19/02/2016
RECONCILIAÇÃO
FAZ PARTE DO AMOR FRATERNO
Primeira Leitura: Ez 18,21-28
Assim fala o Senhor: 21“Se o ímpio se arrepender de todos os pecados
cometidos, e guardar todas as minhas leis, e praticar o direito e a justiça,
viverá com certeza e não morrerá. 22Nenhum dos pecados que cometeu será
lembrado contra ele. Viverá por causa da justiça que praticou. 23Será que tenho
prazer na morte do ímpio? — oráculo do Senhor Deus. Não desejo, antes, que mude
de conduta e viva? 24Mas, se o justo desviar de sua justiça e praticar o mal,
imitando todas as práticas detestáveis feitas pelo ímpio, poderá fazer isso e
viver? Da justiça que ele praticou, nada mais será lembrado. Por causa da
infidelidade e do pecado que cometeu, por causa disso morrerá. 25Mas vós andais
dizendo: ‘A conduta do Senhor não é correta’. Ouvi, vós da casa de Israel: É a
minha conduta que não é correta, ou antes é a vossa conduta que não é correta?
26Quando um justo se desvia da justiça, pratica o mal e morre, é por causa do
mal praticado que ele morre. 27Quando um ímpio se arrepende da maldade que
praticou e observa o direito e a justiça, conserva a própria vida.
28Arrependendo-se de todos os seus pecados, com certeza viverá; não morrerá”.
Naquele
tempo , disse Jesus aos seus discípulos :
20 Se a vossa justiça não for
maior que
a justiça dos mestres
da Lei e dos fariseus ,
vós não
entrareis no Reino dos Céus . 21 Vós
ouvistes o que foi dito
aos antigos : 'Não
matarás! Quem matar
será condenado pelo tribunal '.
22 Eu , porém ,
vos digo: todo
aquele que
se encoleriza com seu
irmão será réu
em juízo ;
quem disser ao seu
irmão : 'patife !'
será condenado pelo tribunal ;
quem chamar o
irmão de 'tolo '
será condenado ao fogo do inferno . 23 Portanto ,
quando tu
estiveres levando a tua oferta para o altar , e ali te lembrares que teu irmão tem
alguma coisa contra
ti, 24 deixa a tua oferta ali diante do altar ,
e vai primeiro reconciliar-te com
o teu irmão .
Só então
vai apresentar a tua oferta .
25 Procura reconciliar-te com teu adversário , enquanto caminha contigo
para o tribunal .
Senão o adversário
te entregará ao juiz ,
o juiz te
entregará ao oficial de justiça , e tu
serás jogado na prisão . 26 Em verdade eu te digo:
dali não sairás, enquanto
não pagares
o último centavo .
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Ser Melhor Cristão
O texto
do evangelho deste dia faz parte do Sermão da Montanha (Mt 5-7). O cristão deve
recordar que já não está no Sinai e sim na Montanha das Bem-aventuranças
(Sermão da Montanha); que não é um seguidor de Moises e sim um discípulo de
Jesus que deve viver no amor, com amor e por amor.
O texto
do evangelho de hoje
inicia com a confrontação entre a justiça
dos escribas e dos fariseus
e a justiça exigida para
os cristãos : “Se a vossa
justiça não
for maior que
a dos mestres da lei
e dos fariseus , vós
não entrareis no reino
dos céus ” (Mt 5,20). É um princípio ético fundamental
de Jesus. Para Jesus não basta ser bom, mas tem que ser melhor. “O bom é inimigo
do ótimo”, dizia São João Bosco. A justiça
do Reino de Deus
é o sinônimo de amor
misericordioso, de solidariedade fraterna, de perdão reconciliador, de
igualdade respeitosa, de empenho por construir a paz, e a recusa de toda forma
de idolatria e de injustiça.
É Preciso Tratar o Próximo
Como Irmão
A primeira
das oposições concerne ao ensinamento do quinto
mandamento : “Não matarás”.
Jesus propõe uma interpretação mais exigente
desta disposição que
abarca não
somente as ações
ou os atos
culpáveis nessa ordem , mas também a raiz de onde
brotam essas ações ou
esses atos :
o sentimento e a interioridade do ser humano . A proibição do homicídio
continua valendo. Mas na sua nova interpretação Jesus inclui a proibição
de todo sentimento
de ira e animosidade, maledicência ,
insulto , desprezo
contra o irmão :
“Eu , porém ,
vos digo: todo aquele que se encoleriza
com seu irmão será réu em juízo; quem disser ao seu irmão: 'patife!' será
condenado pelo tribunal; quem chamar o irmão de 'tolo' será condenado ao fogo
do inferno”. Segundo Jesus a ira e
as palavras ofensivas
contra o irmão
são equiparadas ao homicídio .
Nas suas palavras Jesus enfatiza que a relação
com o irmão
adquire uma tal seriedade
que com
ela se chega
a decidir o destino definitivo da pessoa humana diante de
Deus: “Quem chamar o irmão de 'tolo' será condenado ao fogo do inferno”.
Nesta primeira antítese Jesus nos afirma que
não basta não matar o irmão fisicamente, importa respeitá-lo, ter consideração
para com ele, respeitar sua dignidade e sua honra, não se acha superior a ele.
Não só matar alguém fisicamente, pode-se matar com palavras, com um julgamento
severo, com uma atitude de desprezo, com difamação, com comentários maldosos,
com discriminação, e assim por diante. Pode-se matar o irmão deixando-o de
lado, fazendo extinguir-se seu entusiasmo e seus bons projetos, não lhe permitindo
expressar-se livremente. Não se pode honrar a Deus se o irmão é desonrado, pois
Deus não só está no céu, mas também em cada irmão que encontramos,
especialmente nos pobres, nos pequenos, nos humildes desprezados, naqueles que
nós, às vezes, chamamos de cretinos (cf. Mt 25,40.45).
Segundo Jesus o mandamento de “não matar”
somente ficará superado no momento em que se pensar num amor universal que leva
a amar e a perdoar. Uma sociedade não se torna justa somente por não matar.
Somente o amor sem medida, convertido em solidariedade e igualdade de direitos
para todos pode formar uma sociedade justa. O que está mandado não é “não
matar” e sim “amar”. O pecado não é somente o mal que fazemos e sim o bem que
deixamos de fazer (pecado de omissão).
Ser Cristão Reconciliado
Jesus chama os cristãos a fazerem uma
passagem urgente: de uma prática religiosa formalista que põe ênfase sobre o
cumprimento cultual (cumprir apenas preceitos) para a vivência do amor
fraterno. O amor fraterno passa diante do culto. O primeiro de tudo e o mais
essencial para cada cristão é o amor, pois “a caridade é a plenitude da lei”
(Rm 13,10). Por isso, “Quanto mais tu amas, mais alto tu sobes” (Santo
Agostinho).
Se houver discórdia entre os homens, a
relação com Deu se rompe. Deus quer nos dizer: “Antes de ter relações corretas
comigo, vocês devem tê-las entre vocês”. A caridade fraterna passa adiante do
culto. A reconciliação é um princípio essencial de sobrevivência para as
pessoas, as famílias, as profissões, as etnias de uma geração em geração.
Todos nós somos pecadores e devemos ter
consciência de pecadores. Ninguém pode olhar para o outro e dizer que o outro é
mau. Se tivermos uma boa formação de nossa consciência e se trabalharmos
seriamente na nossa sensibilidade, a consciência nos acusará como pecadores. O
insensível carece de consciência e nisto consiste a ruína. Somente um santo é
que capaz de se reconhecer pecador, pois ele está sempre frente a frente com o
Deus santo.
Para viver a vida cristã e a fé cristã temos
necessidade de viver da superabundância da misericórdia de Deus. E somente
tendo acolhido essa misericórdia infinita do Pai é que poderemos, por nossa
vez, perdoar nossos irmãos. Amar é perdoar. Guardar rancor contra alguém é
privar-se da bênção divina. De fato, cada pessoa não tem senão um só coração e
não saberá parti-lo em dois, sob o risco de vê-lo dilacerar-se e morrer. A
unidade do coração repousa sobre essa dupla misericórdia. O nosso mundo morre
por falta de misericórdia, pois o mundo está repleto de agressividade de todos
os tipos. Não tenhamos medo de denunciar esse drama, inclusive o mesmo drama
que tem dentro de nosso coração.
Deus não quer a morte do pecador e sim que se
converta de sua conduta e viva. Porém, há que estar presentes a liberdade e
responsabilidade pessoais já que a relação com o Deus de Amor está muito longe
de ser uma pura obediência mecânica. Por sua liberdade interior o homem pode,
em todo momento, converter-se e orientar sua vida tal como Ele quer. A Quaresma
nos urge a fazermos esta experiência.
“O perdão de
Deus para os nossos pecados não conhece limites. Na morte e ressurreição de
Jesus Cristo, Deus torna evidente este seu amor que chega ao ponto de destruir
o pecado dos homens. É possível deixar-se reconciliar com Deus através do
mistério pascal e da mediação da Igreja. Por isso, Deus está sempre disponível
para o perdão, não Se cansando de o oferecer de maneira sempre nova e
inesperada. No entanto todos nós fazemos experiência do pecado. Sabemos que
somos chamados à perfeição (cf. Mt 5, 48), mas sentimos fortemente o peso do
pecado. Ao mesmo tempo que notamos o poder da graça que nos transforma,
experimentamos também a força do pecado que nos condiciona. Apesar do perdão,
carregamos na nossa vida as contradições que são consequência dos nossos
pecados. No sacramento da
Reconciliação, Deus perdoa os pecados, que são verdadeiramente apagados;
mas o cunho negativo que os pecados deixaram nos nossos comportamentos e
pensamentos permanece. A misericórdia de Deus, porém, é mais forte também do
que isso. Ela torna-se indulgência do Pai que, através da Esposa de Cristo, alcança
o pecador perdoado e liberta-o de qualquer resíduo das consequências do pecado,
habilitando-o a agir com caridade, a crescer no amor em vez de recair no pecado”
(Papa Francisco: Bula Misericordiae Vultus n.22).
P. Vitus Gustama,svd
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