Quinta-Feira Santa,09/04/2020
AMOR
SEM LIMITE
QUINTA-FEIRA SANTA
Jo 13,1-15; Ex 12,1-8.11-14; 1Cor 11,23-26
I. REFLEXÃO SOBRE O TEXTO DO
EVANGELHO
O texto Jo 13,1-15 faz parte do discurso da
despedida de Jesus (Jo 13,1-17,26). Na realidade, o discurso de despedida se encontra
apenas nos capítulos 13,31-14,31. A continuação lógica de Jo 14,31 encontramos
em Jo 18,1, no relato da paixão. Jo 15-17(três capítulos) havia sido
introduzido neste espaço aberto por evangelista-redator para incluir no
evangelho o material precioso que até agora não tem encaixado dentro do esquema
do evangelista.
1.1.
Amar Até o Fim
O texto começa com esta frase: “Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que
chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que
estavam no mundo, amou-os até o fim”. Este primeiro versículo do capítulo
13 é muito solene; e é uma abertura e uma espécie de síntese de toda a segunda
parte do Evangelho de João (Jo 13,1-20,29). Fala-se neste versículo a chegada
da hora de Jesus que vinha sendo preparado passo a passo na parte anterior (Jo
2,4; 7,6.30; 8,20;9,3-5; 12,23).
Fala-se também da PÁSCOA (passagem). A páscoa do Senhor se caracteriza pelo amor:
“Ele, que tinha amado os seus que estavam
no mundo, amou-os até o fim”. Jesus vai passar ao Pai (páscoa, passagem). É
uma passagem nova e diferente. Mas para chegar ao Pai ele tem que passar pela
cruz onde ele se entrega para dar a vida ao homem por amor. O seu amor se
expressa no máximo grau dando a vida por seus amigos (Jo 15,13). Por isso, Jo
usa o termo ÁGAPE, aqui, quando se fala do
amor. Ágape
é o amor divino cujas características são estas: gratuita, total, imutável e
definitiva. Estas características nos mostram que Jesus está
totalmente com Deus, a ponto de ele amar como Deus ama. Consequentemente, por
estar totalmente com Deus, Jesus está totalmente como a humanidade, com os
homens e mulheres. Jesus ama a todos sem medida, até o fim (Jo 13,1). Um ser
humano que ama desta maneira significa que ele foi totalmente modelado por Deus
de amor. Este é a última etapa passada por Jesus. O que vem a seguir é
explicação e aprofundamento do que significa “amar até o fim”.
Jesus quer
que façamos esta páscoa
(passagem ). É uma passagem ,
na linguagem de São
Paulo, do homem velho
ao homem novo ,
do fermento da malícia
aos pães não
fermentados de pureza e de verdade (cf. 1Cor
5,8). Esta passagem é um modo de viver a um outro , isto é, do viver para o mundo e conforme o mundo ,
ao viver para o Pai . É uma passagem
do “eu ” para Deus e do “eu ” para o outro . A páscoa é caminhar em direção de Deus . É deixar-nos iluminar
pela luz
de Deus e expor
nossa vida
ao Seu Julgamento
e ao seu perdão .
É preciso abrirmos “as janelas ” de nosso
coração para deixar a luz divina entrar nele. Por isso , é uma
passagem à liberdade
e à alegria . Se formos sinceros , somos ainda
escravos de tantas coisas .
E Deus nos
convida a sairmos de tudo isto . Isto se chama a páscoa ,
uma passagem . Como
é bom ser livre !
A expressão
“os seus ” é característica
nesta passagem . Ela
indica a intensidade do amor , a predileção
e a pertença a Cristo .
Esta expressão é unida a outra : “que estavam no mundo ” para sublinhar a situação de solidão , de
perseguição e de estranheza dos discípulos no mundo .
A relação “discípulo-mundo” aparece com frequência nos
capítulos 13-17. A expressão
“até o fim ”
(eis telos), que significa duplamente :
“total , absolutamente ”
e “até o último
momento da vida ,
até a plenitude
ou no mais
alto grau ”,
prepara a exclamação
de Jesus na cruz : “Está consumado ” (Jo 19,30; 19,28). Jesus ama sem medida . Em Jo
15,13 se apresenta a morte voluntária
como a expressão
suprema do amor :
“Ninguém tem maior
amor do que
aquele que
dá a vida por
seus amigos ”.
1.2. O Lava-Pés e Seu Sentido:
Servir Como Estilo de Vida
O evangelho não diz quem foi o primeiro a ter
os pés lavados. Isso é sinal de que Jesus não privilegia ninguém. Todos recebem
seu amor-serviço de modo igual e imparcial, inclusive o traidor, Judas.
Simão Pedro reage com energia. Ele viu no
gesto de Jesus lavar os pés um mero gesto de humilhação; Jesus, porém, a
dedicação da própria vida. Ele continua acreditando que é muito normal que numa
comunidade alguns sejam senhores e outros sejam servos, os primeiros cheios de
direitos e privilégios e os segundos cheios de deveres. Ele crê piamente numa
sociedade de desiguais. Por isso, ele representa aquelas que seguem a Jesus mas
ainda não se encontraram.
O lava-pés
simboliza toda a missão
de Jesus: a entrega de sua vida ; não somente o serviço prestado aos demais ,
e sim o serviço
supremo prestado aos homens pelo Servo de Deus por excelência .
Jesus diz que sem
lavar os pés ,
Pedro não terá parte
com Jesus. “Ter parte ” é uma expressão
semítica . A parte
é a herança que
Deus concede ao seu
povo (Gn 31,14;2Sm 20,1;1Rs 12,16). Na meditação
judaica , o tema
da herança aprofundou-se em três direções : individual ,
espiritual e escatológica. A herança , por isso , não é mais simplesmente
a Terra Prometida, mas
a comunhão com
Deus , a salvação ou a vida , na linguagem de João; e não
mais uma realidade
presente , mas
futura . O gesto de Jesus, então , deve ser
compreendido no sentido de participar do dom
escatológico. E não é possível comungar da vida de Jesus sem
aceitar sua
lógica do serviço
radical pela salvação dos demais em nome
do Senhor Jesus Cristo.
No diálogo
com Pedro, Jesus afirma: “Também
vós estais limpos ,
mas não
todos ” (v.10b). Jesus está falando
do traidor (Judas ).
Por isso ,
é bom ler o
v.21 logo depois
do v.11 para ver sua sequência lógica .
Cristo não
exclui o traidor do benefício do rito
do lava-pés . Todavia ,
o rito não
terá para ele
nenhuma utilidade . Mas
mesmo diante
daquele que o trairá, o Senhor
se abaixa . Ao dizer” nem todos estão limpos ”
Jesus se refere à pureza que nasce do coração
da acolhida à Palavra e que cresce na fé .
No relato mais adiante ,
Jesus identificará o traidor com estas palavras : “É aquele
a quem eu
der pão que
vou umedecer no molho ”
(Jo 13,26). O ato de Jesus de oferecer o pão umedecido no molho a Judas é
o sinal de carinho
especial . Isto
quer dizer que até o traidor Jesus ama
até as últimas consequências, de maneira extraordinária
e quer sua
salvação. Mas Deus
continua respeitando a liberdade de escolha do homem .
Deus sempre
provoca as pessoas à tomada de decisão .
A única coisa
que Deus
faz é oferecer o seu
amor ao ser humano até o fim , pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). E infelizmente ,
Judas não
aceita esta oferta de amor . É duro não querer ser
amado . É incompreensível
não querer aceitar o carinho . Aquele que é capaz de receber amor do Outro e
dos outros , é capaz
também amar
os outros .
Depois de lavar os pés dos discípulos, Jesus
retoma o manto e senta de novo à mesa, ou seja, volta à condição de pessoa
livre pois os dois gestos “retomar as vestes” e “sentar-se” indicam a condição
da pessoa livre (os escravos permaneciam de pé, prontos para executar as ordens
do seu senhor). Aqui há um detalhe importante: o evangelho não diz que Jesus
tenha tirado a toalha, símbolo do serviço por amor. Esse pormenor é muito
significativo, pois o serviço de Jesus continuará até a cruz. Servir é um
estilo de vida de cada cristão, seguidor do Senhor Jesus Cristo, o Servo de
Deus.
A toalha ou o avental
é o símbolo do serviço
ao irmão . O serviço
ao irmão é o distintivo
que o cristão
jamais pode depor ,
deve vesti-lo vinte quatro horas por dia , pois a todo
momento pode haver
um irmão
que precisa
dele e ele deve estar
sempre pronto
a prestar-lhe o seu serviço .
Se não aceita gastar
a vida no humilde
serviço aos necessitados, nada tem em comum com
Jesus: “Dei-vos o exemplo ,
para que
façais a mesma coisa
que eu
fiz” (v.15). É um indicativo e um
imperativo ao mesmo
tempo . O que
devemos fazer (imperativo )
está fundado sobre
algo que
nos foi dado
por Cristo (indicativo ), algo
que é anterior
à nossa obrigação .
Antes da obrigação
moral vem o dom
de Deus em
Jesus. Importa “deixar lavar
os pés (ser salvo ) por
Jesus, mas devemos também
“lavar os pés
uns dos outros” (serviço fraterno ).
Jesus amou primeiro (cf. 1Jo 4,10.19), mas a partir daí é nossa vez . Continuar as ações de
Cristo não
é repetir ritos
mas atitudes :
amor e serviço .
O amor sincero
e o serviço alegre ,
ao estilo de Jesus, há de ser
o modo de presença
de cada cristão
neste mundo .
O serviço
pode ser animado
pelo amor
devotado (o dos pais pelos filhos ). Mas muitas vezes
esse mesmo
amor pode ser
corrompido pela vontade
de poder que
se aninha no coração do homem , tornando-se o serviço
prestado uma maneira de levar
o outro a depender
da pessoa em questão . Não podemos esquecer que a morte de Jesus é um grande dom para nós porque nos liberta . Só quando tivermos assimilado esse
fato de esvaziamento de Deus para nós , seremos capazes
de “lavar os pés ”
uns aos outros sem
nos tornarmos importantes
ou impormos nossa
“caridade ”. Imitar
Jesus é imitar Deus
que se esvazia por
nós .
De que modo podemos traduzir em gestos
concretos o lava-pés na nossa vida cotidiana e o amar até o fim? Não poderemos
exercer o amor até o fim, se nosso coração não estiver despojado.
II. QUINTA-FEIRA SANTA É O DIA
DA INSTITUIÇÃO DA EUCARISTIA E DO SACERCÓDIO MINISTERIAL
“A Igreja recebeu a Eucaristia de Cristo seu Senhor, não
como um dom, embora precioso, entre muitos outros, mas como o dom por
excelência, porque dom d'Ele mesmo, da sua Pessoa na humanidade sagrada, e
também da sua obra de salvação. Esta não fica circunscrita no passado, pois «
tudo o que Cristo é, tudo o que fez e sofreu por todos os homens, participa da
eternidade divina, e assim transcende todos os tempos e em todos se torna presente”
(João Paulo II: Carta Encíclica Ecclesia De
Eucharistia, no. 11b).
“A Igreja vive da Eucaristia. Esta verdade não exprime
apenas uma experiência diária de fé, mas contém em síntese o próprio núcleo do
mistério da Igreja. É com alegria que ela experimenta, de diversas maneiras, a
realização incessante desta promessa: « Eu estarei sempre convosco, até ao fim
do mundo » (Mt 28, 20); mas, na sagrada Eucaristia, pela conversão do pão e do
vinho no corpo e no sangue do Senhor, goza desta presença com uma intensidade
sem par. Desde o Pentecostes, quando a Igreja, povo da nova aliança, iniciou a
sua peregrinação para a pátria celeste, este sacramento divino foi ritmando os
seus dias, enchendo-os de consoladora esperança” (idem no.1).
Neste dia celebramos também o dia da
instituição da eucaristia. Em Jo não se fala da instituição da eucaristia. No
lugar disto, ele coloca um discurso longo sobre o Pão da vida (veja Jo 6).
Os relatos da Instituição da Ceia chegaram
até nós segundo quatro recensões diferentes: a de Mt 26,26-28, a de Mc
14,22-24, a de Lc 22,19-20 e a de Paulo em 1Cor 11,23-25. Não analisaremos
estes textos. Tiraremos apenas algumas mensagens da Instituição da Ceia ou a
importância da Eucaristia na nossa vida como cristãos. Cada um pode tirar
outras mensagens que não se encontraram nesta reflexão. Assim nos enriquecemos
uns aos outros.
2.1.
A Eucaristia É Uma Refeição Compartilhada E Antecipação Do Banquete Celeste
“Nenhum dos outros sacramentos instituídos por Cristo
supera a este em virtude e excelência. Os outros conferem a graça, mas este
contém o próprio Autor da graça, é origem e fim dos outros; como esplendoroso
sol do meio-dia em torno do qual giram e são iluminados os outros satélites” (Paulo VI: Carta ao Cardeal Landázuri).
A refeição sempre foi e ainda é um momento
importante na vida de qualquer família. Comer juntos significa repartir os
dons, as alegrias e os sofrimentos. É o momento sagrado, principalmente para o
mundo oriental. Convidar alguém para almoçar ou jantar é sinal de hospitalidade
e de amizade, pois ninguém convida qualquer pessoa para um almoço ou jantar na
família. Para o mundo oriental, convidar alguém para a própria mesa é sinal de
paz, de confiança, de fraternidade, de perdão (cf. alguns exemplos: Gn
26,30s;31,54;2Rs 25,27-29;Jr 52,31-33).
Jesus certamente
instituiu a eucaristia dentro de uma refeição , a ceia . Na ceia
Jesus não somente
oferece alimento , mas
deu-se como comida
e bebida sagradas: seu
Corpo e Sangue .
Sabemos que a vida
é uma caminhada para
a casa do Pai
onde participaremos do banquete do Reino
eternamente (cf. Lumen Gentium VII, 48-50; SC 8). Se a nossa
vida é uma peregrinação
rumo à casa
do Pai , necessitamos de duas coisas : o caminho
e o alimento . Jesus certamente
é o Caminho (Jo 14,6). Ele se faz o caminho
para que não fiquemos perdidos no mundo
cheio de outros
caminhos que
nos levam à perdição .
Além do caminho ,
para que
possamos chegar à casa
do Pai nesta peregrinação
precisamos também de alimento .
Quem quiser andar
longe com
força necessária ,
precisa ter
alimento suficiente
para não morrer de fome no meio do caminho .
Jesus sabe disto e por isso ele se faz
alimento para todos os peregrinos
desta vida : “Tomam e comam, isto é o meu corpo que é dado por vocês ”
(Mt 26,26; Lc 22,19). Com Jesus que é o Caminho
e o alimento chegaremos até
a casa do Pai .
Mas o banquete eucarístico da qual
participamos nesta terra não é somente o alimento na nossa peregrinação para a
comunhão plena com o Pai. O banquete eucarístico também é “o céu na terra. E a
liturgia que celebramos na terra é misteriosa participação na liturgia
celeste”, diz o Papa João Paulo II. Como a própria Constituição Sacrosanctum Concilium do Concílio
Vaticano II afirma: “Na liturgia da terra
nós participamos, saboreando-a já, da liturgia celeste, que se celebra na
cidade santa de Jerusalém, para a qual nos encaminhamos como peregrinos, onde o
Cristo está sentado à direita de Deus...” (SC 8). Por isso, vamos realmente
ao céu quando vamos à missa, independentemente da qualidade da música ou do
fervor da homilia. A missa é realmente o céu na terra. No céu agora mesmo! Na
missa você e eu temos o céu na terra. Não podemos obter mais na terra do que o
próprio céu. Que maravilhoso Jesus que instituiu a eucaristia.
O significado fundamental da Eucaristia é
muito claro: ela é o sacramento de a vida compartilhada, isto é,
a Eucaristia é o símbolo sacramental que expressa e produz a solidariedade com
a vida que Jesus levou (“Tomai todos e comei. Isto é o meu Corpo; Tomai
todos e bebei. Ito é o meu Sangue”); e a solidariedade também entre os fiéis
que participam do mesmo sacramento e a solidariedade com os demais irmãos fora
dessa comunhão (amor sem fronteiras).
O mais importante no dom da partilha não é o
ato de dar e de partilhar e sim o doar-se. Não é somente dar o que é meu, mas
dar-me a mim mesmo (“Corpo e Sangue”). É dar, doando-se; é converter-se em dom
que se doa; é oferecer-se a si mesmo na oferenda. Quando o dom envolve e
compromete o doador, chega à sua máxima verdade de dom.
Já que a Eucaristia é um sacramento da
vida compartilhada, consequentemente, não há mais lugar para a indiferença,
nem para o egoísmo, nem para a objetivação, nem para o individualismo, nem para
o ódio, nem para vingança (cf. Mt 5,23-24), nem para disputas para saber quem é
melhor e maior. A melhor oferenda a Deus é o próprio oferecimento de si mesmo
ao irmão. Os outros necessitam de nossos bens, mas, sem dúvida nenhuma,
necessitam muito mais de nosso amor, de nossa compaixão, de nossa
solidariedade, de nossa compreensão... Se por trás de uma oferenda está a
atitude de amor, então a nossa oferenda se torna autêntica. Oferecer-se a si
mesmo é colocar diante de Deus, com simplicidade, o que somos e o que temos:
nossas alegrias e nossas dores, nossos desejos e nossas esperanças, nossas
lutas e nossos fracassos juntamente aos outros irmãos.
De tudo que foi Dito percebemos que o
significado fundamental da Eucaristia está em relação à comida compartilhada.
Compartilhar a mesma comida é compartilhar a mesma vida. Como na Eucaristia a
comida é Jesus (Tomai todos e comei. Isto é o meu Corpo. Tomai todos e
bebei. Isto é o meu Sangue), daí se segue que a Eucaristia é o sacramento
no qual os crentes se comprometem a compartilhar a mesma vida que levou Jesus e
a compartilhar também a mesma vida entre eles no amor e na solidariedade.
Por conseguinte, pode-se dizer, com toda
certeza e com todo direito, que onde não há amor e vida compartilhada não há
Eucaristia.
2.2.
Na eucaristia
Jesus é o Cordeiro sacrificado para a nossa salvação
Jesus morre na mesma
hora em
que os judeus
matavam o cordeiro da sua
páscoa . Isto
quer nos
dizer que o verdadeiro Cordeiro não é o animal
e sim o Cristo
que morre na cruz .
O sacrifício de Jesus, como cordeiro , realizou o que todo o sangue de milhões
de ovelhas e touros
e bodes jamais
conseguiu. “Pois é impossível
que o sangue
de touros e bodes
elimine os pecados ” (Hb 10,4). Para expiar as ofensas contra um Deus que é bom , infinito e eterno ,
a humanidade precisava de um sacrifício perfeito . E esse
era Jesus, o único
que podia “abolir o pecado com
seu próprio sacrifício ” (Hb 9,26). A eucaristia
é a manifestação do amor
apaixonado de Jesus pelo homem .
A verdadeira páscoa é a Ceia do Senhor, onde
se come e se bebe o Corpo e o Sangue de Cristo. A verdadeira páscoa é a de
Jesus que está morrendo na cruz, entregando seu corpo e derramando seu Sangue
para a nossa salvação. E na missa repetimos e atualizamos com ele, sua paixão,
morte e ressurreição.
2.3.
A Eucaristia, O Corpo E O Sangue Do Senhor, É A Expressão Do Amor De Jesus Por
Todos E É O Alimento Para Todos
Na primeira
carta aos Coríntians, São Paulo diz: “...na
noite em
que foi entregue ,
o Senhor Jesus tomou o pão ...”
(1Cor 11,23). É a frase
conhecida por
todos , pois em cada Eucaristia que
celebramos pronunciamos ou ouvimos esta mesma frase na hora da consagração .
O que se refere aqui
é Judas que
traiu Jesus e todos nós ,
pecadores . Jesus dá o seu Corpo e o seu Sangue para todos tanto para os que o traem, os que
fogem e os que o renegam tanto para os que o seguem fielmente .
As nossas traições , as nossas fugas e as nossas infidelidades
não podem senão
exaltar a grandeza
e a profundidade do o amor de Jesus por
mim , por
você , por todos nós . Ele ama o pobre , o infeliz ,
o pecador , como
uma mãe que
ama seu
filho simplesmente
porque é seu
filho e se este
filho se tornar
um desgraçado ,
a mãe o amará ainda
mais , pois somente amando-o ele
se sente amado que
o levará a ser um
bom filho
novamente . Através
da eucaristia que
Jesus instituiu, Deus faz da misericórdia a realidade que nos envolve
do alto a baixo .
Na nossa miséria ,
Deus derrama
sua misericórdia .
2.4.
A Eucaristia Faz
A Comunidade
A comunhão
cria a comunidade ,
pois o Deus que habita em nós faz com que reconheçamos o Deus
em nossos
semelhantes . Somente
o Deus dentro
de nós é capaz
de ver Deus
na outra pessoa .
Nossa participação na vida íntima de Deus nos conduz
a um novo modo de participação na vida
das outras pessoas . De forma
retórica São
Paula pergunta : “O
cálice de bênção que abençoamos não
é comunhão com
o sangue de Cristo ?
O pão que
partimos não é comunhão
com o corpo
de Cristo ? Já
que há um
único pão , nós , embora muitos , somos um
só corpo ,
visto que
todos participamos desse único pão ” (1Cor 10,16-17).
2.5.
A Eucaristia Faz
A Missão
Na Eucaristia
celebramos o “sim ” total
e fiel de Jesus ao Pai
e aos homens . Ao celebrarmos a Eucaristia nós
queremos dizer o nosso
“sim ” ao Pai
e a todos os irmãos
e irmãs sem excluir
aqueles que
nos criticam, ou os que
nos desprezam, ou os que se opõem a nós .
A Eucaristia se tornaria vazia , se ela não se transformasse numa força
de amor pelo próximo . As palavras
pronunciadas por Jesus dirigidas a todos nós : “Fazei isto
em minha
memória !” (Lc 22,19) são um pedido para que nós façamos
também a doação ,
um pão
partilhado para os outros .
“Fazei Isto Em Minha Memória”.
”Fazei”.
Com este verbo entendemos que a eucaristia é um agir, um acontecer de maneira
misteriosa e sacramental em que Deus está agindo presentemente para entrar em
contato com os fiéis no aqui e agora. O contato entre Deus e os fiéis se faz em
e por Jesus Cristo através de seu corpo e sangue comungados pelos fiéis. O agir
de Jesus foi um abandono total à vontade de Deus. Por sua vez, o agir de Cristo
é para os fiéis uma missão. Viver o fazer de Cristo significa realizar tudo que
Deus pede de cada um de nós a exemplo de Cristo; significa acabar com toda a
soberba e aversão contra Deus e os irmãos. Viver o fazer de Cristo significa “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim”
(Gl 2,20). Comungar o corpo de Cristo para viver o seu agir é um compromisso
permanente.
Por isso, a comunhão não é o fim. A missão é.
A eucaristia é sempre uma missão. A vida vivida eucaristicamente é sempre uma
vida de missões. Na Eucaristia somos solicitados a deixar a mesa para procurar
os outros e os nossos amigos para descobrirmos com eles que Jesus está
verdadeiramente vivo e ao mesmo tempo nos chama para que juntos no tornemos um
novo povo, o povo da ressurreição. Somos chamados e enviados para que formemos
um corpo de amor, moldar o novo povo da ressurreição. Nossa experiência da
comunhão com o Senhor nos envia aos nossos irmãos e irmãs para partilharmos com
eles nossas histórias e construirmos ao seu lado um corpo de amor. O movimento
que brota da eucaristia é o movimento da comunhão à comunidade e da comunidade
à missão e da missão à eucaristia, formando um círculo sem fim.
2.6.
A Eucaristia e o
Sacerdócio Ministerial
Na Quinta-feira Santa são instituídos dois
sacramentos inseparáveis: a Eucaristia e o Sacerdócio ministerial (Sacramento
da Ordem). Quero colocar aqui uma parte da reflexão do Papa Francisco sobre o
sacerdócio ministerial que ocorreu na Quinta-feira, 17 de Abril de 2014
“No Hoje da Quinta-feira Santa, em que Cristo
levou o seu amor por nós até ao extremo (cf. Jo 13, 1), comemoramos o dia feliz
da instituição do sacerdócio e o da nossa ordenação sacerdotal. O Senhor
ungiu-nos em Cristo com óleo da alegria, e esta unção convida-nos a acolher e
cuidar deste grande dom: a alegria, o júbilo sacerdotal. A alegria do sacerdote
é um bem precioso tanto para si mesmo como para todo o povo fiel de Deus: do
meio deste povo fiel é chamado o sacerdote para ser ungido e ao mesmo povo é
enviado para ungir.
Na nossa alegria sacerdotal, encontro três características significativas: uma alegria que nos unge (sem nos
tornar untuosos, sumptuosos e presunçosos), uma alegria incorruptível e uma
alegria missionária que irradia para todos e todos atrai a começar,
inversamente, pelos mais distantes.
Uma
alegria que nos unge.
Quer dizer: penetrou no íntimo do nosso coração, configurou-o e fortificou-o
sacramentalmente. Os sinais da liturgia da ordenação falam-nos do desejo
materno que a Igreja tem de transmitir e comunicar tudo aquilo que o Senhor nos
deu: a imposição das mãos, a unção com o santo Crisma, o revestir-se com os
paramentos sagrados, a participação imediata na primeira Consagração... A graça
enche-nos e derrama-se íntegra, abundante e plena em cada sacerdote. Ungidos até
aos ossos... e a nossa alegria, que brota de dentro, é o eco desta unção.
Uma
alegria incorruptível. A integridade do Dom – ninguém lhe pode tirar nem
acrescentar nada – é fonte incessante de alegria: uma alegria incorruptível, a
propósito da qual prometeu o Senhor que ninguém no-la poderá tirar (cf. Jo 16,
22). Pode ser adormentada ou sufocada pelo pecado ou pelas preocupações da
vida, mas, no fundo, permanece intacta como o tição aceso dum cepo queimado sob
as cinzas, e sempre se pode renovar. Permanece sempre atual recomendação de
Paulo a Timóteo: reaviva o fogo do dom de Deus, que está em ti pela imposição
das minhas mãos (cf. 2Tm 1, 6).
Uma
alegria missionária.
Sobre esta terceira característica, quero alongar-me mais convosco
sublinhando-a de maneira especial: a alegria do sacerdote está intimamente
relacionada com o povo fiel e santo de Deus, porque se trata de uma alegria
eminentemente missionária. A unção ordena-se para ungir o povo fiel e santo de Deus:
para batizar e confirmar, para curar e consagrar, para abençoar, para consolar
e evangelizar”.
PARA REFLETIR:
·
« Queres honrar
o Corpo de Cristo ?
Não permitas que
seja desprezado nos seus
membros , isto
é, nos pobres
que não
têm que vestir ,
nem O honres aqui
no templo com
vestes de seda ,
enquanto lá
fora o abandonas ao frio
e à nudez . Aquele
que disse: « Isto
é o meu Corpo
», [...] também afirmou: « Vistes-Me com fome e não me destes
de comer », e ainda :
« Na medida em
que o recusastes a um
destes meus irmãos
mais pequeninos ,
a Mim o recusastes. [...] De que serviria, afinal ,
adornar a mesa
de Cristo com
vasos de ouro ,
se Ele morre de fome
na pessoa dos pobres ?
Primeiro dá de comer a quem tem fome ,
e depois ornamenta
a sua mesa
com o que
sobra » (S. João Crisóstomo, Homilias sobre
o Evangelho de Mateus ,
50, 3-4: PG 58, 508-509)
·
Na Eucaristia ,
Jesus não dá um
pedaço de pão , mas o pão da vida eterna , dá
a Si mesmo ,
oferecendo-se ao Pai por amor a nós . Mas nós temos que ir à Eucaristia com aqueles sentimentos de Jesus, ou
seja, a compaixão e aquela vontade de compartilhar . Quem vai à Eucaristia
sem ter compaixão dos necessitados e sem
compartilhar , não
se encontra bem
com Jesus (Papa Francisco: Homilia , Roma, 03 de Agosto
de 2014).
P. Vitus Gustama,svd
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