01/05/2018
Obs: Nesta página encontram-se duas reflexões: Primeiro, sobre as leituras da Terça-feira da V Semana da Páscoa e segundo, sobre as leituras da Memória de São José Operário.
A
PAZ QUE CRISTO QUER NOS DAR
Terça-Feira
da V Semana da Páscoa
Primeira Leitura: At 14,19-28
Naqueles dias, 19 de Antioquia e Icônio chegaram judeus
que convenceram as multidões. Então apedrejaram Paulo e arrastaram-no para fora
da cidade, pensando que ele estivesse morto. 20 Mas,
enquanto os discípulos o rodeavam, Paulo levantou-se e entrou na cidade. No dia
seguinte, partiu para Derbe com Barnabé. 21
Depois de terem pregado o Evangelho naquela cidade e feito muitos discípulos,
voltaram para Listra, Icônio e Antioquia. 22 Encorajando
os discípulos, eles os exortavam a permanecer firmes na fé, dizendo-lhes: “É preciso que passemos por muitos
sofrimentos para entrar no Reino de Deus”. 23
Os apóstolos designaram presbíteros para
cada comunidade. Com orações e jejuns, eles os confiavam ao Senhor, em quem
haviam acreditado. 24 Em
seguida, atravessando a Pisídia, chegaram à Panfília. 25 Anunciaram a palavra em Perge, e
depois desceram para Atália. 26 Dali
embarcaram para Antioquia, de onde tinham saído, entregues à graça de Deus,
para o trabalho que haviam realizado. 27 Chegando
ali, reuniram a comunidade. Contaram-lhe tudo o que Deus fizera por meio deles
e como havia aberto a porta da fé para os pagãos. 28 E passaram então algum tempo com os
discípulos.
Evangelho: Jo 14,27-31ª
Naquele
tempo, disse Jesus a seus discípulos: 27“Deixo-vos a paz, a minha
paz vos dou; mas não a dou como o mundo. Não se perturbe nem se intimide o
vosso coração. 28 Ouvistes que eu vos disse: ‘Vou, mas voltarei a
vós’. Se me amásseis, ficaríeis alegres porque vou para o Pai, pois o Pai é
maior do que eu. 29Disse-vos isto, agora, antes que aconteça, para
que, quando acontecer, vós acrediteis. 30Já não falarei muito
convosco, pois o chefe deste mundo vem. Ele não tem poder sobre mim, 31amas,
para que o mundo reconheça que eu amo o Pai, eu procedo conforme o Pai me
ordenou”.
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A Primeira
Leitura de hoje, tirada do Livros dos Atos, nos narra que uns judeus
chegados de Antioquia e de Icónio suscitam uma perseguição contra Paulo. Paulo
parte para Derbe e continua sua missão evangelizadora exosrtando a todos a
perseverar na fé, não obstante os sofrimentos e perseguições. O bem tem quer
vivivdo e a bondade tem que ser espalhada, pois para isso é que estamos aqui
neste mundo.
No cumprimento da
missão que Deus nos confiou, através de nosso compromisso batismal, não podemos
nos dar descanso. O bem não descansa; é para ser praticado. O Senhor nos enviou
a todo o mundo para proclamar a Boa Nova de salvação superando todos os tipos
de sofrimento e perseguição. Temos que abrir os olhos diante de tanos irmãos que
andam nas trevas desta vida, dominados pelo mal e maldade, e que necessitam que
chegue a eles a luz de Deus que é o Cristo (Jo 8,12) para que ilumine suas
vidas e comecem a caminhar dando um novo rumo à história. Deus quer que todos
os homens sejam salvos (1Tm 2,4). Deus quer que todos cheguem ao Reino
celestial. Jesus se converteu para nós no Caminho para chegar ao Reino. Mas Jesus
nos diz que há que padecer muito e passar por muitas tribuçaões para entrar na
Glória. Quem perseverar até o fim será salvo (Mt 10,22).
O Verbo Encarnado
nos salvou para que vivamos consagrados ao Pai. Depois de ter experimentado os
benefícios do Senhor, também nos nos alegramos pelo fruto obtido por saõ Paulo
e nos unimos a sua ação de graças e proclamamos a glória do Senhor com o Salmo
Responsorial (Sl 144/145): “Que vossas obras, ó Senhor, vos
glorifiquem, e os vossos santos com louvores vos bendigam. Narrem a glória e o
esplendor do vosso Reino e saibam proclamar vosso poder. ... Que minha boca
cante a glória do Senhor e que bendiga todo ser seu nome santo desde agora,
para sempre e pelos séculos”.
Mas de nada nos
serviria nosso louvor ao Senhor enquanto denegrimos o Santo Nome do Senhor
entre as pessoas com uma vida carregada de pecado. Por isso, devemos ser os
primeiros em aceitar o perdão, a salvação e a vida nova que Deus oferece à
humanidade. Vivendo em Deus e caminhando com amor em Sua presença poderemos nos
converter numa testemunha viva de seu amor para os outros.
No Evangelho de
hoje Jesus comunica sua paz aos discípulos: “Deixo-vos a paz, a
minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo”. O Evangelho de João gosta
de contrapor a proposta de Jesus e a atividade do mundo. A oferta de Jesus é
uma paz nascida da solidariedade, o respeito pela vida e a entrega generosa. A paz
do mundo é uma estratégia para garantir o intercâmbio de mercadoria e comércio
em geral. Mas a tranquilidade do mercado não subsistui a paz que nasce da
justiça.
Jesus deixa aos
seus discípulos a paz como um presente de despedida. Por isso, devemos entender
a paz que Jesus oferece não como se entende quando se fala de paz no mundo e
sim num sentido pleno e singularmente importante. A paz de Jesus está sempre
unida à mensagem cristã de salvação, unida ao Evangelho. A paz é um dom de Deus
(Cf. Gl 5,22-23). Trata-se do maior bem que o homem pode desejar e que Deus
pode conceder: o homem novo, filho de Deus e irmão de todos; o homem
reconciliado com Deus, e com os homens, com toda a criação e até consigo próprio.
É a paz infundida com o Espírito do Ressuscitado e que inclui, portanto, o perdão
dos pecados. Esta paz que não é deste mundo está presente também neste mundo.
Estendamos um
pouco mais nossa meditação sobre outros pontos das leituras proclamadas hoje na
nossa celebração!
Exortação
Para Ser Perseverante Na Fé Em Todos Os Momentos
“É preciso que passemos por muitos
sofrimentos para entrar no Reino de Deus”.
O texto da Primeira Leitura é a conclusão da Primeira
viagem missionária de São Paulo. Essa viagem durou três anos aproximadamente
entre os anos 45 e 48 depois de Cristo. Aconteceu quinze anos depois da morte e
ressurreição de Jesus. Foi uma primeira experiência da evangelização em terra
pagã.
Lemos na Primeira Leitura do dia anterior que
Paulo e Barnabé, depois que um paralitico de nascença foi curado, foram
tratados como se fossem deuses. Na Primeira Leitura de hoje Paulo é apedrejado
até quase morto. Paulo e seus companheiros experimentam que o Reino de Deus padece
violência e que não é fácil pregá-lo neste mundo. Mas não se deixam atemorizar.
Eles saíram de Listra para pregar em outras cidades. Eles são incansáveis em
levar adiante a Palavra de Deus. A Palavra de Deus não pode ficar muda.
Para os discípulos Paulo dá o seguinte
conselho: “É preciso que passemos por
muitos sofrimentos para entrar no Reino de Deus”. A aflição é um dos temas essenciais de São
Paulo. A fé não suprime a tribulação. O sofrimento acompanha o cristão, como
qualquer ser humano, mas seu sofrimento pode ter sentido, pois o cristão sabe
que é um passo, um momento doloroso que conduz ao Reino, à felicidade total
junto a Deus quando é consequência da evangelização. Mais tarde São Paulo vai
escrever para Timóteo: “Todos os que
quiserem viver piedosamente, em Jesus Cristo, terão de sofrer a perseguição”
(2Tm 3,12).
Com este conselho Paulo fortalecia o ânimo
dos discípulos, alentando-os a estarem perseverantes na fé. A fé não é um
tesouro que um dia se recebe e fica como tal até a morte. A fé é uma vida que
pode consolidar-se ou debilitar-se, que pode crescer ou morrer. Paulo está
consciente disso e por isso, ele alerta: “É preciso que passemos por muitos
sofrimentos para entrar no Reino de Deus”.
A fé é entrega pessoal, o submetimento total
a Deus do entendimento para crer, da vontade para praticar somente o bem e do
coração para amar. Trata-se não somente de crer em algo e sim de crer em
Alguém, de crer em Deus. Temos fé perfeita quando existe a entrega da vontade a
Deus para viver somente de acordo com a vontade de Deus, pois a vontade de Deus
é salvadora. A fé está sempre unida à esperança e à caridade, pois a fé é
garantia do que se espera (Hb 11,1) e se expressa em obras de amor (Gl 5,6).
Por isso, a fé perfeita é fruto da verdadeira conversão. Mas por si só, o homem
não pode converter-se. Ele precisa do auxílio de Deus: “Faze-me voltar e voltarei, porque Tu és Javé, meu Deus” (Jr 31,18).
Nesta volta (conversão) Deus “abre o coração” (At 16,14) ao homem.
“A fé nasce no encontro com o Deus vivo, que
nos chama e revela o seu amor: um amor que nos precede e sobre o qual podemos
apoiar-nos para construir solidamente a vida. Transformados por este amor,
recebemos olhos novos e experimentamos que há nele uma grande promessa de
plenitude e se nos abre a visão do futuro. A fé, que recebemos de Deus como dom
sobrenatural, aparece-nos como luz para a estrada orientando os nossos passos
no tempo” (Papa Francisco: Carta Enciclica: Lumen Fidei n.4).
Viver
Na Colegialidade
“Os apóstolos designaram presbíteros para cada comunidade. Com orações e jejuns,
eles os confiavam ao Senhor, em quem haviam acreditado”.
Na constituição de um grupo de anciãos
(presbíteros) percebemos o sinal da colegialidade em que os apóstolos designam
anciãos para conduzir a comunidade local cuja tarefa é assegurar a fidelidade
da comunidade. Os anciãos designados são símbolo da unidade, construtores da
unidade (cf. Cl 2,19).
Aqui vemos a relação entre a Igreja local
(comunidades presididas pelos anciãos/presbíteros) e a Igreja universal
(conduzida pelos apóstolos). Na prática judaica, ao contrário, cada comunidade
da Diáspora elege um grupo de anciãos para governa-la, sobretudo no plano
material (cf. At 11,30).
O bispo e sua diocese são sinais da
unificação universal para a condição de viver a colegialidade. O vigário/pároco
e sua paróquia realizam a mesma exigência vivendo o presbitério em união plena
com o bispo local com seus sacerdotes.
A constituição dos presbíteros nos mostra que
a própria fé não pode ser vivida somente individualmente. É necessário vive-la
em Igreja, com os outros. Será que eu compartilho minha fé com outras pessoas?
Que sentido tem para mim a Igreja? Como eu participo da comunidade local?
A
Paz Que Cristo Quer Nos Dar
Continuamos a acompanhar o “discurso” de
despedida de Jesus de seus discípulos (Jo 13-17). Ao se despedir de seus
discípulos, Jesus lhes dá a sua paz: “Eu
vos deixo a paz, eu vos dou a minha paz; não vo-la dou como o faz o mundo. Que
o vosso coração não se perturbe nem se intimide” (v.27).
Paz (Shalom, em hebraico, ou eirene, em
grego) é uma fórmula ancestral e tradicional de saudação e de despedida
entre os orientais até o dia de hoje. Os judeus na atualidade se saúdam com “Shalom”
(paz), ou se perguntam: “mi shelomkha?”
(Como está?) que literalmente pode ser traduzido “como está tua paz?”. Ao se
despedir se desejam shalom u-berakhah
(paz e bênção).
Paz (Shalom) que é a saudação habitual entre
os judeus tem uma grande densidade de significado, pois este termo não
significa apenas a ausência de conflitos ou a tranquilidade da alma, mas também
a saúde, a prosperidade, a felicidade em plenitude. A palavra “Shalom” talvez
possa ser traduzida com uma expressão que todos nós desejamos aos outros: “Tudo
de bom”. “All the best” para os da língua inglesa. Desejar a paz significa
desejar tudo de bom para o próximo. Desejar “Shalom” é desejar a alguém uma
harmonia com tudo, com todos e com o Todo por excelência que é o próprio Deus.
Ao se despedir dos discípulos, Jesus não lhes
deseja a paz, mas ele lhes dá a paz:
“Eu vos deixo a paz”, e
insiste: “Eu vos dou a minha
paz”.
Que tipo de paz que Jesus quer oferecer aos
discípulos e a todos nós? Não se trata de um simples augúrio de paz, mas de um
verdadeiro dom. A paz é um dom, vem do alto: não surge da decisão do homem. Por
isso, não pode reduzir-se ao nível de sentimento. Trata-se de uma palavra que
salva, que vai à raiz, lá onde está a origem da verdadeira paz (a origem do
mal). A paz de Jesus tem como efeito banir/expulsar do coração dos discípulos
todo e qualquer resquício/resíduo de perturbação ou de temor que leva ao
imobilismo. Possuindo o dom da paz de Jesus, todos os seguidores de Cristo
devem manter-se imperturbáveis, sem se deixar intimidar diante das
dificuldades. Assim pensada, a paz de Jesus consiste numa força divina que não
deixa os discípulos rompam a comunhão com Jesus. É Jesus mesmo, presente na
vida dos discípulos, sustentando-lhe a caminhada, sempre disposto a seguir
adiante com alegria, rumo à casa do Pai, apesar das adversidades que deverão
enfrentar. Dizendo “vai em paz”, Jesus cura a hemorroíssa (Lc 8,48) e perdoa os
pecados à pecadora (Lc 7,50). A paz de Jesus nasce da vitória sobre o pecado e
suas consequências. A paz de Jesus funda-se no amor fraterno e na justiça. A
paz de Jesus, por isso, rejeita toda espécie de idolatria que coloca criatura
no lugar de Deus e submete o ser humano a um regime de opressão. João enfatiza
que Jesus é o mediador da paz; é neste sentido que Jesus a qualifica de
“minha”. Os verbos estão no presente, sublinhando, assim, a realidade atual e a
duração indefinida do dom. O Filho dispõe a paz que, segundo a Bíblia, só Deus
pode conceder. A paz caracteriza os tempos messiânicos (Sl 72,7). O Messias tem
por nome “o Príncipe da Paz” (Is 9,5s). A aliança escatológica é uma “aliança
de paz” (Is 66,12). Todo o NT se mostra herdeiro dessa tradição para acentuar a
reconciliação com Deus (At 10,36; Rm 5,1; Ef 2,14-17;Cl 1,20 etc.).
“Mas não dou a paz como o mundo a dá”, disse
Jesus. E m que consiste a paz do mundo?
A paz que o mundo oferece prescinde de Deus e
se funda num projeto contrário ao dele. Aí, se encontram a injustiça, a
concentração de bens à custa da exploração alheia, o desrespeito pelo ser
humano. É o império do egoísmo que idolatra pessoas e coisas, e transforma os
indivíduos em seus escravos. Por isso, é uma paz que conduz à morte eterna.
Segundo o mundo, para ter paz todos tem que se preparar para a guerra. “Si
vis pacem, para bellum!” (Expressão latina). “Se desejas a paz, prepara-te para a guerra”. “Devemos amar a paz
sem odiar os que fazem a guerra”, dizia Santo Agostinho (Serm. 357,1).
Quando o homem esquece o seu destino eterno,
e o horizonte de sua vida se limita à existência terrena, contenta-se com uma
paz fictícia, com uma tranquilidade exterior. Jesus qualifica este tipo de paz
como a paz que o mundo dá. Recuperar a paz perdida é uma das melhores
manifestações de nossa caridade para com os que estão à nossa volta. Onde
houver amor também haverá a paz. Com efeito, a verdadeira paz é o fruto do amor
a Deus e ao próximo.
Deus em quem acreditamos é um Deus da paz;
não quer a desordem, a rebelião ou tumulto. Deus está pela ordem como estada
normal das coisas, e esta ordem equivale à paz. É o mesmo Deus que na cena da
criação põe ordem no caos inicial (Gn 1,1ss), dando a entender que “criar” é em
primeiro término ordenar o caos inicial, separando o céu da terra etc. para
evitar a confusão. A paz, entendido neste sentido, se apresenta como estado normal
das coisas onde cada uma ocupa seu devido lugar. Quando cada elemento ocupar
seu próprio lugar haverá a ordem e consequentemente haverá a paz. “A paz é a tranquilidade
da ordem”, dizia Santo Agostinho.
Para refletir:
- “A fraternidade é uma dimensão essencial do homem, sendo ele um ser relacional. A consciência viva desta dimensão relacional leva-nos a ver e tratar cada pessoa como uma verdadeira irmã e um verdadeiro irmão; sem tal consciência, torna-se impossível a construção duma sociedade justa, duma paz firme e duradoura. E convém desde já lembrar que a fraternidade se começa a aprender habitualmente no seio da família, graças, sobretudo, às funções responsáveis e complementares de todos os seus membros, mormente do pai e da mãe. A família é a fonte de toda a fraternidade, sendo por isso mesmo também o fundamento e o caminho primário para a paz, já que, por vocação, deveria contagiar o mundo com o seu amor” (Papa Francisco: Mensagem Para a Celebração Do XLVII Dia Mundial Da Paz De 2014).
- Depois do Pai-Nosso se dá a paz. Que grande sacramento se esconde nesse rito. Deixa que teu beijo seja a expressão de teu amor. Não sejas Judas, que beijou Cristo com os lábios, mas já o havia traído em seu coração (Santo Agostinho: Serm. Dennis 6,3).
P. Vitus Gustama,svd
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Evangelho:
Mt 13,54-58
O Homem É a Imagem De Deus No
Mundo
O livro de Gênesis nos relatou que Deus “trabalhou” seis dias. Quando o homem trabalha, ele reproduz a imagem de Deus que trabalhou seis dias e no sétimo dia descansou. Pelo trabalho o homem toca Deus. O trabalho enobrece o homem e ele pode consagrar a Deus qualquer atividade por simples que ela seja.
“De onde lhe vêm essa sabedoria e esses milagres? Não é ele o filho do carpinteiro?”.
Jesus começa o relato dos “fatos” da vida terrena de Jesus com a rejeição/recusa pelos nazarenos: “Acas não é este filho do carpinteiro?”.
“Façamos
o homem à nossa imagem e segundo a nossa semelhança, para que domine sobre os
peixes do mar, sobre as aves do céu, e sobre todos os répteis que rastejam
sobre a terra”.
O relato do Livro de Gênesis apresenta a
criação do homem como o ponto alto de toda a criação. Depois que criou tudo,
Deus, finalmente, criou o ser humano. No mar Deus deixou os peixes e outros
semelhantes e na terra criou as plantas e os animais terrestres. Tudo foi feito
para o bem do homem.
Entre as criaturas, o homem possui uma
característica singular e única. Ele é o único ser, entre todas as criaturas,
criado à “imagem de Deus”. O conceito bíblico de “imagem de Deus” leva a uma
reciprocidade na relação Deus-homem. Deus é o tudo do homem. No âmago do humano
está a abertura construtiva, inexorável para Deus. Dentro de si o homem tem
algo de Deus, pois ele é o fruto do sopro de Deus. Por ter sido feito do barro
da terra, à semelhança dos animais, é mortal. Mas por ser vida da vida de Deus
é transcendente. O sopro divino é o que coloca o homem no âmbito humano e o
distingue dos animais e de outras criaturas.
O homem é a imagem e a semelhança de Deus.
Por isso, o homem é o tu de Deus. Quando olha para a criatura humana, o próprio
Deus se vê refletido no homem. Deus não criou o homem como objeto qualquer, mas
Ele o criou como um ser correspondente, capaz de responder ao “tu” divino.
O homem é “imagem de Deus” por sua
autoridade sobre o universo, por sua inteligência criadora com que foi posto em
condições de dominar a natureza, desenvolvê-la e transformá-la.
Como “Imagem de Deus” o destino terreno do
homem não é viver por viver; trabalhar, amar, reproduzir-se ou dominar a
criação e sim conviver, compartilhar a vida com Deus e caminhar juntos. O homem
jamais perderia a consciência de ser “Imagem de Deus”. Tudo que o homem fizer,
deve refletir o querer de Deus.
Por isso, vem a pergunta: será que minha
maneira de viver revela ao mundo que sou imagem de Deus? Será que o mundo
percebe que sou imagem de Deus? será que eu faço morrer a imagem de Deus em mim
que leva o mundo a crer sobre a “morte” de Deus no mundo?
O Trabalho É Sagrado Porque
Mantém a Vida Do Homem
O livro de Gênesis nos relatou que Deus “trabalhou” seis dias. Quando o homem trabalha, ele reproduz a imagem de Deus que trabalhou seis dias e no sétimo dia descansou. Pelo trabalho o homem toca Deus. O trabalho enobrece o homem e ele pode consagrar a Deus qualquer atividade por simples que ela seja.
Para a Bíblia, o trabalho é uma função
sagrada, é algo que de certa forma pertence ao mundo e ao próximo, é aquilo que
deve ocupar o tempo do homem. O trabalho é sagrado
porque mantém a vida do homem, e Deus é sensível ao sofrimento da vida e ao
trabalho do homem. O trabalho é o meio de subsistência do homem. A Bíblia não tem uma única palavra de
louvor para o preguiçoso e a pobreza, quando é consequência da preguiça. A
preguiça nunca é considerada virtude. São Paulo nos recorda: “Quem não quer
trabalhar, também não há de comer” (2Ts 3,10).
O trabalho é também um caminho de realização
da pessoa, o meio pelo qual o homem atualiza suas possibilidades e exercita
suas capacidades. O trabalho é um elemento de personificação e de humanização.
O que importa na vida do homem é o esforço sempre renovado. É o amor que se
coloca em tudo aquilo que faz.
Mas o homem precisa estar consciente de que
o trabalho deve possibilitar viver e desfrutar a vida. Jamais podemos ser
escravos do trabalho. O homem trabalha para viver e não viver somente para
trabalhar. Todos condenam a preguiça, mas nem todos estão conscientes dos
perigos do excesso de trabalho.
Na Bíblia, Deus se manifesta como Aquele que
trabalha, mas que depois descansa. Deus quer que o homem interrompa seus
afazeres, recupere suas energias e encontre tempo para elevar seu olhar mais
para o alto. O preceito sabático, na Bíblia, existe para libertar o homem de
seu próprio trabalho. O significado profundo do preceito sabático está em
romper a alienação do trabalho. O preceito sabático existe para impedir que o
homem pense que ele somente vale aquilo que produz. O homem deve saber que o
seu “ser” e aquilo que ele “faz” ou “produz” são coisas completamente
distintas. Um mundo que valoriza somente segundo o critério de desempenho não
pode ser considerado um mundo humano e sim um mundo mecanizado.
Paralelamente, o preceito cristão do
descanso dominical existe para libertar o homem de seu próprio trabalho. É o
homem que dá valor ao seu trabalho ou à função que desempenha, e não o
contrário. O trabalho em excesso pode embotar a mente e oprimir o espirito,
convertendo assim o trabalho numa espécie de ídolo.
Em Nazaré Jesus Ajuda José No
Trabalho Como Carpinteiro
“De onde lhe vêm essa sabedoria e esses milagres? Não é ele o filho do carpinteiro?”.
Jesus começa o relato dos “fatos” da vida terrena de Jesus com a rejeição/recusa pelos nazarenos: “Acas não é este filho do carpinteiro?”.
A palavra “carpinteiro” (tékton) somente
aparece em Mc 6,3 e Mt 13,55 em todo o Novo Testamento. Em grego “tékton” não
significa somente uma pessoa que trabalha com madeira, mas também com ferro
(serralheiro) e pedra (pedreiro). Jesus trabalhava com essas coisas
acompanhando seu pai adotivo, José.
No texto de Marcos (Mc 6,3) o termo
“carpinteiro” (tékton) se aplica a Jesus: é a única passagem bíblica em que se
menciona o ofício de exercido por Jesus: “Não é este o carpinteiro?”. Em Mateus
o termo se aplica a José: “Não é ele o
filho do carpinteiro?”.
José trabalha (carpinteiro) e Jesus
(carpinteiro/filho do carpinteiro) também como sua Mãe, Maria, dona de casa. O
trabalho é a expressão cotidiana do amor na vida da família de Nazaré. O tipo
de trabalho para manter a família é carpintaria. A simples palavra
“carpinteiro” abarca toda a vida de São José.
Para Jesus, os anos em Nazaré (antes de sua
vida pública) são os anos da vida escondida da qual fala o evangelista Lucas
atrás do episódio no Templo: “Em seguida,
desceu com eles a Nazaré e lhes era submisso” (Lc 2,51ª). Esta “submissão”
quer dizer, primeiramente, a obediência de Jesus na casa de Nazaré. Em segundo
lugar, esta “submissão” é entendida também como participação no trabalho de
José. O que era chamado o “filho de carpinteiro” aprendeu o trabalho de seu pai
adotivo, José.
O trabalho humano, especialmente o trabalho
manual, tem no Evangelho um significado especial. Junto à humanidade do Filho
de Deus, o trabalho faz parte do mistério da encarnação. Graças ao seu
trabalho, sobre qual exerce sua profissão com Jesus, São José aproxima o
trabalho humano ao mistério da redenção. No crescimento humano de Jesus “em
sabedoria, idade e graça” representou uma parte notável a virtude da
laboriosidade. O trabalho faz o homem, em certo sentido, mais homem.
O trabalho humaniza o homem e através de seu
trabalho honesto ele se diviniza e potencia sua humanidade. Trabalhando com
Jesus, são José se diviniza, pois Jesus é o Deus-conosco. São José Operário,
interceda por nós para que através de nosso trabalho possamos nos humanizar mais
a fim de que consigamos ser divinizados. Assim seja!
P.
Vitus Gustama,svd
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