22/02/2016
SER
MISERICÓRDIOSO COMO O PAI DO CÉU
Segunda-Feira
da II Semana da Quaresma
Primeira Leitura: Dn 9,4b-10
4b
“Eu te suplico, Senhor, Deus grande e terrível, que preservas a aliança e a
benevolência aos que te amam e cumprem teus mandamentos; 5 temos pecado,
temos praticado a injustiça e a impiedade, temos sido rebeldes, afastando-nos
de teus mandamentos e de tua lei; 6 não temos prestado ouvidos a teus
servos, os profetas, que, em teu nome, falaram a nossos reis e príncipes, a
nossos antepassados e a todo povo do país. 7 A ti, Senhor, convém a
justiça; e a nós, hoje, resta-nos ter vergonha no rosto: seja ao homem de Judá,
aos habitantes de Jerusalém e a todo Israel, seja aos que moram perto e aos que
moram longe, de todos os países, para onde os escorraçaste por causa das
infidelidades cometidas contra ti. 8 A nós, Senhor, resta-nos ter
vergonha no rosto: a nossos reis e príncipes, e a nossos antepassados, pois que
pecamos contra ti; 9 mas a ti, Senhor, nosso Deus, cabe misericórdia e
perdão, pois nos temos rebelado contra ti, 10 e não ouvimos a voz do
Senhor, nosso Deus, indicando-nos o caminho de sua lei, que nos propôs mediante
seus servos, os profetas”.
Evangelho: Lc 6,36-38
Naquele
tempo , disse Jesus aos seus discípulos :
36 "Sede
misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso. 37
Não julgueis, e não
sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados; 38 dai, e dar-se-vos-á. Colocar-vos-ão no regaço medida
boa, cheia , recalcada e transbordante ,
porque , com
a mesma medida
com que
medirdes, sereis medidos vós também ".
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O texto
do evangelho deste dia
faz parte do Sermão
de Jesus chamado Sermão da Planície no evangelho de Lucas (Lc 6,20-49). Chamado
de Sermão da Planície é para distingui-lo do Sermão da Montanha de Mateus (Mt
5-7). Se em Mateus Jesus faz seu Sermão no topo da montanha, em Lucas Jesus faz
o Sermao na planície depois que Jesus na companhia dos discípulos desceram da
montanha onde os Doze Apóstolos foram escolhidos (Lc 6,12-16). O Sermão da
Planície é muito mais breve do que o Sermão da Montanha.
“Sede misericordiosos como também o
vosso Pai é misericordioso”
“A Igreja tem a missão de
anunciar a misericórdia de Deus, coração pulsante do Evangelho, que por meio
dela deve chegar ao coração e à mente de cada pessoa. A Esposa de Cristo assume
o comportamento do Filho de Deus, que vai ao encontro de todos sem excluir
ninguém. No nosso tempo, em que a Igreja está comprometida na nova
evangelização, o tema da misericórdia exige ser reproposto com novo entusiasmo
e uma ação pastoral renovada. É determinante para a Igreja e para a
credibilidade do seu anúncio que viva e testemunhe, ela mesma, a misericórdia.
A sua linguagem e os seus gestos, para penetrarem no coração das pessoas e
desafiá-las a encontrar novamente a estrada para regressar ao Pai, devem
irradiar misericórdia” (Papa Francisco: Bula Misericordiae Vultus n.12).
O texto do evangelho
lido e proclamado neste dia fala da moral
cristã que se caracteriza pelo
fato de que
é, habitualmente , uma imitação de Deus ,
e por isso ,
não é uma simples
moral humana .
Na sua primeira
Carta são
João diz: “Deus é amor ”
(1Jo 4,8.16), e são Lucas diz no evangelho deste dia :
“Deus é misericórdia ”. Em
Mateus Jesus diz: “Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt
5,48). Em Lucas Jesus diz: “Sede misericordiosos como também o vosso Pai é
misericordioso”. Para o evangelista Lucas a perfeição cristã
consiste na prática da misericórdia. Ser verdadeiro cristão, segundo Lucas, é imitar o Deus de amor e de misericórdia .
Consequentemente, na vivência do amor e da misericórdia
não haverá lugar
para o julgar e o condenar do próximo .
O cristão
deve ser reconhecível e reconhecido pelo amor (e
pela misericórdia; cf. Jo 13,35). Jesus concebe este amor não como um
sentimento e sim como uma atuação. Não é um simples sentimento humanitário.
Este amor do qual fala Jesus tem uma raiz existencial: a realidade do Pai:
"Sede misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso”. É o
Pai quem dá sentido ao amor vivido na fraternidade. Através do amor misericordioso
vivido Deus reconhece o homem como filho Seu e o homem se reconhece como filho
de Deus.
A misericórdia não é simplesmente amor: é um
amor que não conhece limites, barreiras, obstáculos, fronteiras: é um amor que
sabe amar também quem se tornou indigno
do amor. Enquanto o amor diz somente doação, a misericórdia diz super doação. A
misericórdia é um especial poder do amor, que prevalece sobre o ódio, a
infidelidade, a deslealdade, a ingratidão. Como diz João Paulo II: “Esse amor
misericordioso é capaz de curvar-se ante o filho pródigo, ante a miséria humana
e, sobretudo, ante a miséria moral, ante o pecado. A misericórdia se manifesta
em seu aspecto verdadeiro e próprio quando valoriza, promove e explicita o bem
em todas as formas de mal existente no mundo e no homem” (Dives in
misericordia, no.6).
O melhor
caminho para humanizar cada vez mais um ser humano
é o do amor e da misericórdia .
Um cristão
cheio de amor
e de misericórdia é muito
humano e educado. Ele
é tão humano
que se transforma em
uma manifestação daquilo que é divino . Naquele que ama tem algo divino , pois
“Deus é amor ”.
Jesus Cristo foi tão
humano e por
isso , foi tão
divino . Para sermos divinos temos que
ser muito humanos . É o paradoxo
de ser cristão .
Na sua Bula MISEROCPRDIAE VULTUS, o Papa
Francisco escreveu: “Precisamos sempre contemplar o mistério
da misericórdia. É fonte de alegria, serenidade e paz. É condição da nossa
salvação. Misericórdia: é a palavra que revela o mistério da Santíssima
Trindade. Misericórdia: é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso
encontro. Misericórdia: é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa,
quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida.
Misericórdia: é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à
esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado”.
Além de reconhecer
nossa debilidade, temos que aceitar outro passo que Jesus nos
propõe hoje : ser
misericordioso e perdoar os demais
como o próprio
Deus é misericordioso e perdoa nossos pecados .
Perdoar significa crer na
capacidade que
nós seres
humanos temos para
começar de novo . O perdão não é
uma simples trégua
para fazer tolerável a vida sem uma nova criação que nos
aproxima do plano de Deus . Nosso grande desafio é chegarmos
a entender que
precisamos viver toda
a existência cristã na dinâmica do perdão
que é a dinâmica
do começo e do recomeço
permanente .
O Papa Francisco nos convida a viver a
misericórdia: “Neste Ano
Santo, poderemos fazer a experiência de abrir o coração àqueles que vivem nas
mais variadas periferias existenciais, que muitas vezes o mundo contemporâneo
cria de forma dramática. Quantas situações de precariedade e sofrimento
presentes no mundo atual! Quantas feridas gravadas na carne de muitos que já
não têm voz, porque o seu grito foi esmorecendo e se apagou por causa da
indiferença dos povos ricos. Neste Jubileu, a Igreja sentir-se-á chamada ainda
mais a cuidar destas feridas, aliviá-las com o óleo da consolação, enfaixá-las
com a misericórdia e tratá-las com a solidariedade e a atenção devidas. Não nos
deixemos cair na indiferença que humilha, na habituação que anestesia o
espírito e impede de descobrir a novidade, no cinismo que destrói. Abramos os
nossos olhos para ver as misérias do mundo, as feridas de tantos irmãos e irmãs
privados da própria dignidade e sintamo-nos desafiados a escutar o seu grito de
ajuda. As nossas mãos apertem as suas mãos e estreitemo-los a nós para que
sintam o calor da nossa presença, da amizade e da fraternidade. Que o seu grito
se torne o nosso e, juntos, possamos romper a barreira de indiferença que
frequentemente reina soberana para esconder a hipocrisia e o egoísmo” (Misericordiae
Vultus n.15). O mesmo Papa faz um convite especial para pessoas especiais: “O meu convite à conversão dirige-se,
com insistência ainda maior, àquelas pessoas que estão longe da graça de Deus
pela sua conduta de vida. Penso de modo particular nos homens e mulheres que
pertencem a um grupo criminoso, seja ele qual for. Para vosso bem, peço-vos que
mudeis de vida. Peço-vo-lo em nome do Filho de Deus que, embora combatendo o
pecado, nunca rejeitou qualquer pecador. Não caiais na terrível cilada de
pensar que a vida depende do dinheiro e que, à vista dele, tudo o mais se torna
desprovido de valor e dignidade. Não passa de uma ilusão. Não levamos o
dinheiro conosco para o além. O dinheiro não nos dá a verdadeira felicidade. A
violência usada para acumular dinheiro que transuda sangue não nos torna
poderosos nem imortais. Para todos, mais cedo ou mais tarde, vem o juízo de
Deus, do qual ninguém pode escapar” (idem n.19).
Para
Refletir Mais:
·
“O
julgamento será sem
misericórdia para
aquele que
não pratica a misericórdia .
A misericórdia , porém
desdenha o julgamento ” (Tg 2,13).
· “A Igreja vive vida
autêntica quando professa e proclama a misericórdia, o mais admirável atributo
do Criador e do Redentor, e quando aproxima os homens das fontes da
misericórdia do Salvador, das quais ela é depositária e dispensadora. Neste
contexto, assumem grande significado a meditação constante da Palavra de Deus
e, sobretudo, a participação consciente e refletida na Eucaristia e no
sacramento da Penitência ou Reconciliação” (João Paulo II: Carta Encíclica: Dives
In Misericórdia, 13c).
P. Vitus Gustama,svd
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