Domingo,23/09/2018
SERVIR OS
OUTROS PARA SALVÁ-LOS É O ESTILO DE VIDA DO CRISTÃO A EXEMPLO DE CRISTO JESUS
XXV DOMINGO DO TEMPO COMUM B
Primeira
Leitura: Sb 2,12.17-20
Os ímpios dizem: 12 “Armemos ciladas ao justo, porque sua
presença nos incomoda: ele se opõe ao nosso modo de agir, repreende em nós
as transgressões da lei e nos reprova as faltas contra a nossa disciplina. 17
Vejamos, pois, se é verdade o que ele diz, e comprovemos o que vai acontecer
com ele. 18 Se, de fato, o justo é ‘filho de Deus’, Deus o defenderá e o
livrará das mãos dos seus inimigos. 19 Vamos pô-lo à prova com ofensas e
torturas, para ver a sua serenidade e provar a sua paciência; 20 vamos
condená-lo à morte vergonhosa, porque, de acordo com suas palavras, virá alguém
em seu socorro”.
Segunda
Leitura: Tg 3,16-4,3
Caríssimos: 3,16 Onde há inveja e rivalidade, aí estão as
desordens e toda espécie de obras más.17 Por outra parte, a sabedoria que
vem do alto é, antes de tudo, pura, depois pacífica, modesta, conciliadora,
cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem fingimento. 18 O
fruto da justiça é semeado na paz para aqueles que promovem a paz. 4,1 De onde
vêm as guerras? De onde vêm as brigas entre vós? Não vêm, justamente, das
paixões que estão em conflito dentro de vós? 2 Cobiçais, mas não conseguis ter.
Matais e cultivais inveja, mas não conseguis êxito. Brigais e fazeis guerra,
mas não conseguis possuir. E a razão está em que não pedis. 3 Pedis, sim, mas
não recebeis, porque pedis mal. Pois só quereis esbanjar o pedido nos vossos
prazeres.
Evangelho:
Mc 9,30-37
Naquele tempo, 30Jesus e seus
discípulos atravessavam a Galileia. Ele não queria que ninguém soubesse disso,
31pois estava ensinando a seus discípulos. E dizia-lhes: “O Filho do Homem vai
ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão. Mas, três dias após sua
morte, ele ressuscitará”. 32Os discípulos, porém, não compreendiam estas
palavras e tinham medo de perguntar. 33Eles chegaram a Cafarnaum. Estando em casa,
Jesus perguntou-lhes: “O que discutíeis pelo caminho?” 34Eles, porém, ficaram
calados, pois pelo caminho tinham discutido quem era o maior. 35Jesus
sentou-se, chamou os doze e lhes disse: “Se alguém quiser ser o primeiro, que
seja o último de todos e aquele que serve a todos!” 36Em seguida, pegou uma
criança, colocou-a no meio deles e, abraçando-a, disse: 37“Quem acolher em meu
nome uma destas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher, está
acolhendo, não a mim, mas àquele que me enviou”.
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Este texto faz
parte de uma seção chama-se de “O caminho de Jesus e dos
discípulos”(8,22-10,52). Este conjunto começa com a cura do cego (8,22-26) e
termina com a mesma (10,46-52). Com isso Marcos quer nos mostrar que os
discípulos continuam com sua incompreensão diante da missão de Jesus. Com muita
paciência Jesus instrui os discípulos.
Esta seção é a
parte central do Evangelho de Marcos. Nela o autor trabalha com grande
habilidade para apresentar o verdadeiro Cristo aos fiéis da sua comunidade.
Pois, esses fiéis precisavam compreender que os sacrifícios e sofrimentos que
experimentavam como cristãos eram conseqüência lógica de eles serem discípulos
de Jesus de Nazaré, que se fez Servo sofredor e que é agora o Cristo
Ressuscitado.
Nesta seção Marcos
coloco cinco temas:
1). Jesus assume seu papel do Servo
sofredor, descrito por Isaías (Is 53; cf. também Is 42), no plano do Pai.
2). Jesus explica aos discípulos
que ele está indo para sua morte, mas que ele ressuscitará dos mortos. Em três
predições da sua morte e ressurreição, Jesus revela novos horizontes para a fé
deles. Ele quer ensinar-lhes o tipo de Messias que ele é: um Messias que doa
sua vida até as últimas possibilidades de doação.
3).Os discípulos não compreendem quando Jesus fala de sacrifício e
sofrimento. Para eles um Messias que sofre é uma contradição. Depois de cada
uma das três predições da sua Paixão e Morte, os discípulos mostram sua falta
de compreensão (9,5-6.10.19.32.34.38;10,13.24.32.37.41).
4).O convite ao espírito de doação de si. Jesus responde à incompreensão dos
discípulos, instruindo-os sobre a maneira correta em que eles terão de
segui-lo. Nesta seção Marcos concentra o ensinamento ético e moral de Cristo.
“No caminho a Jerusalém”, Jesus se aproveita das oportunidades que surgem
espontaneamente para mostrar aos discípulos como deverão tornar concreto o seu
espírito de amor sacrifical no dia-a-dia de suas vidas. Assim, o convite à fé e
à conversão com que Jesus iniciou a sua missão(1,15) tornou-se agora um convite
a segui-lo neste mesmo espírito de doação de si que motiva a sua ida a
Jerusalém.
Em todas as
situações e em todos os seus relacionamentos, os cristãos deverão manifestar o
mesmo espírito de amor que motiva Jesus no caminho a Jerusalém. Os primeiros
cristãos eram tão conscientes de que sua conduta devia refletir o amor
sacrifical de Jesus, que as comunidades se designavam “os adeptos do caminho” (At
9,2;18,25-26;19,9.23).
5). No início e no fim desta seção,
Marcos coloca o tema de fé como dom de Deus. A fé faz ver quem é Jesus. Desde o
começo da atividade pública de Jesus, Marcos mostrou-nos a cegueira dos
discípulos. Mas Jesus fará tudo para, pouco a pouco, tirar a cegueira dos
discípulos. A visão clara que se tem de Jesus não vem de uma só vez. Mas com a
ajuda de Jesus, veremos mais claro e com maior nitidez quem é Jesus para nós. A
fé também faz ver o caminho que Jesus trilhou e que devemos trilhar. Assim a
seção começa e termina com a cura de um cego (8,22-26; 10,46-52). E essas duas
curas têm uma função simbólica: para mostrar a cegueira dos discípulos. Elas
também lembram o leitor de que é Jesus quem faz possível a fé daqueles que
acreditam nele e O seguem no caminho.
Somente Quem Serve Aos Outros Tem Autoridade
Domingo após domingo
vamos escutando a Palavra de Deus, que é a melhor escola de sabedoria e que
neutralizando a mentalidade que o mundo nos quer inculcar.
Na Carta de são
Tiago que lemos na Segunda Leitura nota-se bem esta contraposição. Para ele, se
vivermos segundo a mentalidade deste mundo, não poderemos escapar da espiral
das ambições e conflitos e cobiças. Em seu tempo e
agora, o egoísmo parece ser o slogan daqueles que são guiados apenas por visões
terrenas. E isso nos traz inveja e luta, desordem e todo tipo de males: “Onde há inveja e rivalidade, aí
estão as desordens e toda espécie de obras más”. (Tg 3,16).
Mas quando seguimos
“a sabedoria que vem de cima” como enfatiza são Tiago, mudarão nossos critérios,
porque “pura, pacífica, modesta, conciliadora, cheia de
misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem fingimento”. É bom para nós ir à escola de Cristo em cada Eucaristia, assimilar, na
teoria e na prática, o estilo de vida que ele ensina aos seus seguidores.
No domingo
anterior, o anúncio de que a promessa de vida nova do Messias se relizaria
através do “fracasso” da cruz, suscitou a reação contrária de Simão Pedro. Hoje
a reação é muito mais lamentável e entristecedora: os discípulos nem sequer
escutaram. Suas preocupações se dirigiam para o êxito pessoal, exatamente o
contrário do que Jesus intentava explicar-lhes. Jesus deve voltar a explicar e
a insistir no estilo que Ele propõe: trata-se de querer viver toda a vida como
serviço, e trata-se de saber reconhece-Lo não nos grandes e prestigiosos, e
sim nos humildes e débeis. A proposta de Jesus é um estilo que abraça toda a
vida. O caminho de serviço aos demais até dar a vida se opõe radicalmente ao
caminho de domínio sobre os demais até não deixa-los viver.
Porém, por outro
lado, a incompreensão dos discípulos sobre o ensinamento de Jesus é total. Com
isso, Marcos quer lembrar com mais freqüência como é difícil para os discípulos
acreditarem em Jesus e aceitarem as exigências de segui-lo. Diante da
incompreensão que os discípulos continuam a mostrar, Jesus repete o ensinamento
sobre o seu destino e junto com ele, os seus seguidores.
Mas eles têm medo
de lhe perguntar porque vislumbram que a explicação não corresponderia à sua
expectativa de triunfo. Uma sabedoria chinesa diz: “Quem pergunta, é bobo
por cinco minutos. Quem não pergunta é bobo para sempre. Quem te instruiu por
um dia é teu pai por toda a vida”. Os discípulos são como homens que sabem
tanto até têm medo de saber mais.
Por isso, é tão difícil
compreender o caminho de Jesus, porque a ambição e a vontade de poder estão
arraigadas fortemente em nós. E esta é também a razão de um grande malentendido:
se diz que o poder é um serviço, e o que se quer dizer com isso, de maneira
escondida, é que os que ostentam o poder “servem” ao povo mandando. Por isso é
justamente o contrário do que pensava Jesus quando dizia aos discípulos: “Se
alguém deseja ser o primeiro seja o último e ser servidor de todos”.
Jesus propõe-se a
ajudá-los através de uma pergunta e de uma afirmação: “Sobre o que vocês
estavam discutindo no caminho?” É uma pergunta que lhes causa embaraço. O
silêncio deles revela sua cegueira/obcecação (veja Mc 3,4; 7,25) e
improcedência do tema que discutiram: quem tinha status superior ou maior
categoria no grupo. A incompreensão dos discípulos é total. Domina neles a
ambição de preeminência, à qual o sistema judaico incita, radicalmente oposta
ao ensinamento de Jesus (v.31). Empolgados pelo líder que fazia sucesso,
sonhavam com uma boa posição no futuro Reino. E já brigavam, competindo por
essa boa posição.
Muitos cristãos
aceitam algumas partes da mensagem cristã que eles gostam e servem para eles e
recusam entender o resto. Um verdadeiro cristão deve aceitar a mensagem toda do
cristianismo, todo o ensinamento que Jesus nos deixou. Muitos séculos depois, é
pena que ainda hoje na Igreja nem todos tenham entendido a lógica do serviço.
Muita gente ainda pensa que ter “cargos” é que tornam as pessoas mais
importantes.
Jesus muda as
palavras. Em vez de “o maior”, Jesus
fala sobre “o primeiro e “o último” e “servo”. Com isso, o sujeito é mais
claramente centrado no lugar de honra, pois um discípulo pode ser que seja o
maior do que os outros de certa perspectiva. Com palavras e gesto, Jesus traduz
sua intenção aos discípulos: “Se alguém deseja ser o primeiro seja o último
e ser servidor de todos” (v.35).
Como é que
pode alguém ser o primeiro sendo o
último ? Com um gesto Jesus pega uma criança e a acaricia. Em aramaico a
palavra que se usa é “talya” que
pode significar “servo” ou “criança”. Na época a criança com
menos de doze anos e servo, não tinham qualquer consideração social. Eles eram
“proprietários do dono”. O jogo de palavra estabelece o elo entre “o
servo/servidor” do v.35 e a “criança” dos vv.36-37.
“Jesus pega/toma
a criança para seus braços”. Este é um ato simbólico: pegar/tomar
significa acolher (cf. 6,11); significa servir com amor os membros mais
fracos da comunidade, aqueles que estão em maior necessidade. E Jesus
vai além disso: ao fazer isso, o discípulo estará servindo a Jesus e o Pai que
enviou Jesus. Na comunidade de Jesus, então, o que serve, e não o que
manda, é o maior. Toda ambição de preeminência ou de domínio é excluída.
Marcos sublinha aqui a lição sobre a dignidade de serviço (Cf. Jo 13,14-16).
É admirável a
ambição de alguém que deseja redimir sua humilde condição de nascimento,
valorizando todas as suas capacidades de inteligência e de luta. É um desejo
inato, primordial. É muito normal ter o desejo de ser, de valorizar a própria
existência, de subir mais alto na vida. E isso acontece em todos os campos. Não
há ninguém que, para viver, não sinta necessidade de ser o primeiro em alguma
coisa.
O que Jesus muda
radicalmente é o motivo desse desejo e, portanto, também o modo de realizá-lo:
“Seja o último de todos e o servo de todos”. Com estas palavras Jesus dá
um golpe mortal contra a idéia que os homens sempre fazem da autoridade, do
poder e do governo. A verdadeira autoridade não está em afirmar a si mesmos
reduzindo os outros a escravos, a clientes, mas em colocar para fora (fazer bondade)
aquilo que é e aquilo que se tem de bom em benefício de todos. Isso cria a nova
grandeza evangélica. Uma pessoa de alma nobre não sai à procura das honras, mas
do bem. “Chegamos mais perto da grandeza quando somos grandes na humildade”(R.Tagore)
e no serviço.
Em sua Meditação
sobre o poder e a graça, José I. Gonzalez Faus(o mesmo autor de A autoridade da
verdade) afirmou: “O poder serve para muitas coisas. Mas não serve para que
os homens se tornem bons; não serve para libertar ou curar a liberdade humana,
só serve para suprimi-la. A graça, ao contrário, faz bons homens e liberta a
liberdade humana. O poder obriga, a graça ajuda. O poder cria quartéis ou
campos de concentração; o carisma edifica a comunidade. O poder impõe o
silêncio, o carisma fala em silêncio...O poder se atribui carismas, o carisma
não se atribui poderes. O poder suplanta o Espírito, o carisma faz transparecer
o Espírito. E por isso o poder acaba por levantar a cruz, e o carisma acaba por
morrer pregado na cruz”.
Para um ambicioso
as honras valem tudo: ele se sente totalmente envolto pela espiral da glória.
Quando dominado pelo vício, ele não suporta competidores, nem admite rivais.
Quem é ambicioso, é dificilmente se preocupará com ser justo. Perante a
necessidade de alcançar o que deseja, ele só enxerga uma alternativa: humilhar
os outros e eliminá-los. Os outros já não são pessoas que merecem respeito, mas
são degraus que só servem para ser galgados no intuito de ele atingir o vértice
do poder. O ambicioso, quando estiver no vértice do poder, transmitirá aos
súditos os seus sentimentos, arruinando a nação/grupo/comunidade etc. com assim
chamada de política do prestígio, dos que só visam a conseguir a sua própria
grandeza. Ele só obedece ao seu instinto de mandar e receber honrarias.
Infelizmente,
ninguém escapa da ambição. Cada qual tem as suas aspirações; até mesmo uma
pessoa humilde tem as suas pequenas ambições.
Não dá para ter
boas relações com Deus sem acolhimento afetuoso das pessoas, sem ser para os
outros um sinal da solicitude de Deus. E isso aparece mais quando vamos aos
pequenos porque os grandes costumam estar bem servidos, independentemente dos
nossos sentimentos cristãos. Os cristãos existem para ser presença do amor de
Deus lá onde estão os mais esquecidos e desamparados, não para cuidar de manter
a própria importância ou para se afirmar sobre a miséria dos outros. Não se
trata de cálculo, de estratégia para ganhar adeptos. Trata-se de exigência
fundamental do seguimento de Jesus.
Creio que cada
problema econômico seria resolvido, se os homens vivessem por aquilo que eles
poderiam fazer para os outros e não por aquilo que eles poderiam tirar dos
outros. Cada problema político seria resolvido, se a ambição dos homens fosse
somente a de servir os outros e não para aumentar seus próprios privilégios. As
divisões e as disputas que rasgam a Igreja não aconteceriam, se seus dirigentes
e seus membros vivessem e trabalhassem para servir a Deus e ao próximo, especialmente
os mais necessitados sem se preocupar com a posição que eles poderiam ocupar.
Talvez tudo isto
aconteça porque estamos longe demais do espírito de Jesus Cristo. Se quisermos,
realmente, ser cristãos verdadeiros, devemos escutar, refletir e viver aquilo
que Jesus pede no evangelho de hoje:” Quem quiser ser o primeiro, que seja o
último de todos e aquele que serve a todos”. Que nós briguemos para servir ou
para fazer o bem para os outros, e não para ser quem manda mais, pois ao
servirmos aos demais, estaremos prolongando o ato de servir de Jesus nesta
terra, e através os outros vão nos reconhecer não apenas pela pertença
religiosa, mas principalmente pelo comportamento cristão. Em outras palavras
podemos dizer o cristão se define não a partir da pertença religiosa, mas a
partir do modo viver segundo os ensinamentos de Cristo que se resume no amor a
Deus e ao próximo.
Ser Cristão É Ser Educador-Servidor-Profeta
Pela segunda vez Jesus revela aos seus
discípulos sua próxima Paixão (Mc 8,31-33; 10,31-34). Ao mesmo tempo ele
abandona deliberadamente a pregação à multidão (Mc 9,30) incapaz de
compreendê-Lo para se dedicar exclusivamente à formação definitiva dos
discípulos: “Ele não queria que ninguém soubesse disso, pois estava
ensinando a seus discípulos”.
Ensinar é uma das preocupações de Jesus nos
evangelhos, especialmente no evangelho de Marcos (Mc 1,22; 4,2; 6,2; 9,31
etc..). Jesus Cristo é a Palavra divina (Jo 1,1). Jesus é a Palavra inesgotável
de Deus para se comunicar com os seres humanos. Como a Palavra divina, as
palavras de Jesus são sempre promessa e expressão de vida. Através de seu ato e
atividade de ensinar Jesus quer que os seus ouvintes cresçam na liberdade e
dignidade tendo consciência critica sobre a realidade ao seu redor (cf. Mc
1,22). Cristo é o bom Mestre, o Mestre profundamente humano que acaricia, exorta
e ameaça com palavras duríssimas (Cf. Mt 11,20-24; 23, 1ss), mas humanismo não ao
estilo humano e sim ao estilo divino, porque ensina fazendo-se um, encarnando-se,
pondo-se à altura dos que ele quer ensinar para que se tornem pessoas realizada
e sejam salvas.
Cada cristão é chamado a ser
educador-profeta. Os profetas falam em nome de Deus, são Seus porta-vozes que
sacudam as consciências, levantem as vidas de mediocridade, de desesperança, do
tédio e de insensibilidade. Todo profeta é educador e todo educador cristão é
chamado a ser um profeta. A educação é, portanto, uma vocação de serviço. Cada
cristão, cada educador cristão é chamado a transformar cada lugar, cada escola
em lugares de vida nos quais se aprende a viver e conviver, a desfrutar a vida
e a dignidade, a defender a vida, a combater tudo o que ameace a vida.
Em seguida, Marcos nos relatou sobre o
anúncio da Paixão, morte e ressurreição de Jesus. Ao anunciar pela segunda vez
aos seus discípulos sua paixão e morte Jesus quer educá-los sobre o que
significa seguir a Jesus Cristo. Mas os seus não estão dispostos a atender o
que seu Mestre quer dizer ou ensinando. O que lhes preocupa é “quem será o mais
importante”. Cada educador, cada mestre precisa ter paciência em ensinar ou
educar. É um trabalho de serviço. Um servo está sempre disposto e disponível
para atender a seu senhor.
Para acabar com a ambição dos discípulos de
quererem ocupar primeiros lugares Jesus dá algumas lições (ensinar) sobre o
estilo de vida para quem quiser ser seu discípulo. Jesus marca as linhas
fundamentais da espiritualidade que se deve respirar qualquer comunidade
cristã. A idéia-mestra é esta: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o
último de todos e aquele que serve a todos!”. Isto é, ser o servidor de
todos. Aos olhos de Deus é realmente o primeiro aquele que se dispor a estar a
serviço de todos. Não se trata de um servir com segundas intenções ou um
escolher diplomático do último lugar visando promoção. Deus considera o
primeiro na comunidade àquele que em seu interior, com toda a sinceridade,
assume nessa comunidade uma posição de disponibilidade em relação aos outros.
Para acentuar a lição dada aos discípulos
Jesus põe uma criança (um menino) no meio deles: “Em seguida,
pegou uma criança, colocou-a no meio deles, e abraçando-a disse: ‘Quem
acolher em meu nome uma dessas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem
me acolher, está acolhendo, não a mim, mas àquele que me enviou’”. Jesus
utiliza uma estratégia pedagógica: coloca um menino no meio e o abraça. Um
menino! Uma criança! Quantas coisas diz a imagem deste menino abraçado por
Jesus! É um abraço com que Deus abriga, anima e fortalece o novo começo
(menino/ criança). É o abraço que envolve toda a confiança, toda a ternura,
toda a proximidade do Senhor para quem quiser ser verdadeiro discípulo, e não
prematuro mestre. A criança, ainda que seja capaz de mentir por medo ou por
pavor, quando bem educada, ela é quase incapaz de disfarçar os seus
sentimentos. Achando algo estranho ou ridículo, ela o demonstrará externamente.
Pela veracidade dos seus sentimentos, ela desarmará e até incomodará os
adultos.
A figura bíblica do “menino” ou “criança” é
símbolo de marginalização e indefesa. No tempo de Jesus, um menino era símbolo
de ignorância, imaturidade e insignificância. Um menino era equiparava com os
escravos. No entanto, por seu grau de dependência o menino se converte em
preocupação permanente para seus progenitores sem os quais o menino não
sobreviveria ou não receberia uma boa educação. Assim, o menor se converte no
mais importante porque requer a atenção e o cuidado dos maiores. É uma lição
viva de pequenez e de humildade. Ser simples é ser modesto, singelo, puro,
desprovido de elementos acessórios, isento de significações secundárias, sem
luxo nem ostentação. Ser humilde consiste em manifestar a virtude de conhecer
suas próprias limitações. É reconhecer ser pó, mas é pó vivente, pois Deus
soprou seu espírito nele que o capacita a viver na espera divina.
Por isso, a grandeza do homem está na
humildade. “Quanto mais humildes,
maiores” dizia Santo Agostinho. Mas “simular
humildade é a maior das soberbas”, acrescentou Santo Agostinho. A paz
florescerá em qualquer comunidade cristã se seus membros fazem seu o espírito
evangélico de humildade e de simplicidade. O próprio Jesus serve de exemplo,
pois sua vida está na sua atitude de entrega para a salvação de todos.
Depois que colocou a criança ou o menino no
meio dos discípulos, Jesus pronunciou a seguinte frase: ““Quem acolher em
meu nome uma dessas crianças, é a mim que estará acolhendo. E quem me acolher,
está acolhendo, não a mim, mas àquele que me enviou”. Esta sentença nos
recorda a parábola do juízo final (Mt 25,31-46) e o final do discurso
missionário (Mt 10,42). Assim a criança aqui assume um sentido novo. Não é mais
a criança em sentido próprio e sim o símbolo do necessitado. É o sedento, o
faminto, desnudo, o prisioneiro, o marginalizado, o abandonado, o doente, o drogado
e assim por diante.
Também podemos ter dificuldades em querer
entender a lição que Jesus deu aos discípulos. Tendemos a ocupar os primeiros
lugares, a buscar nossos interesses, a desprezar as pessoas que contam pouco na
sociedade e das pessoas que não podemos esperar grandes coisas.
Se quisermos colaborar com Jesus Cristo e
fazer algo válido na vida, temos que contar em nosso programa de vida com a
renúncia e a entrega, com a humildade e a simplicidade. O desejo de poder e a
busca dos próprios interesses fazem impossíveis a renúncia, a entrega e
impossibilita o cristão a servir aos demais. Um cristão que não serve não serve como cristão. Uma Igreja que não serve, não serve para
nada. Servir pela salvação dos demais é o centro do cristianismo. Para
sermos felizes temos que fazer os outros felizes. A competitividade faz
desaparecer a solidariedade, a compaixão, a igualdade, a fraternidade e a
colaboração. A competitividade sempre torce para que a vida do outro não dê
certo para que ele possa estar em destaque solitariamente para ser adorado
pelos demais.
Servir é adorar a Deus em ação. Servir é a
oração e a adoração colocadas na prática do amor fraterno. Servir é fazer algo
de bom sem esperar nada de troca ou de reconhecimento. Renunciar a ser o
servidor, a ser o pequeno significa renunciar Jesus, porque somente quem acolhe
sua vocação de serviço como se acolhe um pequeno (criança), acolherá Jesus e o
próprio Deus que o enviou. O poder e o serviço se excluem. A ambição de poder é
o câncer do serviço. O poder pode servir para muitas coisas, mas não serve para
tornar bons os homens. Geralmente os maus líderes produzem os maus
funcionários. Um coração corrompido é ninho de discórdia. Uma mente obcecada
nunca ilumina bem os caminhos.
P. Vitus Gustama,svd
4 comentários:
Muito bom. Difícil,mas possível.
Obrigado, Júlia. Deus a abençoe.
Homilia ungida! Shalom 🙏
Deus a abençoe, Alessandra e a ilumine na sua vida diária.
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