segunda-feira, 9 de julho de 2018

12/07/2018
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SER CRISTÃO É SER MISSIONÁRIO DO AMOR E DA PAZ DE DEUS
Quinta-Feira da XIV Semana Comum


Primeira Leitura: Os 11,1-4.8c-9
Assim fala o Senhor: 1 “Quando Israel era criança, eu já o amava, e desde o Egito chamei meu filho. 2 Quanto mais eu os chamava tanto mais eles se afastavam de mim; imolavam aos Baals e sacrificavam aos ídolos. 3 Ensinei Efraim a dar os primeiros passos, tomei-o em meus braços, mas eles não reconheceram que eu cuidava deles. 4 Eu os atraía com laços de humanidade, com laços de amor; era para eles como quem leva uma criança ao colo, e rebaixava-me a dar-lhes de comer. 8c Meu coração comove-se no íntimo e arde de compaixão. 9 Não darei largas à minha ira, não voltarei a destruir Efraim, eu sou Deus, e não homem; o santo no meio de vós, e não me servirei do terror”.


Evangelho: Mt 10,7-15
 
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 7 “Em vosso caminho, anunciai: ‘O Reino dos Céus está próximo’. 8 Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. De graça recebestes, de graça deveis dar! 9 Não leveis ouro nem prata nem dinheiro nos vossos cintos; 10 nem sacola para o caminho, nem duas túnicas nem sandálias nem bastão, porque o operário tem direito a seu sustento. 11 Em qualquer cidade ou povoado onde entrardes, informai-vos para saber quem ali seja digno. Hos­pedai-vos com ele até a vossa partida. 12 Ao entrardes numa casa, saudai-a. 13 Se a casa for digna, desça sobre ela a vossa paz; se ela não for digna, volte para vós a vossa paz. 14 Se alguém não vos receber, nem escutar vossa palavra, saí daquela casa ou daquela cidade, e sacudi a poeira dos vossos pés. 15 Em verdade vos digo, as cidades de Sodoma e Gomorra serão tratadas com menos dureza do que aquela cidade, no dia do juízo.
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Nosso Deus é o Verdadeiro Pai Amoroso


Quando Israel era criança, eu já o amava, e desde o Egito chamei meu filho. Ensinei Efraim a dar os primeiros passos, tomei-o em meus braços. Eu os atraía com laços de humanidade, com laços de amor; era para eles como quem leva uma criança ao colo, e rebaixava-me a dar-lhes de comer”, revelou-nos Oseias sobre o Deus amoroso.


Não é difícil ouvir ou ler que o Deus do AT é um Deus duro, severo, distante que manda e impõe. É verdade que, às vezes, o povo judeu (parte do povo em certos momentos) imagina assim seu Deus. Mas é verdade que também no AT fala-se de Deus de uma imagem cheia de amor. Não se esqueça que muitas vezes o AT fala de Deus como um marido que ama entranhavelmente, como um pai que cuida incansavelmente de seus filhos. Deus ama com um amor exigente como qualquer verdadeiro amor, mas também com o amor compassivo, aberto ao perdão e nunca para de ter esperança no homem.


Quando Israel era criança, eu já o amava, e desde o Egito chamei meu filho. Ensinei Efraim a dar os primeiros passos, tomei-o em meus braços. Eu os atraía com laços de humanidade, com laços de amor; era para eles como quem leva uma criança ao colo, e rebaixava-me a dar-lhes de comer”. Através destas palavras o profeta Oseias nos revelou a natureza de Deus no Antigo Testamento. No início de seu livro (Os 2), o profeta Oseias nos revelou o Deus-esposo. No texto de hoje, ele nos revelou o Deus-Pai amoroso. O amor é expresso com toda ternura da revelação pai-filho-criança: ensina-lhe a andar, carrega-o nos braços, cuida dele, alimenta-o, beija-o com todo carinho. Falando humanamente, nenhum pai poupa seu amor pelo filho, pois para o pai, o filho é ele. O sucesso do filho é o sucesso do pai. A tristeza do filho é a tristeza do pai.


Se antes o amor de Deus pelo povo é comparado ao amor conjugal (do marido para a esposa), agora Oseias descreve este amor com traços bem ternos de um pai ou de uma mãe pelo filho que leva nos braços, a quem acaricia e beija, a quem ensina a andar, a quem atrai com laços de amor. Trata-se de um amor que se manifesta sob todas as formas de ternura. Da mesma forma que os pais mimam o filho, o levam nos braços, o dão de comer e mais tarde o ensinam seus primeiros passos, assim também se comporta Deus com seu “filho eleito”, Israel


Mas este filho agora é infiel. O povo rompeu a aliança que havia prometido guardar: “Quanto mais eu os chamava tanto mais eles se afastavam de mim”. Geralmente, como os pais não recebem nenhum agradecimento, assim também Deus não receberá mais que ingratidão por parte de seu filho, Israel. O Senhor “os atraía com laços de humanidade, com laços de amor”, mas são precisamente esses laços que impulsionam o filho a libertar-se deles e fazer-se independente: não dos pais humanos e sim de Deus: “Quanto mais eu os chamava tanto mais eles se afastavam de mim; imolavam aos Baals e sacrificavam aos ídolos”.


O que fará Deus agora? O profeta Oseias, refletindo sobre sua própria incapacidade de condenar a sua mulher infiel, descreve com traços muito humanos esse amor de Deus: “Meu coração comove-se no íntimo e arde de compaixão. Não darei largas à minha ira”, disse o Senhor. A razão mais impressionante disso: “Eu sou Deus, e não homem; o santo no meio de vós, e não me servirei do terror”. O próprio de Deus não é castigar e sim amar e perdoar. Deus é um verdadeiro “amigo” que está no meio de seu povo (Cf. Jo 15,14-15).


Mas Deus como Pai que quer envolver o filho com laços de amor, se encontra agora “prisioneiro” desses mesmo laços, porque não somente tem amor e sim que é o amor (cf. 1Jo 4,8.16). Porque “sou Deus e não homem”, Deus não pode irritar-se, não pode destruir, não pode abandonar o filho infiel que saiu da casa como o filho pródigo, mas deve esperá-lo, correr ao seu encontro, abraçá-lo e dar uma festa em sua honra (cf. Lc 15,11-32). O estilo de Deus não é o estilo vingativo do homem. A apelação surpreendente à sua santidade, à sua radical distinção de tudo e de todos é a mais forte garantia de um amor sem retrocesso. Este amor é o amor ágape que conhece uma direção só: o bem e salvação do outro. Toda a pregação de Oseias prepara esta afirmação que fará eco em outros profetas: “Pode uma mulher esquecer-se daquele que amamenta? Não ter ternura pelo fruto de suas entranhas? E mesmo que ela o esquecesse, eu não te esqueceria nunca” (Is 49,15).


A proclamação de Oseias sobre o amor de Deus que sai ao encontro do homem na dupla relação de matrimônio e filiação, de um Deus que ama simplesmente porque é Deus, e não é homem, constitui um dos capítulos mais ricos da teologia veterotestamentária. É uma antecipação daquela doutrina joanina que considera o amor como essência e realidade de Deus (1Jo 4,8.16). Somente quem tem experiência de amor pode ter experiência deste Deus que é o primeiro em amar (1Jo 4,19). Amar criadoramente significa estar presente a favor dos homens. Deus é amor e se compromete pessoalmente em favor dos homens, o amor que precede ao homem. Amor é caminho para Deus e caminho para a realização. Amar é, portanto, questão de qualidade de vida. Poe este caminho não há outro caminho para chegar até Deus.


Nós Cristãos Somos Missionários Do Amor De Deus Neste Mundo


Continuamos a acompanhar o discurso de Jesus sobre a missão (Mt 9,36-11,1).  Na passagem do evangelho de hoje Jesus dá algumas instruções para seus discípulos na tarefa de proclamar a Boa Nova.


Primeiramente, Jesus disse aos discípulos: “Em vosso caminho, anunciai: ‘O Reino dos céus está próximo’”. Jesus coloca em primeiro lugar o anúncio da Boa Nova. Onde quer que ande um seguidor de Jesus deve falar somente coisas boas. O evangelizador é aquele que sempre leva adiante o que é bom e o que é certo e o que edifica. Um seguidor não pode perder tempo em falar ou em discutir coisas que não edificam a humanidade. Qualquer cristão não pode desperdiçar o tempo com coisas fúteis, pois para ele cada minuto é o minuto da graça de Deus (Kairós).  A vida vivida apenas para satisfazer a própria vida nunca satisfaz a vida de ninguém. Não há melhor exercício para fortalecer o coração do que estender o braço para baixo e erguer pessoas esmagadas pelo peso da vida vivida. O propósito verdadeiro de nossa existência é fazer uma vida válida, bem feita e útil. Praticar e pregar o bem! Esta é a tarefa principal de qualquer cristão. Tudo o mais virá depois: “Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas outras coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6,33).


Proclamai que o reino de Deus está próximo”. Muitas vezes se busca Deus demasiadamente longe. De fato ele está próximo de nós; Ele está conosco (Mt 28,20). O Deus que Jesus revela é um Deus próximo, um Deus amoroso. Por isso, jamais eu estou sozinho, inclusive quando me sinto abandonado ou solitário, nem na minha doença nem na minha morte, pois Deus está comigo. Para poder proclamar aos demais sobre a bondade, a proximidade da presença de Deus, o cristão-missionário há que ter feito a experiência do Deus próximo em si mesmo pessoalmente.


 Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios”.  Jesus já tinha feito tudo isso: Ele curou os enfermos (Mt 8,5-15); purificou os leprosos (Mt 8,2-4); ressuscitou os mortos (Mt 9,23-25); expulsou os demônios (Mt 8,28-34). O cristão-missionário é aquele que distribui benefícios, aquele que faz o irmão crescer e viver a vida dignamente, aquele que leva a paz; aquele que nutre a vida dos outros; aquele que protege a vida em todas as suas instâncias. A exemplo de Cristo, o cristão é aquele que vive fazendo o bem para onde for, onde estiver e com quem estiver (cf. At 10,38). O cristão é aquele que pratica o bem nos momentos oportunos e inoportunos.


“Não leveis ouro nem prata nem dinheiro nos vossos cintos; nem sacola para o caminho, nem duas túnicas nem sandálias nem bastão, porque o operário tem direito a seu sustento”.  O ouro e a prata (os bens materiais) nunca vão ser nossos amigos. Os bens continuam sendo alheios a nós. Eles são necessários, mas apenas como meios para facilitar nosso trabalho. O ser humano tem que gostar do ser humano e usar os bens, e não pode usar o ser humano porque gosta dos bens materiais. É preciso que o cristão esteja despojado. Despojamento é todo um empenho para dar lugar à riqueza do poder da graça de Deus. despojamento nos torna imunes contra as ciladas da prepotência. Deus só oferecerá a riqueza da Sua graça ao que saiba despojar-se de si mesmo e das coisas materiais. Despojamento é o ponto de encontro com Deus.


Na sua instrução, Jesus pede aos discípulos para que vivam despojados: não levar nem ouro, nem prata, nem sandálias, nem bastão. Estas exigências parecem estar tomadas das normas estabelecidas para participar do culto a Deus no templo: “que ninguém entre no templo com bastão, sapatos nem com a bolsa de dinheiro”. Partindo desta norma judaica se diria simplesmente que os discípulos, na realização de sua tarefa evangelizadora devem fazer a mesma coisa diante de Deus e devem viver como estando na presença de Deus, sabendo que o êxito da missão depende de Deus.


A expressão “Estar desarmados e despojados” é usada para enfatizar que a obra é de Deus e não de um ser humano. Este estilo é chamado de “pobreza evangélica” que não se apóia unicamente nos meios materiais e nas técnicas, e sim na ajuda de Deus e na força de Sua palavra. Nós devemos confiar mais na força de Deus do que em nossas qualidades ou meios técnicos. O homem que se deixa conquistar pelo despojamento, deixa de estar alienado ou agarrado a qualquer coisa. O despojamento se torna um encontro libertador consigo próprio. ”Não andes averiguando quanto tens, mas o que tu és”, dizia Santo Agostinho (Serm. 23,3).


Recebestes de graça, de graça dai!”. Além de ter uma vida despojada, o cristão deve ser generoso e viver na gratuidade. O cristão-missionário deve atuar com desinteresse econômico, não buscando seu próprio proveito. Todos sabem que quanto mais se tem, mais se quer. A felicidade ficará cada vez mais distante quando o ser humano começar a criar mais necessidades. O espírito materialista é como beber a água salgada: quanto mais você beber, mais sede você terá. Aquele que sabe reduzir ao mínimo suas necessidades encontra uma alegria e uma liberdade maior. Possuído ou dominado pelas coisas o homem perde sua liberdade. “Onde só o amor serve e não a necessidade, a escravidão se torna liberdade” (Santo Agostinho. In ps. 99,8).


“Entrando numa casa, saudai-a: Paz a esta casa. Se aquela casa for digna, descerá sobre ela vossa paz; se, porém, não o for, vosso voto de paz retornará a vós”. Paz (Shalom) que é a saudação habitual entre os judeus tem uma grande densidade de significado, pois este termo não significa apenas a ausência de conflitos ou a tranquilidade da alma, mas também a saúde, a prosperidade, a felicidade em plenitude, harmonia com tudo e com todos. A palavra “Shalom” talvez possa ser traduzida com uma expressão que todos nós desejamos aos outros: “Tudo de bom”. “All the best” para os da língua inglesa. Desejar a paz significa desejar tudo de bom para o próximo. Desejar “Shalom” é desejar a alguém uma harmonia com tudo, com todos e com o Todo por excelência que é o próprio Deus.


O cristão jamais pode ser uma pessoa agressiva verbal e fisicamente. A serenidade produz outra serenidade. Cada sorriso gera outro sorriso. O cristão deve propor a Boa Nova e não se pode impor: os homens ficam livres. A tarefa do cristão-missionário é oferecer a paz e a alegria. Dar alento. O cristão deve saber que o trabalho não é forçar de qualquer maneira, nem Jesus fez isso. A tarefa do cristão-missionário é formular a proposta clara e convincente e logo deixa para a liberdade do homem.


A missão está marcada pela constante ameaça dos anti-valores da sociedade e pela oposição dos filhos das trevas. Estes são verdadeiros lobos que sacrificam seus irmãos para obter benefícios pessoais. Os evangelizadores não podem ser ingênuos diante deles. Os cristãos devem manter sua simplicidade, mas acompanhada pela prudência para agir sabiamente e eficazmente: “Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, pois, prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas”.


Em resumo: o cristão deve ser despojado, simples, pacífico, prudente e desarmado. Só com estas qualidades ele convence qualquer um para ser parceiro do bem e para ganhar novos evangelizadores. “A verdadeira felicidade não consiste em possuir o que se ama, mas em amar o que se deve possuir” (Santo Agostinho: In ps. 26,2,7).                         
 
P. Vitus Gustama, SVD

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