quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

 19/12/2016

 
 DEUS SE MOSTRA MISERICORDIOSO E SE FAZ FORÇA SALVADORA PARA QUEM TEM NELE

19 de Dezembro

Juiz 13, 2-7. 24-25; Lucas 1, 5-25

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Evangelho: Lc 1,5-25
 
5Nos dias de Herodes, rei da Judéia, vivia um sacerdote chamado Zacarias, do grupo de Abia. Sua esposa era descendente de Aarão e chamava-se Isabel. 6Ambos eram justos diante de Deus e obedeciam fielmente a todos os mandamentos e ordens do Senhor. 7Não tinham filhos, porque Isabel era estéril, e os dois eram de idade avançada. 8Em certa ocasião, Zacarias estava exercendo as funções sacerdotais no Templo, pois era a vez do seu grupo. 9Conforme o costume dos sacerdotes, ele foi sorteado para entrar no Santuário, e fazer a oferta do incenso. 10Toda a assembléia do povo estava do lado de fora rezando, enquanto o incenso estava sendo oferecido. 11Então apareceu-lhe o anjo do Senhor, de , à direita do altar do incenso. 12Ao vê-lo, Zacarias ficou perturbado e o temor apoderou-se dele. 13Mas o anjo disse: “Não tenhas medo, Zacarias, porque Deus ouviu tua súplica. Tua esposa, Isabel, vai ter um filho, e tu lhe darás o nome de João. 14Tu ficarás alegre e feliz, e muita gente se alegrará com o nascimento do menino, 15porque ele vai ser grande diante do Senhor. Não beberá vinho nem bebida fermentada e, desde o ventre materno, ficará repleto do Espírito Santo. 16Ele reconduzirá muitos do povo de Israel ao Senhor seu Deus. 17E há de caminhar à frente deles, com o espírito e o poder de Elias, a fim de converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à sabedoria dos justos, preparando para o Senhor um povo bem disposto”.18Então Zacarias perguntou ao anjo: “Como terei certeza disto? Sou velho e minha mulher é de idade avançada”. 19O anjo respondeu-lhe: “Eu sou Gabriel. Estou sempre na presença de Deus, e fui enviado para dar-te esta boa notícia. 20Eis que ficarás mudo e não poderás falar, até o dia em que essas coisas acontecerem, porque não acreditaste nas minhas palavras, que se hão de cumprir no tempo certo”. 21O povo estava esperando Zacarias, e admirava-se com a sua demora no Santuário. 22Quando saiu, não podia falar-lhes. E compreenderam que ele tinha tido uma visão no Santuário. Zacarias falava por sinais e continuava mudo. 23Depois que terminou seus dias de serviço no Santuário, Zacarias voltou para casa. 24Algum tempo depois, sua esposa Isabel ficou grávida, e escondeu-se durante cinco meses. 25Ela dizia: “Eis o que o Senhor fez por mim, nos dias em que ele se dignou tirar-me da humilhação pública!” (Lc 1,5-25)
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A partir de hoje as leituras de cada dia nos apresentam paralelismos e contrastes muito claros entre a Primeira Leitura e o Evangelho, para nos ajudar e entendermos os planos de Deus. Hoje, por exemplo, lemos o anúncio do nascimento de Sansão e o de João Batista.

A primeira leitura (Juiz 13, 2-7. 24-25) fala da anunciação da concepção de Sansão dos pais estéreis e de idade avançada. O interesse principal do anúncio do nascimento de Sansão é ajudar a compreender que estes anúncios pertencem a um gênero literário muito concreto e que é utilizado para o anúncio do nascimento de Isaac (Gn 18,9-15) e do de João Batista e do nascimento de Jesus (Lc 1,5-25; Mt 1,18-25). Nesses casos sempre se apresenta um anjo ao pai para descrever-lhe a missão do filho anunciado. E o pai responde descrevendo um obstáculo a ser superado (sua velhice e a esterilidade de sua mulher) para esse anúncio. Mas o anjo replica apelando para ele um sinal que Deus fará para acreditar na concepção anunciada. E esses anúncios de nascimento terminam freqüentemente com um comentário sobre o nome dado ao menino nascido.

As leituras bíblicas deste dia mostram que Deus sempre se mostra misericordioso para quem crê n’Ele firmemente apesar dos problemas humanamente sem solução, pois para Deusnada é impossível” (Lc 1,37). Deus escolhe uma mulher estéril para ser mãe daquele que deve ser defensor de seu povo. Desse modo, o texto quer mostrar um Deus que, na sua bondade e onipotência e na sua misericórdia, utiliza as criaturas humanamente inservíveis para levar a cabo Seu plano salvador, pois agente principal para salvar os homens é o próprio Deus, e o homem é o colaborador nessa obra. Por isso, os filhos nascidos das mães que eram estéreis são dádiva de Deus.

Para um hebreu, a forma mais clássica de sublinhar que a força de um homem é um dom de Deus, consiste em dizer que havia sido prometida a este homem desde antes de seu nascimento em circunstancias em que se revela precisamente toda a debilidade do homem. Este é o caso de Sansão, de João Batista, de Samuel e de muitos outros. Para Sansão, a debilidade está representada pela esterilidade de sua mãe, a idade avançada de seu pai e sua própria repulsa dos meios normais de subsistência (Jz 13,7).

O episodio do anúncio de nascimento de Sansão faz parte do gênero literário clássico das anunciações bíblicas para celebrar a origem dos grandes personagens da história (cf. Gn 11,30; 18,10-11; 1Sm 5,20). Esse tipo de anunciação sempre segue o mesmo esquema:

1). A eleição divina, através do aparecimento do anjo, recai sobre as pessoas humildes de coração e “débeis” como no caso da esterilidade da mãe de Sansão e a idade avançada do pai.
2). O menino anunciado que nascerá, é um dom de Deus e desempenhará uma missão salvadora em favor do povo.
3). O próprio Deus ajudará o eleito no cumprimento de sua missão enquanto este se mostrar fiel à missão recebida.

A primeira leitura, através do livro dos Juízes, nos conta a história do anúncio do nascimento de Sansão. Sansão receberá de Deus uma força extraordinária para defender o Povo de Deus. Para um hebreu toda força possuída pelo homem é um dom de Deus. Sansão morrerá, precisamente, no dia em que ele utilizará essa força em proveito próprio; não é mais como um dom de Deus, e sim como um título de sua glória pessoal. “Quando um homem se deixa dominar pelo egoísmo e orgulho, seu coração se asfixia; quando se submete a Deus na e humildade, seu coração se expande”, dizia Santo Agostinho de Hippona (In ps. 139,18). Quando esquecemos o Doador de nossos dons que é Deus, abusaremos os dons para o interesse próprio e não mais para ajudar os outros no seu crescimento. Quando nos afastarmos da força de Deus, transformaremo-nos em destruidores da própria vida e da vida dos outros. “Quando te afastas do fogo, o fogo continua aquecendo, mas tu esfrias. Quando te afastas da luz, a luz continua brilhando, mas as sombras te envolvem. O mesmo acontece quando te afastas de Deus” (Santo Agostinho: Serm. 170,11,11).

Sansão foi um salvador temporal, um libertador que lutou contra os inimigos humanos de Israel, mas através dessa salvação temporal, Deus ajudava humanamente seu povo e lhe deixava entrever outro tipo de “libertador”. O verdadeiro salvador é Jesus. O nome “Jesus” em hebraico significa “Deus salva”. Somente Jesus (e em seu nome) pode libertar o homem do pecado.

O anúncio de nascimento de João Batista é rico em detalhes significativos do ponto de vista teológico. O anúncio segue o esquema do Antigo Testamento (cf. Jz 13,2-7. 24-25; 1Sm 1,4-23).

A presente narração da visão de Zacarias está construída em contraste simétrico com o anúncio do nascimento de Jesus que o anjo Gabriel fará para Maria. No texto de hoje a aparição do anjo acontece no Templo de Jerusalém. No anúncio de nascimento de Jesus, o anjo aparece na casa simples de Nazaré. No texto de hoje, Zacarias se mostra incrédulo. No anúncio do nascimento de Jesus, Maria se mostra cheia de . No texto de hoje o Precursor nasce de uma mulher casada, mas estéril. O Messias nascerá de uma Virgem. Aqui João Batista ficará refleto do Espírito Santo e todos ficarão alegres. Jesus será concebido pela obra do Espírito Santo e nem todos se alegrarão de seu nascimento (cf. Mt 2,13). Por causa de sua incredulidade, Zacarias ficará mudo. Maria, pelo contrário, escutará o anúncio gozoso da maternidade da boca de sua parenta Isabel (Lc 1,42-45).

O evangelho nos narra o anuncio do nascimento de João Batista de uma mulher estéril e de idade avançada (velhice). Apesar de servir a Deus no Templo o sacerdote Zacarias, pai de João Batista, foi invadido pela incredulidade sobre o nascimento de João Batista. Isabel era estéril. Nãoesperança de fecundidade. Por isso, para Zacarias custa crer num possível nascimento. Humanamente isto é compreensível, mas não para Deus que é capaz de mudar qualquer situação por impossível que ela pareça ser, “pois para Deus nada é impossível” (Lc 1,37). Não é por acaso que Santo Agostinho dizia: “A abre a porta ao conhecimento. A incredulidade a fecha” (Epist. 136,4).

De Zacarias aprendemos que ninguém está isento da falta de por forte que pareça ser sua . Mas Deus continua atuando na nossa vida e na história apesar de nossa incredulidade. “ é crer no que não vemos. O prêmio da é ver o que cremos”, dizia Santo Agostinho (Serm. 43,1,1; cf. Hb 11,1).

Por causa de sua incredulidade, Zacarias pede um sinal do anjo anunciador sobre o nascimento de João Batista (cf. Mt 12,39; Mc 8,11; Lc 11,16; Jo 6,30). Ao pedir o sinal de Deus Zacarias se revela como homem do tempo antigo fica “ultrapassado” por uma novidade que ele não pode entender e que essa novidade o deixa com a boca aberta, no sentido mais forte da palavra.

O mutismo de Zacarias é significativo: quem pertence ao tempo antigo não pode dizer nada acerca da novidade que se apresenta diante dele. Recusando a Palavra de Deus, não pode falar. Ao contrario, falará quando aceitar novamente a Palavra de Deus.

João Batista, como seus pais, “caminhará a frente de Deuspara preparar os corações. É maravilhosa tarefa: trabalhar para Deus, preparar os homens para que saibam “acolherDeus. É maravilhoso ser útil para construir uma humanidade mais fraterna. É maravilhoso ter alguém que nos aponta o caminho certo. Para corrigir o outro, nossa humildade deve ser maior do que a nossa crítica.

Das leituras de hoje aprendemos que precisamos estar conscientes de que é Deus quem salva. Não devemos confiar totalmente nas nossas próprias forças: nem nas forças físicas, nem nas forças intelectuais ou espirituais, se cremos tê-las, pois um dia se esgotarão. Quando Sansão se dispensou de Deus, perdeu sua força, como os olhos saudáveis que perdem sua capacidade de enxergar na ausência total de uma luz. João Batista nunca se creu o Salvador e sim somente a voz que proclamava a proximidade de Deus. Quando não contamos com Deus é porque não sabemos contar. Tenhamos , pois quando nossas forças se esgotarem, a vai continuar a renová-las. “Cansam-se as crianças e param, os jovens tropeçam e caem, mas os que esperam no Senhor renovam suas forças, criam asas como as águias, correm sem se cansar, caminham sem parar” (Is 40,30-31). 

Tudo isso quer nos dizer que  é Deus quem salva a humanidade, também a de hoje. Não devemos confiar absolutamente somente em nossas próprias forças sejam físicas, como as de Sansão, sejam intelectuais ou espirituais se quisermos ter as mesmas. Deus potenciará nossas forças se acreditarmos n’Ele firmemente. Quando Sansão ficou independente de Deus, ele perdeu sua força e caiu na sua profunda debilidade. Ao contrário, João Batista nunca se crê o Salvador e sim somente como a voz de Deus para chamar as pessoas à conversão a fim de viverem como irmãos e irmãs.

Nossa atitude nas vésperas do Natal, como também nos dias de nossa vida sobre a terra é a de humilde confiança em Deus.

Há uma segunda atitude que também podemos ter diante do mistério de Cristo: a atitude de Zacarias. Este homem se apresenta no Evangelho como uma pessoa boa, piedosa, cumpridora da Lei divina. No entanto, ele é incapaz de ver as maravilhas que Deus pode ter em sua vida. Quantas vezes podemos ter o coração de Zacarias: ser pessoas que seguem a Deus, que cumprem Seus preceitos, que rezam e freqüentam a missa, mas incapazes de crer que em nós pode realizar-se em nós a redenção que Cristo nos traz.

Que Deus nos conceda, pela intercessão da Santíssima Virgem Maria, Mãe de nosso Senhor e nossa Mãe, a graça de saber escutar a Palavra de Deus e colocá-la em prática, de tal forma que transformados por ela, sejamos um sinal de vida e não de morte, para nossos irmãos.

P. Vitus Gustama,svd

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