02/02/2016
AMOR
FRATERNO É A LEI
DE DEUS PARA TODOS OS CRISTÃOS
Primeira Leitura: Dt 4,1.5-9
Moisés falou ao povo, dizendo: 1 'Agora, Israel, ouve
as leis e os decretos que eu vos ensino a cumprir, para que, fazendo-o, vivais
e entreis na posse da terra prometida que o Senhor Deus de vossos pais vos vai
dar. 5 Eis que vos ensinei leis e decretos conforme o Senhor meu Deus me
ordenou, para que os pratiqueis na terra em que ides entrar e da qual tomareis
posse. 6 Vós os guardareis, pois, e os poreis em prática, porque neles está
vossa sabedoria e inteligência perante os povos, para que, ouvindo todas estas
leis, digam: 'Na verdade, é sábia e inteligente esta grande nação! 7 Pois, qual
é a grande nação cujos deuses lhe são tão próximos como o Senhor nosso Deus,
sempre que o invocamos? 8 E que nação haverá tão grande que tenha leis e
decretos tão justos, como esta lei que hoje vos ponho diante dos olhos? 9 Mas
toma cuidado! Procura com grande zelo não te esqueceres de tudo o que viste com
os próprios olhos, e nada deixes escapar do teu coração por todos os dias de
tua vida; antes, ensina-o a teus filhos e netos.
Evangelho: Mt 5,17-19
Naquele tempo ,
disse Jesus aos seus discípulos: 17 “Não penseis que vim abolir a Lei e os
Profetas”. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento. 18 Em
verdade, eu vos digo: antes que o céu e a terra deixem de existir, nem uma só
letra ou vírgula serão tiradas da lei, sem que tudo se cumpra. 19 Portanto,
quem desobedecer a um só desses mandamentos, por menor que seja, e ensinar os
outros a fazerem o mesmo, será considerado o menor no Reino dos Céus. Porém,
quem os praticar e ensinar será considerado grande no Reino dos Céus (Mt
5,17-19).
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1. Escutar
e Recordar O Que É Divino
“Agora,
Israel, ouve as leis e os decretos
que eu vos ensino a cumprir... para que os pratiqueis na terra em que ides
entrar e da qual tomareis posse... Vós os guardareis...”
Há dois temas centrais no livro de Deuteronômio:
o da lei (e decretos) e o da terra (prometida). Segundo o livro de Deuteronômio,
a conquista da terra (prometida) depende da prática da lei do Senhor. Se o povo
eleito praticar a lei, ele vai conquistar a terra prometida.
A expressão “Agora, Israel, ouve... Vós guardareis”, na primeira leitura de
hoje, tem uma função de relembrar aos israelitas dos acontecimentos anteriores
em que com a mão de Deus através da liderança de Moisés, o povo eleito conseguiu
sair da escravidão do Egito para a liberdade, com a promessa de terra onde se
habitar. Se foi a mão de Deus que libertou o povo eleito, logo o mesmo tem que
colocar em prática a lei (e os decretos) de Deus para que este possa entrar e
tomar posse da terra prometida.
A religião de Israel é a religião da palavra
(de Deus) e da escuta (da Palavra de Deus). O povo eleito é formado pela escuta
da Palavra de Deus. A Palavra de Deus, ao escutá-la e pô-la em prática, é a lei
que conduz a vida do povo para a liberdade. Por isso, Moisés quer que o povo
eleito recorde sempre a lei de Deus. Recordar significa colocar novamente no
coração. Guardar a Palavra de Deus no coração que é a lei para o povo eleito torna
o povo eleito instrumento da benção de Deus na terra.
Quando soubermos escutar o que é divino e guardá-lo
no coração seremos uma benção para os outros e instrumento de salvação para os
outros, como Maria que guardava no seu coração apenas a palavra de Deus e os
acontecimentos da vida de seu filho, Jesus (cf. Lc 2,19.51).
2. Jesus
Cristo e Seus Ensinamentos São Lei Para Os Cristãos
O texto do evangelho deste dia faz parte do
Sermão da Montanha (Mt 5-7). Os três versículos lidos neste dia servem como
introdução para as grandes antíteses entre a justiça legal e a nova justiça
trazida por Jesus (Mt 5,21-48).
“Não
penseis que vim abolir
a lei e os profetas ,
mas vim para
dar-lhes pleno cumprimento ”.
Para o evangelista Mateus o tema do
cumprimento é essencial (Mt 24,24-35; 26,56). Para Mateus tudo que está escrito
na Lei e nos profetas (“Lei e os profetas é um modo de designar o conjunto do AT)
tem um valor profético e deve “cumprir-se” historicamente até o mínimo pormenor
em Jesus Cristo (cf. Mt 1,22; 2,15-17; 4,14; 8,17; 13,35 etc.). Jesus veio não
só levar a Lei e os profetas à sua perfeição, mas também assegurar a realização
dessa lei entendida como profecia da proximidade de Deus (cf. Mt 1,23; 18,20;
28,20). Se No AT (Lei e Profeta) Deus apenas fala através dos profetas, no NT
essa palavra se torna carne em Jesus (Jo 1,14).
Jesus não apenas cumpre o que está escrito na
AT, mas Ele o aperfeiçoa. Ele não apenas mantém a Lei, mas dá um sentido mais
amplo. Por isso, nas antíteses encontramos a seguinte expressão: “Ouvis o
que foi dito aos antigos... Eu, porém, vos digo...” (Mt 5,21ss). A lei é
valida para todas as pessoas e serve para ajudar as pessoas a chegarem à
salvação. Mas quando for manipulada e escravizar as pessoas, então a lei poderá
ser desobedecida. Nenhuma lei pode proibir alguém de fazer o bem pelo próximo
no dia santo (Sábado). Por isso, várias vezes, Jesus cura os doentes até no dia
de Sábado que é proibido para os fariseus e os escribas. Jesus convida os
escribas e fariseus a refletirem sobre a seguinte pergunta: “Pergunto-vos se
no Sábado é permitido fazer o bem ou o mal; salvar a vida, ou deixá-la perecer?”
(Lc 6,9).
A justiça
dos fariseus se limita à observância da lei .
Os fariseus chegam a divinizar a lei. Eles colocam a lei acima da necessidade e
a salvação do homem. Eles até censuram Jesus por curar os doentes no dia de
Sábado. Fanáticos obsessivos do cumprimento da lei eles colocam a vontade
de Deus em
elementos secundários ,
que não
buscavam de modo algum
o estabelecimento de uma sociedade
mais fraterna
e justa . Pensam que
ao cumprir todas as leis
e normas possam agradar
a Deus . Mas, na verdade, o que agrada a Deus é o amor fraterno .
“Não
penseis que vim abolir
a lei e os profetas ,
mas vim para
dar-lhes pleno cumprimento ”
A lei
é necessária em
toda a sociedade
civil ou
Estado de direito
para tornar possível a convivência . A existência da lei
é uma afirmação da existência dos bons e dos maus, do bem e do mal. Para
proteger os bons
e para os maus
não avançarem, a lei
é necessária . Caso
contrário , a lei
do mais forte
é que reinaria na convivência ,
e os mais fracos
ficariam sem vez
nem voz e seriam vítimas da exploração e
da marginalização. A lei existe para que exista a ordem. “A ordem é a correta disposição das coisas semelhantes e das coisas
diferentes, em virtude da qual cada uma delas ocupa o lugar que lhe é próprio”
(Santo Agostinho: De civ. Dei. 19,13,1).
A comunidade
cristã católica tem uma lei de governo :
o Direito Canônico .
Mas a Igreja
e o cristão sabem que
sua lei
primeira e básica
é o evangelho de Jesus que consiste no amor
fraterno (cf. Jo 13,34-35; 15,12).
A lei para os cristãos tem
uma função pedagoga :
educar o cristão
progressivamente no amor
fraterno : “A ninguém
fiqueis devendo coisa alguma, a não
ser o amor recíproco , porque
aquele que
ama o seu
próximo cumpriu toda a lei” (Rm 13,8). Quando o
cristão ou qualquer ser humano de boa vontade chegar à sua
maturidade e perfeição no amor fraterno, ele não se
sente coagido pela lei ;
quando o amor
reinar o coração
e a vida do cristão, a lei para ele é dispensável ,
pois “a caridade é o pleno cumprimento da lei” (Rm 13,10). Dizia Santo
Agostinho: “Ama e faz o que quiseres. Quanto
mais amas ,
mais alto
sobes ”. Amor
é o meio mais
rápido pelo qual o homem chega até Deus . São João
da Cruz no final
da Subida escreveu: “Por aqui já não há caminho ; que para o justo não há lei ”. Mas quando o amor se quebra ,
a lei se impõe.
A Eucaristia
da qual participamos é um compromisso para sermos pessoas que , renovadas e revestidas de Cristo ,
nos faz caminharmos pela
vida como
aquelas pessoas que
proclamam a verdade , o bem ,
o amor como
uma entrega a favor
dos demais , deixando de lado ou
abandonando totalmente aqueles caminhos
que nos
fazem nos destruirmos uns aos outros ou pisotear os direitos
das classes mais
desprotegidas. O Senhor pede que
sejamos fieis à Sua
lei , a Lei
do amor que
não somente nos faz colocar Deus sobre
todas as coisas , mas
ao mesmo tempo
nos levar a
querermos bem para os outros . Os cristãos
devem se converter em
sinal de amor
para os outros (cf. Jo 13,35). Se fomos feitos à imagem
e à semelhança de Deus ,
então nosso
modo de viver
não deve apagar
essa imagem . Se essa imagem for apagada
em nós ,
ninguém vai dizer
que somos de Cristo .
São Paulo nos
relembra através destas frases : “Somos para Deus o perfume
de Cristo entre
os que se salvam e entre
os que se perdem” (2Cor 2,15). E acrescentou: “Vós
sois uma carta de Cristo ...
escrita não
com tinta ,
mas com
o Espírito de Deus
vivo , não
em tábuas
de pedra , mas
em tábuas
de carne , em
vossos corações ”
(2Cor 3,3).
Pedimos a Deus
a graça para que os outros
possam ler algo
de Cristo em
nossa vida .
Para isso , é necessário que o amor fraterno
circule dentro de nós
e entre nós ,
pois “todos
conhecerão que sois meus
discípulos , se vos
amardes uns aos outros ” (Jo 13,35).
É preciso
lermos e meditarmos a Palavra de Deus,
porque o próprio Senhor nos afirma: “Antes que o céu e a terra deixem de
existir, nem uma só letra ou vírgula serão tiradas da lei, sem que tudo se
cumpra”. Essa Palavra pode acontecer seu cumprimento na vida de cada um de
nós. Basta colocá-la em prática, pois “Da mesma forma como a chuva e a
neve, que caem do céu e para lá não voltam sem antes molhar a terra, tornando-a
fecunda e fazendo-a germinar, a fim de produzir semente para o semeador e
alimento para quem precisa comer, assim acontece com a Minha Palavra que sai de
Minha boca: ela não volta para mim sem efeito, sem ter realizado o que Eu quero
e sem ter cumprido com sucesso a missão para a qual Eu a mandei” (Is
55,10-11).
P. Vitus Gustama,svd
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