terça-feira, 10 de setembro de 2024

13/09/2024-Sextaf Da XXIII Semana Comum

SER LÍDER AUTOCRÍTICO

Sexta-Feira da XXIII Semana Comum

Primeira Leitura: 1Cor 9,16-19.22b-27

Irmãos, 16 pregar o evangelho não é para mim motivo de glória. É antes uma necessidade para mim, uma imposição. Ai de mim se eu não pregar o evangelho! 17 Se eu exercesse minha função de pregador por iniciativa própria, eu teria direito a salário. Mas, como a iniciativa não é minha, trata-se de um encargo que me foi confiado. 18 Em que consiste então o meu salário? Em pregar o evangelho, oferecendo-o de graça, sem usar os direitos que o evangelho me dá. 19 Assim, livre em relação a todos, eu me tornei escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível. 22b Com todos, eu me fiz tudo, para certamente salvar alguns. 23 Por causa do evangelho eu faço tudo, para ter parte nele. 24 Acaso não sabeis que os que correm no estádio correm todos juntos, mas um só ganha o prêmio? Correi de tal maneira que conquisteis o prêmio. 25 Todo atleta se sujeita a uma disciplina rigorosa em relação a tudo, e eles procedem assim, para receberem uma coroa corruptível. Quanto a nós, a coroa que buscamos é incorruptível! 26 Por isso, eu corro, mas não à toa. Eu luto, mas não como quem dá murros no ar. 27 Trato duramente o meu corpo e o subjugo, para não acontecer que, depois de ter proclamado a boa-nova aos outros, eu mesmo seja reprovado.

Evangelho: Lc 6,39-42

Naquele tempo, 39 Jesus contou uma parábola aos discípulos: “Pode um cego guiar outro cego? Não cairão os dois num buraco? 40 Um discípulo não é maior do que o mestre; todo discípulo bem formado será como o mestre. 41 Por que vês tu o cisco no olho do teu irmão, e não percebes a trave que há no teu próprio olho? 42 Como podes dizer a teu irmão: Irmão, deixa-me tirar o cisco do teu olho, quando tu não vês a trave no teu próprio olho? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão”.

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Levar a Boa Nova Para Os Outros É a Missão De Todos Os Batzados

Pregar o evangelho não é para mim motivo de glória. É antes uma necessidade para mim, uma imposição. Ai de mim se eu não pregar o evangelho!”.

No capítulo 9 da 1Cor, são Paulo expõe sua ação apostólica pessoal como modelo para os Coríntios. Modelo em termos de renúncia aos próprios direitos a fim de ajudar os outros. São Paulo nunca quis tirar vantagem de sua condição de apóstolo e de fundador da comunidade de Corinto. Ele não explora a comunidade. Ele simplesmente cumpre a missão que lhe confiada pelo Senhor. E para ele o cumprimento dessa missão é sua glória. Para essa missão ele se dedica totalmente, sem reservas a ponto de dizer Ai de mim se eu não pregar o evangelho!”.

Nesta parte central do capítulo ele oferece as motivações profundas da sua atividade apostólica. Ele se dedica a isso não por pura escolha pessoal, nem principalmente por uma necessidade objetiva de quem evangeliza, mas por um impulso interior, dado pelo Senhor e recebido pelo Apóstolo Paulo. São Paulo vive tão profundamente o mistério de Cristo que não consegue silenciá-lo. É algo que vem de dentro para fora e não o contrário. Paulo afirma que se dedica ao Evangelho não tanto por uma escolha deliberada, mas porque esta lhe foi imposta. São Paulo tem dentro de si um impulso tão grande para falar de Cristo que não consegue ficar calado. É algo que vem de dentro para fora e não o contrário. Simplesmente são Paulo não guarda o tesouro para si, e sim anunciá-lo para o povo. Não é guardar o tesouro só para si, e sim dá-lo a conhecer aos outros, tornando-os participantes da mesma obra. Dedicar-se à pregação da Boa Nova é imitar o próprio Senhor que vivia levando a Boa Notícia para o povo. É um serviço contínuo daquilo que Jesus fez na sua vida.

Todo cristão é batizado e enviado para evangelizar, isto é, levar a Boa Nova: algo bom, algo edificado, algo fraterno, algo salvífico para todos. Os modos de evangelizar são diversos de acordo com o estado de vida de cada um: como solteiro(a), como casado, como celibatário(a), como religioso(a), e por diversos meios: rádios, TV, jornal/revista, redes sociais (internet, whatsapp, Tiktok, Instagram, blog, youtube etc.). Temos que encaminhar para os outros a Boa Notícia e não FakeNews ou algo semelhante. Se antigamente Jesus deu a ordem aos discípulos para irem pelo mundo a fim de evangelizar (cf. Mc 16,15), hoje em dia, podemos também usar as redes sociais que vão por nós pelo mundo inteiro para que a Boa Nova chegue até as pessoas.

 

Ser Líder

 

O texto do evangelho de hoje faz parte do Sermão da Planície de São Lucas. Neste Sermão encontramos varias sentenças de Jesus sobre como devemos conviver com os demais, como devemos tratar os outros? E de que maneira podemos olhar para os defeitos dos outros e os nossos próprios defeitos. O que é indispensável para sermos bons guias?

Pode um cego guiar outro cego? Não cairão os dois num buraco?”, disse Jesus no Evangelho de hoje. Liderar é envolver-se seriamente na vida dos outros. Por isso, para saber como você está se saindo como líder, a resposta está nas pessoas sob a sua liderança. Você deixa as coisas melhores do que as encontrou? As pessoas se aperfeiçoam por causa do convívio com você? Você deixa as pessoas e organizações em melhores condições do que as encontrou? A liderança é a marca que deixamos nas organizações e nas pessoas. Liderança é uma autoridade, pois o líder faz as pessoas crescerem por causa de sua influencia. Por isso, alguém pode ser um chefe, mas nem sempre é um líder. Para ser chefe, alguém precisa ter um cargo. Para ser líder uma pessoa não precisa ter um cargo. Não é preciso ser chefe para liderar.

Liderar não tem nada a ver com o que ganha ou com o lugar onde se senta (cargo), mas tem a ver com a maneira brilhante como alguém trabalha. Todos precisam liderar onde estão estabelecidos e brilhar no lugar em que se encontram.

Se um homem tem o dom de varrer ruas, deve varrê-las como Michelangelo pintava, como Beethoven compunha ou como Shakespeare escrevia. Deve varrê-las tão bem que todas as hostes dos céus e da terra pararão para dizer: ‘Aqui viveu um grande varredor de ruas, que fez um bom trabalho’” (Martin Luther King Jr.).

“Pode um cego guiar outro cego? Não cairão os dois num buraco?”, perguntou Jesus retoricamente. Jesus pede uma autocrítica para qualquer liderança. Na ausência da autocrítica qualquer líder é incapaz de reconhecer suas fraquezas e limitações e ainda se arrogam o direito de ser juízes para os demais.

Um bom líder tem um agudo senso de autocrítica. Ele reconhece seus pontos positivos e seus pontos negativos. Ele aceita qualquer correção quando houver fundamentos. Ele transforma as críticas em sugestões, pois no seu coração há misericórdia e mansidão. Quanto mais o líder for transparente tanto mais estará capacitado para ajudar o próximo. Um líder que ama, é respeitado. Um líber temido não é respeitado, e ele cria muitos hipócritas e bajuladores ao seu redor. O medo que os outros têm de um líder não mede a autoridade dele e sim seu poder autoritário. Quando um líder apela para a força e o poder é porque não tem mais autoridade nele.

Somente um ser humano livre e consciente é capaz de guiar os demais. Enquanto a pessoa for dominada pelas ambições, pelo egoísmo, pela arrogância, ou pela violência será incapaz de ver melhor e incapaz de guiar os outros. Jesus, precisamente, formou seus discípulos em uma atitude crítica, serena e responsável que lhes permitem ver e amar os outros e a realidade com benevolência. Quem quer conduzir seu próximo pelo caminho do amor, da fidelidade, da retidão, antes deve deixar-se conduzir por Cristo pelo mesmo caminho.

Ser Autocrítico

Como podes dizer a teu irmão: Irmão, deixa-me tirar o cisco do teu olho, quando tu não vês a trave no teu próprio olho? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão”, continuou Jesus no Seu Sermão da Planície.

Jesus quer nos dizer de outra maneira: Abram os olhos sobre vocês mesmos! Critiquem-se! Sejam vocês mesmos objeto de sua própria crítica! Vocês que percebem facilmente os defeitos dos outros que não pensam como vocês, procurem também ter em conta seus próprios defeitos. Que não condenem uns aos outros, que tratem os outros com mais indulgência. Que vocês sejam compassivos e misericordiosos como Deus Pai que é compassivo e misericordioso.

As palavras de Jesus são um chamado para que descubramos nosso próprio pecado, a “trave” que há em nossos olhos. As palavras de Jesus nos chamam para a coerência e a autoridade moral que devemos ter na correção fraterna. Se assim fizermos, nossa correção fraterna será respeitada.

A revisão de vida é um exercício espiritual eminentemente evangélico: trata-se de reconsiderar-se a si mesmo, de revisar a própria vida e o próprio caminho e os próprios compromissos. Não temos que nos fixar tanto nos defeitos dos demais e sim nos nossos próprios defeitos. Se não, seriamos hipócritas. Muitas de nossas misérias  provém da falta de autocrítica, de não corrigir nossos erros. Não corrigir os erros é uma forma de cometer outros erros. Nunca vamos atingir nossos objetivos ou realizar nossos sonhos se formos incapazes de fazer uma autocrítica.

O evangelho de hoje nos convida a olharmos para o mundo e para os outros com o mesmo olhar de Jesus: um olhar de benevolência. Os olhos são como um espelho no qual se reflete o mundo e os outros. Há pessoas para as quais toda a realidade é triste e está sujeita para lamentações. Como se tudo fosse mal. O mundo toma cor de nosso olhar.

Jesus nos convida a olharmos tudo com seu olhar: um olhar benévolo. Jesus quer nos dizer: “Sejam pessoas consagradas à misericórdia! Sejam benévolos com vocês mesmos e com os outros. Aprendam a olhar com menos severidade. Se tiver algum sentimento de antipatia, que sua antipatia se transforme em humor. Sejam benévolos com o mundo, pois foi Deus quem criou o mundo. E Deus foi o primeiro que se admirou da obra saída de Suas mãos nos primeiros dias do universo: ‘Deus viu que tudo era bom!’ (Gn 1,10b.12b.18b.21b.25b.31). Vivam bem a vida, pois Eu sou a vida (Jo 14,6)”.

Ser benévolo não significa ser indiferente nem ser ingênuo. A palavra “benévolo” deriva de duas palavras: bem e querer. Ser benévolo significa querer sempre o bem para tudo e para todos. Ser benévolo também significa ser responsável, ser bom, ser vigilante, denunciar as ilusões, os valores falsos, e as palavras enganosas. A benevolência é uma responsabilidade e a assunção de um dever. E a razão de nossa benevolência é o próprio Deus da misericórdia que tem paciência para conosco que mesmo que cometamos erros na vida Ele perdoa tudo e sua graça jamais falha.

Enquanto não adquirirmos um olhar misericordioso e benévolo, nós não estaremos em condições de guiar os outros e nada mudará na nossa vida. O que se tem por guia deve “ver” bem, assim também aquele que quer passar de discípulo para mestre. 

Na verdade, o que Jesus nos oferece é um processo educativo ético. Segundo Jesus, o mais urgente é tomar consciência da própria hipocrisia e trabalhar sobre ela. Jesus nos apresenta cinco etapas desta pedagogia ética, que para Lucas é uma pedagogia eclesial:

1.      Renunciar a ser juiz dos demais.

2.      Abertura para as palavras de Jesus que me interpelam com amor e esperança.

3.      Reconhecimento dos meus próprios defeitos ou pecados.

4.      Compromisso de ser um ser humano novo e renovado no espírito de Jesus.

5.      Somente assim terei condições de ser guia ou mestre para os outros.

Na vida o viver para os demais, respeitando e aprovando a verdade, não é somente um dever, mas é uma grande felicidade. Somente ao fazer os outros felizes, seremos felizes também.

Através do evangelho de hoje Jesus nos convida a fazermos revisão de nossa conduta, pois muitas vezes vemos e não queremos saber o que vemos, entendemos e não queremos saber o que entendemos, está diante de nós a verdade e retiramos o olhar para não sentir feridos. A verdade liberta, a falsidade dói. O cristão sempre deve estar em estado de aprendizagem.

O Senhor nos reúne em torno da mesa eucarística para nos libertar de nossas diversas escravidões. Ele quer nos enviar como testemunhas suas, mas quer que façamos a experiência de seu amor misericordioso. Ele entregou sua vida para o perdão de nossos pecados. Ele nos fez partícipes de sua vida e derramou em nossos corações o dom de seu Espírito Santo. Por isso, a participação na Eucaristia não é para nós somente um ato de culto para Deus, mas também é a aceitação de nos fazer um com Cristo, de nos identificar com Ele e de anunciá-Lo tanto com as palavras como com a própria vida.

“Se queres conservar tua inocência, não consintas nas más ações dos outros, nem julgues precipitadamente suas intenções” (Santo Agostinho. Epist. Ad cath. 2,4)

P. Vitus Gustama,svd

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