segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

29/12/2016

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ENCONTRO COM O SALVADOR


29 de Dezembro


Evangelho: Lc 2,22-35


22Quando se completaram os dias para a purificação da mãe e do filho, conforme a Lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, a fim de apresentá-lo ao Senhor. 23Conforme está escrito na Lei do Senhor: “Todo primogênito do sexo masculino deve ser consagrado ao Senhor”. 24Foram também oferecer o sacrifício – um par de rolas ou dois pombinhos – como está ordenado na Lei do Senhor. 25Em Jerusalém, havia um homem chamado Simeão, o qual era justo e piedoso, 26e esperava a consolação do povo de Israel. O Espírito Santo estava com ele e lhe havia anunciado que não morreria antes de ver o Messias que vem do Senhor. 27Movido pelo Espírito, Simeão veio ao Templo. Quando os pais trouxeram o menino Jesus para cumprir o que a Lei ordenava, 28Simeão tomou o menino nos braços e bendisse a Deus: 29 “Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz; 30porque meus olhos viram a tua salvação, 31que preparaste diante de todos os povos: 32luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel”. 33O pai e a mãe de Jesus estavam admirados com o que diziam a respeito dele. 34Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe de Jesus: “Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. 35Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti uma espada te traspassará a alma”.


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A cena da apresentação de Jesus-Menino no Templo é rica teologicamente. A antiga Aliança cede o lugar para a Nova, reconhecendo em Jesus-Menino o Messias e o Salvador universal dos povos. E a cena acontece no Templo, lugar da presença de Deus e da revelação profética.


Maria e José entraram no Templo como pobres para oferecer a Deus seu primogênito e para a purificação da mãe (cf. Ex 13,2-16; Lc 12,1-8). Na verdade, Maria como uma pessoacheia de graça” (Lc 1,28) não precisaria dessa purificação. Mas, como todas as mães judias, ela cumpriu fielmente a Lei ritual que prescrevia a purificação da impureza legal quarenta dias depois do parto de um menino, e oitenta dias depois do parto de uma menina (cf. Lv 12,1-8).


A apresentação do Senhor no Templo celebra uma chegada e um encontro. É a chegada do Salvador sonhado, núcleo da vida religiosa do Povo eleito e as boas vindas a ele pelos dois representantes dignos do povo eleito: Simeão e Ana. Ao nascer Jesus se manifestou, primeiramente, aos pastores representantes dos pobres e excluídos. Ao ser apresentado no Templo, Jesus se revela, primeiramente, aos doispobres de Javé”: Simeão e a viúva de 84 anos, Ana, que esperavam a libertação de Israel praticando a oração e o jejum. Não se mencionam os levitas nem os sacerdotes que executam os ritos da purificação de Maria e do resgate do Menino. No nascimento a revelação aconteceu ao ar livre: para os pastores. Agora o lugar de revelação é o Templo. O ancião Simeão e a viúva, Ana, deram boas vindas ao Salvador do mundo com grande alegria, e tão grande é a alegria a ponto de Simeão dizer:Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz; porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel”.


Ao viver este mistério na , a Igrejanovas boas vindas a Cristo. É o momento do encontro de Cristo com sua Igreja. Isto vale para qualquer celebração na Igreja. Na celebração (eucarística) há o momento de encontro entre Jesus e todos nós. O verdadeiro encontro com Cristo na liturgia sempre causa a alegria e a felicidade, pois trata-se do encontro com o nosso Salvador. O verdadeiro encontro com o Senhor causa mudança na nossa vida para uma maneira melhor de viver a vida de acordo com o mandamento do Senhor resumido no amor fraterno, pois encontramos o sentido de nossa vida em Jesus. O verdadeiro encontro com o Senhor produz em cada um de nós muitos frutos bons para a convivência, pois começamos a permanecer em Jesus (Jo 15,5). O verdadeiro encontro com o Senhor nos torna reflexos do Senhor para os demais, iluminando os outros com nossa vida iluminada pelo Senhor. Não é por acaso que no Oriente a festa da apresentação do Senhor no Templo é chamada de a festa do Encontro.


Um dos maiores frutos do verdadeiro encontro com o Senhor é a prática do amor fraterno. Para a primeira Carta de São João, quem ama, vive na luz de Deus (cf. 1Jo 2,3-11). Quem odeia, vive nas trevas. Amar a exemplo de Jesus significa dar-se, esquecer-se de si mesmo, procurar o bem do outro até sacrificar os próprios interesses, as próprias idéias e a própria vida. O mandamento de amor universal deve ser vivido primeiro na comunidade de irmãos na fé. Quanto mais em profundidade se vivem a fé e o amor, mais atraídos se sentem todos a conhecer o testemunho do verdadeiro discípulo de Jesus. O amor fraterno tem um poder de atração tão grande a ponto de ser reconhecido por aqueles que se dizem ateus.


A apresentação do Senhor no Templo é um mistério da salvação. O nomeapresentação” tem um conteúdo muito rico. Fala de oferecimento, fala de sacrifício. “Sacrifício” significa fazer coisa sagrada (sacrum = “sagrado” + facere = fazer). A apresentação do Senhor no Templo recorda a auto-oblação inicial de Cristo que aponta para a vida de sacrifício desta auto-oblação no Calvário para salvar o mundo. A festa da Apresentação do Senhor nos convida e nos recorda que, como seguidores de Jesus somos convidados a fazer as coisas sagradas permanentemente para que possamos alcançar o feliz encontro derradeiro com Cristo, nosso Salvador. A festa da Apresentação aponta, então, para a vida de sacrifício, cheia de coisas sagradas feitas por cada um de nós, e para a perfeição final deste sacrifício na vida eterna.


Para Maria, a apresentação e oferta de seu Filho no Templo não é um simples gesto ritual. Para ela essa apresentação significa que ela oferece seu Filho para a obra da redenção com a qual ele estava comprometido desde o princípio. O nome “Jesus” que foi escolhido pelo próprio Deus indica isso tudo (cf. Mt 1,21). Para os judeus, o nome expressava a identidade e o destino pessoal que cada um devia realizar ao longo de sua vida. Desde o primeiro instante de sua vida até a morte na Cruz, Jesus foi o que seu nome significa: Deus salva, ou Salvador. Maria renuncia a seus direitos maternais e a toda pretensão sobre seu Filho, Jesus, e O oferece à vontade de Deus-Pai. São Bernardo expressou muito bem esse pensamento ao dizer: “Santa Virgem oferece o teu Filho e apresenta ao Senhor o fruto bendito de teu ventre. Oferece para reconciliação de todos nós, a santa Vítima que é agradável a Deus”.


um novo simbolismo no fato de que Maria põe seu Filho nos braços de Simeão. Ao atuar desta maneira, Maria não oferece seu Filho ao Deus-Pai, mas também ao mundo, representado por aquele ancião Simeão. Desta maneira Maria representa seu papel de mãe da humanidade e nos recorda que o dom da vida vem de Deus através de Maria para o bem da humanidade. 


A festa do encontro de Jesus com a humanidade no Templo nos projeta para o futuro encontro com o Senhor. Por isso, o encontro com Jesus com a humanidade representada pelos anciãos Simeão e Ana prefigura nosso encontro final com Cristo na sua segunda vinda. Nós, peregrinos de Deus, caminhamos penosamente através deste mundo, guiados pela luz de Cristo (Jo 8,12) e sustentados pela esperança de encontrar finalmente o Senhor da glória no seu Reino eterno. Toda nossa vida cristã tem esse objetivo: encontrar-nos com o Senhor na vida eterna (Jo 14,2-3). Por este objetivo temos sempre força suficiente para superar tudo na nossa peregrinação terrestre (Jo 16,33b). Estando com Cristo e seguindo seus passos nossa vida sempre será iluminada: “Eu sou a Luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8,12).


Nesta cena, o evangelista sublinha a apresentação de Jesus no Templo para mostrar que Jesus pertence inteiramente a Deus e que sua entrega é total desde o início de sua vida (cf. 1Sm 1,24-28). E Maria sabe que “o seu filho primogênito” (Lc 2,6) não é propriedade dela, mas propriedade de Deus. Jesus pertence a Deus.         


Como Maria, nós só podemos oferecer a Deus o que dele recebemos. Muitas vezes em vez de oferecermos algo para Deus, na verdade recebemos muita mais de Deus. Como diz uma música: “Cada vez que eu venho para Te oferecer, na verdade, venho para receber. Cada vez que eu venho para Te falar, na verdade, venho para Te escutar”, pois somente o Senhor fala da verdade de nossa vida.


P. Vitus Gustama,svd

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