04/06/2016 Imaculado Coração de Maria
IMACULADO
CORAÇÃO DE MARIA
Primeira Leitura: Is 61,9-11
9 A
descendência do meu povo será conhecida entre as nações, e seus filhos se
fixarão no meio dos povos; quem os vir há de reconhecê-los como descendentes
abençoados por Deus. 10 Exulto de alegria no Senhor e minha alma regozija-se em
meu Deus; ele me vestiu com as vestes da salvação, envolveu-me com o manto da
justiça e adornou-me como um noivo com sua coroa, ou uma noiva com suas joias.
11 Assim como a terra faz brotar a planta e o jardim faz germinar a semente,
assim o Senhor Deus fará germinar a justiça e a sua glória diante de todas as
nações.
Evangelho: Lc 2,41-51
41 Os pais de Jesus iam todos os anos a
Jerusalém, para a festa da Páscoa. 42 Quando ele completou doze anos, subiram
para a festa, como de costume. 43 Passados os dias da Páscoa, começaram a
viagem de volta, mas o menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais o
notassem. 44 Pensando que ele estivesse na caravana, caminharam um dia inteiro.
Depois começaram a procurá-lo entre os parentes e conhecidos. 45 Não o tendo encontrado,
voltaram para Jerusalém à sua procura. 46 Três dias depois, o encontraram no
Templo. Estava sentado no meio dos mestres, escutando e fazendo perguntas. 47
Todos os que ouviam o menino estavam maravilhados com sua inteligência e suas
respostas. 48 Ao vê-lo, seus pais ficaram muito admirados e sua mãe lhe disse:
“Meu filho, por que agiste assim conosco? Olha que teu pai e eu estávamos,
angustiados, à tua procura”. 49 Jesus respondeu: “Por que me procuráveis? Não
sabeis que devo estar na casa de meu Pai?” 50 Eles, porém, não compreenderam as
palavras que lhes dissera. 51 Jesus desceu então com seus pais para Nazaré, e
era-lhes obediente. Sua mãe, porém, conservava no coração todas estas coisas.
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Neste dia celebramos a memória obrigatória do
Imaculado Coração de Maria. A devoção ao coração de Maria foi propagada por São
João Eudes no século XVII (remonta a 1643), devoto aos Corações de Jesus e
Maria. Em 1942, Pio XII consagrou toda a humanidade ao coração de Maria, e
fixou a celebração de sua festa no dia 22 de Agosto, oitava da Assunção, no
intuito de pedir a paz. Esta festa é colocada no dia imediato à solenidade do
Sagrado Coração de Jesus para voltar à origem histórica desta devoção. No
século XVII, São João Eudes, em seus escritos, não separava os dois corações
nos projetos litúrgicos.
O evangelho lido neste dia nos relatou que “Três dias depois, encontraram Jesus no
Templo. Estava sentado no meio dos mestres, escutando e fazendo perguntas”.
Muitos biblistas consideram os “três dias” como alusão aos três dias entre a
Cruz e a Ressurreição. Três dias são dias de sofrimento pela ausência de Jesus;
são três dias de escuridão. E o peso destes três dias se revela nas palavras da
Mãe de Jesus: “Meu filho, por que agiste
assim conosco? Olha que teu pai e eu estávamos, angustiados, à tua procura”
(Lc 2,48).
Este relato nos mostra a importância da
presença de Jesus e de sua palavra na nossa vida, sem os quais nossa vida se
torna escura, sem sabermos para qual direção devemos caminhar. Não é por acaso
que, na sua busca do terreno que não o satisfez, Santo Agostinho dizia na sua
oração: “Fizeste-nos para Ti, Senhor, e
inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em ti” (Confissões
1,1). Unir-se com Deus, estar em comunhão com Deus é a condição para ter paz do
coração. Estar em comunhão com Jesus e Sua Palavra significa também estar
envolvido no mistério de Sua Paixão e Ressurreição.
Por isso, podemos entender o significado da
resposta de Jesus à Sua Mãe: “Por que me
procuráveis? Não sabeis que devo estar na casa de meu Pai?”. Aqui Jesus usa
a palavra “devo” para dizer que Jesus pertence a Deus que é o seu próprio Pai e
ele deve estar com o Pai. Consequentemente, Jesus não está desobedecendo a Mari
e José, mas na realidade mostra sua obediência filial ao Deus Pai. Implicitamente,
Jesus quer que Maria e José se mantenham no Deus Pai, obedientes à Sua vontade.
Essa obediência é que vai levar Jesus para a Cruz e a Ressurreição.
Mas Lucas nos relatou que “Eles, porém, não compreenderam as palavras
que lhes dissera. Jesus desceu então com seus pais para Nazaré, e era-lhes
obediente. Sua mãe, porém, conservava no coração todas estas coisas”. As palavras
de Jesus sempre são maiores do que nossa razão, nossa inteligência. Jamais
podemos entender perfeitamente o sentido profundo da Palavra de Deus. A palavra
de Jesus é grande demais para Maria. É tão grande a ponto de Maria só guardá-la
no seu coração: “Sua mãe, porém,
conservava no coração todas estas coisas”. Cedo ou tarde a Palavra de Deus
vai nos iluminar para captar o sentido de cada coisa, de cada acontecimento na
nossa vida.
O coração de Maria esteve sempre cheio de
Deus a ponto de o anjo do Senhor chamá-la de “cheia de graça” (cf. Lc 1,28). O
seu coração imaculado é chamado santuário do Espírito Santo (LG 53), como
rezamos na coleta, em virtude da sua maternidade divina e da inabitação
contínua e plena do Espírito divino na sua alma. O Verbo que Maria deu à luz
segundo a carne foi antes concebido segundo a fé no seu coração (Santo
Agostinho). Foi em vista do seu Coração Imaculado, cheio de fé e de amor
humilde, juntamente à benevolência totalmente gratuita e de uma complacência
absolutamente pura de Deus que Maria mereceu trazer o Filho de Deus no seu seio
virginal.
O coração de Maria conservava as palavras de
Jesus Cristo. Por isso, podemos dizer que seu peito foi um sacrário: “Sua mãe, porém, conservava no coração todas
estas coisas”. O Coração de Maria é a projeção do Evangelho para nosso
século. Maria viveu o Evangelho em seu mais puro e elevado espírito na
interioridade de seu coração. Ela é a verdadeira discípula de Jesus que vive
por causa da Palavra de Deus: “Eis aqui a
serva do Senhor; faça-se em mim segundo a Tua Palavra” (Lc 1,38).
O cristão de nossos dias, que pretende
adaptar sua vida às exigências do Evangelho, tem que penetrar com o máximo respeito
no sagrado Coração de Maria e ver e aprender como ela viveu as exigências da
Palavra de Deus. Maria sabe guardar a Palavra de Deus no seu coração para do
seu coração sair frutos que Deus quer para o bem de toda a humanidade. Ao
aderir à Palavra de Deus e ao guardar a Palavra de Deus no seu coração, Maria
cresce progressivamente com a Palavra, mesmo que ela não compreenda seu
significado no momento como aconteceu com a resposta de Jesus no Templo aos
doze anos de idade, como relatou o evangelho lido neste dia. De Maria
aprendemos que o coração é feito para guardar os tesouros da vida divina, para
guardar a Palavra de Deus. Não guardemos no nosso coração aquilo que nos
prejudica e destrói a vida alheia. Guardemos a Palavra redentora de Deus no
nosso coração, para ela possa purificar nosso coração progressivamente a fim de
um dia poder se tornar um coração imaculado semelhante ao Coração imaculado de
Maria.
Do coração de Maria brotam torrentes de
graças de perdão, de misericórdia, de ajuda nas situações difíceis. Por isso,
queremos pedir-lhe hoje que nos dê um coração puro, humano, compreensivo com os
defeitos dos que convivem conosco.
Quando se fala do coração imaculado fala-se
do coração capaz de amar sem limites. Amor é capacidade de sair de si mesmo, de
transferir-se para outro ser, de participar de outro ser e de entregar-se por
um outro ser. Aquele que ama está totalmente no outro, conservando sua
identidade. O amor não pode realizar-se na esfera de um sujeito isolado. O
verdadeiro amor é sempre como uma experiência de derrota que se transforma em
vitória; uma experiência de entrega que se transforma em enriquecimento; uma
experiência de sair de si que se transforma no mais profundo encontro consigo
mesmo; uma experiência de morte que se transforma em vida. O ponto final do
amor é a vitória sobre a morte. O ponto final do egoísmo é a morte, e a
ausência do amor é a ausência de Deus. “É preciso amar os homens não pela
simpatia que nos inspiram nem pelas qualidades que apreciamos, mas porque Deus
os ama” (Martin Luther King).
Terminamos a nossa oração pedindo ao Senhor:
“Ó Deus, que preparastes no Imaculado Coração de Maria uma digna morada para o
vosso Filho e um santuário para o Espírito Santo, concedei-nos um coração limpo
e dócil, para que, sempre submissos aos vossos preceitos, Vos amemos sobre
todas as coisas e ajudemos os nossos irmãos em todas as suas necessidades”.
Assim seja.
P. Vitus Gustama,svd
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