sexta-feira, 17 de junho de 2016

20/06/2016




VIVER NA FRATERNIDADE BASEADA NO AMOR MÚTUO


Segunda-Feira Da XII Semana Do Tempo Comum


Primeira Leitura: 2Rs 17,5-8.13-15a.18


Naqueles dias, 5 Salmanasar, rei da Assíria, invadiu todo o país. E, chegando a Samaria, sitiou-a durante três anos. 6 No nono ano de Oséias, o rei da Assíria tomou Samaria e deportou os habitantes de Israel para a Assíria, estabelecendo-os em Hala e nas margens do Habor, rio de Gozã, e nas cidades da Média. 7 Isto aconteceu porque os filhos de Israel pecaram contra o Senhor, seu Deus, que os tinha tirado do Egito, libertando-os da opressão do Faraó, rei do Egito, porque tinham adorado outros deuses. 8 Eles seguiram os costumes dos povos que o Senhor havia expulsado de diante deles, e as leis introduzidas pelos reis de Israel. 13 O Senhor tinha advertido seriamente Israel e Judá por meio de todos os profetas e videntes, dizendo: “Voltai dos vossos maus caminhos e observai meus mandamentos e preceitos, conforme todas as leis que prescrevi a vossos pais e que vos comuniquei por intermédio de meus servos, os profetas”.14 Eles, porém, não prestaram ouvidos, mostrando-se tão obstinados quanto seus pais, que não tinham acreditado no Senhor, seu Deus. 15ª Desprezaram as suas leis e a aliança que tinham feito com seus pais, e os testemunhos com que os havia garantido. 18 O Senhor indignou-se profundamente contra os filhos de Israel e rejeitou-os para longe da sua face, restando apenas a tribo de Judá.


Evangelho: Mt 7,1-5


Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 1 “Não julgueis para não serdes julgados. 2 Pois com o julgamento com que julgais, sereis julgados, e com a medida com que medirdes, sereis medidos. 3 Por que reparas o cisco que está no olho do teu irmão, quando não percebes a trave que está no teu? 4 Ou como poderás dizer ao teu irmão: ‘Deixa-me tirar o cisco do teu olho’, quando tu mesmo tens uma trave no teu? 5 Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás bem para tirar o cisco do olho do teu irmão”.
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É Preciso Viver De Acordo Com Os Mandamento Do Senhor Para Não Cair Na Desgraça


A Primeira Leitura nos fala da história do reino de Israel que chega ao fim sem retorno com a destruição de Samaria e a deportação de seus habitantes. Em 722 a.C a ocupação de Samaria pelo rei de Assíria, Salmanasar V (Sargão II segundo documentos assírios). Em 701 a.C primeira ocupação de Jerusalém  por Senaquerib, rei de Assíria. Em 597 a.C primeira deportação massiva de judeus para Babilônia. Em 586 a.C ocupação de Jerusalém por Nabucodonosor, rei de Babilônia; destruição total e sistemática da cidade e do Templo e a deportação da população para Babilônia.


Naqueles dias, Salmanasar, rei da Assíria, invadiu todo o país” (território de Samaria), assim lemos na Primeira Leitura. Podemos imaginar o terror dessa invasão: violar, degolar, queimar, roubar, deportar e assim por diante. Não há invasão pacífica. As vítimas são os pequenos e simples. Além disso, um grande número de seus habitantes são deportados por Sargão II nos anos 720 a.C para diferentes lugares do império.


O redator do Livro dos Reis (os redatores deteronomistas) reflete largamente sobre esses fatos pela importância que tem na história da Aliança de Deus com Seu povo. O redator se interroga sobre as causas do desastre. Para o autor a causa dessa desgraça é esta: “Isto aconteceu porque os filhos de Israel pecaram contra o Senhor, seu Deus, que os tinha tirado do Egito, libertando-os da opressão do Faraó, rei do Egito, porque tinham adorado outros deuses. Eles seguiram os costumes dos povos que o Senhor havia expulsado de diante deles, e as leis introduzidas pelos reis de Israel”.


Os redatores deuteronomista oferecem uma reflexão para todos os desterrados que contém uma explicação e uma advertência para o futuro.


O pecado principal do povo eleito é a idolatria. Este pecado é relembrado várias vezes ao longo do livro. Em sentido próprio e clássico, idolatria é a adoração ou o culto que se tributa a entidades, objetos, imagens ou elementos naturais que se consideram dotados de poder divino ou também a divindades falsas, “vãs aparências” (a palavra “ídolo” provem do grego “eidolon”, significa imagem). O progresso dos estudos bíblicos o termo “idolatria” implica na Bíblia, inclusive, em sentido espiritual: fanatismo, absolutização ou “sacralização” das coisas secundárias que deveriam estar a serviço do homem se convertem em absoluto e tende a dominar a existência e as aspirações humanas. Assim se pode falar de idolatria da busca excessiva de dinheiro, de poder, de sexo e assim por diante.


Segundo a mensagem bíblica, o reconhecimento de Deus é fundamentalmente a negação dos ídolos. Neste sentido, o oposto à fé em Deus não é o ateísmo e sim a idolatria. Por isso, a luta contra a idolatria é o tema principal que recorre o Antigo Testamento e sempre se subjaz no Novo Testamento. A história da salvação não é outra coisa que desapegar-se dos ídolos: desde Abraão à Igreja de nossos dias. É tarefa do crente “ não correr atrás do vazio” (Jr 2,5) e “guardar-se dos ídolos” (1Jo 5,21) que afastam o crente da fé e do amor. Somente assim  o crente poderá servir ao único Deus vivente. O cristão deve se manter num processo de contínua purificação da idolatria: os ídolos do mundo são também nossos ídolos. O ensinamento da Palavra de Deus é que não há ateus e Povo Deus, e sim idólatras e crentes com tentações de idolatria. A Igreja não será contaminada tanto pelo ateísmo por fatal que possa ser, às vezes, como pelos deuses falsos. A mensagem bíblica sobre a idolatria é essencialmente uma mensagem de libertação e de esperança em momentos de crises e de opressão do povo de Israel e das primeiras comunidades cristãs.


Não Somos Autorizados a Julgar, Mas Ordenados a Amar


O texto do evangelho de hoje pertence ao Sermão da Montanha (Mt 5-7). O Sermão está já na sua conclusão. Nesta conclusão Jesus nos alerta para não julgarmos os outros. Não somos autorizados para julgar e sim somos ordenados para amar (cf. Jo 15,12). Não temos condições para julgar. Somente Deus tem a competência para nos julgar.


“Não julgueis para não serdes julgados. Pois com o julgamento com que julgais, sereis julgados, e com a medida com que medirdes, sereis medidos”.


O verbo julgar (em grego, krinein) se utiliza aqui em sentido jurídico e equivale a emitir um juízo condenatório sobre uma pessoa, baseando-se nos defeitos que tem. Quem emite este tipo de juízo rompe a relação com a pessoa ajuizada.


Deus não quer isto. Por isso, Jesus coloca um critério que deve ser usado na comunidade cristã (cf. Mt 18,15-18). Quando um cristão perceber algum defeito no outro, ele precisa fixar olhar para os próprios defeitos porque talvez sejam maiores do que os defeitos do outro: “Por que reparas o cisco que está no olho do teu irmão, quando não percebes a trave que está no teu? Ou como poderás dizer ao teu irmão: ‘Deixa-me tirar o cisco do teu olho’, quando tu mesmo tens uma trave no teu?”.  


A análise crítica da própria realidade ajuda o cristão a compreender as fraquezas dos outros em vez de emitir um juízo.  Com a consciência da própria fragilidade, o cristão será movido a compreender e curar a fragilidade do outro. Se não fizer isto é porque este tipo de cristão é hipócrita, isto é, aquele que se acha santo ou perfeito, mas pela emissão do julgamento sobre os outros já revela que é um grande pecador: “Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás bem para tirar o cisco do olho do teu irmão”.A ignorância mais refinada é a ignorância da própria ignorância”, dizia Santo Agostinho (Confissões, 5,7).  Quanto mais curioso torna-se o homem por conhecer a vida alheia, tanto mais relaxado se torna para consertar a sua própria”, acrescentou Santo Agostinho (Confissões, 10,3).


De qualquer modo, a rigidez e a hipocrisia em julgar são defeitos que podem ser evitadas se um cristão souber fazer a crítica sobre si mesmo. Olhar para a própria consciência e para o próprio modo de viver é algo indispensável para um cristão conviver fraternalmente com os demais. Olhar para a própria casa é a primeira coisa que deve ser feita. Quem fica olhando para a vida alheia é porque não está cuidando da própria vida. A consciência dos próprios limites e debilidades é a medida para uma crítica evangélica. Um verdadeiro cristão jamais adota uma atitude de orgulho, de menosprezo e de superioridade diante dos demais que o leva a uma postura farisaica de condenação e de recriminação dos defeitos dos outros. Precisamos estar conscientes de que o juízo pertence a Deus e não a nós, pobres pecadores.


Resumindo! Há três razões pelas quais não devemos julgar os outros. Primeiramente, o julgamento pertence a Deus e não a nós, pobres pecadores, porque só Deus conhece profundamente o coração de cada ser humano. Constituir-se em juiz dos outros é uma ousadia irresponsável. É uma ousadia de se colocar no lugar de Deus, de se considerar como Deus, de roubar o lugar. Ao julgar, você esta querendo dizer: “Eu sou Deus e você é pecador”.  Em segundo lugar, a medida que usarmos para com os outros será usada por Deus contra nós no julgamento final, pois a vida tem seu fim. Em terceiro lugar, todos nós somos imperfeitos. Não somos seres humanos; estamos seres humanos. Julgar provém da nossa própria cegueira que nos impede de ver os nossos próprios defeitos. Ao julgarmos os outros estamos querendo dizer que somos melhores do que os outros. Mas na verdade, ao fazer isto, estamos revelando aos outros que somos piores do que imaginamos. O Senhor nos ordena para nos amarmos mutuamente (cf. Jo 15,12), e não nos autoriza para julgar os demais homens.

Deus não quer qualquer rompimento. Por isso, Jesus mostra o caminho que temos que seguir: o caminho do amor e da compreensão. Somente o amor compreensivo cura as feridas da alma. Mas não significa que sejamos omissos diante dos defeitos dos outros. Somos chamados a dirigir palavras amigas ao outro e convidá-lo a mudar ou a se corrigir pelo seu próprio bem. Com a consciência de nossa fragilidade teremos condições para curar ou remediar a fragilidade de nosso próximo. Precisamos aprender a transformar nossas críticas em sugestões para que a convivência fraterna se torne uma ajuda para o mútuo crescimento. 

“Não julgueis para não serdes julgados (por Deus)” deve servir de alerta e de freio para que nossa palavra não ultrapasse nossas obras, pois “com a medida com que tiverdes medido, também vós sereis medidos”, diz o Senhor para cada um de nós hoje. 

P. Vitus Gustama,svd
 

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