segunda-feira, 4 de junho de 2018

06/06/2018
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SOMOS CHAMADOS A CRER NO DEUS DA VIDA E NO DEUS DOS VIVOS E TESTEMUNHÁ-LO SEM MEDO
Quarta-Feira da IX Semana Comum


Primeira Leitura: 2Tm 1,1-3.6-12
1 Paulo, Apóstolo de Jesus Cristo pelo desígnio de Deus referente à promessa de vida que temos em Cristo Jesus, 2 a Timóteo, meu querido filho: Graça, misericórdia e paz da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor! 3 Dou graças a Deus – a quem sirvo com a consciência pura, como aprendi dos meus antepassados –, quando me lembro de ti, dia e noite, nas minhas orações. 6 Por este motivo, exorto-te a reavivar a chama do dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos. 7 Pois Deus não nos deu um espírito de timidez mas de fortaleza, de amor e sobriedade. 8 Não te envergonhes do testemunho de Nosso Senhor nem de mim, seu prisioneiro, mas sofre comigo pelo Evangelho, fortificado pelo poder de Deus. 9 Deus nos salvou e nos chamou com uma vocação santa, não devido às nossas obras, mas em virtude do seu desígnio e da sua graça, que nos foi dada em Cristo Jesus desde toda a eternidade. 10 Esta graça foi revelada agora, pela manifestação de nosso Salvador, Jesus Cristo. Ele não só destruiu a morte, como também fez brilhar a vida e a imortalidade por meio do Evangelho, 11 do qual fui constituído anunciador, apóstolo e mestre. 12 Esta é a causa pela qual estou sofrendo, mas não me envergonho, porque sei em quem coloquei a minha fé. E tenho a certeza de que ele é capaz de guardar aquilo que me foi confiado até o grande dia.


Evangelho: Mc 12,18-27
Naquele tempo, 18vieram ter com Jesus alguns saduceus, os quais afirmam que não existe ressurreição e lhe propuseram este caso: 19“Mestre, Moisés deu-nos esta prescrição: Se morrer o irmão de alguém, e deixar a esposa sem filhos, o irmão desse homem deve casar-se com a viúva, a fim de garantir a descendência de seu irmão”. 20Ora, havia sete irmãos: o mais velho casou-se, e morreu sem deixar descendência. 21O segundo casou-se com a viúva, e morreu sem deixar descendência. E a mesma coisa aconteceu com o terceiro. 22E nenhum dos sete deixou descendência. Por último, morreu também a mulher. 23Na ressurreição, quando eles ressuscitarem, de quem será ela mulher? Porque os sete se casaram com ela!” 24Jesus respondeu: “Acaso, vós não estais enganados, por não conhecerdes as Escrituras, nem o poder de Deus? 25Com efeito, quando os mortos ressuscitarem, os homens e as mulheres não se casarão, pois serão como os anjos do céu. 26Quanto ao fato da ressurreição dos mortos, não lestes, no livro de Moisés, na passagem da sarça ardente, como Deus lhe falou: ‘Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó’? 27Ora, ele não é Deus de mortos, mas de vivos! Vós estais muito enganados”.
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Ser Fiel No Ministério e Ser Guardião Da Sã Doutrina


Lemos durante dois dias (hoje e amanhã) uma nova carta do Novo Testamento: a Segunda Carta de são Paulo a Timóteo.


O autor da Segunda Carta ao Timóteo é são Paulo (mas o autor da Primeira Carta ao Timóteo não foi são Paulo). São Paulo a escreveu em Roma (2Tm 1,15-17) no seu derredeiro cativeiro antes de sua morte (2Tm 1,12) entre anos 65-67. Trata-se de umas cartas de final da vida de são Paulo, ansioso por segurar a solidez de suas comunidades ameaçadas pelos desvios doutrinais e as intrigas entre grupos.


Nesta carta encontram-se conselhos pastorais de são Paulo para Timóteo, seu grande colaborador e sucessor na missão apostólica. São Paulo exorta, insistentemente, a Timóteo a perseverar no ministério e a conservar a sã doutrina sem medo de testemunhar tudo isso. Trata-se como o testamento espiritual de são Paulo que ele escrveu da prisão (em Roma) para seu discípulos Timóteo. São Paulo aparece cansado, mas não derrotado, esperando sua pena de morte.


Lemos hoje, na Primeira Leitura, o início da Segunda Carta ao Timóteo: “Paulo, Apóstolo de Jesus Cristo pelo desígnio de Deus referente à promessa de vida que temos em Cristo Jesus”.


Fim e meta da missão apostólica é anunciar a vida prometida por Deus. Trata-se da vida eterna que está fundada na comunidade de fé e de vida com Jesus Cristo, vida que perdura muito além da morte, a vida que vence a morte em Jesus Cristo pela sua ressurreição. A certeza da vida eterna outorgada e garantida em Jesus Cristo é um fundamento seguro da vida de todo cristão, em contraposição com as pessoas que “não têm esperança” (1Ts 4,13).


Lemos hoje também a saudação de são Paulo, que tantas vezes repetimos no início de cada celebração eucarística: “Graça, misericórdia e paz da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor!”


Na saudação grega se deseja “alegria”, e na judaica “paz” (Shalom). São Paulo deseja ao destinatário: graça, misericórdia e paz. São Paulo eleva a saudação habitual, corrente então, ao plano cristão e assim deseja o que a ele parece como mais importante: Em primeiro lugar, a “graça”, isto é, a inteira e inesgotável bondade e benignidade de Deus que o homem pode receber, mas não conquistar por suas próprias forças. Em segundo lugar a “misericórdia” que é tão necessária ao homem pecador. Toda vez que o homem se converter de seu pecado, Deus se mostra misericordioso. Não há pecado que não tenha misericórdia de Deus quando o homem decide converter-se. Em terceiro lugar, a “paz” que poderíamos traduzir melhor por “salvação”, pois trata-se de uma harmonia total com Deus, com o próximo, consigo mesmo e com a natureza. Podemos dizer que a paz é tudo de bom.


Esta saudação não é um mero desejo sem conteúdo e sim que é eficaz, de modo que com ela se comunica a Timóteo toda a plenitude da graça da misericórdia e da salvação. E isto é uma garantia de Deus que é nosso Pai e de Jesus Cristo que é nosso Senhor


Com este dom de graça que foi conferido por Deus, Timóteo recebeu em sua qualidade de ministro de Deus a comunidade, o espirito de foraleza, de amor e de domínio próprio, as forças de graça do sobrenatural. É uma força divina para um trabalho orientado conscientemente a um fim e para um serviço disposto ao sacrifício, amor forte e sacrificado ao serviço dos irmãos, domínio decidido de si mesmo e serena reflexão em todas as suas tarefas. A bondade e a benignidade de Deus são armas para seu ministério com todos os dons que Timóteo necessita para o desempenho de sua difícil missão.


Fortalecido com essa força divina, Timóteo encontra a coragem de não se envergonhar do testemunho de nosso Senhor, e de não ter a menor vergonha de confessá-lo: “Deus não nos deu um espírito de timidez mas de fortaleza, de amor e sobriedade. Não te envergonhes do testemunho de Nosso Senhor nem de mim, seu prisioneiro, mas sofre comigo pelo Evangelho, fortificado pelo poder de Deus”.


Tudo que se fala de Timóteo é um vigoroso programa para todos nós que, de alguma maneira, somos apóstolos, testemunhas de Cristo no mundo onde vivemos e trabalhamos. Somos evangelizadores em meio da sociedade em que vivemos. O modelo desta atitude pode ser o próprio são Paulo, o velho lutador e apóstolo, que ao longo de toda a sua vida se entregou plenamente ao seu ministério.


Somos convidados por Paulo a agradecer a Deus por nossa fé, a crescer nela, a perseverar no nosso testemunho no meio do mundo, a não ser covardes no viver de nossa fé cristã, a gastar todas as nossas energias trabalhando pelo evangelho. É um testamento de Paulo e um programa estimulante para nós.


Quem sofrer por causa do Evangelho, estará manifestando que, na verdade, vai pelos caminho de Deus e que é fiel à missão que lhe é confiada. Quem molda sua vida aos critérios deste mundo e ganha complacência dos poderosos e malvados, é mercenário do Evangelho, mas não apóstolo nem mensageiro e muito menos mestre. É preciso sabermos em quem depositamos nossa fé. O próprio São Paulo sabe: “Sei em quem coloquei a minha fé. E tenho a certeza de que ele é capaz de guardar aquilo que me foi confiado até o grande dia”.


A esperança na ressurreição é a força capaz de ordenar as realidades humanas numa escala de valores


A discussão entre Jesus e autoridades passa agora do campo político-religioso para o campo puramente dogmático. Entram em cena os saduceus que Marcos cita somente na passagem do evangelho. O assunto é sobre a ressurreição.


Os saduceus são um grupo formado por pessoas ricas e por isso, são uma “classe separada”: fazendeiros e dominam os comércios da cidade. Eles pertencem às famílias sacerdotais dirigentes. Eles têm uma grande influência na política e na administração da justiça na Palestina. Eles são conservadores em termos da religião. Eles aceitam apenas a Tora (Pentateuco ou cinco primeiros Livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio). Eles não acreditam na vida depois da morte (ressurreição), pois não está escrita (explicitamente) no Pentateuco. Por isso, eles aplicam o ditado “Carpe diem” (aproveite o dia ou ser hedonista) ou salve-se quem puder. O divórcio entre eles é comum. Por não acreditar na vida após a morte, eles perguntam a Jesus a partir de um caso especial como conta o evangelho deste dia.


Jesus se baseia nas Escrituras (Mc 12,24) ainda que, depois, se limite a citar uma passagem do Pentateuco para se adaptar a seus interlocutores. A resposta de Jesus está contida nas duas frases praticamente idênticas: ”Vós estais enganados (Mc 12,24) e “Vós estais muito enganados” (Mc 12,27). Por dois motivos: Não conheceis as Escrituras nem o poder de Deus (Mc 12,24). A passagem que Jesus cita é Ex 3,1-12 onde se narra como Deus apareceu a Moisés na sarça. Nessa cena Deus se define como o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, o Deus de Jacó, isto é, o Deus que atua na história e que quer continuar sendo, com o homem, protagonista da história. O Deus de Abraão é o Deus dos vivos, o Deus fonte de vida. O homem que atua com Deus não pode ter como meta o fracasso da morte. A comunidade ou cada pessoa que tem a experiência com Jesus ressuscitado é um povo que vai além da história e é destinado para uma vida sem fim com Deus.


Além disso, Jesus olha para toda a revelação divina, inclusive a que teve lugar depois de Moisés na qual o conceito de ressurreição é evidente. Por exemplo, no Livro de Sabedoria onde se diz: “Deus criou o homem para a imortalidade” (cf. Sb 1,12-3,9; etc.). Para Jesus a vida dos ressuscitados é eterna, é imortal, como a dos anjos e por isso, não necessita perpetuar-se por geração.


Uma das coisas que sempre preocupam o homem é o seu destino final. O que passa depois da morte? Nós nos encontramos hoje diante da Palavra de Deus que toca um dos pontos mais difíceis de entender em nossa vida: a realidade da morte e a proposta cristã da Ressurreição. Ainda não entendemos as propostas cristãs da Ressurreição porque constantemente vivemos aferrados a uma falsa corporalidade pelo medo que nos inculcaram diante da realidade da morte. Cada dia os homens e as mulheres de nosso tempo vivem em um pânico constante diante da morte. Pânico que nos faz viver a vida de forma escrupulosa e de falsos moralismos.


Para o cristão, a resposta de Jesus ilumina este mistério e o faz viver em paz, pois agora sabe que não existe a morte e sim simplesmente uma transformação para quem vive no Senhor e com o Senhor e que se traduz na convivência fraterna com os demais.


A esperança na ressurreição é a força capaz de ordenar as realidades humanas numa escala de valores posta na vida eterna. Por isso, Jesus ensina que a vida eterna será dada na gratuidade e a universalidade na relação entre os homens, não haverá domínio de uns sobre outros, a existência será uma grande festa de vida eterna e plena. A ressurreição não pode ser entendida na perspectiva dos valores temporais. Isso é o que no texto significam os anjos.


Por outro lado, devemos entender no texto que Deus é um Deus dos vivos e não dos mortos. Devemos aprofundar sobre o mistério de um Deus que dá a vida, que transforma nosso ser, que nos ressuscita. Desta forma, o evangelista Marcos antecipa o conteúdo da ressurreição de Jesus como vida depois da morte e nos convida a descobrirmos o verdadeiro poder de Deus que transforma as forças da morte em forças de vida. O Deus que Jesus dá a conhecer é um Deus doador de vida e que deseja que as pessoas voltem a nascer de dentro com novos valores de vida e de justiça.


Diante da morte temos que ter uma atitude de acolhida e uma grande capacidade de tratá-la como fez São Francisco de Assis que chamava a morte de “a irmã Morte”, e diante da Ressurreição nós temos que entender o conteúdo de justiça que ela esconde.


A morte é um mistério, também para nós. Mas fica iluminada pela afirmação de Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto viverá” (Jo 11,25). Não sabemos como, mas estamos destinados a viver, a viver com Deus, participando da vida pascal de Cristo, nosso irmão. A ressurreição é a morte de nossa morte para vivermos eternamente com Deus. Santo Agostinho nos dá o seguinte conselho: “Confia em Deus; Ele sempre dá o que promete. Sabe o que promete, porque é a verdade. Pode prometer porque é onipotente. Dispõe de tudo porque é a própria vida. Oferece todas as garantias porque é eterno” (In ps. 35,13). “Deus, de quem separar-se é morrer, a quem retornar é ressuscitar, com quem habitar é viver. Deus de quem fugir é cair, a quem voltar é levantar-se, em quem apoiar-se é estar seguro. Deus, a quem esquecer é morrer, a quem buscar é viver, a quem ver é possuir” (Solil. 1,1,3). “A perda (de nossos entes queridos) que sofremos oprime-nos o coração, mas a esperança nos consola; nossa fraqueza natural nos acabrunha, mas a fé nos ergue outra vez; nossa condição mortal nos faz derramarmos copiosas lagrimas, mas as promessas de Deus as enxugam, acrescentou Santo Agostinho.
 
P. Vitus Gustama,svd

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