quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

26/02/2016




DEUS ME AMA ATÉ AS ÚLTIMAS CONSEQUÊNCIAS


Sexta-Feira da II Semana da Quaresma


Primeira Leitura: Gn 37,3-4.12-13a.17b-28


3 Israel amava mais a José do que a todos os outros filhos, porque lhe tinha nascido na velhice. E por isso mandou fazer para ele uma túnica de mangas longas. 4 Vendo os irmãos que o pai o amava mais do que a todos eles, odiavam-no e já não lhe podiam falar pacificamente. 12 Ora, como os irmãos de José tinham ido apascentar o rebanho do pai em Siquém, 13 adisse Israel a José: “Teus irmãos devem estar com os rebanhos em Siquém. Vem, vou enviar-te a eles”. 17b Partiu, pois, José atrás de seus irmãos e encontrou-os em Dotaim. 18 Eles, porém, tendo-o visto ao longe, antes que se aproximasse, tramaram a sua morte. 19 Disseram entre si: “Aí vem o sonhador! 20 Vamos matá-lo e lançá-lo numa cisterna, depois diremos que um animal feroz o devorou. Assim veremos de que lhe servem os sonhos”. 21 Rúben, porém, ouvindo isto, disse-lhes: 22 “Não lhe tiremos a vida”! E acrescentou: “Não derrameis sangue, mas lançai-o naquela cisterna do deserto, e não o toqueis com as vossas mãos”. Dizia isto, porque queria livrá-lo das mãos deles e devolvê-lo ao pai. 23 Assim que José chegou perto dos irmãos, estes despojaram-no da túnica de mangas longas, pegaram nele 24 e lançaram-no numa cisterna que não tinha água. 25 Depois, sentaram-se para comer. Levantando os olhos, avistaram uma caravana de ismaelitas, que se aproximava, proveniente de Galaad. Os camelos iam carregados de especiarias, bálsamo e resina, que transportavam para o Egito. 26 E Judá disse aos irmãos: “Que proveito teríamos em matar nosso irmão e ocultar o seu sangue? 27 É melhor vendê-lo a esses ismaelitas e não manchar nossas mãos, pois ele é nosso irmão e nossa carne”. Concordaram os irmãos com o que dizia. 28 Ao passarem os comerciantes madianitas, tiraram José da cisterna, e por vinte moedas de prata o venderam aos ismaelitas: e estes o levaram para o Egito.


Evangelho: Mt 21,33-46


Naquele tempo, dirigindo-se Jesus aos chefes dos sacerdotes e aos anciãos do povo, disse-lhes: 33“Escutai esta outra parábola: Certo proprietário plantou uma vinha, pôs uma cerca em volta, fez nela um lagar para esmagar as uvas e construiu uma torre de guarda. Depois arrendou-a a vinhateiros, e viajou para o estrangeiro. 34Quando chegou o tempo da colheita, o proprietário mandou seus empregados aos vinhateiros para receber seus frutos. 35Os vinhateiros, porém, agarraram os empregados, espancaram a um, mataram a outro, e ao terceiro apedrejaram. 36O proprietário mandou de novo outros empregados, em maior número do que os primeiros. Mas eles os trataram da mesma forma. 37Finalmente, o proprietário enviou-lhes o seu filho, pensando: ‘Ao meu filho eles vão respeitar’. 38Os vinhateiros, porém, ao verem o filho, disseram entre si: ‘Este é o herdeiro. Vinde, vamos matá-lo e tomar posse da sua herança!’ 39Então agarraram o filho, jogaram-no para fora da vinha e o mataram. 40Pois bem, quando o dono da vinha voltar, que fará com esses vinhateiros?” 41Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: “Com certeza mandará matar de modo violento esses perversos e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe entregarão os frutos no tempo certo”. 42Então Jesus lhes disse: “Vós nunca lestes nas Escrituras: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isto foi feito pelo Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos?” 43Por isso eu vos digo: o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos. 45Os sumos sacerdotes e fariseus ouviram as parábolas de Jesus, e compreenderam que estava falando deles. 46Procuraram prendê-lo, mas ficaram com medo das multidões, pois elas consideravam Jesus um profeta.
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A parábola sobre os vinhateiros violentos (assassinos) fala da história da salvação (cf. Is 5, 2-5). Na história da salvação Deus se mostra paciente com o homem até o ultimo minuto da vida do homem sobre a terra, pois Deus é misericordioso e por isso, não exclui nenhum homem da salvação (cf. Lc 23,39-43). Ser excluído é a opção do próprio homem, pois Deus não se cansa de perdoar o homem toda vez que este se arrepender. Diante do Deus que não se cansa de perdoar, também o homem não pode se cansar de se converter.


Um Deus Que Confia Na Minha Capacidade


A parábola lida neste dia tem muita coisa para nos dizer. Ela quer nos falar, primeiramente, da confiança que Deus deposita em cada um de nós. O Deus revelado por Jesus, nesta parábola é Aquele que confia totalmente no homem, nos seus talentos, na sua liberdade responsável, na sua capacidade de ser melhor cada momento e assim por diante. Para isso, Deus possibilita tudo ou facilita tudo: “Certo proprietário plantou uma vinha, pôs uma cerca em volta, fez nela um lagar para esmagar as uvas e construiu uma torre de guarda”. Este Deus não fica policiando se o homem faz ou não faz sua missão, porque ele acredita na capacidade que cada homem tem. Por isso, o texto diz: “O proprietário arrendou uma vinha a vinhateiros e viajou para o estrangeiro” (Mt 21,33). Deus acredita na capacidade que cada homem tem para produzir algo de bom durante a vida. Para isso é que Ele criou cada homem e o colocou aqui neste mundo. Cada tarefa ou missão que o homem recebe é a tarefa ou missão dada por Deus. Sou o “gerente” de uma porção do Reino de Deus.


É bom cada um descobrir a própria missão dada por Deus. Merece cada um fazer esta pergunta: “Qual missão que recebi de Deus durante a minha vida neste mundo?”. “Será que acredito no Deus que acredita em mim?”. Deus não condena quem não pode fazer o que quer, mas quem não quer fazer o que pode”, dizia Santo Agostinho (Serm.54,2).


O Deus revelado nesta parábola não acredita em cada um de nós para cumprir a missão, mas também dá-nos todos os meios para facilitar o cumprimento da missão dada. Por isso o texto diz: “O proprietário pôs uma cerca em volta da vinha, fez nela um lagar para esmagar as uvas e construiu uma torre de guarda. Depois, arrendou a vinha a vinhateiros” (Mt 21,33).


Um Deus Que Tem Paciência Até O Último Minuto Da Vida Do Homem Neste Mundo


A parábola fala também da paciência de Deus. Paciência é dar o tempo necessário para crescer, brotar, florescer, amadurecer. É aceitar o ciclo da vida e respeitar o fluxo do tempo. É manter a atitude correta. Uma atitude pode mudar uma história. Espiritualmente, podemos dizer que paciência significa esperar o tempo de Deus e confiar no seu amor. A paciência nos leva à perfeição.


Na parábola Deus se mostra paciente para o homem, pois Ele é misericordioso. Deus não se cansa em enviar seus mensageiros e suas mensagens todos os dias para os homens. Ele não vem logo para se vingar contra o homem mau ou contra quem que errou, poisDeus é amor” (1Jo 4,8.16). Ele dá avisos um após outro e todos os dias. Esse Deus confia totalmente no homem e por isso, ele acredita na recuperação do homem. Esta é uma das razões pela qual Deus tem paciência para com o homem.


Ser cristão é, por isso, ser recomeço permanente, pois Deus sempreoportunidade para cada um recomeçar sua caminhada e sua missão. Deustempo para cada um corrigir o corrigível, recuperar o recuperável para que sua vida faça um salto de qualidade com Deus.


Merece também cada um responder estas perguntas: Deus não se cansa em enviar seus mensageiros e suas mensagens todos os dias para o homem. Qual é a mensagem de Deus para mim hoje? Qual recado que Deus quer dar hoje para minha família? Você encontrou algum mensageiro de Deus hoje, seja durante a celebração, seja fora da celebração? Se esse Deus tem muita paciência para com você acreditando na sua recuperação, no seu novo começo, por qual razão você não acredita em si mesmo para você começar tudo de novo? Você tem paciência suficiente com os outros. O amor nos torna pacientes! A paciência é o fruto do amor e da misericórdia.


Um Deus Que Nos Ama Incondicionalmente


Finalmente, o proprietário enviou-lhes o seu filho, pensando: ‘Ao meu filho eles vão respeitar’. Os vinhateiros, porém, ao verem o filho, disseram entre si: ‘Este é o herdeiro. Vinde, vamos matá-lo e tomar posse da sua herança!’ Então agarraram o filho, jogaram-no para fora da vinha e o mataram”.


Por causa dos homens e por causa do Seu amor sem limites pelos homens Deus usa todos os recursos e todas as possibilidades para salvá-los. Os recursos se esgotaram (Mt 21,34-36). Agora resta apenas seu Filho. Deus é verdadeiramente “o pobre” por excelência, porque nos deu tudo. Até seu próprio Filho, o ultimo que restou. Em sua incurável paixão pelos homens Deus não ficou com nada, nem com o seu próprio Filho. Significa que Deus nos toma a sério e deixa o campo livre para que atuemos com plena responsabilidade. Mas Deus é impotente diante da liberdade do homem. O homem é responsável pela sua própria escolha. No momento em que o homem não respeitar as regras e as placas da vida que apontam para sua plena realização e para a eternidade, ele perderá sua liberdade e cairá em uma série de prisões e escravidões.


É um Deus que pretende atuar exclusivamente através do amor, pois este caminho é que leva o homem à sua plenitude, à eternidade. Cristo morreu perdoando o homem.


Cada um precisa entrar no silêncio sagrado para meditar sobre o amor de Deus por cada um e a resposta de cada um diante desse amor. Será que sou ingrato diante do amor de Deus? Será que sou irresponsável na minha atuação como pessoa amada de Deus? Será que eu vivo de acordo com o amor com que Deus me ama? Será que sou capaz de dar tudo por amor?  


Como Será Minha Vida No Encontro Derradeiro Com Deus?


A parábola também fala do juízo final de Deus. A vida tem seu fim. Se ela tem o fim, então todos os nossos atos diários pesam para este fim. Durante o curso desta vida Deus se mostra paciente para qualquer um de nós. Ele acredita no homem e inspira o homem com seu santo Espírito, mas respeita sua liberdade.  A liberdade é como uma faca que pode ajudar na suas tarefas, mas também pode cortar seus dedos, se não usá-la corretamente. “Uma liberdade sem controle, mais que liberais, faz libertinos, dizia Santo Agostinho (Epist.157,16). Deus nos julgará quando ele tirar de nós a tarefa ou a missão que não quisemos cumprir. “O Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá muitos frutos”, assim Jesus concluiu a parábola.


O que tem por trás da parábola no evangelho de hoje é a chamada do Senhor para a conversão. O esforço de conversão, que o Senhor nos pede, devemos exercitá-lo todos os dias de nossa vida. Mas em determinadas épocas e situações, como a Quaresma, recebemos graças especiais que devemos aproveitar. Para compreender melhor a malícia do pecado devemos contemplar o que Jesus Cristo sofreu por nós na cruz, pois a cruz é o fruto do pecado do homem e ao mesmo tempo, é uma prova do amor incondicional do Senhor por nós todos. Para compreender o peso do pecado devemos olhar para os inocentes, que são vítimas de injustiça ao longo da história da humanidade. Por isso, devemos estar atentos, pois a maldade pode morar dentro de nós. No momento em que ficarmos sem vigilância ela aparece com uma força destruidora até fatal. Todos os dias o Senhor nos chama à santidade, a sermos misericordiosos, a amar com obras, a estarmos vigilantes.  A falta de conversão debilita a vida da graça em nós e se torna difícil o exercício das virtudes.


Quais são atos que pesam muito para a minha vida e para o fim da minha vida neste mundo?


Na Sua Bula Misericordiae Vultus n.17, o Papa Francisco nos recorda: A Quaresma deste Ano Jubilar seja vivida mais intensamente como tempo forte para celebrar e experimentar a misericórdia de Deus. Quantas páginas da Sagrada Escritura se podem meditar, nas semanas da Quaresma, para redescobrir o rosto misericordioso do Pai! Com as palavras do profeta Miqueias, podemos também nós repetir: Vós, Senhor, sois um Deus que tira a iniquidade e perdoa o pecado, que não Se obstina na ira mas Se compraz em usar de misericórdia. Vós, Senhor, voltareis para nós e tereis compaixão do vosso povo. Apagareis as nossas iniquidades e lançareis ao fundo do mar todos os nossos pecados (cf. 7, 18-19)”.


Este é o momento favorável para mudar de vida! Este é o tempo de se deixar tocar o coração. Diante do mal cometido, mesmo crimes graves, é o momento de ouvir o pranto das pessoas inocentes espoliadas dos bens, da dignidade, dos afetos, da própria vida. Permanecer no caminho do mal é fonte apenas de ilusão e tristeza. A verdadeira vida é outra coisa. Deus não se cansa de estender a mão. Está sempre disposto a ouvir, e eu também estou, tal como os meus irmãos bispos e sacerdotes. Basta acolher o convite à conversão e submeter-se à justiça, enquanto a Igreja oferece a misericórdia (idem n.19c).


“Neste Ano Jubilar, que a Igreja se faça eco da Palavra de Deus que ressoa, forte e convincente, como uma palavra e um gesto de perdão, apoio, ajuda, amor. Que ela nunca se canse de oferecer misericórdia e seja sempre paciente a confortar e perdoar. Que a Igreja se faça voz de cada homem e mulher e repita com confiança e sem cessar: ´Lembra-te, Senhor, da tua misericórdia e do teu amor, pois eles existem desde sempre´ [Sl 25/24, 6]” (idem n. 25b).


P. Vitus Gustama,SVD

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