segunda-feira, 6 de junho de 2016

08/06/2016



ENTRE AMAR AO DEUS VERDADEIRO E AOS ÍDOLOS


Quarta-Feira da X Semana Comum


Primeira Leitura:1Rs 18,20-39


Naqueles dias, 20 Acab convocou todos os filhos de Israel e reuniu os profetas de Baal no monte Carmelo. 21 Então Elias, aproximando-se de todo o povo, disse: “Até quando andareis mancando com os dois pés? Se o Senhor é o verdadeiro Deus, segui-o; mas, se é Baal, segui a ele”. O povo não respondeu uma palavra. 22 Então Elias disse ao povo: “Eu sou o único profeta do Senhor que resta, ao passo que os profetas de Baal são quatrocentos e cinquenta. 23 Deem-nos dois novilhos; que eles escolham um novilho e, depois de cortá-lo em pedaços, coloquem-no sobre a lenha, mas sem pôr fogo por baixo. Eu prepararei depois o outro novilho e o colocarei sobre a lenha e tampouco lhe porei fogo. 24 Em seguida, invocareis o nome de vosso deus e eu invocarei o nome do Senhor. O Deus que ouvir, enviando fogo, este é o Deus verdadeiro”. Todo o povo respondeu, dizendo: “Ótima proposição”. 25 Elias disse então aos profetas de Baal: “Escolhei vós um novilho e começai, pois sois maioria. E invocai o nome de vosso deus, mas não lhe ponhais fogo”. 26 Eles tomaram o novilho que lhes foi dado e prepararam-no. E invocaram o nome de Baal desde a manhã até o meio-dia, dizendo: “Baal, ouve-nos!” Mas não se ouvia voz alguma e ninguém que respondesse. E dançavam ao redor do altar que tinham levantado. 27 Ao meio-dia, Elias zombou deles, dizendo: “Gritai mais alto, pois sendo um deus, tem suas ocupações. Porventura ausentou-se ou está de viagem; ou talvez esteja dormindo e é preciso que o acordem”. 28 Então eles gritavam ainda mais forte, e retalhavam-se, segundo o seu costume, com espadas e lanças, até o sangue escorrer.


Evangelho: Mt 5,17-19


Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 17“Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento. 18Em verdade, eu vos digo: antes que o céu e a terra deixem de existir, nem uma só letra ou vírgula serão tiradas da Lei, sem que tudo se cumpra. 19Portanto, quem desobedecer a um só destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será considerado o menor no Reino dos Céus. Porém, quem os praticar e ensinar será considerado grande no Reino dos Céus”.
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Fé No único Deus Contra Todos Os Ídolos


O profeta Elias é o defensor da fé no único Deus (monoteísmo). Ele critica o povo durante o reinado de Acab, pois esse povo pratica o sincretismo religioso. O povo pratica o duplo jogo na vivência da religião: o povo continua a acreditar em Deus de Israel, mas ao mesmo tempo pratica o culto ao Baal (deus da fecundidade ou deus das colheitas). Para o profeta Elias este tipo de prática não tem nenhum valor religioso, pois é impossível servir aos dois senhores (cf. Mt 6,24). Tudo isso nos leva à experiência de Moisés em que se defronta com a idolatria do povo quando desceu do monte (cf. Ex 32,15-20).


A Primeira Leitura nos relata o momento culminante do confronto entre o verdadeiro Deus e Baal que acontece no Carmelo. Por um lado, é o profeta Elias e por outro lado, os 450 profetas de Baal. Os profetas de Baal, os idólatras são derrotados no fim desse confronto. O profeta Elias com seu verdadeiro Deus saiu vitorioso.


A mensagem fundamental do relato é que o serviço ao Deus verdadeiro não deve ser feito pela metade, pois o compromisso pela metade não leva para nada. Somos confrontados diariamente para fazer a escolha entre Deus e os ídolos: dinheiro, fama, poder, sexo etc. e esta escolha deve ser renovada constantemente.


Além disso, a partir da experiência do sincretismo do povo eleito na época do profeta Elias durante o reinado do rei Acabapodemos lançar a seguinte pergunta: Será que somos capazes de escolher o verdadeiro Deus servir-lhe honestamente? O povo eleito, por um lado, adorava ao verdadeiro Deus, o Deus de Abarão, de Isaac, e de Jacó. Por outro lado, ao mesmo tempo, adorava aos ídolos, os Baals. Em certos momentos, o povo observava a Lei de Javé e seus mandamentos e em outros momentos, ele os desdenhava ou desprezava. Às vezes, diante de um perigo, o povo se voltava a Deus renunciando, aparentemente, aos ídolos, mas esta conversão não era de coração.


Será que nós não temos ídolos? Será que não temos um “certo deus” para momentos bons e “outro tipo de deus” para os momentos difíceis? Todas as realidades "feitas pela mão do homem," tudo o que o homem pensa que pode fazer tudo pelo seu próprio poder e força; tudo aquilo que o homem quer ganhar para sua vida em vez de largá-lo em função de sua salvação, tudo isso é ídolo. O problema não consiste em descobrir se eu tenho ou não os ídolos, que eu ponho do meu lado cuidadosamente para minha comodidade e minha satisfação. O problema principal é identificar os meus ídolos a fim de pedir a Deus que me livre deles.


Santo Tomás de Aquino trata a idolatria como uma espécie do gênero de superstição que é um vício oposto à virtude da religião e consiste em dar honra divina (culto) para coisas que não são Deus ou a Deus mesmo de maneira equivocada (cf. Summa Theol., II-II, q.xciv).


Normalmente se entende por idolatria a adoração religiosa que tem por objeto um ídolo. Este ídolo ocupa o lugar de Deus e é adorado como se fosse Deus. A idolatria é uma verdadeira aberração na ordem religiosa e moral, pois nela se inverte completamente a ordem de valores: o absoluto: Deus, se relativiza e o relativo se absolutiza. O que é inferior aos homens se considera como Deus ou como algo divino.


A idolatria não é coisa passada, própria dos homens de tempos escuros e de civilizações primitivas. Os ídolos estão sempre com os homens em qualquer época e lugar. Os ídolos não são de ontem nem de hoje, são puras criações do egoísmo, do medo, da insegurança, da soberba do homem que não encontrou ainda seu centro ou seu norte.


Amar o Próxima É a Expressão De Nossa Adoração Ao Deus de Amor


Estamos acompanhando o Sermão da Montanha (Mt 5-7). Na passagem do evangelho de hoje Jesus afirma: “Não vim abolir a lei e os profetas, mas para dar-lhes pleno cumprimento”, afirmou Jesus aos ouvintes. Em outras palavras, Jesus quer dizer: “Eu não vim abolir o Antigo Testamento (a Lei e os profetas). Eu vim para cumprir tudo que foi profetizado sobre mim no Primeiro Testamento”.


Por que Jesus fez essa afirmação?


Os fariseus, fanáticos obsessivos do cumprimento da lei havia posto a vontade de Deus em elementos secundários, que não buscavam de modo algum o estabelecimento de uma sociedade mais fraterna e justa. Eles davam mais importância a suas interpretações e tradições  que os levavam a transgredir a Lei pensando que a observavam. Jesus lhes dirá: “Por causa de vossa tradição, anulais a Palavra de Deus... Vão é o culto que me prestam, porque ensinam preceitos que só vêm dos homens” (Mt 15,6.9). a Lei, com suas tradições, era um método sujo para dominar a população, especialmente os mais pobres e simples. Legislavam, impunham cargas pesadas sobre o povo, mas nada se impunham para eles mesmos (cf. Mt 23,4). Eles são incapaz de ver além da lei, isto é, não conseguem ver o espírito da lei. Cumprem regra por regra ou lei por lei. E ainda acham que sejam cumpridores da vontade de Deus. Mas na realidade, a vontade de Deus se resume no amor fraterno (cf. Mt 9,13; 25,40.45). Pensam que ao cumprir todas as leis e normas possam agradar a Deus. Mas o que agrada a Deus é o amor fraterno. Amor é a maior Lei de Deus(cf. Rm 13,10), e seremos julgados sobre o amor (cf. Mt 25,36-46).


Por isso, o que Jesus faz é mostrar um Deus que desaprova a injustiça e a desigualdade, pois Deus é amor (1Jo 4,8.16). Deus se dirige aos homens como uma pessoa amada, chamando cada homem por seu nome (Is 43,1) e o nome de cada um é gravado na palma da mão de Deus (Is 49,16). E o amor transforma tudo em obra prima, até as coisas pequenas e seus detalhes. O amor de cada dia é feito de detalhes e não tanto de coisas solenes e heroicas. Por esta razão, encontra-se a seguinte fórmula no AT como uma fórmula ritual: “Escutai, ó Israel!”. É escutar Deus para viver na plenitude. Por isso, escutar Deus é coisa mais prudente e mais inteligente para o ser humano. Ao escutar Deus sua Palavra será para nós nossa sabedoria e um alimento para nosso espírito. Sua maneira de ver impregnará nosso modo de ver a vida e as pessoas.


Mas o amor morre quando não se respeita o momento do outro, quando não se favorece espaços comuns, quando não se reinventa a arte de viver e de conviver, quando há omissão de crescer, e a pequenez de se fechar. O amor morre com a dominação, com a arrogância, com a covardia, e quando há medo de se doar e de crescer. O amor morre quando se prefere a culpa ao arrependimento, quando se prefere acusação à humildade e reconciliação, a disputa ao diálogo. Quando o amor morre, perde-se a razão de viver e de conviver, e Deus se torna cada vez mais distante, pois “Deus é Amor” (1Jo 4,8.16).


Nós escutamos com frequência a Palavra de Deus. A Palavra de Deus é um espelho no qual nos olhamos para saber se continuamos conservando a imagem que Deus nos pede (Gn 1,26). Que os outros possam notar alguma mudança para o melhor em nossa vida e em nossa convivência.


“Eu vim para dar o cumprimento da Palavra de Deus”. Esta frase deve se tornar carne e sangue na vida de cada cristão. O amor divino sem medida deve se encarnar no modo de viver e de conviver de cada cristão. A misericórdia e a reconciliação devem guiar a vida e a convivência de cada cristão, pois cada cristão é outro Cristo, o prolongamento de Cristo nesta terra.


E a Eucaristia da qual participamos é um compromisso para sermos pessoas que, renovadas e revestidas de Cristo, nos faz caminharmos pela vida como aquelas pessoas que proclamam a verdade, o bem, o amor como uma entrega a favor dos demais, deixando de lado ou abandonando totalmente aqueles caminhos que nos fazem nos destruirmos uns aos outros ou pisotear os direitos das classes mais desprotegidas. O Senhor pede que sejamos fieis à Sua lei, a Lei do amor que não somente nos faz colocarmos Deus sobre todas as coisas, mas ao mesmo tempo nos faz levar a querermos bem para os outros. Os cristãos devem se converter em sinal de amor para os outros. Se fomos feitos à imagem e à semelhança de Deus, então nosso modo de viver não deve apagar essa imagem. Se essa imagem for apagada em nós, ninguém vai dizer que somos de Cristo. São Paulo nos relembra através destas frases:Somos para Deus o perfume de Cristo entre os que se salvam e entre os que se perdem” (2Cor 2,15). E acrescentou: “Vós sois uma carta de Cristo... escrita não com tinta, mas com o Espírito de Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, em vossos corações” (2Cor 3,3).


Pedimos a Deus a graça para que os outros possam ler algo de Cristo em nossa vida. Para isso, é necessário que Cristo esteja sempre no meio de nossa vida e de nossa comunidade para que todo olhar se dirija para Cristo para aprender o que devemos fazer e como devemos fazer as coisas. E que saibamos colocar as pessoas acima de qualquer regra quando a vida estiver em jogo. Pelo caminho da caridade não há outro caminho melhor, pois é o caminho de Deus.


P. Vitus Gustama,svd

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