domingo, 8 de setembro de 2024

11/09/2024-Quartaf Da XXIII Semana Comum

A VIDA ENRAIZADA EM CRISTO NOS LEVA A VIVERMOS  DE ACORDO COM OS VALORES CRISTÃOS

Quarta-Feira da XXIII Semana Comum

Primeira Leitura: 1Cor 7,25-31

Irmãos, 25 a respeito das pessoas solteiras, não tenho nenhum mandamento do Senhor. Mas, como alguém que, por misericórdia de Deus, merece confiança, dou uma opinião: 26 Penso que, em razão das angústias presentes, é vantajoso não se casar, é bom cada qual estar assim. 27 Estás ligado a uma mulher? Não procures desligar-te. Não estás ligado a nenhuma mulher? Não procures ligar-te. 28 Se, porém, casares, não pecas. E, se a virgem se casar, não peca. Mas as pessoas casadas terão as tribulações da vida matrimonial; e eu gostaria de poupar-vos disso. 29 Eu digo, irmãos: o tempo está abreviado. Então, que, doravante, os que têm mulher vivam como se não tivessem mulher; 30 e os que choram, como se não chorassem, e os que estão alegres, como se não estivessem alegres, e os que fazem compras, como se não possuíssem coisa alguma; 31 e os que usam do mundo, como se dele não estivessem gozando. Pois a figura deste mundo passa.

Evangelho: Lc 6,20-26

Naquele tempo, 20 Jesus, levantando os olhos para os seus discípulos, disse: “Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus! 21 Bem-aventurados vós que agora tendes fome, porque sereis saciados! Bem-aventurados vós que agora chorais, porque havereis de rir! 22 Bem-aventurados sereis, quando os homens vos odiarem, vos expulsarem, vos insultarem e amaldiçoarem o vosso nome, por causa do Filho do Homem! 23 Alegrai-vos, nesse dia, e exultai, pois será grande a vossa recompensa no céu; porque era assim que os antepassados deles tratavam os profetas. 24 Mas, ai de vós, ricos, porque já tendes vossa consolação! 25 Ai de vós que agora tendes fartura, porque passareis fome! Ai de vós que agora rides, porque tereis luto e lágrimas! 26 Ai de vós quando todos vos elogiam! Era assim que os antepassados deles tratavam os falsos profetas.

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Seguir a Cristo e Ajudar a Igreja a Partir Do Estado De Vida e Do Carisma De Cada Um

Sem dúvida nenhuma que com 1Cor 7 começam as respostas de Paulo às perguntas da carta enviada pelos Coríntios. Desta vez o assunto tratado é sobre o casamento e o celibato.

Através do texto da Primeira Leitura de hoje, são Paulo nos apresenta outra tensão que existia na comunidade de Corinto. Trata-se de diversas concepções da vida sexual, e concretamente, da vida do matrimônio e do celibato. Provavelmente as porturas iam de extremo a outro extremo: dos que defendiam por uma liberdade total, seguindo os costumes pagãos, até os que desprezavam a vida sexual e o matrimônio e pregavam a abstinência total (os espiritualistas de Corinto).

Nos versículos anteriores (1Cor 7,12-16) são Paulo falou muito sobre o casamento e sobre a indissolubilidade matromonial. Agora fala sobre o celibato. É também opção pessoal. No entanto, são Paulo privilegia o celibato como estado de maior liberdade em relação aos homens e a Deus. Por isso, ele o recomenda. Porém é a opinão de são Paulo e não é lei de Deus: “Irmãos, a respeito das pessoas solteiras, não tenho nenhum mandamento do Senhor. Mas, como alguém que, por misericórdia de Deus, merece confiança, dou uma opinião...” (1Cor 6,25). São Paulo, com muito cuidado, diz sua opinião. Os três estados são bons: o dos solteiros/celibatários, o dos casados e o dos viúvos.

O que são Paulo prefere fazer é “relativizar” o tema e pedir a todos que, cada um em seu estado, se dedique a fazer o bem, a trabalhar pelo Reino, sobretudo, tendo em conta como era a opinião da época, que era iminente a volta do Senhor (Segunda Vinda iminente do Senhor): “Eu digo, irmãos: o tempo está abreviado. ... Pois a figura deste mundo passa” (1Cor 7,29.31). Como no seu tempo era muito viva e inquietante a espera da parusia do Senhor, são Paulo aproveita a ocasião e diz que o celibato é o melhor estado de vida porque, com o fim do mundo, que julgava iminente, uma pessoa casada, com família, sofreria muito mais. Mas isto é a opinião de são Paulo e não a lei de Deus. Então é importante recordar que o contexto histórico está marcado pela intensa expectativa da Parusia (segunda vinda) do Senhor, atitude que são Paulo critica a ponto de ele dizer aos Tessalonisenses: “Quem não quiser trabalhar, não tem o direito de comer” (2Ts 3,10), pois ficam esperando a parusia na passsividade.

São Paulo já sabe que a maioria se casa (Seu alto conceito sobre o matrimonio, são Paulo o expressa, sobretudo, em Ef 5), e que alguns já estão viúvos, enquanto que outros, como ele mesmo, optaram pelo celibato, para dedicar todas as forças à evangelização.

Soa Paulo diz aos Coríntios (e a todos nós) que continuem no estado em que se encontravam quando se converteram: não abandonem o matrimônio ou o celibato e cada um cumpra a vontade de Deus e trabalhe em favor de Reino porque o tempo urge e há que aproveitá-lo. Sublinha-se o cumprimento da vontade de Deus em cada estado de vida que dignifica cada estado de vida (celibatário, casado, viúvo). Viva no Senhor como casado, como celibatário e como viúvo é o que são Paulo recomenda para os Coríntios e para todos nós hoje.

Celibato e casamento são duas opções de igual valor, ainda que sejam vocações distintas. Uma não é mais importante do que outra. Ao contrário, elas se completam. Cada um em seu estado se compromete a viver o Evangelho de Cristo, tendo em conta os valores superiores que dão sentido a tudo que cada um faz: os casados com sua vida de amor e de educação de seus filhos; os que optaram pelo celibato, a partir do próprio carisma e da missão recebida na Igreja. Todos têm que ser fieis a Cristo e ser sinais criveis de Cristo no mundo. As duas  são a vocação humana para ser feliz.

Ser Feliz Em Cristo

Ao descer da Montanha onde Jesus escolheu os Doze Apóstolos (Lc 6, 12-19) começa em Lucas o que os autores chamam o “Sermão da Planície” (Lc 6,20-49): sermão feito na planície e não na montanha como em Mateus (Mt 5-7). Jesus proclama sua mensagem no monte (mateus) ou na planície (Lucas). A revelação de Deus ultrapassa os habituais lugares sagrados e interpela o homem em qualquer espaço.

Neste sermão da Planície há três seções apresentadas. Primeiro, o anúncio de salvação aos “pobres” e os ais para os “ricos” (Lc 6,20-26). Somente quem escutou e acolheu a Boa Nova anunciada por Jesus, tem condições para seguir a Jesus e para entrar no Reino de Deus. Quem fica agarrado às coisas sem espírito de partilha impede de seguir a Jesus. Segundo, o amor para os inimigos (Lc 6, 27-38). O amor cristão não conhece fronteiras, pois o amor é universal e por isso, é aceito e reconhecido por qualquer ser humano na face da terra, independente de sua religião ou crença. O amor é que une as pessoas. E Deus ama a todos (cf. Mt 5,44-45), pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). Amar como Deus-Pai supõe amar até os inimigos, oferecendo o perdão. Para amar de verdade o cristão tem que aprender a perdoar.  Deus não se cansa de perdoar, pois não se cansa de amar. Somente quem fizer a experiência do amor do Pai celeste, tem força para amar aos inimigos, isto é, sempre querer o bem para todos independentemente daquilo que eles cometeram. Não se trata de acariciar quem pratica o mal, mas mostrar para ele que conviver como irmãos é mais edificante, pois um cuida do outro e um proteja o outro, um ajuda o outro. Terceiro, apresentam-se cinco parábolas para falar do verdadeiro discípulo de Jesus (Lc 6,39-49). Os cristãos devem estar cheios de amor e existir para os outros para ser de Deus, e estar conscientes de sua responsabilidade, não sendo guia cego e ser permanentes discípulos, isto é, não para de aprender e os demais ensinamentos nesta parte que indicam como deve ser discípulos de Jesus.

O texto do evangelho de hoje, que inicia o Sermão da Planície, nos apresenta as bem-aventuranças como síntese da mensagem cristã, como projeto de felicidade. A felicidade para todos é o projeto de Jesus. A santidade é o projeto individual-pessoal.

Jesus se dirige à multidão de discípulos que O seguem e confiam nele com felicitações. São homens, mulheres e crianças pobres vindos de todas as partes. Perderam tudo e somente lhes fica sua esperança em Deus. A eles Jesus disse: felizes vocês que não viram sua pobreza como um obstáculo para desfrutar da felicidade que o Reino traz. Essas palavras são uma contradição flagrante contra a mentalidade vigente. Para a ideologia imposta pelos poderosos do mundo, unicamente são felizes os que possuem terras, dinheiro e coisas (bens materiais). Jesus afirma que as coisas, as terras e a riqueza não podem fazer feliz o homem, pois a felicidade não está nas coisas e sim está dentro do próprio homem, está na fraternidade, na partilha, na vivência do amor misericordioso, na justiça e na caridade e assim por diante. Os bens materiais continuam sendo alheios para o homem. O homem precisa de Deus e de outro homem  para ser ele mesmo. O homem só alcançará sua felicidade na medida em que ele conseguir fazer o outro feliz. Jesus felicita aos pobres que O acompanham porque eles não colocam sua esperança no poder, no prestígio ou no dinheiro, mas em Deus que salva e na partilha do que se tem e do que se é. 

Exegeticamente, o gênero de bem-aventurança não é novo no Novo Testamento, nem tampouco é exclusivo dos evangelhos. O Antigo Testamento nos apresenta numerosos exemplos de bem-aventuranças. Só no livro de Salmos encontramos mais de vinte vezes (cf. Sl 40,2; 127,1 etc.). O Apocalipse de São João rima seu texto com sete bem-aventuranças (Ap 1,3; 14,13; 16,15;19,9; 20,6; 22,7; 2214).

Encontramos paralelamente as bem-aventuranças em Mateus e Lucas, mas cada evangelista tem suas particularidades. Em Mateus há oito bem-aventuranças (Mt 5,1-12), enquanto que em Lucas, quatro bem-aventuranças e mais quatro maldições. Mateus insiste na pobreza “espiritual” (os pobres no espírito), isto é, a atitude interior. Lucas, ao contrário, se dirige aos pobres reais, à classe social daqueles que são mais pobres materialmente/fisicamente do que os demais. E esta insistência particular de Lucas é ainda reforçada por: o anúncio de uma mudança total das situações e a oposição entre “bem-aventuranças” e “maldiçoes” (“os ais”).

A interpretação das bem-aventuranças “segundo Mateus” convida todos os homens, ricos e pobres para o desprendimento espiritual e para a conversão do coração. A interpretação das bem-aventuranças “segundo Lucas” convida todos os homens, ricos e pobres, a transformarem as estruturas da sociedade para que haja menos pessoas desfavorecidas e que não haja os empobrecidos. Se todos são filhos e filhas de Deus da misericórdia (Lc 6,36), então todos são irmãos. Se todos são irmãos em Cristo, então todos devem cuidar de todos. Deus, como Pai de todos, não estará contente, se um dos seus filhos não estiver feliz. E ninguém pode estar em plena tranqüilidade diante de Deus, se um irmão estiver passando fome ou por alguma necessidade básica para sua vida.

Na versão de Lucas das aventuranças, Jesus chama “felizes” ou “bem-aventurados” para quatro classes de pessoas: os pobres, os que passam fome, os que choram e os que são perseguidos por causa da fé. E ele dirige seu “ai” para outras quatro classes de pessoas: os ricos, os que estão saciados, os que riem e os que são adulados pelo mundo.

Trata-se, portanto, de quatro antíteses. São como as antíteses que Lucas põe nos lábios de Maria de Nazaré em seu Magnificat: Deus derruba de trono os poderosos e exalta os humildes; saciou de bens os indigentes e despediu os ricos de mãos vazias (cf. Lc 1,52-53). É o desenvolvimento daquilo que Jesus havia anunciado em seu discurso programático em Nazaré: Ele foi enviado para os pobres, os cativos, os cegos e os oprimidos (cf. Lc 4,14-22). 

O projeto de Jesus para todos nós é a felicidade. Ele veio para trazer vida em abundância (Jo 10,10). Felizes os pobres; felizes os que agora passam fome; felizes os que choram; felizes os que são odiados por causa do Filho do Homem. Trata-se de situações reais, de circunstâncias concretas e históricas. O advérbio “agora” reforça mais ainda essa impressão.

Jesus me convida, em primeiro lugar, a olhar para minhas próprias misérias, minhas pobrezas reais, minhas fomes reais, meus prantos reais, os desprezos reais que sofro. Em que sou um miserável? Em que sou um pobre? De que eu tenho fome? Quais são desprezos que eu sofri ou tenho sofrido?

Em segundo lugar, Jesus me convida a olhar ao meu redor para esses mesmos setores de miséria, dos pobres, dos sofredores, dos famintos, dos desprezados. Sou convidado por Jesus a partilhar minha felicidade com os outros, para dividir com o necessitado daquilo que eu tenho, para levar consolação para os que vivem nos prantos, para levar o amor para aqueles que sofrem de desprezo. Se eu fizer tudo isto e mais do que isto, estarei mostrando para os outros que estou no Reino de Deus embora eu ainda esteja neste mundo. Desta maneira, para mim Jesus vai dizer: “O reino de Deus é vosso”, pois ao matar a fome do outro com o que eu tenho, eu sou saciado por Deus (cf. Mt 25,31-46). Ao ajudar os outros na sua carência do essencial, não somente aliviamos sua dor. É muito mais do que isso! Queremos mostrar que estamos no Reino de Deus onde não há fome, não há desprezo, não há pranto, pois todos se preocupam com todos; porque cada um se torna irmão para o outro; porque cada um se torna ocasião de salvação para o outro. 

Hoje Jesus convida todos nós, pobres e ricos, a vivermos a verdadeira pobreza evangélica. A verdadeira pobreza evangélica é a pobreza do homem que desapega seu espírito de todas as coisas que tem, remete a Deus toda preocupação pelas coisas temporais e vive neste mundo como peregrino no caminho até a possessão eterna de Deus. A pobreza assim entendida mantém a alma aberta a Deus, em atitude de total “expectativa”, pois tudo espera de Deus, e mantém o coração aberto para o próximo que necessita de nossa ajuda; cria um clima espiritual propício à docilidade interior, à oração e à união com Deus, porque ensina o homem a viver em contínua dependência do Criador. O apego às coisas passageiras fecha o coração do homem diante de Deus e diante de seu próximo que está em necessidade. Um coração cheio de coisas terrenas fica cego diante da transcendência e diante da miséria alheia. A pobreza evangélica, por sua vez, gera a justiça e a misericórdia, ensina a partilhar o que se tem e o que se é com quem não tem para viver uma vida digna, a alimentar a esperança, a educar para a paz, para o diálogo, para o serviço do próximo, a aumentar o amor e produz serenidade e alegria espiritual. Esta é a mensagem revolucionária que nosso Senhor nos trouxe. Se tudo for realizado, bem-aventurados seremos todos!

O Evangelho é anúncio e denúncia ao mesmo tempo, bênção e maldição, Boa Notícia e Má Notícia. O Evangelho não é imparcial. Em que lado você está?

P. Vitus Gustama,svd

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