09/07/2018
JESUS, O AMOR ENCARNADO DO PAI, É FIEL E MISERICORDIOSO
Segunda-Feira
da XIV Semana Comum
Primeira Leitura: Os 2,16.17b-18.21-22
Assim fala o Senhor: 16
Eis que eu a vou seduzir, levando-a à solidão, onde lhe falarei ao coração; 17b
e ela aí responderá ao compromisso, como nos dias de sua juventude, nos dias da
sua vinda da terra do Egito. 18 Acontecerá nesse dia, diz o Senhor, que ela me
chamará ‘Meu marido’, e não mais chamará ‘Meu Baal’. 21 Eu te desposarei para sempre; eu
te desposarei conforme as sanções da justiça e conforme as práticas da
misericórdia. 22 Eu te desposarei
para manter fidelidade e tu conhecerás o Senhor.
Evangelho: Mt 9, 18-26
18 Enquanto Jesus estava
falando, um chefe aproximou-se, inclinou-se profundamente diante dele, e disse:
“Minha filha acaba de morrer. Mas vem, impõe tua mão sobre ela e ela viverá”.
19 Jesus levantou-se e o seguiu, junto com os seus discípulos. 20 Nisto, uma
mulher que sofria de hemorragia há doze anos veio por trás dele e tocou a barra
do seu manto. 21 Ela pensava consigo: “Se eu conseguir ao menos tocar no manto
dele, ficarei curada”. 22 Jesus voltou-se e, ao vê-la, disse: “Coragem, filha!
A tua fé te salvou”. E a mulher ficou curada a partir daquele instante. 23
Chegando à casa do chefe, Jesus viu os tocadores de flauta e a multidão
alvoroçada, 24 e disse: “Retirai-vos, porque a menina não morreu, mas está
dormindo”. E começaram a caçoar dele. 25 Quando a multidão foi afastada, Jesus
entrou, tomou a menina pela mão, e ela se levantou. 26 Essa notícia espalhou-se
por toda aquela região.
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Deus É Fiel e Misericordiosa
A partir de hoje até a próxima sexta-feira
refletimos sobre o profeta Oseias nas Primeiras Leituras.
O profeta Oseias vive no reino do Norte
(Israel) durante o governo do rei Jeroboão II (782-753 a.C). A atuação
profética de Oseias coincide com a de Amós, no início, e com a de Isaías e
Miqueias, no final. Com o Jerobão II, o reino do Norte passa por um período de
prosperidade, mas, ao mesmo tempo, reinam-se também a injustiça social e a
corrupção. Neste período os ricos exploram e oprimem os pobres. Além da crise
social e política, há crise religiosa: a idolatria, isto é, a adoração a Baal,
deus feníciocananeu da natureza e da fertilidade, e a adoração do bezerro feito
de ouro mandado fazer pelo rei Jeroboão I que foi a razão da divisão do reino
de Salomão.
A infeliz experiência matrimonial de Oseias,
homem amante e apaixonado, serviu de pano de fundo para um aprofundamento na
relação de Deus com seu povo.
Para o profeta Oseias, a mulher prostituta
com quem Oseia deverá se casar é, na realidade, o país (Israel) prostituido e
afastado do Senhor. a linguagem de prostituição é usada para descrever a
infidelidade de Israel (idolatria) e o amor inquebrantavel de Deus. O amor de
Deus pelo povo é eterno (cf. Jr 31,3), apesar da infidelidade da parte do povo.
Chama a atenção o fato de que, no início do
livro do profeta Oseias, Javé mande que o profeta Oseias se case com uma
“prostituta”. A partir dos estudos existentes, o mais verossímil é pensar que
Oseias se casou com uma jovem normal que, posteriormente, lhe foi infiel, indo
embora com outro.
A experiência da infidelidade da esposa serve
para Oseias como base para denunciar as relações do povo com Javé (Yhwh). Isso
nos leva para uma importante constatação de que as experiências vividas por um
crente em determinado nível de sua personalidade afetam a pessoa em sua
globalidade e por conseguinte em sua experiência de fé, como Oseias que
experimenta a infidelidade em nível psicológico-existencial. Este salto dado
permite Oseias ter um olhar de fé em termos de infidelidade na relação entre o
povo com Javé. Oseias nos ensina que é necessário descobrirmos a ação de Deus
em nossa vida cotidiana e fazermos dela o caminho “normal” de nosso crescimento
total para que tenhamos uma sabedoria de viver nosso cotidiano. Oseias descreverá este Deus com imagens belíssimas e
claríssimas no seu livro.
Oseias que significa “Deus/Javé salva”,
começa sua atividade profética nos últimos anos do rei Jerobão II (782-753), no
reino do Norte, pouco depois que o profeta Amós, seu contemporâneo, foi expulso
do reino do Norte (veja as reflexões da
semana anterior sobre Amós).
Quando chegam à Palestina (vindo do Egito), os israelitas se tornam um povo de pastores seminômades. A imagem divina que possuíam era a de um Deus
de pastores que protegia suas migrações, guiava-os pelo caminho e salvava-os no
combate contra tribos e povos vizinhos (cf. Sl 23). Mas quando se estabeleceram
em Canaã, mudaram parcialmente de profissão, tornando-se agricultores. Muitos dos
israelitas não podiam conceber que um Deus de pastores pudesse ajudá-los a
cultivar a terra, enviar-lhes a chuva, garantir-lhes estações propícias e uma
boa colheita. O deus especialista da agricultura era o cananeu Báal.
Os israelitas aceitaram esse culto, embora implicasse práticas muito
degradantes, como a “prostituição sagrada”.
Mas Javé (Yhwh) é um Deus pessoal
e intransigente, que não permite competição de nenhum tipo: “Acontecerá nesse dia, diz o Senhor, que ela
me chamará ‘Meu marido’, e não mais chamará ‘Meu Baal’”.
Em “aquele dia”, é tão impreciso como seguro.
A expressão “eu te desposarei” é
três vezes repetida no texto lido hoje para fazer notar a importância da
intenção divina em salvar os homens, apesar de sua infidelidade, e a solenidade
do ato baseado na misericórdia. De modo que “não mais chamará ‘Meu Baal’ e sim
‘Meu marido’”.
Aqui quem paga o preço da infidelidade do
povo é o próprio Javé. Oseias coloca cinco presentes de Javé que são essenciais
para a felicidade e a santidade do povo: “Direito e justiça”
divinas para com o povo que é “esposa infiel”; “retidão”:
Javé buscará sempre o reto como norma de suas ações; “amor
constante”, não somente afetividade ou sentimento e sim afetividade
que implica solidariedade, lealdade e assistência; “misericórdia” porque Javé sabe das
debilidades humanas e por isso, saberá compreender e perdoar a fragilidade
inata do povo; e finalmente, “fidelidade”:
Javé será um Deus-Esposo em quem sempre pode fiar e confiar. Trata-se de uma mensagem cheia de esperança para quem não
vê sua situação sem saída. Deus é fiel porque Ele é fiel para si próprio. É
como a água que continua sendo água mesmo que o homem a maltrate.
JESUS É O DEUS-CONOSCO
QUE SALVA
1. Um Chefe Que
Suplica A Jesus Pela Filha Morta: Jesus É A Ressurreição E A Vida
Os dois episódios no evangelho de hoje (uma
menina morta que voltou a viver e uma mulher curada de sua hemorragia) se
encontram também em Marcos (Mc 5,21-43) e em Lucas (Lc 8,40-56).
Em Mateus, no primeiro episódio, aquele que
se aproxima de Jesus que suplica pela filha morta não tem nome. Simplesmente
ele é “um chefe”. Não se diz que é um chefe da sinagoga como em Marcos e Lucas
nos quais se fala de Jairo. Este chefe que manifesta sua fé em Jesus nos leva
ao episódio do centurião que pediu a cura para seu empregado (Mt 8,5-13). Mas o
caso do chefe é grave, pois trata-se da filha morta.
Neste primeiro episódio do evangelho deste
dia Jesus se encontra, então, diante da morte de uma menina e o pai desta pede
a Jesus para impor sua mão sobre ela a fim de ela voltar a viver: “Minha
filha acaba de morrer. Mas vem, impõe tua mão sobre ela e ela viverá”.
Trata-se de um pobre chefe esmagado pela dor: a morte de sua filha. Há situações
diante das quais a força humana (chefe) fica impotente, como diante da morte.
Nessas situações só a fé é que pode nos ajudar, como fez o pai da menina
falecida. É algo surpreendente a confiança posta por esse homem em Jesus. É uma
verdadeira fé no impossível: fé no poder de Jesus de fazer sua filha voltar a
viver. Lá onde a força humana terminar, a fé a continuará. Jesus não se resiste
a este tipo de oração. “Jesus se levantou e o seguiu junto com seus
discípulos”, assim relatou Mateus.
Quando chegou à casa da menina morta, Jesus
disse à multidão: “Retirai-vos porque a menina não morreu e sim está
dormindo”. Jesus quer dizer que para ele
e para o poder de Deus a morte não significa mais que um sono ligeiro. Morrer é
descansar em paz nos braços do Pai celeste. Da mesma maneira Jesus também falou
de Lázaro morto: “Nosso amigo Lázaro está dormindo e vou despertá-lo” (Jo
11,11). A morte para Deus não é um poder insuperável. As coisas têm um aspecto
muito distinto diante do olhar de Deus e diante da experiência do homem. Mas se
aprendermos a olhar tudo a partir de Deus, então a morte perderá seu caráter
arrepiante. Para Jesus, a morte não tem o caráter temível e definitivo. Para
ele, a morte é uma espécie de “sono” do qual Deus tem o poder de despertar. Se para
Jesus a morte não tem nenhum caráter temível, pois é apenas uma passagem para
uma vida eterna, deve ser também para quem quiser segui-lo. O cristão é chamado
a proteger a vida no seu início, na sua duração e no seu término na história,
pois Deus é a Vida por excelência e por isso, chama todos à vida, especialmente
para aqueles que vivem no desespero e na falta de esperança. A menina morta
voltou a viver por causa do poder de Jesus.
Quem é este “chefe”? Ele não tem nome nem
determinada função (se é chefe de sinagoga ou se é chefe dos judeus ou se é
chefe do sinédrio). Ele é simplesmente um chefe. Pode ser qualquer um de nós, pois, de alguma
forma, cada um é chefe: seja dentro da família, seja fora dela (na sociedade).
Uma pessoa pode ser muito importante (“chefe”) entre os homens ou muito
poderosa do ponto de vista humano, mas ela precisa também de salvação. O poder
mundano não salva, pois diante da morte tudo que é humano cai no chão. O brilho
falso tem seu fim. Somente Deus salva e nos garante a vida eterna. Do ponto de
vista humano, paradoxalmente, o aparente superpotente ou superpoderoso é, na
verdade, impotente. Mas “quando me sinto fraco, então é que sou forte”,
escreveu São Paulo à comunidade de Corinto (2Cor 12,10).
Um ser humano precisa de outro ser humano
para possibilitar seu crescimento como ser humano. Podemos possuir tudo que o
mundo tem a oferecer em termos de status, realizações e bens, no entanto, sem
nos sentirmos integrados, tudo isso parece vazio e inútil. A integração (viver
em comunidade como irmãos/família) sugere calor, compreensão e abraço. Quando
ficamos isolados, estamos propensos a ser prejudicados. Sentir-se integrada
mantém a pessoa em equilíbrio. Sempre que há distância, há também anseio.
E o ser humano, enquanto criatura, precisa do
Salvador que dá sentido para tudo na sua vida. Por isso, Santo Agostinho dizia:
“Ninguém está tão só do que aquele que vive sem Deus. E, o homem, para
onde se dirija, sem se apoiar em Deus só encontrará a dor”. Nas suas
Confissões, Santo Agostinho rezou: “Fizeste-nos para Ti, Senhor, e inquieto
está o nosso coração, enquanto não repousa em Ti. Dá-me, Senhor, saber e
compreender qual seja o primeiro: invocar-Te ou louvar-Te; conhecer-Te ou
invocar-Te. Mas quem Te invocará sem Te conhecer? (...) Que eu Te busque,
Senhor, invocando-Te; e que eu Te invoque, crendo em Ti: Tu nos foste anunciado”
(Conf. 1,1).
2. Mulher Curada Da
Hemorragia
Dentro do primeiro episódio Mateus insere
outro episodia: uma mulher que sofria de hemorragia há doze anos. Em primeiro
lugar, essa mulher não tem nome, nem se menciona sua família nem sua tradição.
Menciona-se, além disso, seus doze anos de sofrimento! O número “doze” aplicado
aos anos de sua enfermidade é clara alusão a Israel. A mulher enferma
representa, então, o povo que para que seja salvo (cura) é preciso renunciar à
Lei para entrar contato direto com Jesus. Jesus seria “impuro”, isto é, não tem
acesso a Deus (salvação) por seu contato com os “pecadores” (Mt 9,10-13). Mas
Jesus é Emanuel, Deus-Conosco (Mt 1,23; 18,20; 28,20) que vem para salvar. Para
encontrar a salvação nele é preciso se aderir a ele e fazer contato com ele.
Segundo o texto do evangelho de hoje essa
mulher não pede nada e não diz nada a Jesus. Mas ela mostra sua fé total em
Jesus. A fé dessa mulher é comparável à do chefe do primeiro episódio; sua
certeza de cura é total. Ela somente pensa e silenciosamente se aproxima de
Jesus para tocar a barra do seu manto: “Se eu conseguir ao menos tocar no manto
dele, ficarei curada”, pensou essa mulher. Jesus tinha curado o leproso com seu
contato (Mt 8,15).
A mulher que sofre de hemorragia se aproxima
e toca a orla do manto de Jesus. Este gesto era proibido na cultura judaica.
Uma mulher não podia olhar para um homem em público, muito menos tocá-lo. A situação
fica pior ainda porque a mulher está com a hemorragia que pode causar a
impureza legal para a pessoa tocada. Por ser mulher e pela sua enfermidade essa
mulher estava duplamente excluída. Mas ela não quer saber das proibições. Ela
quer encontrar-se com Jesus e tocar seu manto. Ela não quer ser escrava das
regras e dos costumes desumanos. Pois de fato, as regras culturais e de culto a
afasta da convivência e da salvação.
Quantas pessoas são escravas das regras. A
graça produz as regras, mas as regras não produzem a salvação, pois elas são
apenas meios e não o fim. Os costumes que não salvam, não podem ser mantidos.
Jesus reconhece nessa mulher a fé que
transforma sua situação triste em alegria por encontrar o Salvador, Jesus:
“Coragem, filha! A tua fé te salvou”. O termo “filha” coloca essa mulher em
relação com “a filha” do chefe. Ambas são figuras de Israel. A partir de então,
a mulher voltou a viver sua vida saudavelmente.
Os dois (chefe cuja filha estava morta e a
mulher que sofria de hemorragia há doze anos) se aproximam de Jesus com muita
fé e obtêm o que pedem. Eles confiam, se apóiam e se abandonam totalmente em
Jesus. E receberam uma resposta adequada
da parte de Jesus: a volta da filha para a vida e a cura da mulher sofrida de
hemorragia de longos anos. Por causa da fé eu preparo o espaço necessário para
que Deus possa atuar. A fé é sempre e continua sendo a condição e o fundamento
da ação salvadora de Deus no homem. A novidade do Reino trazido por Jesus não é
somente a cura, mas principalmente a ressurreição ou a salvação.
A dor daquele pai e o sofrimento daquela
mulher podem ser um bom símbolo de todos os nossos males, pessoais e
comunitários. Também agora, como em sua
vida terrena, Jesus nos quer atender e nos encher de sua força e de sua
esperança. É preciso manter nosso contato diário com Jesus para que sejamos
vivos e salvos. Na Eucaristia ele mesmo se dá como alimento, para que, quando
nos aproximamos dele e o recebemos com fé, possa curar também nossos males. Mas
a cura-salvação não é um toque mágico e sim um encontro de pessoas com Jesus. É
o encontro com Jesus na fé que cura e salva, e somente depois do encontro é que
Jesus diz as seguintes palavras: “A tua fé te salvou!”.
Para Refletir:
- A fé nasce no encontro com o Deus vivo, que nos chama e revela o seu amor: um amor que nos precede e sobre o qual podemos apoiar-nos para construir solidamente a vida. Transformados por este amor, recebemos olhos novos e experimentamos que há nele uma grande promessa de plenitude e nos é aberta a visão do futuro. A fé, que recebemos de Deus como dom sobrenatural, aparece-nos como luz para a estrada orientando os nossos passos no tempo (Papa Francisco: Lumen Fidei, Carta Encíclica).
- O contrário da fé é a idolatria. O ídolo é um pretexto para se colocar a si mesmo no centro da realidade, na adoração da obra das próprias mãos. A idolatria é sempre politeísmo, movimento sem meta de um senhor para outro. A idolatria não oferece um caminho, mas uma multiplicidade de veredas que não conduzem a uma meta certa, antes se configuram como um labirinto. A fé, enquanto ligada à conversão, é o contrário da idolatria: é separação dos ídolos para voltar ao Deus vivo, através de um encontro pessoal (idem).
- Acreditar significa confiar-se a um amor misericordioso que sempre acolhe e perdoa, que sustenta e guia a existência, que se mostra poderoso na sua capacidade de endireitar os desvios da nossa história. A fé consiste na disponibilidade a deixar-se incessantemente transformar pela chamada de Deus. Paradoxalmente, neste voltar-se continuamente para o Senhor, o homem encontra uma estrada segura que o liberta do movimento dispersivo a que o sujeitam os ídolos.P. Vitus Gustama,svd
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