segunda-feira, 19 de dezembro de 2016


22/12/2016

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DEUS NOS OLHA AMOROSAMENTE


22 de Dezembro
As leituras: 1Samuel 1,24-28; Lc 1,46-56


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Lc 1,46-56
Naquele tempo, 46Maria disse: “A minha alma engrandece o Senhor, 47e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, 48porque olhou para a humildade de sua serva. Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada, 49porque o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor. O seu nome é santo, 50e sua misericórdia se estende, de geração em geração, a todos os que o temem.51Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os soberbos de coração. 52Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes. 53Encheu de bens os famintos, e despediu os ricos de mãos vazias. 54Socorreu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, 55conforme prometera aos nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre”. 56Maria ficou três meses com Isabel; depois voltou para casa.
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As leituras deste dia nos propõem um paralelo entre o cântico de Ana e o de Maria. As duas mulheres, a do Antigo Testamento (Ana) e a do Novo Testamento (Maria), reconhecem a intervenção de Deus em suas vidas e louvam a Deus por isso.


Ana, a esposa de Elcana, envergonhada por sua esterilidade, pedia a Deus, insistentemente em sua oração, força para encarar essa situação. Agora voltou para o Templo para dar graças a Deus por ter sido escutada, pois agora ela é mãe de Samuel, que será um personagem importante na historia de Israel. A esterilidade da mãe, considerada freqüentemente naquela época como uma maldição é um recurso típico do Antigo Testamento para sublinhar que o filho é um dom particular do Senhor destinado para exercer uma missão importante neste mundo (cf. Gn 21,1-4; 25,21; Jz 13,2ss; Lc 1,5ss).
No cântico de Ana se inspira o Magnificat de Lucas, fragmento que lemos hoje. Esta resposta de Maria à saudação de Isabel, sua prima, que conhecemos tradicionalmente com o nome de Magnificat, é uma oração de ação de graças composta de citações do Antigo Testamento. Depois de escutar os louvores de sua prima, Maria entoa um cântico de admiração, alegria e gratuidade a Deus, o Magnificat, que a Igreja tem cantado ou rezado de geração em geração. “Magnificat” (= engrandece) é, na verdade, a primeira palavra latina da tradução do texto na versão latina: “Magnificat anima mea, Dominum”. No canto, as expressões "minha alma" e "meu espírito" são sinônimos e equivalem a "eu". É o "eu" de Maria, não simplesmente psicológico, mas ontológico e espiritual. O Magnificat de Maria é uma das mais belas orações do Novo Testamento com múltiplas reminiscências do Antigo Testamento (cf. 1Sm 2,1-11; Sl 110,9; 102,17; 88,11;106,9; Is 41,8-9).
O cântico de Maria (Magnificat) que expressa a ação de graças pessoal de Maria (vv. 48-49ª) reflete os cânticos litúrgicos judaicos. Essa ação de graças é extraída, inteiramente, das fórmulas que o AT aplicava a Israel: v. 48ª lembra Dt 26,7; v. 48b inspira-se em Ml 3,12; v.49 reproduz Dt 10,21. Assim há aqui a assimilação entre Israel e Maria que o evangelista Lucas acompanha desde o início de capitulo I (cf. Lc 1,26-38; 2,39-47).
Nesta cena Maria é também igualmente identificada com Abraão: Lc 1,38 e Gn 18,14; Lc 1,30 e Gn 15,2; Lc 1,48 e Gn 12,3. Em Abraão, o povo de Israel recebeu as promessas; em Maria, ele toma posse dessas promessas.
No Magnificat, Maria aparece consciente de sua grandeza, mas, como humilde Serva do Senhor, transfere-a para Deus, reconhecendo, pois, sua pequenez, e dobrando-se diante do mistério do Deus sempre eterno e misericordioso. Maria sabe relacionar sua maternidade divina e messiânica com as promessas antigas, feitas a Abraão e à sua descendência, ligando, assim, o favor de Deus operante nela ao cumprimento de tais promessas. Maria se deixou ver por Deus, deixou-se amar por Deus com total transparência.
Não nos enganemos! Muitas vezes queremos fazer coisas para Deus, queremos sempre amar a Deus com nosso pobre amor. Se conseguirmos, será sempre pouco. De Maria aprendemos que o primeiro movimento da relação a Deus, não é oferecer o que fazemos para Deus e sim acolher o que Deus faz por s. Trata-se de passar da oferenda do meu pobre amor para o acolhimento do grande e maravilhoso o amor do qual Deus quer me preencher e com o qual Deus me ama incondicionalmente.
Nas palavras do Magnificat, a ordem dos valores do mundo sofre uma alteração radical, e aqui numa ressonância também política, econômica e social, pois os pobres e humildes são exaltados; os soberbos, derrubados de seus tronos; os ricos, opulentos e insensíveis, são despedidos de mãos vazias.
O canto ou a oração que o evangelista Lucas põe tão acertadamente nos lábios de Maria e provavelmente provinha da reflexão teológica e orante da primeira comunidade é um magnífico resumo da atitude religiosa de Israel na espera messiânica e é também a melhor expressão da cristã diante da história da salvação que chegou à sua plenitude com a chegada do Messias, Salvador e Libertador da humanidade. Jesus, com sua clara opção preferencial pelos pobres e humildes, pelos oprimidos e marginalizados, pelos abandonados e excluídos, pelos doente e pecadores, é o melhor desenvolvimento prático do que é dito no Magnificat.
Ana e Maria reconhecem a intervenção de Deus em suas vidas e por isso louvam a Deus. Saber louvar a Deus, com alegria agradecida é uma das principais atitudes cristãs. Ana e Maria nos ensinam a verificarmos tantas intervenções de Deus na nossa vida diariamente e que escapam de nossa atenção e por isso, vivemos tristes e insatisfeitos todos os dias. Quando pararmos para reconhecer as ações divinas na nossa vida, mesmo que seja no grau bem pequeno, aprenderemos de Ana e Maria a louvar a Deus diariamente e renovaremos nossas forças para continuar nossa missão sabendo que Deus nos ama e por isso, jamais nos abandonará. Olhar para o que Deus faz por nós desde toda a eternidade significa entrar em ação de graças e de louvores.
Maria louva a Deus pelo Natal de seu Filho, nosso Salvador, Jesus Cristo. O Magnificat de Maria é o melhor resumo da de Abraão e de todos os justos do Antigo Testamento. É um canto dos humildes de todos os tempos, de todos os que necessitam da libertação de suas várias opressões que a vida ou os outros impõem. Através de Maria o Deus-distante se torna Deus-Conosco para que vivamos o Natal com convicção de que Deus está presente e atua em nossa história por difícil que ela pareça ser. Se soubermos apreciar o Deus-Conosco, crescerão a paz interior e a atitude de esperança em nós. Ana nos ensina que com Deus nãonada que seja perdido. o tempo vai comprovar tudo isso. Mas o tempo de Deus é o tempo certo para nossa salvação.
Ana e Maria representam todos os humildes de coração de todos os tempos. A humildade de coração é a mãe de todas as virtudes. Nela e dela geram e derivam as demais virtudes. “O único remédio eficaz para combater a soberba é uma dose diária de humildade, que, na maioria dos casos, também é um remédio amargo” (Santo Agostinho: Serm. 142,5,5). “Qualquer espécie de vicio produz más obras. Porém, a soberba perscruta até as obras boas para fazê-las más” (Santo Agostinho: Regra).
Maria se sabe pequena, humilde e modesta. Ela não faz parte dos grupos de pessoa muito conhecida e bem relacionada. Sua única e profunda relação é Deus. Não busca aparentar no sentido mundano. Vive ignorada por todos. Ninguém, ao seu redor, salvo José e Isabel, sabe o grande mistério: Deus está nela, escondido. No pequeno, no humilde, no modesto Deus se revela (cf. Mt 11,25).
Toda uma tradição bíblica conduz a essas expressões: Deus ama os pobres, faz-se defensor dos débeis, dos que não tem apoio humano. É a finalidade de um tema do AT: os “anawim”, os pobres, são os preferidos por Deus. A “pobreza” é uma disposição essencial da alma. Um copo cheio não pode se encher mais. Há que estar vazio de si mesmo para acolher Deus como Maria que se esvaziou de si e por isso, estava cheia da graça de Deus (cf. Lc 1,28). O homem muito seguro de si, o homem satisfeito (cheio) de si não tem nada que esperar.
Sou um pobre no espirito ou sou um pobre de espirito?
P. Vitus Gustama,svd

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