domingo, 26 de junho de 2016

28/06/2016


CORAGEM DE LEVAR JESUS E SUA MENSAGEM PARA OS QUE ESTÃO DO OUTRO LADO


Terça-Feira da XIII Semana Comum


Primeira Leitura: Am 3,1-8;4,11-12


3,1 Ouvi, filhos de Israel, a palavra que disse o Senhor para vós e para todas as tribos que eu retirei do Egito: 2 “Dentre todas as nações da terra, somente a vós reconheci; por isso usarei o castigo por todas as vossas iniquidades. 3 Se duas pessoas caminham juntas, não é porque estão de acordo? 4 Se o leão ruge na selva, não é porque encontrou a presa? Se no covil rosna o filhote do leão, não é porque agarrou sua parte? 5 Acaso, sem armadilha, se prende uma ave no chão? Acaso dispara a armadilha, antes de capturar a presa? 6 Se ressoa na cidade o toque da trombeta, não fica a população apavorada? Se acontece uma desgraça na cidade, não foi o Senhor que fez? 7 Pois nada fará o Senhor Deus, que não revele o plano a seus servos, os profetas. 8 Ruge o leão, quem não terá medo? Falou o Senhor Deus, quem não será seu profeta?” 4,11 “Eu arrasei-vos, como arrasei Sodoma e Gomorra, e ficastes como um tição, retirado da fogueira; e, contudo, não voltastes para mim”, diz o Senhor. 12 Por isso, assim te tratarei, Israel; e, porque sabes como te vou tratar, prepara-te, Israel, para ajustar contas com o teu Deus.


Evangelho: Mt 8, 23-27


Naquele tempo, 23 Jesus entrou na barca, e seus discípulos o acompanharam. 24 E eis que houve uma grande tempestade no mar, de modo que a barca estava sendo coberta pelas ondas. Jesus, porém, dormia. 25 Os discípulos aproximaram-se e o acordaram, dizendo: “Senhor, salva-nos, pois estamos perecendo!” 26 Jesus respondeu: “Por que tendes tanto medo, homens fracos na fé?” Então, levantando-se, ameaçou os ventos e o mar, e fez-se uma grande calmaria. 27 Os homens ficaram admirados e diziam: “Quem é este homem, que até os ventos e o mar lhe obedecem?”
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Somos Chamados a Voltar Para Deus Antes Que Destruamos Nossa Própria Vida e a Vida Alheia


Ouvi, filhos de Israel, a palavra que disse o Senhor para vós e para todas as tribos que eu retirei do Egito: ´Dentre todas as nações da terra, somente a vós reconheci; por isso usarei o castigo por todas as vossas iniquidades´”.


Amós é um profeta que aparece subitamente como um relâmpago de tormenta num mundo de refinada crueldade com suas palavras firmes e rigorosas. Ele é quem introduz no profetismo a espontaneidade dinâmica e valente desconhecida desde a desaparição do profeta Elias. Outros profetas se amadurecem à sombra de um mestre. Amós conhece somente a feroz chamada de Deus que o arrasta a fazer sentir suas exigências no coração da cidade e a restituir a totalidade de uma obrigação: a aliança. As palavras do profeta Amós estão cheias de indignação moral: não condenam o progresso humano e sim o orgulho e a injustiça.


Através da Primeira Leitura de hoje, o profeta Amós quer nos relembrar que nenhum povo se escapará da justiça de Deus. Amós afirma a igualdade de todas as etnias e de todas as nações diante da justiça e da misericórdia de Deus. Além disso, o profeta Amós quer recordar todo o povo eleito ou quem quer que seja, que longe de ser um privilégio, a eleição particular de Israel é uma maior responsabilidade. Quanto maior for o privilégio e o cargo, maior será a responsabilidade: “A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será pedido” (Lc 12,48).


A palavra “responsabilidade” tem sua origem etimológica no latim: “respondere” que significa “prometer”, “garantir”. O que garante a responsabilidade e o sentido da vida do ser humano são os valores. Ter responsabilidade significa ser coerente com os valores reconhecidos. Responsabilizar-se significa elevar a própria existência para uma dimensão superior por causa da vivência dos valores reconhecidos. Responsabilidade e valores sempre andam inseparáveis. Todo ato autenticamente responsável está em comunhão com os valores. Quem vive de acordo com a responsabilidade jamais se torna escândalo para os demais. Responsabilidade é uma vida vivida de acordo com os valores reconhecidos universalmente.  Uma pessoa só pode ser chamada de responsável quando sua vida e sua atuação na sociedade ou na Igreja são orientadas pelos valores humanos reconhecidos universalmente.


O profeta Amós observa que o povo eleito vive fora da Aliança com Deus e por isso, vive irresponsavelmente, que causa muito sofrimento especialmente para os mais pobres e indigentes, para os mansos e os justos da sociedade. Por isso, o profeta Amós convida o povo a aprofundar a ideia de Aliança, pois Deus elegeu o povo de Israel para que fosse testemunha de uma certa concepção da existência e da coexistência na fraternidade e na justiça social.


No Batismo recebemos três funções de Cristo. Uma delas é a função profética (outras duas: a função sacerdotal e real/pastoral). O profeta é um dos crentes a quem Deus confia não unicamente uma mensagem, mas também Sua própria “preocupação”; não é somente um porta-voz de Deus e sim seu partidário e confidente. O profeta é um crente autentico, não é de fé vacilante e abalável. Ele assume sua parte do mistério de Deus. O profeta é o homem de Deus. Cada cristão, pelo Batismo, é profeta. O profeta não pode calar, porque Deus lhe mandou falar: “O que vos digo na escuridão, dizei-o às claras. O que vos é dito ao ouvido, publicai-o de cima dos telhados” (Mt 10,27).


Além disso, os israelitas eram duros e não se converteram. E por isso, Amós lança as palavras duras contra eles. E nós, não temos que escutar o aviso do profeta Amós: “Prepara-te, para ajustar contas com o teu Deus!”? Quantas vozes proféticas chegam até nós e continuamos com nossa arrogância? Ser cristão não é garantia de salvação. Deus sempre nos oferece a reconciliação. Oxalá possamos dizer com o Salmo Responsorial de hoje: “Não sois um Deus a quem agrade a iniquidade, não pode o mau morar convosco; nem os ímpios poderão permanecer perante os vossos olhos. Detestais o que pratica a iniquidade e destruís o mentiroso. Ó Senhor, abominais o sanguinário, o perverso e enganador. Eu, porém, por vossa graça generosa, posso entrar em vossa casa. E, voltado reverente ao vosso templo, com respeito vos adoro”.


É Preciso Manter a Fé Em Jesus Cristo Que Supera as Tempestades Da Vida


Para entender o relato do evangelho de hoje com seus detalhes nós precisamos ter na mente alguns textos do AT que servem como o pano de fundo. Controle sobre o mar e o ato de acalmar tempestade são sinais característicos do poder divino (Jô 7,12; Salmo 73(74),13; 88(89),8-10; 92(93),3-4; Is 51,9-10). Acalmar uma tempestade no mar é a maior prova da atenção ou do cuidado amoroso de Deus (Salmo 106(107),23-32). É digno de notar também que dormir em paz e sem preocupar-se com nenhum problema é um sinal da perfeita confiança em Deus (cf. Pr 3,23-24;Sl 3,6;4,9; Jô 11,18-19).


Na literatura antiga a barca é imagem da comunidade. Jesus convida os discípulos a irem a “outro lado do mar”. “Do outro lado” estão os pagãos, ou o território não- judeu. Jesus convida os discípulos para esse território para que lá possam semear também entre os pagãos a Boa Notícia do Reino. Atravessar, ou “ir para outro lado”, então, significa sair de si mesmo, pensar nos outros e não ficar apenas no nosso lado. É preciso ampliar o horizonte para ver as pessoas, a vida e seus acontecimentos, o mundo em geral na sua justa perspectiva e no seu justo valor. É preciso ampliar o olhar para ver o campo maior de atuação. O convite para ir a outro lado é um convite para tomar coragem de adotar novas maneiras de viver e de atuar. É sair de nosso mundo pequeno para o mundo maior a fim de que renovemos nossa reflexão sobre tudo na nossa vida. Precisamos ir a “outro lado”. Precisamos estar no lugar do outro para saber e compreender a vida do outro. Quem sabe no “outro lado” em vez de evangelizarmos os outros, seremos muita mais evangelizados por eles do que eles por nós. Travessia é muitas vezes sinônimo de abertura ao novo e diferente.


Mas para que possamos atravessar para “outro lado”, precisamos vencer o “mar” de nossa vida. Andar seria impossível. Afundaríamos. Precisamos de algum meio. E o meio para chegar no “outro lado” para superar o “mar”  a fim de levar Jesus é “barco”. Quem sabe um dos barcos mencionados neste texto que sumiram do relato é o nosso barco que ainda não foi usado para levar Jesus. É preciso ter coragem para renovar ou procurar meios para que Jesus e seus ensinamentos possam chegar até as pessoas. Os meios são sempre mutáveis, mas a mensagem de Jesus é eterna, pois só Jesus “tem palavras de vida eterna” (Jo 6,68). Não podemos eternizar os meios, pois eles podem se tornar caducos para outro tempo e lugar. O que é eterna é a mensagem de Jesus: “Passarão o céu e a terra. Minhas palavras, porém, não passarão” (Mt 24,35). Qualquer movimento, grupo ou pastoral que não se renovar, morrerá no caminho. Podemos andar no meso caminho, mas é preciso mudar o jeito de andar para que a caminhada não se torne cansativa.Na doação, a vida se fortalece; e se enfraquece no comodismo e no isolamento. De fato, os que mais desfrutam da vida são os que deixam a segurança da margem e se apaixonam pela missão de comunicar a vida aos demais. A vida se alcança e amadurece à medida que é entregue para dar vida aos outros” (Papa Francisco: Exortação Apostólica: Evangelii Gaudium, no. 10).


Fala-se de uma violenta tempestade que agita o mar, a ponto de as ondas caírem dentro do barco. Para o povo da Bíblia, o mar agitado é a imagem da revolta dos povos inimigos que gera caos primitivo (cf. Sl 46,3-4.7; 65,8; 93,3-4). Além disto, tempestade é imagem de incerteza e de sentimento de derrota, daí se eleva a Deus o grito do povo (cf. Sl 18,16-20;69,2-5.15-16). E somente Deus pode dominar o mar e seu tumulto (Jô 38,7.11). Enquanto isso, Jesus parece estar ausente, dorme e parece estar completamente alheio à tragédia. O sono tranqüilo de Jesus simboliza uma confiança total em Deus como foi explicado nos textos do AT acima mencionados.


“Jesus entrou na barca e os discípulos O seguiram”. Assim Mateus relatou o episódio do evangelho deste dia. A palavra “seguir” aqui é um termo chave que tem função de ligar este episódio com o episódio anterior sobre o seguimento radical (cf. Mt 8, 18-22). Seguir Jesus supõe riscos e renúncias. É por isso que Mt, logo depois da exortação sobre o seguimento radical (episódio anterior), fala da tempestade no meio do lago balançando o barco onde se encontram Jesus e seus discípulos.


As tempestades do Lago de Galileia têm fama por ser súbitas e muito violentas. E Jesus dormia no meio dessa perigosa tempestade (em grego se usa a palavra “sismo” semelhante ao terremoto, movimento interno violento). Deus dorme! Deus parece ficar calado! Por que não se manifesta? Por que o Senhor não intervém na minha vida?


“Por que tendes tanto medo, homens fracos na fé?”, responde Jesus diante de nossos gritos. É o núcleo deste relato: “Homens de pouca fé”. Jesus apela para a fé. Jesus se estranha. E Jesus dá confiança: “Não tenhais medo!”. Para seguir Jesus a fé é condição essencial. As exigências, as renúncias fazem parte da perspectiva de fé. Quanto mais humanamente desesperadora e sem saída for a situação, mais a fé será necessária.


Jesus nos chama a termos fé. Há situações extremas para as quais todo apoio humano perde sua força. Nessas situações somente a fé em Deus é capaz de manter alguém em pé diante dessas situações. Para ficarmos em pé diante das situações extremas, é preciso mantermo-nos de joelhos diante de Deus. Quando a morte se aproximar, por exemplo, não há outra solução melhor do que a própria fé em Deus cujos braços permanecem abertos para nos acolher em sua casa (cf. Jo 14,1-2). No curso da vida de todo homem ou mulher há muitas situações nas quais a fé é o único recurso, o único meio de evitar o pânico: abandonar-se em Deus, confiar nele. Nessa situação precisamos ouvir profundamente o que Jesus nos diz hoje: “Por que vós tendes tanto medo, homens fracos na fé?”.


Ao relatar a tempestade acalmada por Jesus o evangelista Mateus quer nos mostrar que Jesus tem em suas mãos o poder criador de Deus. Por isso, com sua palavra apenas, tudo lhe obedece. O evangelista quer nos chamar a termos fé neste Jesus em qualquer situação onde nos encontramos.


Se encontrarmos alguma dificuldade, precisamos manter a cena do evangelho deste dia diante de nossos olhos: a tempestade violenta, o sono de Jesus, o grito de seus amigos, a chamada a uma fé mais forte e a paz que procede desta fé. Quando tudo parece contrario ou contraditório, Jesus está ali, na minha barca, na barca da Igreja. Precisamos rezar em silêncio: “Senhor, suprima meu medo, pois somente o Senhor tem palavras da vida eterna”.


A Palavra de Deus de hoje quer que tenhamos mais fé em Deus em qualquer situação, pois Ele é o nosso Pai e só quer nosso bem. Precisamos estar conscientes de que Cristo, Deus-Conosco está na barca da Igreja e na barca de nossa vida. É verdade que Jesus parece estar dormindo. Mas, na verdade, a nossa fé é que está adormecida. E o Deus-Conosco, Jesus Cristo, promete sua presença permanente na nossa vida: “Eis que estou convosco todos os dias até o fim do mundo” (Mt 28,20). “Coragem! Eu venci o mundo!” (Jo 16,33c). Temos que ter consciência dessa promessa e colocá-la em prática.


Para Refletir:
  • Cada cristão e cada comunidade há-de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho (Papa Francisco: Exortação Apostólica, Evangelii Gaudium no. 20).
     
  • A fé nasce no encontro com o Deus vivo, que nos chama e revela o seuamor: umamor quenos precede e sobreo qual podemos apoiar-nos paraconstruir solidamente a vida. Transformados por esteamor, recebemos olhosnovos e experimentamos que há nele uma grandepromessa de plenitudee nos é aberta a visãodo futuro. A fé,que recebemos de Deuscomo domsobrenatural, aparece-nos como luz para a estradaorientando os nossos passos no tempo (Pap Francisco: Enciclica Lumen Fidei, no. 4).
     
    P. Vitus Gustama,svd

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