segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

03/03/2016




VIVER DE ACORDO COM A PALAVRA DE DEUS


Quinta-Feira da III Semana da Quaresma


Primeira Leitura: Jr 7,23-28


Assim fala o Senhor: 23 Dei esta ordem ao povo dizendo: Ouvi a minha voz, assim serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo; e segui adiante por todo o caminho que eu vos indicar para serdes felizes. 24 Mas eles não ouviram e não prestaram atenção; ao contrário, seguindo as más inclinações do coração, andaram para trás e não para a frente, 25 desde o dia em que seus pais saíram do Egito até ao dia de hoje. A todos enviei meus servos, os profetas, e enviei-os cada dia, começando bem cedo; 26 mas não ouviram e não prestaram atenção; ao contrário, obstinaram-se no erro, procedendo ainda pior que seus pais. 27 Se falares todas essas coisas, eles não te escutarão, e, se os chamares, não te darão resposta. 28Dirás, então: Esta é a nação que não escutou a voz do Senhor, seu Deus, e não aceitou correção. Sua fé morreu, foi arrancada de sua boca.'


Evangelho: Lc 11,14-23


Naquele tempo 14 Jesus estava expulsando um demônio que era mudo. Quando o demônio saiu, o mudo começou a falar, e as multidões ficaram admiradas. 15 Mas alguns disseram: 'É por Belzebu, o príncipe dos demônios, que ele expulsa os demônios.' 16 Outros, para tentar Jesus, pediam-lhe um sinal do céu. 17 Mas, conhecendo seus pensamentos, Jesus disse-lhes: 'Todo reino dividido contra si mesmo será destruído; e cairá uma casa por cima da outra. 18 Ora, se até Satanás está dividido contra si mesmo, como poderá sobreviver o seu reino? Vós dizeis que é por Belzebu que eu expulso os demônios. 19 Se é por meio de Belzebu que eu expulso demônios, vossos filhos os expulsam por meio de quem? Por isso, eles mesmos serão vossos juízes. 20 Mas, se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, então chegou para vós o Reino de Deus. 21 Quando um homem forte e bem armado guarda a própria casa, seus bens estão seguros. 22 Mas, quando chega um homem mais forte do que ele, vence-o, arranca-lhe a armadura na qual ele confiava, e reparte o que roubou. 23 Quem não está comigo, está contra mim. E quem não recolhe comigo, dispersa. (Lc11,14-23)
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A Obediência à Palavra de Deus Significa Comunhão Com Deus


Ouvi a minha voz, assim serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo; e segui adiante por todo o caminho que eu vos indicar para serdes felizes”, assim disse Deus para o povo eleito através do profeta Jeremias.Mas eles não ouviram e não prestaram atenção”, assim escreveu o profeta Jeremias.


O profeta Jeremias relembra o povo eleito sobre a importância da observância da Palavra de Deus, pois ela é a fonte de felicidade.


Infelizmente, o povo eleito, através de seus sacerdotes, não vivem de acordo com a Palavra de Deus. Por isso, o profeta Jeremias critica duramente o formalismo dos sacerdotes no seus sacrifícios. Eles colocam de lado a Palavra de Deus para se preocupar com o formalismo dos sacrifícios. A Palavra de Deus não reside mais no povo que tapa os ouvidos. Jeremias a todos alerta que o que Deus pede ao Seu povo é a obediência à Sua vontade e não uma regulamentação precisa e detalhada de sacrifícios (Jr 7,23).


O alerta do profeta Jeremias não perde sua atualidade. Devemos estar conscientes de que a Palavra de Deus proclamada na nossa liturgia não é qualquer palavra, nem a palavra do homem, e sim a própria Palavra de Deus. A boca é do leitor, mas a Palavra é de Deus. É oportuno recordar que a proclamação litúrgica da Palavra de Deus, principalmente no contexto da assembleia eucarística... é o diálogo de Deus com o seu povo, no qual se proclamam as maravilhas da salvação e se propõem continuamente as exigências da Aliança” (Papa Francisco: Exortação Apostólica Evangelii Gaudium n.137). Isto quer dizer que é o próprio Deus que está falando para a assembleia para manter a aliança com seu povo. Consequentemente, a Palavra de Deus é mais profunda do que tudo o que dela se diz (meditação, homilia, catequese etc. que são interpretações). Quando Deus fala é porque sempre tem alguma palavra para cada membro da assembleia e para cada situação em que o homem se encontra. Basta escutá-la atentamente. Por isso, a obediência à Palavra de Deus significa comunhão com Deus vivida na nossa vida cotidiana.


O Papa Francisco nos relembra da importância da Palavra de Deus através de sua Exortação Apostólica, Evangelii Gaudium: “A Palavra de Deus ouvida e celebrada, sobretudo na Eucaristia, alimenta e reforça interiormente os cristãos e torna-os capazes de um autêntico testemunho evangélico na vida diária... A evangelização requer a familiaridade com a Palavra de Deus, e isto exige que as dioceses, paróquias e todos os grupos católicos proponham um estudo sério e perseverante da Bíblia e promovam igualmente a sua leitura orante pessoal e comunitária” (n.174 e 175).


Estar Com Jesus e Sua Palavra É Estar Salvo


Depois que Jesus expulsou de uma pessoa um demônio que era mudo, os adversários de Jesus o acusaram dizendo: “É por Belzebu, o príncipe dos demônios, que ele expulsa os demônios”. Quando ficam sem meios justos para criticar Jesus (ad rem), os adversários atacam a pessoa de Jesus (ad hominem) através dos meios injustos. Eles atribuem o poder de Jesus para expulsar os demônios  não a Deus e sim ao Belzebu. Mas os simples percebem, que através da ação de Jesus que liberta as pessoas de suas prisões, o Reino de Deus chegou. Jesus não só salva a alma, mas a pessoa inteira.


Contra a esta acusação Jesus responde com algumas intervenções ou alguns ditos.


Primeira intervenção: “Todo reino dividido contra si mesmo será destruído; e cairá uma casa por cima da outra”.


Segunda intervenção: “Se até Satanás está dividido contra si mesmo, como poderá sobreviver o seu reino?”.


Satanás não pode estar em contra de si mesmo, assim como um reino não pode estar dividido, tampouco Satanás pode estar dividido.


Depois vem a parábola do homem forte que muito mais armado do que aquele que guarda a casa e por isso, consegue derrotar o guarda da casa.


Com esta parábola o texto quer nos dizer que Jesus veio para expulsar o Satanás e dificultar sua obra e despojar sua casa, pois Jesus é muito mais forte do que qualquer Satanás. A ação de Jesus e a dos que O seguem sempre produzem unidade, paz, bondade, misericórdia, perdão, liberdade e libertação, atenção aos demais, que são as características das ações evangélicas. São Paulo, na sua carta aos gálatas, escreveu: “Vós fostes chamados à liberdade. Não abuseis, porém, da liberdade como pretexto para prazeres carnais. Pelo contrário, fazei-vos servos uns dos outros pela caridade, porque toda a lei se encerra num só preceito: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Gl 5,13-14). Segundo São Paulo, os que têm o espírito evangélico possuem as seguintes características: “Os frutos do Espírito são: amor, alegria, paz, generosidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, continência” (cf. Gl 5,13-21. 22-23). Quando encontrarmos estas características em nós e em nossas ações, poderemos estar seguros de que estaremos diante de um espírito evangélico. Pelo contrário, “se vos mordeis e vos devorais, vede que não acabeis por vos destruirdes uns aos outros?” (Gl 5,15).


Outros pensamentos para nossa reflexão.


1. Importância da Unidade


Todo reino dividido contra si mesmo será destruído; e cairá uma casa por cima da outra”, diz o Senhor. Nesta controvérsia Jesus sublinha a importância da unidade. “Unir” e “reunir” significa salvar.  Uma ovelha que se separou, se desuniu das outras, se perdeu. O pastor teve que procura-la e trazê-la de volta para unir-se às outras ovelhas (cf. Lc 15,4-7). O ato de unir é um ato de salvar. Pela história sabemos que a guerra civil (interno) destrói muito mais os impérios do que os ataques exteriores. Quem usar a “ação de dividirpara atacar será destruído pela mesma divisão que recairá contra suas próprias tropas. O trabalho de dividir é o trabalho diabólico.  A discórdia sempre cria a divisão. Discórdia significa dois corações divididos.  Coração dividido desune. O Corpo Eucarístico o qual comungamos torna cada um Corpo de Cristo para os outros, para unir=se aos outros.


A unidade é a expressão e a prova mais evidente do amor. Quem estiver unido a Cristo que está unido ao Pai, jamais será causador da desunião e da divisão entre os cristãos ou entre as pessoas. Ao contrário, ele buscará sempre a reconciliação. A divisão fere a própria integridade humana e desfigura a unidade dos seres humanos. A comunhão com Cristo é impossível sem a vivência do amor fraterno. Assim como o amor fraterno cria unidade, assim também a comunhão com Jesus deve criar a comunhão entre os cristãos. “A caridade cria a coesão; a coesão produz a unidade; e a unidade conduz à transparência” (Santo Agostinho: In ps. 30,2,1).


 Na Eucaristia, ao comungar o Corpo e o Sangue do Senhor, crescem em cada comungante, a união com Deus, a harmonia interior, e a comunhão com o próximo. E cada comungante se trona sinal e fator da união e da unidade, da comunhão e da fraternidade. O estilo de vida dos cristãos, discípulos missionários de Jesus deve ser o estilo eucarístico, isto é, viver na comunhão e viver fazendo o bem como Jesus fez (At 10,38).


2. Estar do lado da justiça, do bem e da verdade é estar do lado de Jesus


Quem não está comigo, está contra mim; quem não recolhe comigo, espalha”, alerta-nos o Senhor hoje.


Na sua pregação o Apóstolo Pedro deu seu testemunho sobre Jesus ao dizer que Ele “passa a vida fazendo o bem” (At 10,38). Apesar disso Jesus enfrentou muitas oposições. Muitos se consideravam proprietários das boas obras, do poder divino, e demonizavam aquelas pessoas que não atuavam segundo seus parâmetros. Eles davam esmolas ou conselhos com intuito de ter o bom nome, o prestígio e a admiração (cf. Mt 23,1-36). Quando Jesus veio para dar sua vida generosamente sem esperar nada em troca, eles o consideraram comodemônio”, “Belzebu”. Era uma maneira fácil que eles encontraram para desprestigiar e eliminar o oponente, neste caso, Jesus. No entanto, Jesus os enfrentou com a verdade, o bem e a justiça.


Na atualidade continua sendo corrente a prática de demonizar o oponente, de desprestigiá-lo para aumentar o brilho próprio. Pois, atuar a favor dos demais sem buscar o bom nome e o prestígio é uma coisa que não chama a atenção de ninguém.


3. Vida cristã como um combate permanente contra o poder do mal


No evangelho de hoje, Jesus nos apresenta a vida cristã como um combate: “Quem não está comigo, está contra mim; quem não recolhe comigo, espalha”. Ele nos apresenta que há dois poderes sempre em guerras: o poder divino e o poder de Belzebu ou o poder do mal. Estamos, às vezes, obrigados a constatar que o mal tem raízes extremamente profundas por causa das forças destruidoras e violentas que aparentemente, nenhum homem é capaz de dominar.  O poder de Belzebu ou do mal, conforme o evangelho de hoje, prende as pessoas (se tornam presos do poder do mal) e cria a mudez nas pessoas (lei de silêncio). Este poder faz com que as pessoas sejam incapacitadas de se comunicar com os demais e com o mundo, não permite diálogo e relacionamento (viver no isolamento). É como o mudo no evangelho de hoje. O poder divino em Jesus suscita consciência crítica nas pessoas, são chamadas e capacitadas a se dialogar com os outros na igualdade e na fraternidade, a entrarem em relacionamento com as outras pessoas e com o Deus que liberta. O evangelho quer nos dizer que é preciso voltarmos para Jesus e vivermos seus ensinamentos e estarmos vigilantes para que o poder do mal não nos surpreende em qualquer momento.


Portanto, o evangelho de hoje nos convida a estarmos do lado de Jesus, isto é, do lado do bem, da verdade e da justiça, não para adquirir ganâncias pessoais e sim para ser as mãos de Deus que atuam eficazmente no mundo. Por isso, o mundo de hoje exige que lutemos contra o mal com as armas da verdade, do bem, da honestidade, da solidariedade e da justiça. Não podemos combater o mal com suas próprias armas: a violência somente gera violência e a manipulação ideológica somente gera opressão e desequilíbrio mental. Lutar para acumular os bens e o poder é uma ilusão, pois tudo isso termina no leito da morte. Um morto não tem título nem poder nem status social. No leito da morte tudo se iguala como na hora do parto. Somos chamados a conviver como irmãos em que um cuida do outro; um protege o outro; um se preocupa com a dignidade do outro.  Necessitamos combater o mal como o fez Jesus: com a bondade e generosidade de um Deus que defende incondicionalmente a vida das pessoas humanas e sua dignidade como seres humanos. O cristianismo e o mal e a maldade são incompatíveis. Fazer o bem permanentemente significa que estamos no Reino da verdade, da justiça e da caridade que é o Reino de Deus. Para viver uma vida autenticamente humana, temos que nos amar muito com a verdade, a justiça, o bem e a caridade que são, em certo modo, coisas sagradas que requerem ser tratadas com amor e respeito e são os valores que têm a marca de eternidade.


·        Como eu era miserável! E Tu, Senhor, tocavas na minha chaga viva, a fim de que eu deixasse tudo e me convertesse a Ti, que estás acima de todas as coisas (Santo Agostinho: Confissões VI, 6)
·        O mundo não está ameaçado pelas pessoas más, e sim por aquelas que permitem a maldade. (Albert Eisntein).
·        O mal não pode vencer o mal. Só o bem pode fazê-lo (Leon Tolstoi).
·        Quem faz o bem, conquista paz interior (ditado judaico).
·        Ver o bem e não fazê-lo é sinal de covardia (Confúcio)


P. Vitus Gustama,svd

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