terça-feira, 12 de junho de 2018


15/06/2018
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VIVER CONFORME O CORAÇÃO PURO
Sexta-Feira da X Semana Comum


Primeira Leitura: 1Rs 19,9a.11-16
Naqueles dias, ao chegar a Horeb, o monte de Deus, 9ª o profeta Elias entrou numa gruta, onde passou a noite. E eis que a palavra do Senhor lhe foi dirigida nestes termos: 11 “Sai e permanece sobre o monte diante do Senhor, porque o Senhor vai passar”. Antes do Senhor, porém, veio um vento impetuoso e forte, que desfazia as montanhas e quebrava os rochedos. Mas o Senhor não estava no vento. Depois do vento houve um terremoto. Mas o Senhor não estava no terremoto. 12 Passado o terremoto, veio um fogo. Mas o Senhor não estava no fogo. E depois do fogo ouviu-se um murmúrio de uma leve brisa. 13 Ouvindo isto, Elias cobriu o rosto com o manto, saiu e pôs-se à entrada da gruta. Ouviu, então, uma voz que dizia: “Que fazes aqui, Elias?” 14 Ele respondeu: “Estou ardendo de zelo pelo Senhor, Deus todo-poderoso, porque os filhos de Israel abandonaram tua aliança, demoliram teus altares e mataram à espada teus profetas. Só eu escapei. Mas, agora, também querem matar-me”. 15 O Senhor disse-lhe: “Vai e toma o teu caminho de volta, na direção do deserto de Damasco. Chegando lá, ungirás Hazael como rei da Síria. 16 Unge também a Jeú, filho de Namsi, como rei de Israel, e a Eliseu, filho de Safat, de Abel-Meula, como profeta em teu lugar.


Evangelho: Mt 5,27-32
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 27 “Ouvistes o que foi dito: ‘Não cometerás adultério’. 28 Eu, porém, vos digo: Todo aquele que olhar para uma mulher, com o desejo de possuí-la, já cometeu adultério com ela no seu coração. 29 Se o teu olho direito é para ti ocasião de pecado, arranca-o e joga-o para longe de ti! De fato, é melhor perder um de teus membros, do que todo o teu corpo ser jogado no inferno. 30 Se tua mão direita é para ti ocasião de pecado, corta-a e joga-a para longe de ti! De fato, é melhor perder um dos teus membros, do que todo o teu corpo ir para o inferno. 31 Foi dito também: ‘Quem se divorciar de sua mulher, dê-lhe uma certidão de divórcio’. 32 Eu, porém, vos digo: Todo aquele que se divorcia de sua mulher, a não ser por motivo de união irregular, faz com que ela se torne adúltera; e quem se casa com a mulher divorciada comete adultério”.
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Em Deus Se Encontra a Força Para Nosso Cansaço e Nosso Desânimo A Fim De Continuar Nossa Missão


Que fazes aqui, Elias? Vai e toma o teu caminho de volta, na direção do deserto de Damasco. Chegando lá, ungirás Hazael como rei da Síria. Unge também a Jeú, filho de Namsi, como rei de Israel, e a Eliseu, filho de Safat, de Abel-Meula, como profeta em teu lugar”.


A cena que lemos na Primeira Leitura se situa ao final de um caminho dramático do profeta Elias: perseguido pela rainha Jezabel, Elias tem que fugir e passa quarenta dias caminhando pelo deserto, sedento, cansado, desejando-se a morte. Depois desse caminho chegou ao monte Horeb, no mesmo lugar onde Moisés se encontrou com Javé (Ex 33, 18-34, 9). Também Elias recebeu o benefício de uma aparição divina.


Esta experiência leva Elias à compreensão de que Deus não se encontra nos fenômenos naturais: furacão, terremoto e raios. Deus tampouco está no fogo onde o imaginava a tradição Javista do Sul (Ex 19,18). Em sua luta em prol do monoteísmo absoluto, Elias aprende a desacralizar a natureza e libertar a noção de Deus do naturalismo baálico dos fenícios e da rainha Jezabel, esposa do rei Acab.


Elias percebe, finalmente, a passagem de uma brisa ligeira, mas não diz que Javé estava nela. A brisa ligeira (cf. Gn 3,8) não é o sinal da doçura de Deus, pois depois Elias vai receber as ordens para voltar à cidade a fim de ungir uns usurpadores que semeavam ódio e violência no Oriente Próximo (vv. 15-17). A brisa ligeira serve, na realidade, para proteger o incógnito e o silêncio de Deus. Deus guarda silêncio e somente o crente pode ouví-Lo no silêncio. O mesmo sucede com o crente. Junto ao mundo ateu no qual vive, o crente reconhece o silêncio de Deus e, no entanto, ele ouve as ordens de Deus para sair de seu refúgio a fim de cumprir sua missão.


Somente aquele que sabe calar e escutar tem condição de pronunciar palavras plenas de sentido e de autoridade. Toda palavra deve ser precedida, acompanhada e seguida da escuta e do silêncio. O silêncio não é uma pausa devida ao cansaço de falar, nem se apresenta quando a palavra deixou de existir. Ao contrário, o silêncio constitui a essência de toda linguagem humana, já que representa sua fonte original e seu fim último. Fazer silêncio é reconhecer-se criatura necessitada da presença do Divino.


No encontro no monte Horeb (no ambiente silencioso) há o diálogo entre Deus e Elias. Deus pergunta a Elias: “Que fazes aqui, Elias?”. Como se Deus quisesse dizer a Elias: “Como é que você abandonou a cidade onde Eu lhe mandou para ser meu profeta?”. A resposta de Elias é a resposta de um profeta que sofre por Deus: “Os filhos de Israel abandonaram Tua aliança”. Mas a ordem de Deus é que Elias deva voltar novamente para a cidade e continue exercendo sua missão de profeta.


Em nossa história particular há períodos de deserto, de solidão, de cansaço. Mas cada um, a exemplo do profeta Elias, deve esperar Deus e suas ordens através de um modo menos esperado. Ouçamos a Palavra de Deus que é dirigida a cada um de nós. Fugir não é uma solução. Quem foge porque não é livre. Como o profeta Elias temos que voltar a exercer nossa missão mesmo que esteja contra o nosso gosto. Deus quer corrigir nossa presteza e nosso temperamento, que não está de acordo com o estilo de Deus. Nos certos momentos e em certas situações queremos que Deus venha de maneira espetacular como fogo e terremoto. Mas Deus se descobre nas coisas simples e humildes de cada, nas brisas cotidianas.


Diante de nosso desânimo, diante de nossa vontade de desistir de tudo, diante de nossas fugas da realidade, como aconteceu com Elias, também Deus nos lança a pergunta: “Que fazes tu aqui?”. “Por que abandonou aquilo que você deve fazer?”. Não podemos levantar nossos braços para nos render. Seguramente, ouçamos para outra Palavra de Deus: “Desande e volte!”, pois há muito que fazer neste mundo, dando testemunho, anunciando, denunciando e anunciando, buscando sucessores para a missão. Deus continua dizendo a cada um de nós: “Não te canses de ser minha testemunha neste mundo!”.


Viver Com Coração Puro


Estamos ainda no Sermão da Montanha (Mt 5-7). Na passagem do evangelho de hoje Jesus fala da moral conjugal e por isso, da fidelidade conjugal.


“Ouvistes o que foi dito: ‘Não cometerás adultério’. Eu, porém, vos digo: Todo aquele que olhar para uma mulher, com o desejo de possuí-la, já cometeu adultério com ela no seu coração”, disse Jesus.


Com o sexto mandamento (Ex 20,14.17), a Lei proibia o adultério. Mas Jesus coloca um princípio: o ato externo é somente a conclusão material daquilo que tem lugar no coração. Antigamente, o ato externo, em relação ao adultério, era um simples ato de injustiça contra o marido, pois a mulher era considerada como propriedade do marido. A mulher casada era o bem do marido; o homem era o dono da mulher (esposa).


Jesus não segue esta linha de pensamento. Jesus quer reabilitar a mulher. Para Jesus mulher é pessoa e não um objeto de propriedade (do marido). Por isso, tanto homem como mulher cometeram o mesmo adultério e não somente a mulher é culpada.


Por isso, Jesus insiste na limpeza de coração (em seu interior = em seu coração). O adultério é injustiça, e também o desejo de cometê-lo. É a injustiça contra o cônjuge. “O olho” simboliza o desejo; “a mão”, a ação. Ceder ao impulso de um ou outra leva o homem à morte.


Enquanto seus contemporâneos se preocupam com o ato exterior de adultério, Jesus se preocupa com o ato interior, onde tem início o desrespeito ao mandamento divino. Neste caso, Jesus é mais exigente. Ele busca profundidade e convida cada pessoa a ir até a raiz das coisas, a ir até o coração. A fonte de tudo está no coração. Jesus revolucionou completamente a moral conjugal. O que conta para Jesus não é o que aparece no olhar dos homens e sim o fundo dos corações. O que mancha o homem não é seu corpo e sim sua mente, seu desejo, sua intenção, que, depois, se traduz em ação ou em ato. Por isso, é preciso eliminar o mau desejo com a pureza de coração (uma das bem-aventuranças: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus” – Mt 5,8).


Na humanidade Jesus introduz um novo valor: o respeito profundo de si próprio, o respeito pelo outro sexo, a nobreza do amor. A moral conjugal não é, antes de tudo, uma lista de material de atos permitidos e de atos proibidos, e sim é uma atitude interior, muito mais exigente do que qualquer outra coisa neste sentido.


O cristão é exortado a olhar para a mulher do próximo (ou o homem do próximo) com pureza de coração, sem se deixar envolver pelo desejo de possuí-la. Só o coração não pervertido pela maldade é que pode olhar uma mulher (um homem) de maneira respeitosa, sem convertê-la em objeto de pensamentos maliciosos.


Com estas palavras Jesus convida o cristão a dar um passo adiante no amor. O amor do homem e da mulher não é o desejo e a busca egoísta da própria satisfação. O amor é querer o bem do amado, é encontro livre e libertador. A atração física sem amor é o sinal de alienação e imaturidade profunda; é a negação da liberdade e da dignidade da pessoa; é tentativa de destruir o outro para fazer dele coisa, objeto.


Um amor verdadeiro, com raiz na totalidade da pessoa, se insere na corrente única de amor que é Deus, Amor que dá/entrega o Filho: dom total. A família deve viver estas características de amor, que a marcam profundamente e solidificam a unidade. Trata-se do dom total; total até dar-se, sacrificar-se completamente.


“Todo aquele que olhar para uma mulher, com o desejo de possuí-la, já cometeu adultério com ela no seu coração”.


Quando nos examinamos, devemos, antes de tudo, analisar nossas atitudes internas que são raiz do que fazemos e dizemos mais do que uns fatos externos isolados. Se dentro de nós estão arraigados a arrogância, a negligência/preguiça, a cobiça, o rancor, pouco faremos para sua correção se não atacarmos essa raiz. Coração ferido fere. Coração cobiçado cobiça tudo. Se nosso olhar estiver viciado, tudo será visto com cobiça. As palavras inconvenientes nascem de nosso interior (de nosso coração). É dentro de nosso coração que devemos colocar o “remédio” para eliminar tudo que contamina nossa vida interior e exterior.


Segundo Jesus o que se busca, para o ser humano, é edificar mais por dentro do que por fora porque as leis são fáceis de burlar, enquanto que a consciência é o coração e o cimento da pessoa íntegra. Por isso, é preciso a mudança no coração que é visível na mudança fora do coração, na pessoa, em seu comportamento individual, familiar, comunitário e social.


A fidelidade matrimonial, e, equivalentemente, a fidelidade à vida religiosa ou ministerial, nos custará. Porque não se trata de ser fieis nos momentos em que tudo vai bem, mas também e principalmente quando não se sente gosto imediato em nossa entrega.


Jesus mostra a radicalidade no seu ensinamento. Com uma linguagem bastante radical e dramática Jesus quer nos dizer que há que saber renunciar a algo para segui-Lo em Seu caminho. Jesus nos disse que para conseguir um tesouro escondido, há que estar disposto a vender tudo (cf. Mt 13,44).


O matrimônio é como uma casa. Uma casa bem cimentada é firme, resistente e durável diante de qualquer tempestade (cf. Mt 7,21-29). Um cimento firme para o matrimônio é o amor. Somente aquilo que fazemos por amor permanece para sempre. As coisas se gastam e envelhecem; as modas passam; os costumes se sucedem, mas o amor permanece, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). Os amigos, se são de verdade, permanecem: “O amigo ama em todo o tempo: na desgraça, ele se torna um irmão” (Provérbio 17,17). Os amigos, de verdade, são dignos de amar e de ser amados. E somente quando amamos é que somos felizes. E quando somos felizes, o resto se tornará mais fácil, e ganharemos novas forças para superar as dificuldades e para carregar o que é insuportável quando não há amor no coração.


Além disso, o matrimônio é uma aliança, realizada com toda maturidade, e, ao mesmo tempo, aceitando todas as consequências dessa aliança. Isto exige uma autenctica fidelidade no amor. O amor é o central na decisão de uniser-se um homem e uma mulher de um modo estável. Mas não podemos negar tantas infidelidades nascidas de uma falta de autentico compromisso de amor entre os esposos.


Sejamos testemunhas da vitória de Cristo sobre o pecado e a morte para que todos possam proclamar com júbilo o Senhor. Que Deus nos conceda a graça de permanecer fieis ao amor de Deus e ao nosso próximo, de tal forma, que vivendo conforme o Evangelho e dando testemunho com nossas obras, sejamos dignos de permanecer unidos com o Senhor na eternidade.


Por fim, “Se o teu olho direito é para ti ocasião de pecado, arranca-o e joga-o para longe de ti! De fato, é melhor perder um de teus membros, do que todo o teu corpo ser jogado no inferno. Se tua mão direita é para ti ocasião de pecado, corta-a e joga-a para longe de ti! De fato, é melhor perder um dos teus membros, do que todo o teu corpo ir para o inferno”, disse o Senhor para cada um de nós, seus seguidores.


As palavras de Jesus podem soar um tanto duras para nós. Radicais, para aqueles que pensam que a Palavra de Deus tem que adequar-se a nossos tempos. No entanto, Jesus não quer deixar nenhuma dúvida de que a Palavra de Deus é a mesma de onte, de hoje e de sempre. Tudo aquilo que nos faz cair em pecado deve ser erradicado de nossa vida mesmo que seja difícil de fazer isso. Se não mudarmos por amor, mudaremos pela dor (a dor vai nos obrigar a mudar). Jesus utiliza esses exemplo simbólicos (olho direito, mão direita) para que entendamos que nosso corpo ou nossa condição humana não deve nos dominar e que é possível erradicar de nossa vida tudo aquilo que não nos permite nos apresentar diante de Deus; tudo aquilo que não nos permite gozar plenamente da bênçãos que Deus tem para nossa vida. Não devemos andar nos justificando de nossa condição humana ou de nossa debilidade. É possível tirar de raiz tudo o que nos aliena de Deus. Basta colocar Deus no centro de nossa vida.
P. Vitus Gustama,svd

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