sexta-feira, 13 de setembro de 2024

16/09/2024-Segundaf Da XXIV Semana Comum

O CRISTÃO É AQUELE QUE AMA TODOS OS HOMENS E REZA POR TODOS, POIS TODOS SÃO IRMÃOS EM CRISTO

Segunda-Feira da XXIV Semana Comum

Primeira Leitura: 1Cor 11,17-26.33

Irmãos, 17 no que tenho a dizer-vos, eu não vos louvo, pois vossas reuniões não têm sido para o vosso bem, mas para o mal. 18 Com efeito, e em primeiro lugar, ouço dizer que, quando vos reunis em assembleia, têm surgido divisões entre vós. E, em parte, acredito. 19 Na verdade, convém que haja até cisões entre vós, para que também se tornem bem conhecidos aqueles dentre vós que resistem à prova. 20 De fato, não é para comer a Ceia do Senhor que vos reunis em comum. 21 Pois cada um se apressa a comer a sua própria ceia; e enquanto um passa fome o outro se embriaga. 22 Não tendes casas onde comer e beber? Ou desprezais a Igreja de Deus e quereis envergonhar aqueles que nada têm? Que vos direi? Hei de elogiar-vos? Neste ponto, não posso elogiar-vos. 23 O que eu recebi do Senhor foi isso que eu vos transmiti: Na noite em que foi entregue, o Senhor Jesus tomou o pão 24 e, depois de dar graças, partiu-o e disse: “Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei-o em memória de mim”. 25 Do mesmo modo, depois da ceia, tomou também o cálice e disse: “Este cálice é a nova aliança, em meu sangue. Todas as vezes que dele beberdes, fazei isto em minha memória”. 26 Todas as vezes, de fato, que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do Senhor, até que ele venha. 33 Portanto, meus irmãos, quando vos reunirdes para a Ceia, esperai uns pelos outros.34 Se alguém tem fome, coma em casa, para que a reunião não acabe por levá-los à condenação

Evangelho: Lc 7,1-10

Naquele tempo, 1 quando acabou de falar ao povo que o escutava, Jesus entrou em Cafarnaum. 2 Havia lá um oficial romano que tinha um empregado a quem estimava muito, e que estava doente, à beira da morte. 3 O oficial ouviu falar de Jesus e enviou alguns anciãos dos judeus, para pedirem que Jesus viesse salvar seu empregado. 4 Chegando onde Jesus estava, pediram-lhe com insistência: “O oficial merece que lhe faças este favor, 5 porque ele estima o nosso povo. Ele até nos construiu uma sinagoga”. 6 Então Jesus pôs-se a caminho com eles. Porém, quando já estava perto da casa, o oficial mandou alguns amigos dizerem a Jesus: “Senhor, não te incomodes, pois não sou digno de que entres em minha casa. 7 Nem mesmo me achei digno de ir pessoalmente a teu encontro. Mas ordena com a tua palavra, e o meu empregado ficará curado. 8 Eu também estou debaixo de autoridade, mas tenho soldados que obedecem às minhas ordens. Se ordeno a um: ‘Vai!’, ele vai; e a outro: ‘Vem!’, ele vem; e ao meu empregado ‘Faze isto!’, e ele o faz’”. 9 Ouvindo isso, Jesus ficou admirado. Virou-se para a multidão que o seguia, e disse: “Eu vos declaro que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé”. 10 Os mensageiros voltaram para a casa do oficial e encontraram o empregado em perfeita saúde.

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A Eucaristia É a Celebração Comunitária Em Que Há Ncessariamente a União Entre Os Participantes

São Paulo nos apresenta outro problema na comunidade de Corinto que lemos na Primeira Leitura de hoje: as reuniões eucarísticas não vão bem, pois há divisão entre o grupo dos ricos e o dos pobres. São Paulo os acusa duramente: “Não é para comer a Ceia do Senhor que vos reunis em comum. Pois cada um se apressa a comer a sua própria ceia; e enquanto um passa fome o outro se embriaga.

O pecado da comunidade de Corinto era a falta de fraternidade. Quando se reuniam para a Eucaristia, na casa de uma família particular, antes ceavam o que cada um trazia: uns, abundante comida e bebida; outros, apenas o necessário. Os primeiros, os ricos, mais livres em seu horário e mais fortes economicamente, não esperavam os que vinham depois nem deixavam os outros participarem de seus banquetes. Diante desta realidade, são Paulo escreveu duramente: “Não tendes casas onde comer e beber? Ou desprezais a Igreja de Deus e quereis envergonhar aqueles que nada têm? Que vos direi? Hei de elogiar-vos? Neste ponto, não posso elogiar-vos. ... Não é para comer a Ceia do Senhor que vos reunis em comum. Pois cada um se apressa a comer a sua própria ceia; e enquanto um passa fome o outro se embriaga”.

A razão de são Paulo é este: Qual foi a ideia de Jesus ao instituir a Eucaristia?

Precisamente o contrário do que se passa em Corinto. Jesus se entregou  por todos, na Cruz e no Sacramento: “Isto é o meu corpo que é dado por vós”. E o Senhor lhes encarregou que celebrassem este acramento em sua memória: “Fazei-o em memória de mim”.

O relato da Eucaristia que nos traz são Paulo aqui é o mais antigo, porque não tinha ainda os evangelhos escritos. O texto foi escrito pelo ano 56. São Paulo diz que recebeu “do Senhor” o modo de celebrar e o conteúdo da Eucaristia. Não recebeu  do Senhor pessoalmente, mas mediante a Tradição apostólica. Os elementos essenciais/fundamentais da instituição eucarística: é Jesus quem institui; o pão e o vinho são a matéria para essa santa Ceia; a Eucaristia é sinal da nova Aliança entre Deus e a humanidade; é sinal do sacrifício de Cristo em favor de todos (homens e mulheres) e deve ser celebrado sempre como memorial, isto é um sinal de presença, a presença do Senhor entre nós até o fim dos tempos.

O texto sobre a Eucaristia que lemos hoje é muito denso teologicamente. Porque, por um lado, a celebração eucarística é essencialmente comunitária. Por outro lado, é sinal de profunda união entre todos os participantes. Estes dois elementos são inseparáveis como uma moeda de dois lados.

Precisamente, a base da crítica de são Paulo para os Coríntios está acima desses dois fundamentos que eles subestimam, pois a dimensão comunitária cedia lugar ao individualismo e ao egoismo. Consequentemente, os Coríntios não celebravam a Ceia do Senhor e sim a ceia deles próprios. A Eucaristia não combina com o egoismo e divisão (desunião). Nas reuniões eucarísticas surgiam e ganhavam corpo divisões e cisões em Corinto (1Cor 11,18.19). Um grupo de cristãos, que tinham mais posses, fazia “a própria ceia” (1Cor 11,21); este grupo fazia uma ceia particular com excessos desprezíveis como a embriaguez de alguns. Os pobres, que nada possuiam, eram excluidos (1Cor 11,22) e permaneciam com fome: “de estômago vazio” (1Cor 11,21b).

Em outras palavras, não existem a “minha missa, a “minha” Eucaristia. Mais tarde a Eucaristia será chamada de ágape, justamente porque exprimia o amor mútuo dos cristãos. Mas o que aconteceu em Corinto é o contrário: o que havia era a ceia privada de alguns com a exclusão dos pobres. A missa, a Eucaristia é celebração essencialmente comunitária e fraterna, e não privada. Por isso, aparece quase como refrão a palavra “reunir-se” (synérchesthai) nos versículos: 17.18. 20. 33. 34. Ligada  à refeição comum, a Eucaristia era, por excelência, o Sacramento em que a Igreja podia expressar-se como comunidade unida ao seu Senhor e solidária entre seus membros (veja At 3,42-47). A Ceia do Senhor (Eucaristia) é convívio com Cristo e com os irmãos. A Igreja é uma realidade criada por Deus e por sua graça, pertence totalmente a Ele (cf. Cl 1,17-18), mas exprime essencialmente fraternidade, participação.  Cristo é o ponto de partida da corrente que liga as gerações cristãs desde o tempo fundante das origens: “Recebi do Senhor”. A referência da expressão “Recebi do Senhor” não é à experiência de Damasco (cf. At 9,1ss), e sim, para além das mediações eclesiais,  a Jesus de quem depende, em última análise, a práxis eucarística cristã. Portanto, para celebrar dignamente a Eucaristia, não pode haver a divisão nem se pode estar contra o irmão da mesma comunidade (cf. Mt 5,23-26- Sermão da Montanha).

A Eucaristia nos une a Cristo: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele” (Jo 6,56). Mas a Eucaristia deve nos unir à comunidade. Esta segunda direção é que faltava em Corinto.

Somente para os Coríntios são Paulo dirigiu seu alerta? Não! É para todos em qualquer tempo e lugar. Comemos o Pão partido: o próprio Cristo entregue por todos. Nosso Missal nos ajuda a melhorar esta direção horizontes da celebração eucarística, pois no Pai-Nosso pedimos ao Pai do céu: “Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. E a continuação nos convida a nos dar fraternalmente a paz, e logo vemos como se parte o Pão em que vamos todos participar (um símbolo de unidade), assim vamos comungar em procissão, cantando, uns juntos aos outros, e participando, possivelmente, do mesmo cálice.

Consequentemente, cada Eucaristia nos deve fazer crescer na fraternidade, como diz o Novo Catecismo da Igreja Católica artigo 1397: “Para receber na verdade o Corpo e o Sangue de Cristo entregue por nós, devemos reconhecer o Cristo nos mais pobres, seus irmãos” (Cf. Mt 25,40).

São Paulo nos relembra que a Ceia eucarística é sinal de vida. Aquele que participa da Ceia indignamente, isto é, sem amor recusando a união e a comunhão fraternas, não celebra a vida. Nisto ele comete um grande equívoco. Consequentemente, torna-se culpado ou réu do Corpo do Senhor. Condena-se a si próprio: “Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpável do Corpo e do Sangue do Senhor (1Cor 11,27). É claro que ninguém pode julgar ninguém! Mas cada um deve perguntar a si próprio se participa da Eucaristia dignamente. São Paulo não exclui os pecadores desta mesa do Senhor e sim aqueles que não se examinam a si mesmos e, embora conhecendo a própria indignidade ainda tem coragem de entrar em comunhão do Corpo e do Sangue do Senhor.

O Senhor nos convida a celebrarmos a Eucaristia não somente como um rito e sim como uma vida que se recebe para que tenhamos Vida e possamos dar a mesma vida aos demais. o que recebemos do Senhor é o mesmo que temos que transmitir e entregar aos demais irmãos e irmãs: nosso corpo que se entregye por eles, incluindo em todas as nossas obras de caridade e de justiça social, para que todos cheguem a desfrutar de uma vida cada vez mais digna, e nosso sangue que se derrama para o perdão dos pecados por unirse ao sacrifício de Cristo na Cruz.

Um “Pagão” Que Ama E Se Comporta Como o Verdadeiro Seguidor De Cristo

O texto do evangelho deste dia nos contou um centurião “pagão” que pediu a Jesus, através de alguns anciãos do povo de Deus, que curasse seu empregado enfermo. O centurião era um daqueles “pagãos” que não encontraram mais a satisfação nos ritos politeístas, cuja fome religiosa não se saciava com a sabedoria dos filósofos e que, por conseguinte, simpatizava com o monoteísmo judaico e com a moral que dele derivava. Era temeroso de Deus, professava a fé no Deus único através do seu modo de viver e de tratar os demais homens respeitosamente, mas não havia passado definitivamente ao judaísmo. Ele buscava a salvação de Deus. Sua fé no Deus único, seu amor e seu temor de Deus ele manifestava no amor ao povo de Deus e na solicitude pela sinagoga que ele mesmo ajudou a construir. Seus sentimentos se expressavam em obras. E as obras proclamam e revelam quem as pratica. “Cada árvore é conhecida por seus frutos”, disse Jesus.

Um Centurião Com Idéias Amplas e Abertas

Apesar de ser considerado “pagão” pelo fato de não pertencer oficialmente ao povo de Deus, o centurião tinha idéias amplas e abertas: do próprio bolso ele tirou seu dinheiro para ajudar o Povo de Deus na construção de uma de suas sinagogas.

A verdadeira bondade não tem religião. O bem é universal e por isso, pode ser encontrado em qualquer lugar e em qualquer povo ou crença. Os homens do bem podem ser amados ou odiados, mas sempre despertam nossa admiração. O amor não faz diferença onde é aplicado e sempre traz ótimos rendimentos. A insegurança geralmente não tolera a diferença e o diferente. Se um único homem atinge o tipo mais elevado de amor, como o centurião, ele será suficiente para neutralizar o ódio de milhões. A única grandeza é amor altruísta, o amor que sempre quer o bem do outro e dos outros. Os próprios anciãos do povo de Deus chegaram a afirmar diante de Jesus sobre a bondade do centurião: “O centurião merece que lhe faças esse favor (curar seu empregado), porque ele ama nosso povo. Ele até nos construiu uma sinagoga” (Lc 7,4-5).

A Maior Fé Que Se Encontra Fora Do Povo De Deus

Além de suas amplas e abertas idéias, apesar de ser considerado “pagão” por não pertencer à religião oficial do povo, esse centurião se mostra como uma pessoa com muita fé a ponto de Jesus considerá-lo como pessoa que tem muito mais fé do que qualquer membro do próprio povo de Deus: “Eu vos declaro que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé”. Depois de tantas recusas entre os seus, é confortante Jesus encontrar uma fé assim.

Quando Lucas escreveu o evangelho, na comunidade eclesial já houve a admissão dos pagãos convertidos à fé cristã, por exemplo, na pessoa de outro centurião romano, Cornélio, que se converteu com toda sua família (cf. At 10,24-48), pois “Deus não faz distinção de pessoas, mas em toda nação lhe é agradável aquele que o temer e fizer o que é justo” (At 10,34-35).

Será que Jesus já pode encontrar tamanha fé, igual à fé do centurião, na nossa comunidade, em geral, e em cada um de nós, em particular? Para receber o elogio do Senhor é preciso que cada um de nós tenha a fé do tamanho da fé do centurião. Ou será que “todos nós somos mais ateus do que acreditamos e mais crentes do que pensamos?” (René Juan Trossero).

Um Homem Que Respeita o Costume Do Povo e Acredita No Poder da eficácia da Palavra de Jesus

O centurião não deixa Jesus entrar em sua casa, pois um judeu era proibido de entrar na casa de um pagão.

Para respeitar a proibição feita aos judeus de entrar na casa de um pagão, Jesus é levado a fazer um milagre à distancia, realizado somente pela Palavra. No curso de sua vida de taumaturgo somente realizará dois milagres deste tipo (Lc 7,1-10 e Mt 15,22-28). Normalmente Jesus cura através de um contato físico e silencioso, como se seu corpo possuísse certa força vital especial que Ele nem sempre podia controlar (cf. Mc 5,30; 6,65).

Na cura do empregado do centurião Jesus se contenta com a palavra e elogia a fé do centurião: “Eu vos declaro que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé”.

É preciso recordar que ao receber o Pão eucarístico pronunciamos as mesmas palavras do centurião: “Senhor, eu não sou digno (a) de que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra serei salvo”.

A liturgia cristã é baseada unicamente em “uma só Palavra”: a palavra que ressoou no coração de Jesus em sua Páscoa, a Palavra que nos acompanha durante nossa vida cristã, a palavra que nos transforma. No entanto, o mundo de hoje nos pergunta se existe uma palavra do Senhor para ele a partir de nós. Se o mundo pode recorrer a Palavra de Deus depois do fracasso das palavras humanas? Será que realmente como cristãos nós somos aquilo que São Paulo diz: “Vós sois uma carta de Cristo... escrita não com tinta, mas com o Espírito de Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, em vossos corações” (2Cor 3,3)?

P.Vitus Gustama,svd

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