Domingo,29/04/2018
PERMANECER
EM CRISTO PARA PRODUZIR BONS FRUTOS
V DOMINGO DA
PÁSCOA ANO “B”
Naqueles dias, 26Saulo
chegou a Jerusalém e procurava juntar-se aos discípulos. Mas todos tinham medo
dele, pois não acreditavam que ele fosse discípulo. 27Então Barnabé tomou Saulo
consigo, levou-o aos apóstolos e contou-lhes como Saulo tinha visto o Senhor no
caminho, como o Senhor lhe havia falado e como Saulo havia pregado, em nome de
Jesus, publicamente, na cidade de Damasco. 28Daí em diante, Saulo permaneceu
com eles em Jerusalém e pregava com firmeza em nome do Senhor. 29Falava também
e discutia com os judeus de língua grega, mas eles procuravam matá-lo. 30Quando
ficaram sabendo disso, os irmãos levaram Saulo para Cesaréia, e daí o mandaram
para Tarso. 31A Igreja, porém, vivia em paz em toda a Judeia, Galileia e
Samaria. Ela consolidava-se e progredia no temor do Senhor e crescia em número
com a ajuda do Espírito Santo.
Segunda Leitura: 1Jo 3,18-24
18Filhinhos, não amemos
só com palavras e de boca, mas com ações e de verdade! 19Aí está o critério
para saber que somos da verdade e para sossegar diante dele o nosso coração,
20pois, se o nosso coração nos acusa, Deus é maior que o nosso coração e
conhece todas as coisas. 21Caríssimos, se o nosso coração não nos acusa, temos
confiança diante de Deus. 22E qualquer coisa que pedimos recebemos dele, porque
guardamos os seus mandamentos e fazemos o que é do seu agrado. 23Este é o seu
mandamento: que creiamos no nome do seu Filho, Jesus Cristo, e nos amemos uns
aos outros, de acordo com o mandamento que ele nos deu. 24Quem guarda os seus
mandamentos permanece com Deus e Deus permanece com ele. Que ele permanece
conosco, sabemo-lo pelo Espírito que ele nos deu.
Evangelho: Jo 15,1-8
Naquele
tempo, Jesus disse a seus discípulos: 1“Eu sou a videira verdadeira
e meu Pai é o agricultor. 2Todo ramo que em mim não dá fruto ele o
corta; e todo ramo que dá fruto, ele o limpa, para que dê mais frutos ainda. 3Vós
já estais limpos por causa da palavra que eu vos falei. 4Permanecei
em mim e eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo,
se não permanecer na videira, assim também vós não podereis dar fruto, se não
permanecerdes em mim. 5Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que
permanece em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada
podeis fazer. 6Quem não permanecer em mim, será lançado fora como um
ramo e secará. Tais ramos são recolhidos, lançados no fogo e queimados. 7Se
permanecerdes em mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que
quiserdes e vos será dado. 8Nisto meu Pai é glorificado: que deis
muito fruto e vos torneis meus discípulos.
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O texto se
encontra no complexo literário de Jo 13-17 que fala da despedida de Jesus de
seus discípulos. Na presença dos seus amigos íntimos, Jesus começa a transmitir
sua mensagem final (Jo 13,31-17,26). Como qualquer grande líder que reúne seus
seguidores na véspera de sua morte para dar-lhes instruções quando ele partir,
também Jesus, antes de sua morte, faz a mesma coisa. Mas ele lhes garante que
sua morte não é um fim, pois ele vai para seu Pai. Aqui, nestes capítulos,
Jesus repetidamente promete que ele vai voltar para os discípulos através de
sua ressurreição e do dom do Espírito Santo. Esta volta vai trazer-lhes paz e
alegria, e que os discípulos vão entrar também na comunhão de sua vida através
do Espírito, que é o dom de Jesus ressuscitado.
“Eu sou a
verdadeira videira e vós, os ramos”, diz Jesus. Esta imagem serve para
sublinhar a comunicação e circulação de vida divina que existe entre Jesus e
aqueles que nele crêem. Meditar estas palavras sobre a videira e os ramos
significa encontrar a relação que nos liga, na sua dimensão mais profunda, a
Ele. É uma relação mais profunda até do que aquela que existe entre pastor e o
rebanho, sobre a qual meditamos no domingo anterior. No evangelho deste domingo
descobrimos onde é que reside a força interior de nossa religião (2Tm 3,17). É
em Jesus.
Quando Jesus se
autoproclama como a “verdadeira videira”, é porque existe outra videira falsa. A
verdadeira videira é a imagem que evoca vida, seiva, fruto abundante ou ramos
cheios de frutos de qualidade.
Somos
Ramos Da Verdadeira Videira Que é Cristo
Se no Domingo passado, São João nos advertia
que o mundo não nos conhece porque não conhece Pai em Cristo (1Jo 3,1), as leituras
de hoje (deste Domingo) nos ajudam a reconhecermos nosso próprio ser cristão: “Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que
permanece em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada
podeis fazer”, diz-nos Senhor. Isto quer nos dizer que estamos enraizados
numa origem, dado no Batismo, que nos dá força e produz fruto, em virtude da
qual podemos viver uma existência útil e cheia de sentido.
Se Cristo é a videira e nós somos os ramos,
logo cada cristão, seguidor do Senhor deve estar desarraigado de si mesmo e
desconcentrado. Sua morda e seu centro, de agora em diante, se encontram em
Cristo de quem provem toda sua força. Cristo, sua vida, sua mensagem
constituem, pois, o terreno vital no qual deve radicar a Igreja, todos os cristãos.
Se a Igreja, se cada cristão radica sua vida “em outra parte”: na força, no
poder, no triunfo, no número, no prestígio, na riqueza, pode ser tudo, menos a
vinha do Senhor, e está condenado inexoravelmente à esterilidade.
Além disso, a nós toca a tarefa de não rompermos
esse vínculo que nos vincula com o Ressuscitado. Trata-se duma incorporação
interior e profunda mediante a fé, a graça e a caridade. E também uma
incorporação garantida externamente mediante nossa permanência visível à própria
Igreja, una, santa, católica e apostólica que é o próprio Corpo místico do
Senhor no qual Ele é a cabeça (Cf. Cl 1,18; Ef 5,22; 1Cor 12,27). Cristo
constituiu a Igreja para prolongar sua obra de salvação até o fim dos tempos.
Uma união com Jesus que não é algo automático
nem ritual pede a decisão do homem. Esta união mútua entre Jesus e os
discípulos, os cristãos, será a condição para a existência da comunidade, para
sua vida e para o fruto que deve produzir. O ramo não tem vida própria, e
portanto, não pode dar fruto por conta própria. O ramo necessita da seiva, isto
é, o Espirito comunicado por Jesus.
Jesus
Cristo É a Verdadeira Videira
Assim como no domingo passado, no Evangelho
do Bom Pastor (Jo 10,11-18), somos agora surpreendidos pela afirmação absoluta
de Jesus: "Eu sou a verdadeira
videira". Não diz o que foi ou o que será, porque já é a verdadeira
videira, aquela que dá o fruto. Tais afirmações devem ser ouvidas da
experiência pascal e com fé na ressurreição do Senhor. Jesus vive e é para
todos os crentes o único Autor da vida e o Princípio de sua organização. A
seiva sai dessa verdadeira Videira, e é ela quem mantém os galhos juntos em
vista da mesma função: "dar frutos". Jesus é a cepa ou tronco, a raiz
e o alicerce a partir do qual se estende a verdadeira "vinha do
Senhor".
A vinha e a videira são uma imagem amplamente
utilizada no Antigo Testamento para referir-se a Israel como povo de Deus, e é
recolhida também pelo Novo Testamento. Mas agora a videira não se refere ao
povo de Israel e sim que se aplica diretamente ao próprio Jesus.
“Eu
sou a verdadeira videira”. Como Filho de Deus (Jo 3,16), Jesus se designa a
si mesmo, como a videira, no sentido de que somente Ele, como Filho de Deus,
pode ser a videira. Jesus se põe no lugar que até agora costumava ocupar o povo
de Israel. Jesus é a verdadeira videira no sentido de que Ele é quem dá a
autêntica vida que provem de Deus, que encontra sua fonte no Pai.
Permanecer
Em Cristo Resulta Na Produção De Bons Frutos
Jesus vive e é para todos os crentes o único
Autor da vida (Cf. Jo 1,3-4) e o princípio de sua organização. Jesus é a cepa
ou tronco, a raiz e o alicerce a partir do qual podem viver e frutificar os
ramos. Entre os ramos e a videira há uma comunicação de vida enquanto
permanecerem unidos à videira. E esta é a condição para o ramo dar fruto: “Eu
sou a videira e vós os ramos. Aquele que permanece em mim, e eu nele, esse
produz muito fruto”.
A expressão “permanecer” tem em Jo uma
conotação do definitivo, do perene no relacionamento com Jesus fundado na fé,
um relacionamento de confiança e fidelidade recíproca que existe entre Jesus e
seus seguidores. Com esta permanência, os seguidores terão condições de
produzir frutos. O sentido é o da mútua união de Deus (ou Jesus, ou o
Paráclito) nos seus e deles em Deus. Não se trata de uma mera “união moral”
entre os fiéis e Jesus/Deus. Da parte de Deus (em Jesus) trata-se da presença
salvífica; e, na medida em que abrimos espaço para a presença de Deus no meio
de nós e em nós, também nós “permanecemos” no âmbito dele. E da parte dos fiéis
(nós), esse permanecer significa concretamente o continuar na profissão de fé
em Jesus e a comunhão do amor fraterno. Somente em contato com Jesus temos vida
e força interior, capacidade e constância para transformar a dura realidade e
vencer o mal dentro e fora de nós.
“Aquele
que permanece em mim, e eu nele, esse produz muito fruto”. O fruto aqui é o
efeito da morte do grão de trigo, isto é, é a expressão do amor sem medida. O
fruto é a realidade do homem novo, isto é, o homem que não existe só para si,
mas que se esforça a morrer de seu egoísmo e a viver para Deus e para os
demais.
“E
todo ramo que dá fruto, ele o limpa, para que dê mais frutos ainda”. Quem
pratica o amor, tem que seguir um processo ascendente, um desenvolvimento que é
possível mediante esta poda permanente que o Pai faz. É a limpeza que o Pai faz
do coração do discípulo de Cristo, eliminando cada vez mais os fatores e os
sinais de morte, fazendo que o ramo-discípulo seja cada vez mais autêntico e
produtivo, mais livre para amar, menos escravo de si mesmo, e com a maior
capacidade de entrega e portanto, de eficácia no amor fraterno.
Nossa
Verdadeira Humanidade Se Encontra Em Cristo Jesus
“Sem
mim nada podeis fazer”, disse-nos Jesus. Isto quer nos dizer que Jesus é a
força do homem, não somente para ser cristão e sim para ser plenamente homem.
Jesus é a humanidade autêntica. É a revelação do que o homem tem que chegar a
ser e como tem que alcançá-lo. Por isso, Jesus é meta e caminho do homem: “Eu
sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6).
A partir da afirmação do Senhor sabemos que nosso
ser mais autenticamente humano não o descobrimos a base de filosofias nem de
razocionamentos; não o descobrimos a base de especulações, e sim na
contemplação de Jesus e na união permanente com Ele. Por isso, o cristianismo é
distinto de toda religião e de todo humanismo. É distinto de toda religião,
porque o que está em seu centro não é Deus e sim o homem. Por causa do homem,
Deus nviou seu Filho unigênito para que o mundo seja salvo (Cf. Jo 3,16;
10,10b; Mt 25,40.45). E é distinto de todo humanismo porque a razão dessa
centralidade do homem não radica no próprio homem e sim somente em Deus. Todo
processo de cristianização é ao mesmo tempo um processo humanizador. Deus se
fez homem para o homem se tornar divino. Através da humanização o homem alcança
sua divinização. Deus desce até a nossa humanidade para que nossa humanidade
alcance a divindade.
Um
Alerta Sobre Ramo Seco Dentro De Nós
“Quem não permanecer em mim, será lançado fora como um
ramo e secará. Tais ramos são recolhidos, lançados no fogo e queimados”.
O ramo que não dá fruto é aquele que pertence
à comunidade, mas não responde ao Espirito de Jesus; aquele que come o Pão da
Vida, mas não se torna semelhante a Jesus; é aquele que escuta a Palavra de
Deus, mas espalha os comentários maldosos; é aquele fica de joelho diante do
Santíssimo, mas pisa sobre a dignidade alheia. É o ramo que não responde à vida
que a ele é comunicada.
Estar em Cristo é acolher Cristo e escutar
sua Palavra e viver conforme esta Palavra; é ter seus mesmos sentimentos e
atitudes; é morrer e viver com Ele; é crucificar a “carne” para viver no
Espirito; é viver na liberdade e no amor; é viver a filiação divina e a
fraternidade; é viver em total comunhão com Ele e não ter outra vida que
Cristo. Estar unido a Cristo é viver em comunhão com Ele, é deixar-se alentar por
Ele. Que seu Espirito me inspire e me vivifique. Estar em Cristo é viver de,
em, por e para Cristo. Tudo isso se realiza, naturalmente, através da escuta,
da oração, da colaboração, dos compromissos como membros do Corpo do Senhor, e
através do amor fraterno. A seiva é como o sangue do corpo saudável no qual o
sangue circula livremente levanto o que é bom para o corpo em função de seu bom
funcionamento.
Uma das maiores tragédias dos cristaos é a de
“praticar a religião” sem nenhum contato com o Vivente. O cristão começa a
descobrir a verdade da fé cristã quando acerta a viver em contato pessoal com o
Ressuscitado. Somente então se descobre que Deus não é uma ameaça ou um
Desconhecido e sim Alguém vivo que põe nova força e nova alegria em nossas
vidas. Frequentemente, nosso problema não é viver envoltos em problemas e
conflitos constantes. Nosso problema mais profundo é não ter força interior
para enfrentarmos os problemas diários da vida.
Portanto, “Eu sou a videira e vós os ramos.
Aquele que permanece em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim
nada podeis fazer” é o convite diário do Senhor para todos nós cristãos.
P. Vitus Gustama,SVD
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