terça-feira, 5 de junho de 2018

Sexta-feira,08/06/2018
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SOLENIDADE DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

Primeira Leitura: Os 11,1.3-4.8c-9
Assim diz o Senhor: 1“Quando Israel era criança, eu já o amava, e desde o Egito chamei meu filho. 3Ensinei Efraim a dar os primeiros passos, tomei-o em meus braços, mas eles não reconheceram que eu cuidava deles. 4 Eu os atraía com laços de humanidade, com laços de amor; era para eles como quem leva uma criança ao colo, e rebaixava-me a dar-lhes de comer. 8cMeu coração comove-se no íntimo e arde de compaixão. 9Não darei largas à minha ira, não voltarei a destruir Efraim, eu sou Deus, e não homem; o santo no meio de vós, e não me servirei do terror”.


Segunda Leitura: Ef 3,8-12.14-19
Irmãos, 8 eu, que sou o último de todos os santos, recebi esta graça de anunciar aos pagãos a insondável riqueza de Cristo 9 e de mostrar a todos como Deus realiza o mistério escondido nele, o criador do universo.10 Assim, doravante, as autoridades e poderes nos céus conhecem, graças à Igreja, a multiforme sabedoria de Deus, 11 de acordo com o desígnio eterno que ele executou em Jesus Cristo, nosso Senhor. 12 Em Cristo nós temos, pela fé nele, a liberdade de nos aproximarmos de Deus com toda a confiança. 14 É por isso que dobro os joelhos diante do Pai, 15 de quem toda e qualquer família recebe seu nome, no céu e sobre a terra. 16 Que ele vos conceda, segundo a riqueza da sua glória, serdes robustecidos, por seu Espírito, quanto ao homem interior; 17 que ele faça habitar, pela fé, Cristo em vossos corações, e que estejais enraizados e fundados no amor. 18 Tereis assim a capacidade de compreender, com todos os santos, qual a largura, o comprimento, a altura, a profundidade, 19 e de conhecer o amor de Cristo, que ultrapassa todo conhecimento, a fim de que sejais cumulados até receber toda a plenitude de Deus.


Evangelho: Jo 19,31-37
31Era o dia da preparação para a Páscoa. Os judeus queriam evitar que os corpos ficassem na cruz durante o sábado, porque aquele sábado era dia de festa solene. Então pediram a Pilatos que mandasse quebrar as pernas aos crucificados e os tirasse da cruz. 32Os soldados foram e quebraram as pernas de um e, depois, do outro que foram crucificados com Jesus. 33Ao se aproximarem de Jesus, e vendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas; 34mas um soldado abriu-lhe o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água. 35Aquele que viu, dá testemunho e seu testemunho é verdadeiro; e ele sabe que fala a verdade, para que vós também acrediteis. 36Isso aconteceu para que se cumprisse a Escritura, que diz: “Não quebrarão nenhum dos seus ossos”. 37E outra Escritura ainda diz: Olharão para aquele que transpassaram”.
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Celebramos hoje a solenidade do Sagrado Coração de Jesus. O que queremos dizer ao falar do coração de Jesus ou de um coração humano?


Para a Bíblia, o coração representa o ser humano em sua totalidade; é o centro original da pessoa humana, o que lhe dá unidade. O coração é o centro de nosso ser, a fonte de nossa personalidade, o motivo principal de nossas atitudes e escolhas livres, o lugar da misteriosa ação de Deus. O coração é o núcleo íntimo da pessoa, sede de sua vida espiritual, lugar por excelência do encontro com Deus. Do coração sai o que torna o homem impuro, mas também do mesmo coração pode sair o que santifica o homem. Apesar de poderem existir o bem e o mal nas suas profundezas, o coração continua sendo símbolo de amor. Por isso, a essência mais profunda da realidade pessoal é o amor. O homem foi criado para amar e ser amado. Fora disto ele perderia a razão de ser e de viver. “Ama e faze o que tu quiseres” (Santo gostinho).


A devoção ao Coração de Jesus está totalmente de acordo com a essência do cristianismo que é religião de amor (cf. Jo 13,34-35), pois o cristianismo tem como objetivo o aumento de nosso amor a Deus e ao próximo (cf. Fl 1,9). O símbolo deste amor é o coração de Jesus que ama a todos sem medida. Jesus Cristo é a encarnação do amor de Deus por nós desde a eternidade: “Eu te amei com amor eterno, por isso conservei para ti o amor” (Jr 31,3). Em cada página dos evangelhos fala-se do amor de Jesus por nós. “Tudo o que Deus queria nos dizer de si mesmo e de seu amor, ele o depositou no coração de Jesus e o expressou através deste Coração. Através do Coração de Jesus lemos o eterno plano divino da salvação do mundo. E trata-se de um projeto de amor” (João Paulo II).


A devoção ao Sagrado coração de Jesus quer nos chamar de volta à primordial razão de nosso ser: amar. “Quanto mais amas, mais alto tu sobes” (Santo Agostinho). Uma pessoa com coração é uma pessoa profunda, próxima, compreensiva, capaz de ir ao fundo das coisas e dos acontecimentos. Uma pessoa com coração não é dominada pelo sentimentalismo e sim é uma pessoa que alcançou uma unidade e uma coerência, um equilíbrio e uma maturidade. Ela nunca é fria, mas cordial, nunca é cega diante da realidade, mas realista, nunca é vingativa, mas pronta para perdoar e para reconciliar-se. Um coração cristão, a exemplo do de Jesus, é um coração de dimensão universal, um coração que supera o egoísmo, um coração magnânimo capaz de abraçar a todos. A espiritualidade do coração é uma verdadeira espiritualidade, pois inclui a oração, a conversão, a escuta do Espírito, o cuidado para o próximo, a compaixão, a solidariedade e a partilha. Não é por acaso que para o homem de antiguidade ter coração equivalia a ser uma personalidade íntegra.


Há pessoas que pensam ser de Cristo, mas não têm espírito de reconciliação e de misericórdia, de amor e de doçura, de paciência e de magnanimidade, e recusam qualquer correção, guardam ressentimentos. Tais pessoas precisam ouvir aquilo que São Paulo diz: “... quem não tem o Espírito de Cristo não pertence a Ele” (Rm 8,9).


Uma pessoa com coração é uma pessoa profunda e próxima; entranhável e compreensiva, capaz de sentir emoções e, ao mesmo tempo, de ir ao fundo das coisas e dos acontecimentos. Uma pessoa com coração não é dominada pelo sentimentalismo, mas é uma pessoa que alcançou uma unidade e uma coerência, um equilíbrio de maturidade que lhe permite ser objetivo e cordial, lúcido e apaixonada, instintiva e racional; nunca é fria, mas cordial, nunca é cega, e sim realista.


A Igreja tem uma devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Devoção, em seu sentido primário, significa dar-se a si mesmo a alguém ou a algo. No contexto da verdadeira religião, devoção significa uma atitude da vontade, serena e constante, fruto de uma decisão refletida pela qual a pessoa se entrega em todo momento ao serviço de Deus. É uma oferenda de si mesmo a Deus, dedicando-se, permanentemente, a todas aquelas atividades referentes à honra de Deus. Qualquer devoto cumpre seus deveres referentes à sua devoção conscientemente e constantemente apesar das dificuldades encontradas. A palavra latina “devotio” (devoção) indica força, vontade decidida de fazer a vontade de Deus independentemente de qualquer situação encontrada. Por isso, devoção está longe de ficar no nível de sentimento.


A Primeira Leitura de hoje (Os 11,1.3-4.8c-9) nos descreve o amor de Deus por seu "filho" Israel. É um amor que se manifesta sob todas as formas de ternura. Da mesma forma que os pais cuidam de seu filho, carregam-no nos braços, alimentam-no e depois ensinam-lhe os seus primeiros passos, assim também Deus se comportou com o seu filho escolhido, Israel. Como os pais muitas vezes não recebem gratidão por seus esforços, assim Deus não colhe nada além de ingratidão de seu filho, Israel. O Senhor "os atraía com laços de humanidade, com laços de amor" (Os 11,4), mas são precisamente aquelas cordas que levam o filho a libertar-se delas e tornar-se independente: não dos pais humanos, e sim de Deus, o amor por excelência. E agora: o que Deus fará? Ele, que queria cercar o filho com correntes de amor, se encontra agora prisioneiro dessas mesmas correntes, porque Deus não somente tem amor e sim é o Amor (Cf. 1Jo 4,8.16). Porque "eu sou Deus e não homem". Aqui o coração de Deus aparece nu: Ele não pode se irritar, nem destruir, como seria correto; não pode abandonar o filho infiel que saiu de casa e deve espera-lo, correr ao seu encontro, abraça-lo e dar uma festa em sua honra. Aqui já se vislumbra a imagem do pai na parábola do filho pródigo (Cf. Lc 15,11-32). É desta maneira que Deus me ama. Deus nos ama e cremos no seu amor!


Na Segunda Leitura se expressa precisamente tudo que se fala na Primeira Leitura: o amor de Deus, mesmo sendo o mais livre se acorrenta a si mesmo, se ata por fidelidade à sua aliança, que foi quebrada em muitas maneiras por seu parceiro humano. Como mostra o matrimônio de Oséias com uma prostituta cujo amor é fiel da parte de Oseias, assim também o amor de Deus por nós, que apesar de nossas traições ou infidelidades, continua mostrando uma fidelidade quase ridícula, quase desdenhosa, que permanece incompreensível para o homem. São Paulo chega, inclusive, a exigir-nos que compereendamos precisamos tudo isto que é incompreensível, que reconheçamos a loucura de Deus como sua suprema sabedoria, porque “a loucura de Deus é mais sábia do que os homens”, é “um saber divino e secreto” (1Cor 1,25; 2,7). Portanto, “Se alguém dentre vós julga ser sábio aos olhos deste mundo, torne-se louco para ser sábio” (1Cor 3,18), e por isso também os cristãos devem converter-se em “loucos por Cristo” (1Cor 4,10). Em tudo isso trata-se unicamente do amor de Deus, um amor encantador e soberano. Mas acima de tudo é o amor que nos salva e nos trona irmãos da mesma família que se ama.


O evangelho do coração traspassado de Jesus fornece uma prova do que foi dito nas duas primeiras leituras. Seu verdadeiro sentido só é perceptível para o cristão que é capaz de ver na morte do Filho o sinal supremo do amor do Pai, e por isso, esse cristão será também o único que compreenda a solenidade do testemunho do discípulo amado. Os brutais soldados romanos, que não só crucificaram Jesus, mas perfuraram seu coração com a lança, são, sem sabe-los, instrumentos humanos, para que se cumpram as profecias anunciadas desde os tempos antigos. O que é aberto aqui é o coração do próprio Deus (o coração de Jesus não pode ser separado do Pai e do Espírito); o mais profundo, o último que Deus pode dar de si mesmo, flui e a ferida permanece eternamente aberta. Nesta abertura está a possibilidade de cada um penetrar no coração de Deus capaz de tudo.  


Para Refletir:


“O coração é o motor de todo o corpo; a vida e a morte são sinalizadas por ele; ele está presente em todo o organismo e o faz vibrar com seu mesmo movimento; a ele conflui de todo o corpo o sangue corrompido de resíduos tóxicos que, purificado pelos pulmões, é reenviado para todos os membros. Isto realiza também no plano espiritual o Coração de Jesus no grande corpo, desmedido, que é a Igreja. Naquele Coração aconteceu, na primeira vez, alargando a metáfora, a purificação de todos os pecados, a regeneração da esperança e do amor humano; para ali, misteriosamente, conflui ainda hoje, em cada Missa, todo sangue impuro e envenenado do mundo e daí parte o fluxo misterioso do Espirito Santo que purifica, renova e alimenta todos os membros da Igreja” (Raniero Cantalamessa: O Verbo Se Fez Carne, Ed. Ave Maria, 2012 pp.826-827).
P. Vitus Gustama,SVD

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