segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

08/01/2016
SER CRISTÃO É SER A MÃO DE DEUS PARA AJUDAR O PRÓXIMO

Sexta-Feira Após a Epifania

Primeira Leitura: 1Jo 5,5-13

Caríssimos, 5 quem é o vencedor do mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus? 6 Este é o que veio pela água e pelo sangue: Jesus Cristo. (Não veio somente com a água, mas com a água e o sangue.) E o Espírito é que dá testemunho, porque o Espírito é a Verdade. 7 Assim, são três que dão testemunho: 8 o Espírito, a água e o sangue; e os três são unânimes. 9 Se aceitamos o testemunho dos homens, o testemunho de Deus é maior. Este é o testemunho de Deus, pois ele deu testemunho a respeito de seu Filho. Aquele que crê no Filho de Deus tem este testemunho dentro de si. 10 Aquele que não crê em Deus faz dele um mentiroso, porque não crê no testemunho que Deus deu a respeito de seu Filho. 11 E o testemunho é este: Deus nos deu a vida eterna, e esta vida está em seu Filho. 12 Quem tem o Filho, tem a vida; quem não tem o Filho não tem a vida. 13 Eu vos escrevo estas coisas a vós que acreditastes no nome do Filho de Deus, para que saibais que possuís a vida eterna.

Evangelho: Lc 5,12-16

12 Aconteceu que Jesus estava numa cidade, e havia aí um homem leproso. Vendo Jesus, o homem caiu a seus pés, e pediu: “Senhor, se queres, tu tens o poder de me purificar”. 13 Jesus estendeu a mão, tocou nele, e disse: “Eu quero, fica purificado”. E imediatamente, a lepra o deixou. 14 E Jesus recomendou-lhe: “Não digas nada a ninguém. Vai mostrar-te ao sacerdote e oferece pela purificação o prescrito por Moisés como prova de tua cura”. 15 Não obstante, sua fama ia crescendo, e numerosas multidões acorriam para ouvi-lo e serem curadas de suas enfermidades. 16 Ele, porém, se retirava para lugares solitários e se entregava à oração.
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Na época de Jesus todas as doenças eram consideradas como um castigo de Deus, ou como conseqüência de uma enfermidade moral. Mas a lepra era o próprio símbolo do pecado e era considerada como castigo divino por excelência (cf. Dt 28,27-35). Acreditava-se, além disso, que a lepra era um instrumento eficaz usado por Deus para castigar os invejosos, os arrogantes, os ladrões, os assassinos, os responsáveis por falsos juramentos e por incestos. Os leprosos deviam entrar nas cidades, rasgar suas roupas. E para todos os que se aproximavam deles, os leprosos deviam gritar: “Impuro! Impuro!”. E a lepra era considerada como a própria morte, pois dificilmente podia ser curada. A cura da lepra era, por isso, considerada um milagre, como se fosse uma ressurreição de um morto. Isto quer dizer que somente Deus podia curá-lo dessa lepra.

No tempo de Jesus, sob o nome de lepra incluíam diversas enfermidades da pele de caráter mais ou menos grave, entre as quais se incluía aquela que atualmente recebe o nome de lepra. O homem que a padecia se convertei em impuro, excluindo-o da comunidade cultual e social do povo de Israel.

No Antigo Testamento os leprosos eram considerados como impuros (cf. Lv 13,3), por isso eram excluídos de quaisquer direitos sociais e eram marginalizados do convívio da comunidade até a sua cura (eles deviam ficar fora dos povoados), pois a lepra era considerada como uma impureza contagiosa (cf. Lv 13,45-46). Qualquer judeu piedoso evitava o contato com um leproso para não se tornar impuro. O leproso sofria, então, não somente fisicamente, mas também psicológico e social e religiosamente. O leproso estava condenado à morte. O leproso é o protótipo da marginalização religiosa e social imposta pela Lei(Lv.13,45-46). E para a lepra não tinha nenhum remédio. Restava esperar um milagre para sobreviver. 

No meio da falta de solução e de saída, Jesus apareceu na vida do leproso para superar seu problema. Aproximou-se de Jesus um leproso e lhe suplicou: “Senhor, se queres, tu tens o poder de me purificar”. A oração desse leproso é breve e confiante. O leproso se aproxima de Jesus porque acredita no poder de Jesus para curá-lo. Ele deposita totalmente sua confiança em Jesus. E por isso ele toma coragem de se aproximar de Jesus apesar da proibição ritual.

Lucas vê no enfermo/leproso um modelo de crente: “Senhor, se queres, tu tens o poder de me purificar”. O leproso reconhece o poder de Jesus para libertá-lo. “Purificar-me” alude à lepra que torna o leproso impuro e faz o leproso ser excluído da convivência. Além disso, o leproso chama Jesus de “Senhor” que é um título após a Páscoa.

São João, através do texto da primeira leitura (1Jo 5,5-13) lança a seguinte pergunta-resposta: “Caríssimos, quem é o vencedor do mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?”. No vocabulário de são João nós sabemos que o termo “mundo”, neste contexto, significa “o homem fechado em si mesmo e tentado de construir-se e salvar-se por suas próprias forças”, mas acaba se destruindo e para ele a vida acaba com a morte, pois ele acredita apenas na vida aqui no mundo. O verdadeiro cristão vence essa tentação, pois ele não vive encerrado em si mesmo e sim aberto a Deus; vence a ridícula e vã tentativa de “divinizar-se” por si mesmo e deixa o êxito de toda sua vida nas mãos de Deus, a exemplo do leproso que se deixa tocar por Jesus para ser libertado daquilo que o impede de relacionar-se com Deus e com os demais homens. A verdadeira fé nos faz vencedores.

Nós estamos, certamente, entre os que crêem em Jesus como o Enviado e o Filho de Deus. Por isso, celebramos o Natal do Senhor com alegria e fé cristã. Cristo venceu o mundo (cf. Jo 16,33). Somos seguidores do Senhor, mas será que participamos já da mesma vitória de Cristo? Será que vencemos o mal que há em nós e no mundo? Quem crê em Cristo verdadeiramente, deve sentir já dentro de si a vida que Cristo lhe comunica. A fé é o fundamento da esperança. E a esperança é o horizonte da fé. Esperamos e por isso, cremos. E cremos e por isso, esperamos.

Como resposta ao pedido do leproso, Jesus estendeu a mão e tocou nele e disse: “Eu quero. Fica purificado”. “E imediatamente, a lepra o deixou”, assim Lucas registrou. O relato de Lucas sublinha o poder salvador da Palavra de Jesus. A palavra de Deus se torna fato, se for escutada, obedecida e praticada. A força salvadora de Deus está na ação de Jesus e na obediência à Palavra salvadora de Deus. De fato, o leproso ficou curado. Podemos imaginar alegria deste homem que era solitário, abandonado, excluído e maldito pela sociedade, e agora feliz, pois volta a olhar para o futuro com muita esperança e otimismo. Quem devolveu essa esperança para ele é Jesus que veio para salvar a humanidade.

A mão estendida, o contato é um sinal de amizade. Jesus, ao estender sua mão, se apresenta como amigo do sofredor, do abandonado e se aproxima dele para dizer que o sofredor não está sozinho. Jesus se apresenta como o Deus-Conosco. Jesus não tem medo de ficar “impuro” conforme determinam as regras rituais ao tocar no leproso. Com o gesto de tocar Jesus compartilha os dramas da humanidade. Por este humilde gesto Jesus reintegra o leproso curado na sociedade dos que o excluíam.

Esta mão estendida é também um gesto de vitoria. Esta mão estendida é o gesto de amor. É uma mão pronta para ajudar como ajudou Pedro que estava para afogar. É uma mão que está pronta para ajudar quem se encontra em dificuldades. Não é por acaso que de vez em quando cantamos a música do compositor Nelson Monteiro de Mota: “Se as águas do mar da vida quiserem te afogar. Segura na mão de Deus e vai. Se as tristezas desta vida quiserem te sufocar. Segura na mão de Deus e vai. Segura na mão de Deus, pois ela te sustentará. Não temas, segue adiante e não olhes para trás. Segura na mão de Deus e vai. Se a jornada é pesada e te cansas da caminhada. Segura na mão de Deus e vai. Orando, jejuando, confiando e confessando. O Espírito do Senhor sempre te revestirá. Jesus Cristo prometeu que jamais te deixará. Segura na mão de Deus e vai”.

Todos nós somos débeis de alguma forma e necessitamos da ajuda permanente de Jesus. Nossa oração, confiada e simples, como a do leproso, se encontra sempre com o olhar de Jesus, com sua vontade de nos salvar. Jesus nos toca com sua mão diariamente. Mas muitas vezes estamos bem anestesiados pelas preocupações e agitações que acabamos não sentindo a mão de Jesus tocando nossa mão. Jesus nos alimenta com o Pão e o Vinho da Eucaristia, tocando nossa vida. Ele nos perdoa através da mão de seus ministros estendida sobre nossa cabeça, tocando e ungindo nossa testa e nossa mão com o óleo santo de batismo, de crisma, dos enfermos.

Olhando para Jesus que estendeu a mão para curar o leproso, como seguidores de Cristo nós devemos ser uma mão pronta para ajudar e não um dedo pronto para acusar e para apontar os erros dos outros. Jesus não tem mais suas mãos na terra para ajudar os homens, pois os próprios cristãos são suas próprias mãos. Seja você uma mão de Jesus para ajudar os outros! Ser solidário e estender a mão para quem sofre é já um meio para curá-lo. É dar-lhe esperança, como sempre fazia Jesus.

Senhor, se queres, tu tens o poder de me purificar”. “’Eu quero. Fica purificado’. E imediatamente, a lepra o deixou”. Estas frases põem em destaque o poder da Palavra de Jesus que é muito sublinhado em Lucas e, ao mesmo tempo, o poder da fé para compartilhá-lo. A liturgia proclama este relato logo depois da festa da Epifania como uma das manifestações de Jesus (epifania) que põe em destaque o poder de Sua Palavra e de Sua vontade. O toque da mão de Jesus no leproso manifesta seu amor profundo pela humanidade (cf. Jo 3,16; 13,1). Ao fundamentar sua vida no amor aos homens e na obediência ao seu Pai, Jesus realizou sua missão de humanizar a convivência sem exclusão, pois todos são filhos e filhas de Deus. As curas operadas por Jesus manifestam um momento de reparação da criação inteira mediante Sua vida e Sua pessoa. O que se destaca neste relato é a cura da humanidade da exclusão e marginalização. Cremos não somente em Deus, mas no Deus Uno e Trino. A verdade está na comunhão, na inclusão, na solidariedade, na compaixão. Ser cristão é ser comunhão.


P. Vitus Gustama,svd

Um comentário:

Unknown disse...

Ótima liturgia apresentada. Parabens!

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