terça-feira, 21 de junho de 2016

22/06/2016




O CRISTÃO É RECONHECIDO PELA MANEIRA DE VIVER E NÃO PELA MANEIRA DE REZAR


Quarta-Feira da XII Semana Comum


Primeira Leitura: 2Rs 22,8-13;23,1-3


Naqueles dias, 22,8 o sumo sacerdote Helcias disse ao secretário Safã: “Achei o livro da Lei na casa do Senhor!” Helcias deu o livro a Safã, que também o leu. 9 Então o secretário Safã foi à presença do rei e fez-lhe um relatório nestes termos: “Os teus servos juntaram o dinheiro que se achou no templo e entregaram-no aos empreiteiros encarregados do templo do Senhor”. 10 Em seguida, o secretário Safã comunicou ao rei: “O sacerdote Helcias entregou-me um livro”. E Safã leu-o diante do rei. 11 Ao ouvir as palavras do livro da Lei, o rei rasgou as suas vestes. 12 E ordenou ao sacerdote Helcias, a Aicam, filho de Safã, a Acobor, filho de Miquéias, ao secretário Safã e a Asaías, ministro do rei: 13 “Ide e consultai o Senhor a meu respeito, a respeito do povo e de todo o Judá, sobre as palavras deste livro que foi encontrado. Grande deve ser a ira do Senhor que se inflamou contra nós, porque nossos pais não obedeceram as palavras deste livro, nem puseram em prática tudo o que nos fora prescrito”. 23,1 Então o rei mandou que se apresentassem diante dele todos os anciãos de Judá e de Jerusalém. 2 E subiu ao templo do Senhor com todos os homens de Judá e todos os habitantes de Jerusalém, os sacerdotes, os profetas e todo o povo, do maior ao menor. Leu diante deles todo o conteúdo do livro da Aliança que tinha sido achado na casa do Senhor. 3 De pé, sobre o seu estrado, o rei concluiu a aliança diante do Senhor, obrigando-se a seguir o Senhor e a observar seus mandamentos, preceitos e decretos, de todo o seu coração e de toda a sua alma, cumprindo as palavras da Aliança escritas naquele livro. E todo o povo aderiu à Aliança.


Evangelho: Mt 7,15-20


Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 15 “Cuidado com os falsos profetas: Eles vêm até vós vestidos com peles de ovelha, mas por dentro são lobos ferozes. 16 Vós os conhecereis pelos seus frutos. Por acaso se colhem uvas de espinheiros ou figos de urtigas? 17 Assim, toda árvore boa produz frutos bons, e toda árvore má, produz frutos maus. 18 Uma árvore boa não pode dar frutos maus, nem uma árvore má pode produzir frutos bons. 19 Toda a árvore que não dá bons frutos é cortada e jogada no fogo. 20 Portanto, pelos seus frutos vós os conhecereis”.
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Deus Nos Chama De Volta Ao Caminho Do Bem Antes Que a Desgraça Nos Destrua


Grande deve ser a ira do Senhor que se inflamou contra nós, porque nossos pais não obedeceram as palavras deste livro, nem puseram em prática tudo o que nos fora prescrito”, assim lemos na Primeira Leitura como a reação do rei Josias depois que leu o Livro da Lei descoberto no Templo de Jerusalém.


Josias foi o 16º rei de Judá que governou nos anos 640-609 a.C. Ele foi um dos poucos reis bons e fieis a Deus no meio de uma história cheia de idolatria e injustiça. O reino de Josias coincide com a queda do império assírio. Neste contexto, Josias encontrou condições adequadas para agir de maneira autônoma sobre seu reino. Sobre o reino de Josias podemos ler em 2Rs 22,1-23,30.


O texto da Primeira leitura fala da descoberta do Livro da Lei que ocorreu no 18º ano do reinado de Josias, pelo ano 622 a.C. O motivo da descoberta do Livro da Lei são as obras realizadas no Templo (2Rs 22,4-7) cuja descrição parece uma repetição das obras realizadas anteriormente pelo rei Joás (2Rs 12,4-16). As obras realizadas no Templo pelo rei Josias mostram a importância do Templo e o zelo de Josias pelo Templo.


Um dos detalhes importantes é a descrição do conteúdo do Livro da Lei que foi descoberto. Entre o que estava escrito no livro, com as palavras do pacto, e o que estava acontecendo na história da cidade, não havia nenhuma semelhança, isto é, o povo em geral vivia fora da Lei do Senhor. Rei Josias justamente temia que Deus ficasse muito irritado, razão pela qual as calamidades aconteciam. A leitura solene do Livro da Lei descoberto leva todos, autoridades e pessoas, para renovar e assinar o pacto com Deus. Esta reunião de todo o povo e de todas as autoridades convocada pelo rei Josias nos recorda a assembleia de Siquém (cf. Josué 24) que tem duas partes: leitura pública do livro da lei e conclusão da aliança. Todos se converteram ao Senhor e se comprometeram a ser fieis à Lei do Senhor.


O Salmo Responsorial deste dia (Sl 118) vai na direção desta conversão: “Ensinai-me a viver vossos preceitos; quero guardá-los fielmente até o fim! Dai-me o saber, e cumprirei a vossa lei, e de todo o coração a guardarei. Guiai meus passos no caminho que traçastes, pois só nele encontrarei felicidade. Inclinai meu coração às vossas leis, e nunca ao dinheiro e à avareza. Desviai o meu olhar das coisas vãs, dai-me a vida pelos vossos mandamentos! Como anseio pelos vossos mandamentos! Dai-me a vida, ó Senhor, porque sois justo!”.


Há períodos na comunidade cristã em que é necessário algum "redescoberta" do conteúdo e do valor da Palavra de Deus para nossa vida cotidiana. Embora saibamos que a vivência da Palavra de Deus não nos torna isentos do sofrimento, mas há algumas coisas ruins ou alguma infelicidade na nossa vida que acontecem por estarmos longe da vivência da Palavra de Deus. Precisamos nos convocar para uma reflexão a fim de voltarmos para o caminho da sabedoria traçado pela Palavra de Deus. Precisamos descobrir e redescobrir Jesus e seus ensinamentos na nossa vida conforme as situações em que nos encontrarmos. Trata-se de uma “nova evangelização” ou uma “nova saída” da Igreja como pede o Papa Francisco, em vez de a Igreja ficar “enferma” dentro de quatro paredes. O perigo que temos é o avanço da tecnologia de tal maneira a ponto de nos esquecermos do “Livro da Lei” de Jesus Cristo, de seu estilo de vida e sua lista de bem-aventuranças (Mt 5,1-12), e nos deixarmos levar pela idolatria moderna de todos os tipos.


O Cristão É Reconhecido Pelas Suas Boas Obras


Estamos ainda no Sermão da Montanha (Mt 5-7).  O texto do evangelho de hoje é a última parte da conclusão do Sermão da Montanha (Mt 7). O que conta para Deus é o bem que praticamos. Nossa maneira de viver e de conviver é o parâmetro para saber se realmente rezamos ou se realmente acreditamos em Deus que é o Supremo Bem. O texto do evangelho de hoje serve de verificação para nossas praticas diárias. Afinal, quem é o verdadeiro cristão?


Fazer e Dizer Devem Estar Em Perfeita Sintonia


Nem todo aquele que diz ‘Senhor, Senhor’”. Mais uma vez aparece no evangelho a dialética entre o dizer e o fazer. “Os mais belos pensamentos nada são sem as obras”, porém “O Senhor não olha tanto a grandeza das nossas obras. Olha mais o amor com que são feitas” (Santa Teresa de Jesus). Há quem fale continuamente de Deus (“Senhor, Senhor”) e logo se esquece de fazer sua vontade. Há quem se faça a ilusão de trabalhar pelo Senhor (“profetizamos em teu nome, expulsamos os demônios, fizemos milagres”), mas logo, no dia das contas, no dia da verdade, acontece que o Senhor não o conhecerá: “Jamais vos conheci. Afastai-vos de mim”. “Reza bem quem vive bem” (Santo Agostinho: De ord. 2,19,51).


Por isso, existe o perigo de uma oração (“Senhor, Senhor”) que não é traduzida em vida e em compromisso. Por essa razão um sábio chegou a dizer: “Não há nada que seja mais perigoso do que a oração”, porque obriga ou leva quem reza a assumir os compromissos de Deus com seriedade e perseverança na convivência com os demais homens. Ao rezar pedindo a paz para Deus, quem reza deve ser construtor da paz. Se não rezaria em vão. Existe o perigo de uma escuta da Palavra que não se converte em nada prático e operante. Jesus fala bem claro neste evangelho: os que falam bem, os que “rezam bem”, os que “oram” e não “fazem” não entrarão no Reino. Em outras palavras, a oração precisa ser transformada em compromisso. Rezemos diante de Deus como uma criança, mas logo voltemos à nossa vida com nossa responsabilidade de adultos. O final de toda oração adulta é um só: “Amém”, isto é, aceito a realidade e minha responsabilidade diante dela.


Jesus não quer que os cristãos cultivem somente a relação com ele, e sim que sejam seguidores que, unidos a ele, trabalhem para mudar a situação da humanidade. É viver de acordo com a justiça e a caridade. Onde há justiça não há pobreza nem exclusão social. Devemos ter sempre a cabeça fria para analisar bem os acontecimentos na nossa vida e ao nosso redor, ter o coração sempre quente para amar, acolher e ter a mão sempre larga para ajudar e para abraçar num abraço de reconciliação.


Construir a Vida Sobre a Rocha da Palavra de Deus


Jesus nos convida hoje a sermos seguidores “rocha” e não seguidores “areia”. Seguidor “areia” é aquele que vive de uma fé de simples aparência, sem fundamento. Um dia acredita em Deus, em outra ocasião perde a fé. Crê quando as coisas vão ao seu gosto e se desanima quando tudo não corresponde àquilo que imaginava. Os seguidores “rocha” são os que fundamentam sua vida na rocha que é Cristo e sua Palavra. Os seguidores “rocha” se mantêm firmes em qualquer situação, porque seguram na mão de Deus e sabem em quem acreditam (cf. 2Tm 1,12c).  Para sermos verdadeiros seguidores “rocha” devemos fazer próprios as palavras do Salmo 78: “Senhor, não lembreis as nossas culpas do passado, mas venha logo sobre nós vossa bondade.... Por vosso nome e vossa glória, libertai-nos! Por vosso nome, perdoai nossos pecados!”. Não corrigir nossas faltas é o mesmo que cometer novos erros. Muito sabe quem conhece a própria ignorância e procura a viver mais com sabedoria e prudência.


As Obras Que Falam Por Si


Através do evangelho de hoje Jesus quer nos dizer, primeiramente, que não devemos julgar ou avaliar o homem pelas aparências que são frequentemente enganosas. Devemos, ao contrário, avaliá-lo a partir daquilo que ele faz. Nem as palavras, nem as intenções, e sim as práticas. Se as palavras e as intenções seguem uma direção, e a prática outra, a segunda é que revela o coração do homem, suas opções profundas, seus verdadeiros interesses. Por fora, todos podem parecer iguais, mas o interior da pessoa e as obras que fazem a diferença. Sabemos que nem tudo o que brilha é ouro.


Jesus é muito realista. Ele dá este critério: “Olhem e vejam como atuam” para saber se são verdadeiros cristãos ou não, se são profetas ou não são profetas. “Pelos frutos vocês vão reconhecê-los”. Qualquer pessoa se manifesta pelo que faz ou pelo modo de viver. Os cristãos são reconhecidos não pelos dons que têm, mas pelos frutos que produzem. Qualidade de um fruto depende da qualidade da árvore. Jesus quer nos dizer para não julgarmos os homens pelas aparências e sim pelo que faz. Nem as palavras nem as intenções e sim a prática. Se as palavras e as intenções seguem uma direção e a prática outra, a segunda é que revela o coração do homem, suas opções profundas, seus verdadeiros interesses.


Através do evangelho de hoje Jesus faz uma advertência sobre o perigo relacionado aos falsos profetas. O evangelista Mateus dá uma norma para sua comunidade a fim de saber reconhecer os falsos profetas: a paciência em esperar os frutos e as obras pelos quais será reconhecido o verdadeiro profeta do falso profeta. A chave para detectar os falsos profetas são suas obras. O verdadeiro profeta é aquele que orienta a comunidade de acordo com a mensagem e a forma de vida de Jesus.


Este critério deve ser aplicado para nós mesmos também: Que frutos produzimos? Que frutos você produz? Dizemos apenas palavras bonitas ou também oferecemos fatos ou obras? De um coração azedo somente produz frutos azedos. De um coração generoso e sereno brotam obras boas e consoladoras. São Paulo na carta aos gálatas escreveu: “As obras da carne são fornicação, idolatria, ódios, discórdia, inimizade, egoísmo, inveja, ciúmes, ira, divisão, rivalidade. Ao contrário, o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, afabilidade, fidelidade, domínio de si mesmo” (cf. Gl 5,19-26). Se nós somos filhos da Verdade e do Amor, então, façamos as obras da Verdade e do Amor e vivamos na sinceridade.


A Palavra de Deus hoje nos convida a descermos ao fundo do coração para descobrir nele a nossa maldade ou a nossa bondade; a nossa mentira ou a nossa verdade; nossa veracidade ou nossa falsidade; a nossa esterilidade ou a nossa fecundidade. A Palavra de Deus precisa nos desarmar para nos vermos como somos.


Portanto, com Sua Palavra através do evangelho de hoje Jesus denuncia uma dissociação freqüente e muito perniciosa (prejudicial). Uma vida cristã fundada nesta dissociação é como uma casa construída sem fundamento. Por isso, somos alertados que existe o perigo de uma oração (Senhor, Senhor) que não se traduz em vida e em compromisso (a vontade de Deus). Existe o risco de uma escuta da Palavra que não se converte em nada prático e operante. Existe o risco de certos momentos comunitários que se fecham em si mesmos sem nenhum compromisso. A oração, a escuta da Palavra de Deus e o encontro comunitário, são a raiz da práxis cristã. Porém, a raiz deve germinar e produzir frutos. Ninguém planta trigo sem esperar colher seus grãos. Ninguém pesca sem esperar apanhar peixes.


Por que às vezes ou muitas vezes, a oração se encerra em si, a escuta da Palavra de Deus não se traduz em vida e o encontro com os irmãos não se abre ao mundo? A resposta implicitamente se encontra na própria Palavra de Deus: “Ninguém pode servir a dois senhores” (Mt 6,24). Por servir a dois senhores, a pessoa, depois de “servir” a Deus com oração, com a escuta da Palavra e com a reunião eclesial logo serve ao mundo e a si própria com as opções concretas e cotidianas da vida.


Precisamos estar conscientes de que não existe verdadeira fé sem empenho moral. A oração e a ação, a escuta e a prática, são igualmente importantes. Há três coisas indispensáveis para a vida de um cristão: escuta atenta da Palavra de Deus com oração, prática da vontade de Deus e perseverança até o fim apesar das tempestades da vida.


O evangelho deste dia quer nos dizer que não importa “dizer Senhor, Senhor, nem falar em seu nome, nem sequer fazer milagres”. O que importa é a prática. O fazer. As obras. Não o dizer, nem o pensar, nem o rezar, nem o pregar, nem fazer milagres. A prática é a rocha, por isso, é firme até diante de Deus. As obras boas praticadas em nome de Deus são verdadeiros sinais da abertura diante da graça de Deus.


P. Vitus Gustama, SVD

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