07/06/2018
AMAR A DEUS E AO PRÓXIMO É EXISTIR
E VIVER PARA SEMPRE, POIS DEUS É AMOR
Quinta-Feira da IX Semana Comum
Caríssimo, 8 recorda-te
de Jesus Cristo, da descendência de Davi, ressuscitado dentre os mortos,
segundo o meu evangelho. 9 Por ele eu estou sofrendo até às algemas, como se eu
fosse um malfeitor; mas a palavra de
Deus não está algemada. 10 Por isso suporto qualquer coisa pelos eleitos,
para que eles também alcancem a salvação, que está em Cristo Jesus, com a
glória eterna. 11 Merece fé esta palavra: se
com ele morremos, com ele viveremos. 12 Se com ele ficamos firmes, com ele reinaremos. Se nós o negamos, também ele nos negará. 13 Se lhe somos infiéis,
ele permanece fiel, pois não pode negar-se a si mesmo. 14 Lembra-lhes tais coisas e conjura-os por
Deus a evitarem discussões vãs, que de nada servem a não ser para a perdição
dos ouvintes. 15 Empenha-te em apresentar-te diante de Deus como homem digno de
aprovação, como operário que não tem de que se envergonhar, mas expõe
corretamente a palavra da verdade.
Evangelho: Mc
12, 28-34
Naquele
tempo, 28b um mestre da Lei aproximou-se de Jesus e perguntou-lhe: “Qual é o
primeiro de todos os mandamentos?” 29 Jesus respondeu: “O primeiro é este:
Ouve, ó Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor. 30 Amarás o Senhor teu
Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e
com toda a tua força! 31 O segundo mandamento é: Amarás o teu próximo como a ti
mesmo! Não existe outro mandamento maior do que estes”. 32 O mestre da Lei
disse a Jesus: “Muito bem, Mestre! Na verdade, é como disseste: Ele é o único
Deus e não existe outro além dele. 33 Amá-lo de todo o coração, de toda a
mente, e com toda a força, e amar o próximo como a si mesmo é melhor do que
todos os holocaustos e sacrifícios”. 34 Jesus viu que ele tinha respondido com
inteligência, e disse: “Tu não estás longe do Reino de Deus”. E ninguém mais
tinha coragem de fazer perguntas a Jesus.
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Jesus Cristo,
Verdadeiro Deus e Verdadeiro Homem
“Caríssimo, recorda-te
de Jesus Cristo, da descendência de Davi, ressuscitado dentre os mortos,
segundo o meu evangelho”, escreveu São Paulo ao Timóteo que lemos na Primeira
Leitura de hoje.
A ressurreição de Jesus é o centro da
teologia paulina. Cristo ressuscitado é o fundamento (cf. 1Cor 15,3-34) sobre o
qual são Paulo alicerçou toda a sua cristologia, eclesiologia e missão. São Paulo
não teve a experiência do Jesus histórico e não foi eleito por Jesus como apóstolo.
Mas são Paulo teve o encontro com o ressuscitado no caminho de Damasco (Cf. At
9,1-18).
“Cristo ressuscitou! Cristo, Filho de Davi!”
Este hino que São Paulo considera como “meu evangelho” resume nossa fé. A
ressurreição dos mortos testemunha o caráter divino de Jesus. Jesus é o Senhor,
pois foi ressuscitado. A ressurreição de Jesus é o ponto de partida e o ponto
de chegada de toda a teologia paulina.
“Recorda-te
de Jesus Cristo, da descendência de Davi, ressuscitado dentre os mortos”,
escreveu são Paulo ao Timóteo. O centro do pensamento e da vida de Timóteo deve
ocupar o Messoas que, ressuscitado por Deus de entre os mortos depois de sues
tremendos sofrimentos e de sua morte na Cruz como se fosse um malfeitos, pois
Jesus Cristo é portador da vida eterna. “Recordar-se” aqui não implica apenas
um definido ato no tempo e sim um estado continuado que dura para sempre. Recodar
é colocar outra vez no coração. O que está no coração permanece para sempre.
“Recorda-te
de Jesus Cristo, da descendência de Davi, ressuscitado dentre os mortos” é
a exortação que serve para todos os cristãos. A ressurreição é a fonte e o
ápice da fé cristã. Por causa da fé na ressurreição, suportamos, como São
Paulo, todos os tipos de sofrimento, pois eles são passageiros. Para São Paulo,
o evangelho é o evangelho de Jesus vivo (ressuscitado), presente e redentor. Recordar-se
de Jesus Cristo ressuscitado nos leva a não prolongarmos na nossa tristeza pela
morte de um ente-querido, pois a vida não termina na morte por causa da ressurreição
de Jesus Cristo.
A filiação davídica testemunha que Jesus é um
verdadeiro homem. Jesus Cristo não é somente um ser celeste e sim é um homem
completo enraizado numa linhagem familiar. Jesus é “Deus verdadeiro de Deus
verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai”, assim rezamos no
Símbolo Niceno-Constantinopolitano. Jesus nos mostra que o caminho para ser
divino é o caminho humano. Deus entrou no tempo para nos tornar eternos. Deus
se fez homem para nos tornar divinos. Toda pessoa com a atitude humana e o
espirito humano é uma pessoa de caráter celestial. O caminho de subida para o
Céu passa pelo caminho de descida para a humanidade. Pela participação na
Filiação divina de Jesus somos cidadãos do céu. Logo, nossa vida deve ser um
céu aqui na Terra.
Ser Perseverante
Até Nos Sofrimentos
“Por
ele eu estou sofrendo até às algemas, como se eu fosse um malfeitor; mas a
palavra de Deus não está algemada. Por isso suporto qualquer coisa pelos
eleitos, para que eles também alcancem a salvação, que está em Cristo Jesus,
com a glória eterna” (2Tm 2,9-10).
Perseverar significa a capacidade de resistir
diante de cada dificuldade, porque acreditamos que Deus nos sustenta e nos
levanta em qualquer situação: “A Palavra de Deus não está algemada. Por isso
suporto qualquer coisa...”, escreveu São Paulo. Quando você somente acredita na
sua própria força, em pouco tempo você vai cair no desespero, pois sua força
tem seu limite. Mas se você se apoiar em Deus, a sua força nunca vai ter o fim,
pois Deus o abastece com sua graça: “Quando
me sinto fraco, na verdade sou forte pois a graça de Deus me sustenta e me
levanta”, dizia São Paulo (cf. 2Cor 12,10).
A
capacidade de resistir precisa ser sempre renovada na oração. Como cristãos
rezamos sem cessar, pedindo a graça da perseverança final. Estamos, todavia,
conscientes de que isto leva consigo a disponibilidade para mudar/ se
converter, porque estamos conscientes de que a nossa fidelidade é continuamente
posta à prova e de que está exposta a contínuas tentações: “Empenha-te em apresentar-te diante de Deus
como homem digno de aprovação, como operário que não tem de que se envergonhar,
mas expõe corretamente a palavra da verdade”.
Amar Para Se Tornar
Divino, Pois Deus é Amor
Encontramos no evangelho de hoje um escriba
sincero que se aproxima de Jesus não para criticá-lo, mas para dialogar com ele
a respeito do maior de todos os mandamentos: “Qual é o primeiro de todos os
mandamentos?”, ele pergunta a Jesus. Nas escolas rabínicas se distinguiam
entre mandamentos “graves” e “leves”. Tinha 248 preceitos positivos e 365
proibições legais. Por causa de sua grande quantidade, os rabinos investigaram
qual de todos estes mandamentos era realmente importante, qual era o primeiro e
principal como resumo de todos.
Jesus responde citando ao pé da letra a
passagem do Dt 6,4-5 onde se encontra a seguinte afirmação: “Ouve, ó
Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás o Senhor, teu Deus, de
todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças”. Ao mesmo
tempo Jesus cita a passagem do Lv 19,8, também ao pé da letra, onde se
encontra o seguinte mandamento: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”.
E para Jesus ambos os mandamentos são como um só inseparavelmente: “Não
existe outro mandamento maior do que estes”. É um só porque não se pode
amar a Deus sem amar ao próximo. Por isso, na sua primeira Carta são João nos
diz: “Se alguém disser: ‘Amo a Deus’, mas odeia seu irmão, é mentiroso.
Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz de amar a Deus, a
quem não vê” (1Jo 4,20). Então, entre o mandamento do amor a Deus e o
preceito de amar ao próximo existe uma conexão necessária. Inclusive os rabinos
entendiam que o amor ao próximo era como um resumo da lei. Por exemplo, se
atribui ao Rabino Hillel esta sentença: “Não faças ao outro o que não
desejas para ti. Esta é toda a lei. O resto é interpretação”. Neste
mandamento de amor se funda a única piedade verdadeira.
Amar! Este é o mandamento do Senhor. A
acumulação dos termos: “coração, alma, mente, força” quer significar uma
plenitude de amor que compreende todas as nossas faculdades de amar. É preciso
que o amor arda em nossos pés à cabeça, em nosso espírito ao corpo, em nossa
manhã até a noite, em nossa infância à velhice.
Amor é a essência para qualquer relacionamento
com suas três direções: a Deus, ao próximo e a mim mesmo. Amor é relação,
comunicação, encontro. Para eu poder valorizar o outro eu preciso saber me
valorizar. Para eu poder amar o outro, eu preciso saber me amar. Para eu poder
compreender o outro, eu preciso me compreender. Para eu poder fazer o encontro
com o outro, eu preciso fazer o encontro comigo mesmo, reconhecendo tantos
minhas capacidades e virtudes como também meus defeitos e limitações. Não basta
amar a Deus, alguém tem que amar também o próximo. Não basta amar o outro, mas
tem que saber se amar: “Amar a Deus com toda força e o próximo como a ti
mesmo”. Não faça do outro como objeto de sua carência de amor. Isto não é amor.
É exploração. Para amar tem que ser livre. O amor liberta, dá segurança e
possibilita o crescimento. Quando uma pessoa começar a sufocar a outra pessoa é
porque está faltando amor.
Por isso é que Jesus não fala de qualquer
amor. Ele fala do amor ágape. Ágape é uma palavra grega que significa o amor
que se dirige unicamente para o outro, incondicional, e que não espera nada em
troca. É uma doação pura de si mesmo. Por isso, Jesus chegou a fazer uma
afirmação muito extrema: “Amai vossos inimigos e rezai por aqueles que vos
perseguem” (Mt 5,43-44). A única coisa que se espera dos inimigos é o bem
deles. Este é o amor-ágape. É o amor que salva e liberta. Com efeito, a atitude
de fé é procurar descobrir o projeto de amor de Deus e corresponder a ele. Amar
a Deus significa escutá-Lo, adorá-Lo, encontrar-nos com ele na oração e na vida
e amar o que ele ama. Amar o próximo não apenas significa deixar de fazer o
mal, e sim estar pronto para ajudá-lo, acolhê-lo e perdoá-lo. Amor é o único
meio que em si tem capacidade de convencer o outro, até os ateus de que somos
cristãos.
Amor é capacidade de sair de si mesmo, de
transferir-se para outro ser, de participar de outro ser e de entregar-se por
um outro ser. Aquele que ama está totalmente no outro, conservando sua
identidade. O amor não pode realizar-se na esfera de um sujeito isolado. O
verdadeiro amor é sempre como uma experiência de derrota que se transforma em
vitória; uma experiência de entrega que se transforma em enriquecimento; uma
experiência de sair de si que se transforma no mais profundo encontro consigo
mesmo; uma experiência de morte que se transforma em vida. O ponto final do
amor é a vitória sobre a morte. O ponto final do egoísmo é a morte, e a
ausência do amor é a ausência de Deus.
Portanto, hoje Jesus nos oferece a chave
fundamental para cumprir a vontade de Deus: o amor íntegro a Deus como único
Senhor e o amor ativo e efetivo e desinteressado para próximo. São Paulo nos
relembra através da Carta aos romanos: “Não fiqueis devendo nada a ninguém…
a não ser o amor que deveis uns aos outros, pois quem ama o próximo cumpre
plenamente a Lei. De fato, os mandamentos: ‘Não cometerás adultério’, ‘Não
matarás’, ‘Não roubarás’, ‘Não cobiçarás’, e qualquer outro mandamento, se
resumem neste: ‘Amarás o próximo como a ti mesmo’. O amor não faz nenhum mal
contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento perfeito da Lei” (Rm
13,8-10).
P.Vitus Gustama,svd
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