DOMINGO,04/12/2016
O NOSSO SALVADOR VEM NOS DAR A ESPERANÇA
Is 2,1-5; Sl 121; Rm 13,11-14; Mt 24,37-44
Os capítulos
24-25 de Mateus, onde
se encontra o nosso
texto deste dia,
constituem o quinto e o último
discurso de Jesus no evangelho de Mateus
(o 1º Mt 5,1-7,29: o Sermão
da Montanha onde
Jesus proclama o Reino
dos Céus e suas
exigências; o 2º Mt
9,35-10,42: o discurso missionário onde
se fala da extensão
do Reino dos Céus;
o 3º Mt 13,3b-52: o discurso sobre a natureza
do Reino dos Céus
em parábolas;
o 4º Mt 18,3-34: o discurso
eclesiológico onde se fala de como viver como uma comunidade que
aceita o Reino dos Céus).
Para compor este último discurso, Mateus
elaborou notavelmente o chamado “discurso
escatológico” de Marcos (Mc 13) e o
ampliou com uma série
de três parábolas
e uma impressionante descrição do juízo
final (Mt 25,31-46) cuja
principal intenção
é orientar os cristãos
sobre como
preparar a segunda
vinda do Senhor
conhecida como
Parusia.
O vocábulo grego parousia (de
páreimi: estar
presente, estar aí, chegar) é originalmente referido tanto
para a descida
ou manifestação
de pessoas divinas na terra
(por ocasião
de uma festa religiosa
ou por
uma intervenção milagrosa), quanto para as visitas que reis e príncipes
fazem às cidades submetidas ao seu império. O sentido principal do termo na cultura
grega é de visita,
chegada, advento
de um soberano
ou de uma divindade
que se usa
tanto no conceito
político quanto
religioso. O que
sempre se destaca para
a parousia é o seu
caráter triunfal
e glorioso. No NT, o conceito é utilizado para descrever a futura vinda de Cristo,
Senhor de tudo
e de todos (Pantocrátor) no final dos tempos. Por isso, geralmente
a expressão parusia está ligada à idéia
de fim do mundo
e ao juízo final(cf.
1Ts 4,13-18) como se lê no evangelho
deste domingo. Jesus virá com o poder e a glória para derrotar
as potestades do inimigo e glorificar os que agora pertencem a Cristo.
Neste
discurso, não
se trata, como
em Mc, dos sinais
que precederam à destruição
do templo (70 d. C), mas da vinda do
Filho do Homem
e das atitudes com
que os discípulos
devem preparar para essa vinda. A intenção
de Mateus é responder
à situação que
vivia sua comunidade.
Por um
lado, perceberam que
a segunda vinda
de Jesus estava se atrasando e diante
deles aparecia a história como espaço para o compromisso. Por outro lado, o evangelista
contempla com preocupação
os sinais de abandono,
de negligência, de rotina e de esfriamento que
começaram a aparecer na comunidade.
Nessa situação Mt descobriu que aquelas palavras
de Jesus contém uma exortação dirigida
aos cristãos que
se fundamenta numa profunda
convicção: a vinda
do Filho do Homem
é um fato
certo, no entanto,
não se sucederá em
seguida. Por
isso, é necessário
preparar esse
grande acontecimento
vivendo segundo os ensinamentos
de Jesus.
O estilo e as
imagens desses capítulos
podem provocar temor.
Trata-se, porém, de uma forma
de falar que
era relativamente
freqüente entre
alguns grupos
judios e cristãos da época
de Jesus. Esta linguagem se conhece com o nome de
apocalíptico, porque seu objetivo é manifestar uma revelação
escondida(apocalypsis) com a seguinte idéia básica: o
mundo não
é eterno, terá fim
juntamente com
a humanidade à qual
Deus oferece a sua
salvação em Jesus Cristo
cuja finalidade
catequética é salientar a urgência
da vigilância ativa.
Este estilo
de discurso quer
recordar ao homem
a sua condição
finita não
para levá-lo ao desespero
e ao desânimo, mas
para convidá-lo a uma conversão
pessoal e comunitária.
Em muitas ocasiões
esta revelação está dirigida a grupos e comunidades
que vivem uma situação
de perseguição, com o objetivo de animá-los em
suas tribulações.
Por isso,
não tem que
ver neste texto
uma ameaça, mas
sim uma mensagem
de esperança.
Aprofundemos nossa
meditação sobre
alguns pontos
do texto! Mt 24,37-44
Este Primeiro
Domingo do Advento
quer nos
recordar o horizonte
último da história,
que se identifica com
a vinda do Filho
do Homem, Jesus Cristo.
O texto reflete sobre
uma concepção da história
que dá resposta
a uma pergunta existencial. A pergunta
existencial indaga pelo sentido
da história humana:
“Para onde caminha o ser humano?”. O texto
responde a esta pergunta afirmando que a história humana termina em
uma peripécia (para um previsto), cujo protagonista
é Deus. O texto
quer nos
dizer que tudo termina em
Jesus Cristo ,
Deus-Conosco. Por esta razão, a história
para o cristão
continua sendo, desde o princípio ao fim,
uma história de salvação. A vida do mundo, como nossa própria existência
se verão expandidas por
este encontro
definitivo para
o qual caminhamos. O ser
humano vive sob
o pólo de atração
de Deus, que
em um
momento humanamente
imprevisível, porém,
certo, fará uma mudança
repentina da atual
situação ou
da condição humana.
Por isso,
o texto quer
inculcar a consciência
desta peripécia universal,
convidando todos a evitarem a atitude inconsciente de que nada muda nem pode mudar.
A vinda deste
Deus em
Jesus Cristo é imprevisível para nossa história,
porém certa.
Ele não
cessa de estar presente
no mundo de um
modo muitas vezes
impalpável e discreto,
porém, seguro,
como nos
diz o Evangelho deste dia. Cremos que Jesus se faz presente
no mundo com
uma presença real,
ainda que
seja discreta e misteriosa. Ele vem como ladrão, mas não para roubar
e sim para nos resgatar. Pode-se dizer que trata-se de
“ladrão” de corações.
No fim dos tempos
esta presença aparecerá no grande
dia e não
teremos que crer
nele, pois O veremos. Neste dia
estaremos inundados pela felicidade completa. Deus é aquele que logo nos mostra o final da história
a partir daquilo que
vivemos.
2. Advento é
uma grande celebração da esperança crista
Por tudo que foi dito acima, o Advento é a celebração
da esperança cristã. Esperar
é situar-se em estado
de receptividade que é acompanhada pela esperança.
A vinda salvadora de Deus, embora imprevisível, é a grande
mensagem do Natal
ao que nos
preparamos. Deus, em
Jesus Cristo , é a raiz da verdadeira esperança
humana. A esperança
cristã é segura, pois
Deus sempre
faz possível nossa
vida de amor
e de paz. Não
sabemos o que passará amanhã ou com que mundo as próximas gerações
se encontrarão, ou como
encararemos problemas terríveis e insolúveis,
mas nós
cremos que Deus
continua sendo fiel e hoje, amanhã e para sempre move ao amor e à paz. É
a força do Advento
cristão em
nosso mundo.
A Palavra de Deus
não é uma ameaça
e sim um
anúncio alegre
e uma promessa. Deus
vem não para nos ameaçar, mas para nos dar promessa.
Cada visita
de Deus é uma libertação.
E a esperança cristã deve ser
resposta à promessa
e à visita de Deus.
Por isso,
essa segunda vinda
do Senhor não
é para criar o medo em cada um de nós porque
sabemos que Deus
nos ama
e cremos firmemente no Seu amor. E o encontro de duas pessoas
que se amam só
traz a alegria, a felicidade
e a paz. E quando
duas pessoas se amam profundamente o tempo
aparentemente fica parado. Quando perdemos a noção
de tempo, por
causa deste amor,
isto pode se chamar
de eternidade ou
Paraíso. O encontro
com o Senhor
é sempre o encontro
de amor que
nos deixa
a paz, a felicidade
e a libertação.
Mas quando
convertermos o processo religioso
da espera em algo comercial que logo pode
converter-se em qualquer
coisa, passamos, em
verdade, a nada
esperar, pois
transformamos a esperança cristã em uma palavra vazia que, precisamente por
isso, segue a lei
do vazio de deixar-se preencher
por outras esperanças
caducas.
O Advento
celebra o “Deus da esperança”
(Rm 15,13) e vive a alegre esperança.
O homem de esperança
sempre acredita que
tudo pode. Nesse “poder”
há força. A esperança
sempre repousa num poder
que possibilita a transformação da existência. O canto
que caracteriza o Advento
é o do Salmo 25(24),1-3: “A ti, Senhor, eu me elevo, ó meu
deus. Eu
confio em Ti....pois
os que esperam em
Ti não ficam envergonhados” (Antífona da Entrada).
Somente uma atitude de fé nos pode descobrir o sentido
da história, e somente
uma atitude de vigilância
nos pode ajudar
a viver, conseqüentemente,
em um
clima de espera
e esperança. A esperança
é vigilante e austera.
“Ficai atentos! Porque não sabeis em
que dia o Senhor virá” (Mt 24,42)
A imprevisão
intencionada da vinda de Deus provoca a vigilância
de nossa parte. Por
esta razão toda
a dinâmica do texto
está em caminhada
para o fator
de surpresa. Daí o convite
a estarmos vigilantes e estar
preparados, duas expressões
equivalentes, pertencentes ao campo da atenção e cujo oposto é a despreocupação.
Entre ambos
convites em
imperativo: “ficai atentos”
(M 24,42) há uma constatação em indicativo:
“compreendei bem isso...”
(Mt 24,43). Sublinha-se, então, a importância
do que está em
jogo: a nossa
salvação e, por isso,
constitui uma chamada à seriedade de vivermos sempre
reconciliados com Deus
e com o próximo.
O cristão é um
homem atento,
desperto e lutador.
Vigiar significa escutar Deus
e os demais sem
viver com
demasiadas seguranças humanas; olhar para os que sofrem sem passar adiante; trabalhar para levar
o diálogo e a paz. O cristão, filho da luz
(1Ts 5,4-8) não pode se alienar. Sua
fé, sua
esperança e sua
caridade têm de ser
vivas e dar seus frutos: bondade, justiça
e verdade: “... sois luz
no Senhor: andai como
filhos da luz,
pois o fruto
da luz consiste em
toda bondade
e justiça e verdade”
(Ef 5,8-9). As obras das trevas têm de ser
denunciadas: “Procurai discernir o que é agradável
ao Senhor e não
sejais participantes das obras
infrutuosas das trevas, antes denuncia-as...” (Ef 5,10-11; leia o resto do texto).
Sua arma
será sempre a Palavra
de Deus: “Tomai o capacete da salvação e a espada
do Espírito, que
é a Palavra de Deus”
(Ef 6,17). A verdade e a justiça necessitam ser
defendidas em cada
instante; o amor
e a solidariedade não
podem descansar. Estar vigilante
equivale a não pôr
limite ao amor;
a não deixar que nos
distraiamos de nosso objetivo como cristãos; a estar sempre atentos para descobrir e lutar
contra o que
impede a fraternidade e apoiar
com todas as nossas forças
o que a favorece. Quem
vive gloriosamente a vida, a possui e é possuído pro ela.
Estar vigilante significa
mover-se, manter-se ocupados em realizar o bem comum. A vigilância é o caminho
de doação e não
o da conservação: “Aquele
que acha a sua vida, vai
perdê-la, mas quem
perde a sua vida
por causa de mim, vai achá-la”, diz o Senhor
(Mt 10,39). Vigiar é preparar
a casa e os caminhos
para o homem novo; é descobrir a tarefa a realizar; é descobrir onde o Senhor está nascendo; é caminhar para Belém, onde uma família busca lugar para descansar,
onde um
imigrante pede trabalho,
onde um
esquecido necessita de uma presença, onde um pobre quer comer, onde todos os homens
urgem amor. Vigiar é escutar
a Palavra, ler
em profundidade
os acontecimentos, penetrar
no mistério da pessoa e
da história, captar
a noção do Espírito
de Deus. vigiar
é crer, é comprometer-se. A Palavra
de Deus sempre
nos sacode, pois
em todos
os acontecimentos há anúncios de salvação que
temos que descobrir.
A vigilância consiste em discernir os sinais dos tempos
para reconhecer a presença de Deus e do
seu reino
nos acontecimentos.
Cada cristão
precisa estar
vigilante não
para esconder-se, mas
para sair ao encontro do seu
Salvador, Jesus Cristo.
Vigiar é uma postura ativa, alerta para continuar com as tarefas
cotidianas dentro da vontade de Deus,
pois o julgamento de Deus acontece no cotidiano sem sinais espetaculares. A este
julgamento ninguém
pode escapar. A vigilância
nos leva
a reconhecermos a nossa condição de mortal.
A consciência de mortalidade
nos impede que
supervalorizemos os bens terrenos, julgando encontrar
neles segurança e salvação. A supervalorização dos bens terrenos é
uma atitude indigna
de um cristão.
A vigilância
exige desapego, partilha, relativização
dos bens terrenos,
de modo que
o nosso coração
fique totalmente disponível
para Deus. A vigilância
é a disponibilidade para
a vinda do Senhor
diariamente nos acontecimentos
cotidianos dos homens.
A vigilância nos
leva a colocarmos em
segundo lugar
o quando, o como
e o onde do dia
do Senhor. O que
importa é estarmos preparados. A chamada de Cristo
ao seu seguimento
requer uma disponibilidade total, vivendo desinstalados e desprendidos
de tudo que
se possui e usa. Vigiamos porque a fé não é um estado ou situação dada
de uma vez por
todas, mas uma vida
e um processo
de permanente evolução
para responder, em cada instante, à Palavra
de Deus que
nos anuncia sua
vinda. A Palavra
de Deus nos
recomenda que vivamos alertados para poder responder
adequadamente aos sinais dos tempos através
dos quais Deus
nos fala.
A Palavra de Deus
permanecerá como luz
segura para instruir os caminhos
dos homens. Será como
fogueira para
aquecer os corações
dos homens. Será um
livro para saciar as mentes dos homens.
É
preciso esperar
a chegada do Senhor
com humildade.
Ser humilde
significa aceitar a parte
terrena que
todos temos; significa descer,
buscar e encontrar tudo o que
somos, aceitando-nos tal e como somos. Quando
o coração se faz humilde,
ele é capaz
de amar em
abundância. Ser
humilde é deixar
a luz de Deus
entrar no nosso
coração para fazer desaparecer os maus sentimentos
que produzem nossas misérias.
Nunca serei compassivo,
se eu não
admitir minha
dureza interior.
Nunca chegarei a ser
criativo, se eu
não for capaz
de reconhecer toda
a minha mesquinhez que
se esconde no meu coração.
“Humildade é a honesta
confissão do ser
pecador. É melhor
um pecador
humilde que
um beato
orgulhoso” (Sto. Agostinho).
“Eu amo a Jesus que nos diz: Céu e
terra passarão.
Quando céu e terra passarem, minha
palavra ficará.
Qual foi, Jesus, Tua palavra?
Amor? Perdão? Caridade?
Todas Tuas palavras foram uma palavra: Vigiai”. (Machado de Assis)
O cristão
ideal não
vive mergulhado nos prazeres
que alienam, nem
se deixa sufocar
pelo trabalho excessivo, nem
adormece numa passividade que lhe rouba as oportunidades.
O cristão ideal
está, em cada
minuto que
passa, atento
e vigilante, acolhendo o Senhor
que vem de várias maneiras
em sua
vida, respondendo aos desafios, cumprindo sua
missão, empenhando-se na construção
de um mundo
mais fraterno.
“Dois homens
estarão trabalhando no campo: um será levado
e o outro será deixado. Duas mulheres estarão moendo no moinho:
uma será levada e a outra
será deixada. Assim acontecerá na vinda do Filho
do Homem” (Mt 24,40-41.39b).
Relata-se aqui, neste texto,
que um
será tomado, o outro será deixado. Há dois verbos usados aqui: “tomar” e “deixar”. Os dois verbos
são os verbos
que se referem ao julgamento
final. O verbo
“tomar” (cf. Mt 2,13.14.20.21) indica salvação do perigo. Em Mt
20,17; 26,37 o sujeito do verbo
“tomar” é o próprio
Jesus e os discípulos são seu objeto. O verbo
“deixar” indica julgamento
ou a exclusão
da salvação (cf. Mt 23,38; 24,2). O texto
quer nos
dizer que o julgamento divino nos detém no ponto em que nos encontramos no relacionamento com
Deus e com
os homens: ódio
e amor, bondade
e malícia, egoísmo
e generosidade ficam imobilizados no instante em que cessa a nossa
vida. O encontro
derradeiro com
Deus será de alegria
(será tomado) ou de infinito
desespero (será deixado) conforme o sentido
que cada
um tiver dado
à própria existência.
Quem será tomado? É o justo que vive
e pratica o amor fraterno
(cf. Mt 25,34-40). Quem será deixado? É
o injusto que
não tem a vivência
do amor fraterno
(cf. Mt 25,41-46).
“Dois homens
estarão trabalhando no campo: um será levado
e o outro será deixado. Duas mulheres estarão moendo no moinho:
uma será levada e a outra
será deixada” (vv.40-41). Esta imagem
nos apresenta como
uma grande interrogação para
a consciência cristã. Primeiramente, porque
o texto da Bíblia
mostra que
o juízo de Deus
tem em si
uma real dimensão
de surpresa. Existe em
mim o que
será tomado e eternamente conservado por Deus? Ou toda a minha vida será
deixada e dolorosamente destruída? O homem ou a mulher ao meu lado, a mulher ou o homem que passa à minha frente, quem são eles? Quem
poderá afirmar com
segurança que
será levado/eleito ou
deixado/abandonado? A palavra de Jesus é
tão grave,
tão franca,
que nos
coloca perante a real
possibilidade duma perdição eterna. Ninguém
sabe quem é no pensamento
de Deus, o seu
próximo, que
está ao seu lado.
A vigilância é, por
isso, tão
importante que
é dela que depende de a sorte, de perdição
ou de salvação que
vai tocar a cada
indivíduo.
P. Vitus Gustama,svd
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