura das Cartas de Pedro.
Através do texto da
Primeira Leitura o autor da Carta de Pedro nos convida a olharmos para o futuro
vivendo bem o nosso hoje. O cristão vive em uma tensão para o futuro na espera
da vinda do Senhor. A vinda do Senhor, seja próxima ou distante, deve iluminar
e dar sabedoria para nossa vida diária.
A linguagem do texto
é apocalíptica: “Os céus em chama se vão
derreter, e os elementos, consumidos pelo fogo, se fundirão”. Mas não é
pessimismo e sim otimismo por causa da promessa do Senhor: “O que nós esperamos, de acordo com a sua
promessa, são novos céus e uma nova terra, onde habitará a justiça”. Para
que tudo isso aconteça conforme a promessa devemos nos esforçar para viver sem
mancha, para viver em paz, sem nos deixar cair na mentira do mundo. Em resumo: “Procurai crescer na graça e no conhecimento
de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”. Se confiarmos plenamente nossa
vida no Senhor, viveremos com alegria apesar das dificuldades que tem caráter passageiro.
A Eucaristia que
celebramos é alimento, luz e força para o caminho enquanto esperamos a gloriosa
vinda de nosso Salvador, Jesus Cristo. Com o olhar posto na Páscoa de Jesus,
vivamos com firmeza o nosso hoje apesar de seus desafios e dificuldades. Deus
terá a última palavra sobre cada ser humano.
Nós
Pertencemos Ao Senhor. Somos De Deus
Estamos no segundo episódio de choque entre
as autoridades e Jesus (veja o primeiro em Mc 11,27-33). Estes dois
choques têm a mesma ideia de fundo: indagar sobre a consciência que Jesus tem
de si mesmo e de sua missão. Na resposta precedente, dada em forma de parábola
(Mc 12,1-12), aparece sua consciência messiânica e, portanto, sua missão de
libertador do povo. Mas como, de quem e de que Jesus liberta o povo?
No episódio do evangelho lido neste dia
entram em ação alguns fariseus e herodianos (do partido de Herodes) enviados
pelo Sinédrio que não pode pegar Jesus por causa do povo (medo do povo. O povo
apesar de não ter cargo e de ser pobre causa medo nas autoridades por se tratar
de uma maioria na sociedade. A esse povo
que os candidatos para o poder público “mendigar” voto de confiança). Esses
dois grupos (fariseus e herodianos) já decidiram há muito tempo em eliminar
Jesus (Mc 3,6). Agora querem apanhá-Lo “em alguma palavra”. A armadilha é
essencialmente política, mas se disfarça, hipocritamente, de religiosidade e de
adulação. Eles chamam Jesus de “Mestre”, algo insólito entre os fariseus e O
definem como “verdadeiro” e que Jesus ensina o caminho de Deus.
Os fariseus e os herodianos apresentam a
Jesus um problema ou um dilema aparentemente insolúvel: “Mestre, sabemos que tu és verdadeiro, e não dás preferência a ninguém.
Com efeito, tu não olhas para as aparências do homem, mas ensinas, com verdade,
o caminho de Deus. Dize-nos: É lícito ou não pagar o imposto a César? Devemos
pagar ou não?”
Jesus relativiza o insolúvel problema
introduzindo Deus no horizonte do problema: “Dai, pois, a César o que é de
César, e a Deus o que é de Deus”. Quando o ser humano conta com Deus,
tudo tem sua solução. O surpreendente de Jesus é que quando introduz Deus Ele
não faz discursos sobre Deus. Jesus simplesmente vive de Deus, fala com Ele, O
presente e O sente. Para Jesus Deus é Alguém, e não algo. É Alguém com quem
conta em quaisquer momentos. É Alguém com quem Jesus convive. “Eu e o Pai
somos um” (Jo 10,30).
Jesus lhes pede a moeda para a imagem incisa
na moeda. Na moeda estava incisa a imagem de Tibério com a coroa de laurel para
indicar sua dignidade divina, e a inscrição: Tibério César, filho do divino
Augusto. Os fariseus e os herodianos tinham a moeda e a levavam ao Templo.
Isto significa que eles profanaram o Templo com uma imagem de um pagão. Mas o
que interessa ao evangelista Marcos é outra coisa: o ensinamento de Jesus é o
único que tem valor para a comunidade cristã. “Dai,
pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. Logicamente, o
ensinamento está na segunda parte: “Devolva a César o que é de César”. Podem
ser propriedade uma moeda e um território, mas cada homem é propriedade de
Deus, feito a imagem de Deus.
“Devolva
a Cesar o que é do César”, diz Jesus. Mas somente devolver o que é do
César e não tudo o que o poder pretende com todo seu aparato coercitivo. Por
isso, Jesus acrescenta: “Devolva a
Deus o que é de Deus”. Isto significa que nem tudo é do César, ou seja,
que o poder do Estado não é absoluto. Na linguagem política os limites do poder
político radicam na soberania popular, no reconhecimento e na declaração dos
direitos humanos. Na linguagem espiritual ou religiosa o que se enfatiza é que
os poderes do Estado ou qualquer poder estão limitados pela soberania de Deus,
pois Deus criou o homem a sua imagem e semelhança. Assim expressa o profeta
Isaias do seguinte modo: “Eu sou Deus. Não há outro Deus fora de mim”
(cf. Is 45,20-25). A existência de Deus, o Absoluto, é a negação de qualquer
outro que se apresente como absoluto. Só há um Deus, o resto não é Deus.
Na verdade, aqui não há uma verdadeira
oposição, baseada no Evangelho, entre o que é do César e o que é Deus. Dar ou
devolver a Deus o que é lhe devido implica que seja dado a César o que somente
lhe pertence. O Reino de Deus não se situa fora dos reinos terrestres que são
assumidos por Deus em Jesus Cristo. Por isso, não se pode ser cristão autentico
à margem das realidades. O cristão é chamado e enviado para ser o sal e a luz
do mundo (cf. Mt 5,13-16) para que ninguém explore ninguém, pois todos são
filhos do mesmo Pai. O cristão na vida política deve ser justo. A obediência
cívica não pode estar em contradição com deveres com Deus. Jesus respeita a
autonomia do poder político, mas ao mesmo tempo afirma implicitamente que as
estruturas políticas, representadas neste caso pelo imperador romano, não podem
nunca ser divinizadas. Somente Deus é Deus.
Às vezes podemos cair na tentação de pensar
que o evangelho e a vida cristã se reduzem à mera vida espiritual. O evangelho
de hoje nos mostra que não é assim. A vida do evangelho toca todas as áreas da
vida, e entre elas a vida econômica e a da justiça. “Devolva a César o que é
do César e a Deus o que é de Deus” é o princípio da justiça equitativa, que,
todavia, está longe da justiça cristã. Pagar o que se deve são deveres
elementares de justiça. A injustiça não cabe na vida do cristão. Devolvamos a
cada um o que lhe é próprio e nossa vida se encherá de paz e de alegria.
Podemos até ganhar na justiça humana. Mas precisamos estar conscientes de que
ainda resta a justiça divina, como diz São Paulo: “Todos nós teremos de
comparecer manifestamente perante o tribunal de Cristo, a fim de que cada um
receba a retribuição do que tiver feito durante sua vida no corpo, seja para o
bem, seja para o mal” (2Cor 5,10).
“Dai, pois, a César
o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. Com sua resposta, Jesus não põe
Deus e o César no mesmo plano e muito menos considera como independentes ambas
realidades. É idolatria colocar em pé de igualdade Deus e César, o Criador e as
criaturas (César). O âmbito da criatura é limitado, pois a criatura está cheia
de limitações. O Criador tem tudo sob seu domínio. Por isso, Jesus jamais se
submetia aos tiranos deste mundo que são simplesmente criaturas limitadas cuja existência
neste mundo tem seu fim.
P. Vitus Gustama,svd
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