SÃO JOAQUIM E SANT´ANA, 26/07/2018
SER JUSTO PERSEVERANTE
SÃO
JOAQUIM E SANTA ANA
Pais de Nossa Senhora
26 de Julho
Primeira Leitura: Eclo 44,1.10-15
1 Vamos
fazer o elogio dos homens famosos, nossos antepassados através das gerações. 10
Estes são homens de misericórdia; seus gestos de bondade não serão esquecidos.
11 Eles permanecem com seus descendentes; seus próprios netos são sua melhor
herança. 12 A descendência deles mantém-se fiel às alianças, 13 e, graças a
eles, também os seus filhos. Sua descendência permanece para sempre, e sua
glória jamais se apagará. 14 Seus corpos serão sepultados na paz e seu nome
dura através das gerações. 15 Os povos proclamarão a sua sabedoria, e a
assembleia vai celebrar o seu louvor.
Evangelho: Mt 13,16-17
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos:
16 “Felizes sois vós, porque vossos olhos veem e vossos ouvidos ouvem. 17 Em verdade vos digo, muitos profetas e justos desejavam ver o que
vedes, e não viram, desejavam ouvir o que ouvis, e não ouviram”.
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A devoção à Santa Ana é mais popular e mais
antiga que a de São Joaquim. No dia 25 de Julho de 550 em Constantinopla (a
atua cidade turca de Istambul) se dedicou uma basílica à Santa Ana, desde
então, as Igrejas orientais celebraram sua festa nesta data. Séculos mais tarde
a devoção se difundiu no Ocidente, mas a celebração se colocou no dia seguinte,
isto é, no dia 26 de Julho. Em 1584 a festa foi fixada para toda a Igreja,
tanto nos países orientais como nos ocidentais.
O culto de São Joaquim se introduziu mais
tarde no século XIV, na época em que se popularizou o culto de São José e se
consolidou dois séculos mais tarde. A festa de São Joaquim era celebrada no dia
20 de Março. Mais tarde, em 1738 foi trasladada a 15 de Agosto (Assunção de
Nossa Senhora). Mas a reforma litúrgica do do Concílio Vaticano II, em 1969,
uniu a comemoração dos pais de Nossa Senhora numa data só: 26 de Julho.
É inútil procurar na Bíblia os pais de Nossa
Senhora. Os quatro evangelhos canônicos guardam absoluto silêncio sobre os pais
de Maria. Nem sequer seus nomes foram transmitidos. Mt e Lc escreveram sobre a
genealogia de Jesus, Maria é citada, mas seus pais não são citados.
Para saber sobre os pais de Maria temos que
recorrer aos evangelhos apócrifos, ingênuos relatos pela imaginação fervorosa
dos primeiros cristãos para completar com isso os silêncios dos evangelhos canônicos.
Dificilmente saber até que ponto esses relatos são verdadeiros. Por isso são
chamados de apócrifos, isto é, não é de uso publico.
Mas em cada história ou historinha sempre tem
alguma lição. Segundo o evangelho apócrifo de São Tiago, os dois, Joaquim e
Ana, eram da mesma tribo: Tribo de Judá. Quando tinha 20 anos, Joaquim casou-se
com Ana. Durante os 20 anos de matrimônio os dois não geraram nenhum
descendente. Não ter descendência, na época, era sinal da maldição de Deus e
por isso, era uma vergonha pública. Por outro lado, os dois eram pessoas
honradas, temerosas de Deus, generosas em suas ofertas para o Templo.
Paradoxalmente, Joaquim e Ana eram justos e
puros de toda mancha de pecado. Levavam uma vida pidedosa diante de Deus e
diante dos homens. Tinham uma conduta inocente, isto é, livre de qualquer
maldade. Imunes de calúnia e cheios de piedade. Zelosos em oração, em jejum e
abstinência, cheios de caridade. Formavam uma família assídua ao Templo. No
entanto, não tinham filho até então que tanto desejavam. Mesmo assim
continuavam apostar na misericórdia de Deus.
Um dia, quando Joaquim estava para fazer sua
oferta no Templo, um escriba chamado Ruben parou os passos de Joaquim e lhe
disse: “Não és digno de apresentar tuas oferendas enquanto não tiver tua
descendência”. Aflito e humilhado, Joaquim se retirou ao deserto para
orar a fim de que Deus pudesse dar de presente um descendente. Ana, a esposa,
também começou a se vestir de saco e cilício para pedir a mesma graça. Ana
rezou assim: “Ó Deus de nossos pais! Escutai-me e bendizei-me à maneira
que bendissestes o seio de Sara, dando-lhe como filho Isaac”.
A humilde suplica de Ana obteve uma resposta
de Deus. Um anjo do Senhor anunciou-lhe que eles teriam descendente. Ao mesmo
tempo Joaquim, encontrado no deserto, recebeu a mesma mensagem e imediatamente
voltou para sua casa com grande alegria para estar com sua esposa, Ana.
“Felizes
sois vós, porque vossos olhos veem e vossos ouvidos ouvem. Em verdade vos digo,
muitos profetas e justos desejavam ver o que vedes, e não viram, desejavam
ouvir o que ouvis, e não ouviram”, assim lemos no Evangelho.
O cumprimento das promessas da salvação é a
visão. A visão de Deus é o desejo dos profetas e dos justos no AT. Mas não
tiveram privilégios de ver Deus. Mesmo assim, eles creram e apostaram sua vida
pela Palavra da Aliança. O hoje dos discípulos tem a unicidade da
bem-aventurança privilegiada de ver e escutar a própria Vida por excelência, a
Salvação em ato, a Palavra encanada: Jesus, Deus-conosco, o Emanuel.
De certa forma, podemos dizer que Joaquim e
Ana têm privilégio de ver o fruto da salvação: o nascimento da filha deles,
Maria, que se esperava por tanto tempo. A graça de Deus pode tardar, mas nunca
falha, porque Deus é cheio de misericórdia.
Não importa se você está num lugar bem
deserto ou simplesmente em sua casa, se você fizer uma humilde súplica ao
Senhor por uma causa nobre, cedo ou tarde, o Senhor vai atender seu pedido.
Tenha paciência porque “o relógio” de Deus é diferente de nosso relógio.
Simplesmente vamos nos abandonar nas mãos de Deus mesmo que tenhamos que
enfrentar todo tipo de humilhação e dificuldade. Isso se chama fé. Se lutarmos
por uma causa nobre, cedo ou tarde o tempo vai nos revelar quem está com razão.
No casal Joaquim e Santana, encontramos um grande paradoxo: um casal justo, mas
estéril. A esterilidade, de acordo com o costume na época, é uma negação para a
condição de ser justo. “Se os dois fossem justos, teriam que ter filhos. Não
tendo filhos é porque não são justos”. Essa era a lógica da época. Mas, no fim
da história, Deus sempre tem a ultima palavra. Mesmo que tenha sido tarde, o
justo casal, Joaquim e Ana, foi premiado por Deus uma filha chamada Maria, Mãe
de nosso Salvador, Jesus Cristo.
Praticar a justiça é ser imparcial em tudo o
que você faz. É ver com seus próprios olhos e não julgar algo pelo que os
outros lhe dizem. A justiça significa que a pessoa recebe o que merece. Todos
devem receber o que é lhe legítimo. É justo que as pessoas recebam uma punição
quando fizeram o que não é justo. Também é certo que nos recompensamos quando
agimos bem. Ser justo é defender seus direitos e os dos outros. Ser justo é
investigar a verdade por si mesmo, aceitando o que os outros dizem apenas como uma
opinião individual. Investigue os fatos com seus próprios olhos. Quando você é justo, você age sem
preconceitos, vendo cada um como a pessoa que é. Você é justo quando não toma
decisões sobre os outros com base na sua etnia, nacionalidade, religião ou sexo,
ou porque são ricos ou pobres e sim na base da justiça e do amor. “Diante da
justiça de Deus não há distinção”, escreveu São Paulo no texto da Primeira
Leitura de hoje. Quando você é justo, você admite seus próprios erros e aceita
as consequências. Quando você é justo, você se defende quando é verdade e
defende os outros quando eles estão certos. Quando se pratica a justiça não se
faz fofocas nem críticas de costas. Ser justo é ser de Deus. E a vida dos
justos está nas mãos de Deus.
Segundo o evangelho apócrifo, depois que
entregou Maria para Deus no Templo, Ana se afastou silenciosamente e sumiu para
sempre. Sua missão terminou. Com esta marca heróica de desprendimento os
apócrifos encerraram o capitulo dedicado aos pais da Virgem Maria.
Ana é uma mulher paciente e humilde. Durante
20 anos ela sofreu sem queixa a tremenda humilhação da esterilidade. Mas suas
orações são tão suaves e humildes que fazem o Senhor inclinar para ouvi-las.
Sua longa provação não endureceu seu coração, pois ela acredita fielmente no
poder de Deus.
Ana é uma mulher generosa, pois ela pede para
ter descendente e o gozo de dar com alegria sua filha para o Senhor. E sua
filha Maria será capaz de entregar-se à vontade de Deus totalmente: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim
segundo a Tua Palavra” (Lc 1,38). Ana é uma mulher abnegada, disposta a
desprender-se de sua filha para dá-la aos outros.
Pedimos aos pais de Nossa Senhora que todos
nós tenhamos o espírito de perseverança no bem que devemos fazer, na oração que
devemos fazer, na pratica de caridade, em ser justo em tudo apesar dos
obstáculos encontrados no caminho. Mas a graça de Deus nos potencia para
ultrapassar os obstáculos a exemplo do justo casal, Joaquim e Ana.
Neste dia também celebramos O DIA DOS AVÓS. É o dia de
agradecimentos por nossos avós que nos deram nossos pais. É o dia de ação de
graças pela vida, pelos cuidados, pelos desvelos, pelos sofrimentos, pelos
sacrifícios, pelos esbanjamentos de amor e carinho de nossos avós para nossos
pais e para nós. Pela indiscritivel ajuda em nossa educação e na formação de
nossa personalidade.
Celebrar a festa dos avós é como um dever de
agradecimento, um ato de amor, uma devolução de ternura, e sobretudo, uma ação
de graças respeitosa e alegre para fazer todos eles arrancarem seu melhor
sorrisonesta celebração íntima e familiar onde eles voltam a ser protagonistas
neste dia dos avós.
A sensibilidade da sociedade atual nos pede
que se estabeleça um reconhecimento público, universal e particular de cada
neto por seus avós, os pais de nossos pais. Elogiar a figura dos avós é tributar
um carinho particular pela pessoa impostante de nossas recordações de infância,
personagens simpáticos.
Os pais anciãos, elevados para a categoria de
avós, merecem a expressão mais fina, gentil e carinhosa dos nestos. Esta fineza
embeleza a vida humana, enriquece o mundo e constitui um prestígio para os
corações agradecidos. Os netos e os avós unidos neste amor recíproco são
autênticos mensageiros da paz.
“O
idoso não há-de ser considerado apenas objeto de atenção, solidariedade e
serviço. Também ele tem um valioso contributo a prestar ao Evangelho da vida.
Graças ao rico património de experiência adquirido ao longo dos anos, o idoso
pode e deve ser transmissor de sabedoria, testemunha de esperança e de caridade”
(João Paulo II em a Carta Enciclica: Evangelium Vitae n. 94).
O Papa Francisco faz questão de chamar nossa
atenção sobre a existência dos anciãos/idosos e de sua importância na nossa
vida: “Os
anciãos são homens e mulheres, pais e mães que antes de nós percorreram o nosso
próprio caminho, estiveram na nossa mesma casa, combateram a nossa mesma
batalha diária por uma vida digna. São homens e mulheres dos quais recebemos
muito. O idoso não é um alieno. O idoso somos nós: daqui a pouco, daqui a muito
tempo, contudo inevitavelmente, embora não pensemos nisto. E se não aprendermos
a tratar bem os anciãos, também nós seremos tratados assim. Nós, idosos, somos
todos um pouco frágeis. No entanto, alguns são particularmente débeis, muitos
vivem sozinhos, marcados por uma enfermidade. Outros dependem de curas
indispensáveis e da atenção dos outros. Daremos por isso um passo atrás,
abandonando-os ao seu destino? Uma sociedade sem proximidade, onde a
gratuitidade e o afago sem retribuição — inclusive entre estranhos — começam a
desaparecer, é uma sociedade perversa. Fiel à Palavra de Deus, a Igreja não
pode tolerar estas degenerações. Uma comunidade cristã em que a proximidade e a
gratuitidade deixassem de ser consideradas indispensáveis perderia juntamente
com elas também a sua alma. Onde não há honra pelos idosos não há porvir para
os jovens” (Audiência Geral, Quarta-feira, 4 de Março de 2015).
P. Vitus Gustama,svd
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