Jesus voltou com os seus discípulos para a cidade de Nazaré, onde ele tinha morado. No sábado começou a ensinar na sinagoga . Muitos que o estavam escutando ficaram admirados e perguntaram: - De onde é que este homem consegue tudo isso ? De onde vem a sabedoria dele? Como é que faz esses milagres ? Por acaso ele não é o carpinteiro , filho de Maria? Não é irmão de Tiago, José, Judas e Simão? As suas irmãs não moram aqui ? Por isso ficaram desiludidos com ele . Mas Jesus disse: - Um profeta é respeitado em toda parte , menos na sua terra , entre os seus parentes e na sua própria casa . Ele não pôde fazer milagres em Nazaré, a não ser curar alguns doentes , pondo as mãos sobre eles . E ficou admirado com a falta de fé que havia ali .
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Jesus está de volta para sua terra , Nazaré. Mais ou menos durante trinta anos vivendo em Nazaré, convivendo com as pessoas comuns de Nazaré, vivendo com elas e Ele era tão comum como seus conterrâneos . Mais ou menos trinta anos mantendo-se tão semelhante àquele povo que não se notava diferença alguma entre Ele e Tiago, José, Judas ou Simão. Mais ou menos durante trinta anos morando num lugar desconhecido e desprezado. Até um dos futuros discípulos de Jesus, Natanael, lançará esta pergunta : “De Nazaré pode sair algo de bom ?” (Jo 1,46). Jesus está de volta para Nazaré depois que instituiu os Doze (Mc 3,13-19). Ele volta para suas raízes antes de continuar sua missão itinerante . Agora é a hora de se manifestar e de receber o juízo de seu povo sobre ele . O que pensa o povo de Nazaré sobre Jesus? Quem é Jesus para seus conterrâneos ? Será que Deus tem um aspecto tão humano ? Será que é possível Deus estar tão próximo dos homens comuns como os de Nazaré? Será que Deus não pode estar tão perto dos homens no seu dia a dia como em Nazaré? Ou onde está Deus ? Onde Deus habita?
É preciso abrir os olhos e deixar o coração aberto para poder experimentar Deus e sentir Sua presença no cotidiano , no aspecto cotidiano da vida . Deus está aqui e agora . Sinta e experimente Sua presença ! Aprenda a saborear o momento , mesmo que ele não dure para sempre . Há momentos de nossas vidas que podem ser eternos mesmo que não sejam permanentes , por causa da presença da própria eternidade que é Deus . Deus sempre nos surpreende, porque na sua atuação ele não tem esquemas prévios , métodos preestabelecidos, lógica precisa ou raciocínio bem lógico . Pode desistir de uma lógica , mas não desista da vida cuja origem está em Deus ! Deus está sempre acima de nosso raciocínio , “Pois meus pensamentos não são os vossos , e vosso modo de agir não é meu ” diz o Senhor (Is 55,8). Por isso , onde menos O esperamos, onde O menos imaginamos, Ele aparece, comunicando-se conosco e convivendo conosco (Jo 1,14). “No meio de vós está quem vós não conheceis”, alerta-nos o evangelista João (Jo 1,26). Deus habita e está no homem e não nas paredes de um templo ou de uma igreja (cf. Mt 25,40.45). Os animais não questionam o sentido da vida , mas as pessoas sim porque em cada um de nós há uma dimensão divina e somos imagem de Deus (Gn 1,26) que nos faz perguntar porque estamos vivos . Deus quer encontrar seu povo onde este vive e atua.
A encarnação de Deus em um carpinteiro de Nazaré nos descobre que Deus não é um exibicionista que se oferece em espetáculo . Deus não é o Ser todo-poderoso que se impõe, mas propõe e convida. Podemos descobrir Deus nas experiências mais normais de nossa vida cotidiana : em nossas tristezas inexplicáveis , na felicidade insaciável , na solidão em busca da comunhão , em nosso amor frágil , mas apaixonante, na saudade de uma presença de quem se foi, mas que está presente fortemente na sua ausência , e nos sonhos de uma vida de paz e serenidade , na reconciliação por amor , nas perguntas mais profundas sobre a vida e seu sentido , em nosso pecado mais discreto , nas nossas decisões mais responsáveis , na nossa busca sincera do bem e da verdade , no nosso “bom dia , boa tarde , boa noite ” endereçado para as pessoas para o seu bem , no nosso “obrigado ” pelo bem que o outro fez por nós , no nosso agradecimento pelo novo dia que nos é dado por puro amor de Deus . Por isso , a raiz da incredulidade é precisamente esta incapacidade de acolher a manifestação de Deus no cotidiano .
O que necessitamos são uns olhos mais limpos , simples e menos preocupados em ter coisas . As coisas são meios e jamais são fim de nossa vida . Um ônibus é um meio que me leva até o centro da cidade , mas o ônibus não é o centro da cidade . O que necessitamos é uma atenção mais profunda e desperta para o mistério da vida que não consiste somente em ter “espírito observador ” e sim em saber contemplar e acolher com simpatia as inumeráveis mensagens e chamadas que a mesma vida irradia permanentemente . Deus não está longe dos que O buscam. Deus está no centro de nossa vida . Deus nos visita (Lc 1,68; 7,16) como visitou seu povo em Nazaré que jamais ele abandonou. É preciso abrir a porta de nosso lar e de nosso coração para a visita do Senhor como a própria sinagoga em Nazaré aberta para o Senhor entrar nela e falar das coisas essenciais da vida para seu povo reunido nela.
O evangelista Marcos acrescenta um provérbio citado por Jesus para explicar a incompreensão e a falta de fé de seus conterrâneos : “Um profeta é respeitado em toda parte , menos na sua terra , entre os seus parentes e na sua própria casa ”. A fé não se adquire por ativismo ou por herança . A fé precede aos milagres , nunca ao contrário . Por isso , é inútil montar uma apologética para “provar ” a divindade de Jesus partindo da existência de uns fatos superiores às forças da natureza .
P. Vitus Gustama,svd
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