segunda-feira, 18 de junho de 2018

21/06/2018
Quinta-feira da XI Semana Comum


Primeira Leitura: Eclo 48,1-15
1O profeta Elias surgiu como um fogo, e sua palavra queimava como uma tocha. 2 Fez vir a fome sobre eles e, no seu zelo, reduziu-os a pouca gente. 3Pela palavra do Senhor fechou o céu e de lá fez cair fogo por três vezes. 4Ó Elias, como te tornaste glorioso por teus prodígios! Quem poderia gloriar-se de ser semelhante a ti? 5Tu, que levantaste um homem da morte e dos abismos, pela palavra do Senhor; 6tu, que precipitaste reis na ruína e fizeste cair do leito homens ilustres; 7tu, que ouviste censuras no Sinai e decretos de vingança no Horeb. 8Tu ungiste reis, para tirar vingança, e profetas, para te sucederem; 9tu foste arrebatado num turbilhão de fogo, um carro de cavalos também de fogo, 10tu, nas ameaças para os tempos futuros, foste designado para acalmar a ira do Senhor antes do furor, para reconduzir o coração do pai ao filho, e restabelecer as tribos de Jacó. 11Felizes os que te viram, e os que adormeceram na tua amizade! 12Nós também, com certeza, viveremos; mas, após a morte, não será tal o nosso nome. 13Apenas Elias foi envolvido no turbilhão, Eliseu ficou repleto do seu espírito. Durante a vida não temeu príncipe algum, e ninguém o superou em poder. 14Nada havia acima de suas forças, e, até já morto, seu corpo profetizou. 15Durante a vida realizou prodígios e, mesmo na morte, suas obras foram maravilhosas.


Evangelho: Mt 6,7-15
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 7 ”Quando orardes, não useis muitas palavras, como fazem os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos por força das muitas palavras. 8 Não sejais como eles, pois vosso Pai sabe do que precisais, muito antes que vós o peçais. 9 Vós deveis rezar assim: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome; 10 venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como nos céus. 11 O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. 12 Perdoa as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido. 13 E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal. 14 De fato, se vós perdoardes aos homens as faltas que eles cometeram, vosso Pai que está nos céus também vos perdoará. 15 Mas, se vós não perdoardes aos homens, vosso Pai também não perdoará as faltas que vós cometestes”.
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As Palavras De Um profeta Purifica, Consagra e Renova Os Homens Por Dentro


O resumo que faz da vida do profeta Elias nos recorda o que lemos nos dias anteriores. E o Salmo Responsorial reflete também o rasgo que o Eclesiástico  destaca do temperamento de Elias em sua luta contra a idolatria. “Vai um fogo caminhando à sua frente e devora ao redor seus inimigos. Seus relâmpagos clareiam toda a terra; toda a terra ao contemplá-los estremece. Os que adoram as estátuas se envergonhem e os que põem a sua glória nos seus ídolos; aos pés de Deus vêm se prostrar todos os deuses!” (Sl 96/97). O estilo do profeta Elias é fogoso.


O profeta Elias surgiu como um fogo, e sua palavra queimava como uma tocha. Pela palavra do Senhor fechou o céu e de lá fez cair fogo por três vezes” (Eclo 48,1.3). É o elogio do autor do Livro de Eclesiástico que se fez muito tempo depois da “subida” de Elias ao céu. Geralmente, os fatos do passado são constantemente interpretados pelas gerações sucessivas para tirar deles as lições.


Segundo o texto do livro de Eclesiástico que lemos na Primeira leitura o profeta Elias surgiu “como um fogo” e sua palavra abrasava “como uma tocha” e “fez cair fogo três vezes”.


Para os hebreus, como para muitos povos acostumados com “sacrifícios”, o fogo é o elemento misterioso que une o homem a Deus. A vítima (animal sacrificado) se passava pelo fogo para que o fogo penetrasse nela e se comia essa vitima em uma comida sagrada para entrar em comunhão com a divindade.


Para muitos povos fogo é considerado sagrado, purificador e renovador. Seu poder destruidor, muitas vezes, é interpretado como meio de renascimento para um nível mais elevado. Em algumas culturas há até deus de fogo: Agni na India; Héstia na Grega; e vários deuses de fogo na China. O fogo purifica. A própria existência dos profetas que se aproximaram de Deus sem serem consumidos é testemunho disso (cf. 2Rs 2,11).


Porém, os profetas escritores gostam também de anunciar e descrever a ira de Deus com um fogo: castigo dos ímpios (Am 1,4-2,5). O fogo do juízo, no fim dos tempos, se torna verdadeiro fogo da ira de Deus quando cai sobre o pecador endurecido.


A Igreja vive deste fogo que abrasa o mundo graças ao sacrifício de Cristo. O fogo ardia o coração dos discípulos de Emaús quando ouviram o Ressuscitado (Lc 24,32). O fogo desceu do céu sobre os discípulos no dia de Pentecostes. Mas o fogo aqui simboliza o Espirito Santo que tem por missão transformar todos os que devem difundir a linguagem do Espirito para todas as nações.


A palavra de um profeta é como fogo: purifica, renova e torna sagrado quem ouve essa palavra. Assim eram as palavras do profeta Elias. Trata-se de um ardor que tudo vence como a chama do amor divino que salva (cf. Ct 8,6s). As palavras de um profeta podem assustar quem as ouve, mas na verdade tem por objetivo levantar as pessoas para uma vida digna de filhos e filhas de Deus e de irmãos entre si. Para quem ama  e para quem é amado não tem como não falar e não ouvir as palavras purificadoras, mesmo que sejam amargas. No batismo, cada cristão recebe a função profética.


Nosso Deus É Nosso Papaizinho


O nome mais adequado ao Deus que reina, o nome mais sábio da teologia definitiva, o nome que exalta a transcendência da divindade e a revela próxima a nós e imanente como fonte de nossa vida, o nome que Jesus acendeu sobre o mundo e entregou às almas em busca de uma linguagem para dirigir-se a Deus, é o dulcíssimo, humaníssimo e sublime nome de Pai (...) A religião nova nasce daqui: Pai nosso, que estais nos céus. Um novo modo de ser nasce daqui: sejais perfeitos, como vosso Pai é perfeito” (Papa Paulo VI).


De todas as revoluções do Evangelho, a mais profunda e a mais radical é a revelação de Deus como Pai, e consequentemente Deus como amor, como o Pai mais carinhoso e entranhável.


Estamos ainda no Sermão da Montanha (Mt 5-7) onde podemos encontrar vários ensinamentos fundamentais de Jesus para nós, seus seguidores. No evangelho de hoje Jesus nos dá seu conselho sobre oração.


Rezar significa abrir-se para Deus. Nossa vida não pode estar centrada em nós mesmos ou só nas coisas deste mundo. Rezar é saber escutar a Palavra d’Aquele que é maior do que nosso cérebro e dirigir-lhe, pessoal e comunitariamente nossa palavra de louvor e de súplica com confiança de filhos. A oração é mais do que recitar umas fórmulas, é, sobretudo, uma convicção íntima de que Deus é nosso Pai e que quer nosso bem. A oração nos situa diante de Deus e nos faz reconhecer tal como somos já que somos criados à imagem de Deus. A oração vai nos descobrindo o que temos de ser em cada momento. A oração nos humaniza, faz-nos mais humanos, mais criaturas, e não criadores. Se não rezarmos é impossível que nos conheçamos a fundo, porque não saberemos o que poderíamos ser, não saberemos até onde vamos. A oração nos possibilita dizermos em profundidade o que somos, o que pensamos e o que vivemos e para onde vamos.


No texto do evangelho anterior o aspecto individual da oração é destacado com a advertência sobre o perigo de exibicionismo:Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar em pé, nas sinagogas e nas esquinas das praças, para serem vistos pelos homens” (Mt 6,5). Na prática de Jesus a oração individual e a oração comunitária são da mesma importância.


“Vós, portanto, orai assim: Pai nosso que estás nos céus....”, diz nos Jesus. De todas as revoluções do Evangelho, a mais profunda e a mais radical é a revelação de Deus como Pai, e consequentemente Deus como amor, como o Pai mais carinhoso e entranhável. A tradução mais fiel da palavra “Abba” não é simplesmente “Pai” e sim “Papaizinho”. Qualquer pai sabe muito bem como se sente ao ouvir o apelido “paizinho”. E qualquer filho sabe muito bem como se sente ao chamar seu pai de “paizinho”. Só pode ser uma grande intimidade e ternura. Ao ensinar seus discípulos a chamarem Deus como Pai na oração, Jesus quer enfatizar a simplicidade, a proximidade, a ternura e a familiaridade. A palavra “pai” é algo que tem a ver com a família, a intimidade e a informalidade.


O Pai-Nosso não é uma simples oração apesar de ser breve. O Pai-Nosso é uma síntese de tudo o que Jesus viveu e sentiu a propósito de Deus, do mundo e de seus discípulos. Chamar Deus de “Pai” é algo insólito, inimaginável que expressa a máxima confiança, proximidade e ternura. Jesus quer nos dizer que Deus é o nosso Pai que está sempre ao nosso lado, cheio de cuidados e ternura para cada um de seus filhos e filhas. Com a palavra “Pai” abre-se um mundo novo nas relações de Deus para com o homem. A vida cristã está banhada de alegria, pois sabemos que somos filhos e filhas de Deus independentemente de nossa situação e de nosso modo de viver.


Além do mais, ao chamar Deus de Pai precisamos estar conscientes de que precisamos viver como irmãos e irmãs, como recorda Santo Tomás de Aquino: “Ao dizermos Pai, recordemos duas obrigações que temos para com os semelhantes: Primeiro, devemos amá-los porque são nossos irmãos, pelo fato de serem filhos de Deus (cf. 1Jo 4,20). Segundo, devemos reverenciá-los, tratando-os como filhos de Deus (cf. Ml 2,10; Rm 12,10; Hb 5,9) “.


Rezar o Pai-Nosso é seguir Jesus Cristo, aprendendo dele a maneira de viver, de escolher e também o modo de enfrentar a morte; quais são as razões profundas, as raízes da própria existência. Dizer “Pai” nos torna disponíveis, enche-nos de confiança, facilita a nossa entrega, pois estamos certos de sermos ouvidos, e isto nos permite superar as barreiras do medo e da incerteza. Dizer “Pai” significa que eu devo me comportar como filho diante dele e como irmão diante dos outros, pois eu sou irmão de muitos outros irmãos. Dizer “Pai” faz nascer a certeza de que somos amados, isto é, nos leva a um ato de inteiro abandono em Deus. Quem chama Deus de “Paizinho” (Abba) jamais pode perder a perspectiva na vida apesar dos problemas e da idade avançada. Em Deus Pai sempre ganhamos novas perspectivas e o maior horizonte na nossa frente, pois Deus Pai está nos nossos olhos para podermos ver muito além da visão humana.


O Pai-Nosso é um modelo de oração que Jesus nos ensina. Primeiro, esta oração nos faz pensar em Deus que é nosso Pai: Seu nome, Seu Reino, Sua vontade. Jesus quer estejamos em sintonia com Deus, nosso Pai. Logo em seguida, passa para nossas necessidades que devemos pedir ao Pai: o pão de cada dia, o perdão de nossas faltas, a força para não cair em tentação e vencer o mal. Trata-se de uma oração de uma espiritualidade equilibrada. E esta oração confirma nossa condição de filhos para Deus e também nossa condição de irmãos dos demais, dispostos a perdoar, porque todos nós somos filhos do mesmo Pai.


Diante de um mundo que prescinde de Deus, Jesus propõe como primeira petição, como ideal supremo do discípulo, o desejo da glória de Deus: “Santificado seja Vosso nome!”. Nessa petição situa Deus acima de tudo e de todos, exalta sua majestade e deseja que seja proclamada sua glória.


Diante de um mundo onde predomina o ódio, a violência, a vingança, a crueldade, Jesus pede que seja instaurado o Reino de Deus, o Reino de justiça, de amor, de compaixão, de paz, de fraternidade onde um cuida do outro, pois o outro é o filho de Deus e por isso, é meu irmão. Só assim será instaurado o Reino de Deus nesta terra.


E como uma comunidade de irmãos, filhos do mesmo Pai celeste, os seguidores de Jesus precisam diariamente do pão que sustenta a vida, pois a vida é sagrada, do perdão mútuo, pois todos são pessoas com suas limitações e fraquezas, e da ajuda de Deus para manter-se firmes. Por isso, a partir da dimensão comunitária (Pai nosso), a oração do Pai nosso é um convite para estabelecermos com Deus uma relação de confiança e intimidade e uma relação de fraternidade com os demais com uma disposição constante de perdão.
P. Vitus Gustama, SVD

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