sábado, 7 de julho de 2018

11/07/2018
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SER CRISTÃO É SER PARCEIRO DO BEM
Quarta-Feira Da XIV Semana Comum


Primeira Leitura: Os 10,1-3.7- 8.12
1 Israel era uma vinha exuberante e dava frutos para seu consumo; na medida de sua produção erguia os numerosos altares; na medida da fertilidade da terra, embelezava seus ídolos. 2 Com o coração dividido, deve agora receber castigo; o Senhor mesmo derrubará seus altares, destruirá os seus simulacros. 3 Decerto, dirão agora: “Não temos rei; não temos medo do Senhor. Que poderia o rei fazer por nós?” 7 Samaria está liquidada, seu rei vai flutuando como palha em cima da água. 8 Será desmantelada a idolatria dos lugares altos, pecado de Israel; ali crescerão espinhos e abrolhos sobre seus altares; então se dirá aos montes: “Cobri-nos!” e às colinas: “Caí sobre nós!” 12 Semeai justiça entre vós, e colhereis amor; desbravai uma roça nova. É tempo de procurar o Senhor, até que ele venha e derrame a justiça em vós.


Evangelho: Mt 10,1-7
Naquele tempo, 1 Jesus chamou os doze discípulos e deu-lhes poder de expulsar os espíritos maus e de curar todo tipo de doença e enfermidade. 2 Estes são os nomes dos doze apóstolos: primeiro, Simão chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João; 3 Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o cobrador de impostos; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; 4 Simão, o Zelota, e Judas Iscariotes, que foi o traidor de Jesus. 5 Jesus enviou estes Doze, com as seguintes recomendações: “Não deveis ir aonde moram os pagãos, nem entrar nas cidades dos samaritanos! 6 Ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel! 7 Em vosso caminho, anunciai: ‘O Reino dos Céus está próximo’”.
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Semeai justiça e colhereis amor. É tempo de procurar o Senhor, até que ele venha e derrame a justiça.


Israel era uma vinha exuberante e dava frutos para seu consumo; na medida de sua produção erguia os numerosos altares; na medida da fertilidade da terra, embelezava seus ídolos. Com o coração dividido, deve agora receber castigo; o Senhor mesmo derrubará seus altares, destruirá os seus simulacros”.


O tema da vinha foi desenvolvido em todo texto bíblico. Israel era uma vinha frondosa (cf. Is 5,1-7; Ez 15; Sl 80).


Desta vez, o pecado do povo de Israel é descrito, precisamente, com imagens tomadas da vida do campo. O povo eleito era uma vinha que produzia frutos abundantes, mas agora se converteu em campo estéril, pois se esqueceu de Deus e confia apenas nas forças humanas. Consequentemente “Com o coração dividido, deve agora receber castigo; o Senhor mesmo derrubará seus altares, destruirá os seus simulacros. Samaria está liquidada, seu rei vai flutuando como palha em cima da água”.


O povo adora ídolos e se esquece do verdadeiro Deus. A idolatria ou traição é fruto de coração dividido, não consagrado ao Deus único que exige coração íntegro (cf. Os 10,2). Um coração dividido possibilita todo tipo de traição. E todo tipo de traição abre espaço para todo tipo de mentira. Onde houve a mentira, não haverá espaço para a mutua confiança que resulta na mútua acusação.


O castigo, baseado no amor e na verdade, exige a destruição do objeto de divisão dos altares e das imagens e momentos idolátricos para voltar a ser feliz de verdade tendo o coração íntegro. Pelo sentido da palavra, feliz é aquele que é capaz de produzir frutos bons na vida para si e para os convívios. Produção de bons frutos abundantemente ou suficientemente sempre causa contentamento naquele que os produz. Isso se chama felicidade. Em outras palavras, o único remédio é que Israel volte a praticar justiça e se converta a Deus, “seu esposo”: Semeai justiça entre vós, e colhereis amor. É tempo de procurar o Senhor, até que ele venha e derrame a justiça em vós”. E que Israel reconheça sua culpa: “... então se dirá aos montes: ´Cobri-nos!´ e às colinas: ´Caí sobre nós!’”. São palavras que Jesus repetirá em Lc 23,30.


Como aconteceu com Israel, na nossa vida há também nossas condutas duvidosas, coração dividido ou duplo jogo em nosso estilo de vida em nome de interesses, prazeres ou “ própria segurança” sacrificando o verdadeiro que nos traz felicidade perene. Na nossa vida também há momentos em que nos deixamos levar pelo egoísmo ou ambição que sufoca e mata a fraternidade, a justiça, a igualdade e a convivência fraterna que nos deixa isolados dos demais, atitude que acaba nos matando. O egoísmo é um suicídio silencioso.


O convite do profeta Oseias para voltar a Deus é sempre atual para todos nós de qualquer idade: “Semeai justiça entre vós, e colhereis amor. É tempo de procurar o Senhor, até que ele venha e derrame a justiça em vós”.  Quem não admite qualquer dependência de Deus, fica sem a alma magnânima em que o agradecimento e a gratidão fazem parte de uma vida saudável e humana e fraterna. O orgulhoso abandona o sentimento religioso. Sentimento religioso se baseia no reconhecimento de que fomos criados (somos criaturas e não Criadores) e de que existe um Deus que cria tudo e cuida de tudo na sua infinita providência. Ontem Oseias dizia: “Quem semeia ventos, acolhe tempestades”. Hoje Oseias nos convida a semear justiça para acolher amor e misericórdia.


A partir da primeira Leitura de hoje vamos fazer o exame de consciência se nós também criamos ídolos para abandonar o Deus verdadeiro, se levantarmos altares para os deuses falsos, se temos coração dividido como Israel. Ou seja, se decidimos seguir a Jesus com coração íntegro, mas na realidade fazemos mais caso a este mundo e seus critérios de vida, então estamos caminhando para o desmoronamento interior. E a destruição vai progressivamente do interior para o exterior de nossa vida.


Todos Nós Somos Missionários Da Misericórdia


Terminada a série de milagres narrados depois do Sermão da Montanha, entramos agora no segundo dos cinco grandes discursos de Jesus no evangelho de Mateus chamado o Discurso missionário que abrange Mt 9,36-11,1.


Há cinco grande discurso de Jesus no evangelho de Mateus:
  • Mt 5,1-7,28: Sermão da Montanha;
  • Mt 9,36-11,1: Discurso missionário;
  • Mt 13,1-52: Discurso sobre o Reino em parábolas;
  • Mt 18,1-35: Discurso sobre a vida comunitária/Igreja;
  • Mt 24,1-25,46: Discurso sobre o Julgamento final/ a Vinda do Filho do Homem).
     
    Notemos que a missão em Mt não se limita apenas aos doze, mas para todos aqueles que queriam seguir a Jesus. Por isso, neste discurso sobre a missão não se fala nem da partida dos doze (Mc 6,12-13;Lc 9,6) nem do seu regresso (Mc 6,30;Lc 9,10). O discurso sobre a missão não é endereçado para a multidão e sim para os discípulos que serão enviados. Podemos dizer que este discurso serve como um tipo de “manual” para os seguidores de Jesus na tarefa de exercer a missão neste mundo. Todos os batizados são missionários. Cada batizado é discípulo-missionário.
     
    O texto do evangelho de hoje nos fala da constituição dos Doze Apóstolos. Doze tribos. Doze Apóstolos. Doze colunas da Igreja. Os Doze são os Apóstolos e discípulos do Senhor, as testemunhas de Sua vida, iluminados com sua mensagem. Sua missão será propagar a Boa Nova de Cristo, revelar o rosto de Deus, Pai misericordioso e que os homens devem viver na fidelidade ao Senhor.
     
    É interessante observar que Jesus não buscou primeiro reunir pessoas ilustres, e sim pessoas disponíveis, capazes de segui-Lo até o fim. São aqueles que darão sua vida por Ele. O papel essencial dos escolhidos é expulsar os “espíritos imundos” e “curar os homens” de seus males. Em outras palavras são enviados para fazer o bem e destruir o mal. São chamados para ser parceiros do bem e enviados em busca de outros parceiros do bem para que o bem avance. Todos são chamados a tirar o bem que tem dentro de cada um para partilhá-lo com os outros homens para que o homem prossiga na paz e no desenvolvimento em todos os aspectos de sua vida.
               
    Judas Iscariotes faz parte de seu grupo. Ele também foi enviado para a missão, uma grande missão. Jesus tomou esse risco ao confiar a responsabilidade de sua obra para pobres humanos. dentro do homem há possibilidade para o bem ou para o mal. Por isso, há que rezar sempre por aqueles que têm responsabilidade na Igreja. Cada um de nós também tem uma missão, cada um é responsável, em uma parte da obra de salvação de Jesus. Mas cada batizado tem que ter seus momentos para para fazer um autoexame a fim de descobrir mais cedo as tendências negativas que causam a destruição da própria pessoa e da convivência, especialmente da obra salvífica do Senhor.
               
    Jesus é muito consciente da amplitude de sua obra. É necessário ter muito tempo. Sem pressa Jesus limita a missão no momento só dentro do território de Israel. Ele mesmo, durante sua vida terrena, se limitou ao que podia fazer: dirigir-se às ovelhas agarradas da casa de Israel. Mais tarde ele enviaria os discípulos pelo mundo inteiro (Mt 28,18-20). Em outras palavras, é preciso arrumar primeiro a casa. É preciso evangelizar os que estão dentro de casa para depois evangelizar os que estão fora dela que nem sempre é fácil. É o desafio de cada missionário-evangelizador.
     
    A constituição do Novo Israel (12 apóstolos) tem uma dupla finalidade: “estar com Jesus” e “ser enviados a proclamar o Reino de Deus”. O envio é o objetivo principal da constituição dos Doze. Jesus assinala a seus discípulos sua tarefa no mundo dando-lhes seu próprio poder, poder que se estende ao anúncio da proximidade do Reino e a cura de toda enfermidade. Suas palavras ficam confirmadas com uma atividade libertadora que se expressa como “expulsar espíritos imundos”.
            
    Ao enviá-los Jesus dá-lhes o poder. Mas este poder deve ser entendido como um dom de autoridade (autoridade: augere =crescer. Somente tem autoridade aquele que é capaz de fazer o outro crescer). E a autoridade tem as seguintes características: 1). Está orientado por inteiro ao ministério apostólico, ou para o serviço do bem e não para dominar ou mandar e desmandar: expulsar o mal, fazer o bem, pregar o Reino. É um dom completamente missionário. Por isso, não se trata de nenhum poder de direção ou de governo. 2). É uma autoridade conferida, mas não abandonada por Jesus a seus discípulos. 3). Jesus reconhece que haverá oposição por causa de interesses.
               
    Nem todos são sucessores dos apóstolos, mas todos são seguidores de Jesus e por isso, devem continuar, cada um em seu ambiente, a missão que cada um recebeu no batismo. Todos nós formamos a Igreja “apostólica” e “missionária”. Por isso, não vamos à missa para ir à missa. Que a missa é, de uma parte, a expressão de nossa fé, de nossa esperança e de nossa caridade. Mas de outra parte, a missa é sempre um imperativo, uma exigência para fazer operativa nossa fé, nossa esperança e nossa caridade. Por isso, quando finaliza a missa, começa a realidade na vida; quando termina a celebração eucarística ou qualquer reunião eclesial, deve começar nosso compromisso cristão; quando termina a missa, deve começar a missão. Se não a missa careceria de sentido.
               
    Somos chamados por Jesus Cristo para estar com ele a fim de aprendermos a ser parceiros do bem. Somos enviados depois do encontro com ele para fazer o bem e em busca dos novos parceiros do bem. A alma da missão é caridade. A única coisa que nos faz bem é fazer o bem. A vida não é uma luta para superar os outros, mas uma missão a ser exercida para dar o melhor de nós para a humanidade conforme os talentos recebidos de Deus. Estamos aqui neste mundo com um objetivo único, com um objetivo nobre que nos permitirá manifestar nosso mais alto potencial enquanto, ao mesmo tempo, acrescentamos valor às vidas das pessoas que estão a nossa volta. Descobrir a própria missão significa trazer mais de você mesmo para o trabalho, para a convivência e concentrar-se nas coisas que você sabe fazer melhor e dar sempre o melhor de você para os outros sem esperar nada em troca.  
     
    Todos os dias Jesus nos chama. Toda chamada é um convite. E isso implica uma certa iniciativa e interesse por parte de que o realiza. Na passagem dos discípulos de Emaús, vemos como Jesus caminhava junto a eles, mesmo assim não eram capazes de reconhecer a presença do Senhor. quantas vezes, Jesus caminha conosco e não somos capazes de descobri-Lo. E Ele que toma a iniciativa, convida e chama. Ele sai ao nosso encontro para conversar conosco e nos convidar. Quando Jesus elegeu os Doze, em cada um deles, estávamos representados como cristãos. Diz o evangelho que os chamou por seu nome.
     
    Cada dia Jesus nos chama por nosso nome. Jesus o faz através de múltiplas maneiras: algum sacramento, o testemunho de tantas pessoas, os eventos/acontecimentos da vida cotidiana. O mundo necessita da luz do cristianismo e de cada cristão, reflexo de Cristo. Quanto paz, alegria, amor e vida se reflete em quem contempla Deus. Quando Jesus disse aos Doze: “Ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel! Em vosso caminho, anunciai: ‘O Reino dos Céus está próximo’”, Ele nos convida a nos concentrarmos mais nos necessitados, nas almas atribuladas pelo pecado. Por isso, nossa mensagem deve ser uma mensagem de salvação; é uma mensagem de confiança, de esperança e de alegria; é uma mensagem transformadora; é uma mensagem capaz de tocar até o fundo do coração; é uma mensagem que interpela. Uma mensagem capaz de levantar as pessoas de suas quedas para seguir adiante com o Senhor rumo a uma vida glorificada. Sejamos apóstolos da esperança e da felicidade. Não caiamos na tentação de ser pregadores da desgraça. Deus se encarnou e transformou nosso tempo em tempo da graça e nossa vida vida em oportunidade para a salvação. Deus se fez homem para nos tornar divinos. Cada ato de caridade, de bondade, de solidariedade, de compaixão é um ato divino que se torna uma ordem para cada cristão e para cada pessoa de boa vontade: Ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel! Em vosso caminho, anunciai: ‘O Reino dos Céus está próximo”. É uma chamada para sair de nosso cantinho de sossego ao encontro de um irmão necessitado. Não esqueçamos a seguinte frase do Papa Francisco: O grande risco do mundo atual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada. Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem. Este é um risco, certo e permanente, que correm também os crentes. Muitos caem nele, transformando-se em pessoas ressentidas, queixosas, sem vida. Esta não é a escolha duma vida digna e plena, este não é o desígnio que Deus tem para nós, esta não é a vida no Espírito que jorra do coração de Cristo ressuscitado”. (Evangelii Gaudium, n.2).
P. Vitus Gustama, SVD

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