terça-feira, 10 de julho de 2018

13/07/2018
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SER CRISTÃO MISSIONÁRIO É SER SIMPLES, PRUDENTE E PERSEVERANTE NO AMOR
Sexta-Feira Da XIV Semana Comum


Primeira Leitura: Os 14,2-10
Assim fala o Senhor: 2 Volta, Israel, para o Senhor, teu Deus, porque estavas caído em teu pecado. 3 Vós todos, encontrai palavras e voltai para o Senhor; dizei-lhe: “Livra-nos de todo o mal e aceita este bem que oferecemos; o fruto de nossos lábios. 4 A Assíria não nos salvará; não queremos montar nossos cavalos, não chamaremos mais ‘Deuses nossos’ a produtos de nossas mãos; em ti encontrará o órfão misericórdia”. 5 “Hei de curar sua perversidade e me será fácil amá-los, deles afastou-se a minha cólera. 6 Serei como orvalho para Israel; ele florescerá como o lírio e lançará raízes como plantas do Líbano. 7 Seus ramos hão de estender-se; será seu esplendor como o da oliveira, e seu perfume como o do Líbano. 8 Voltarão a sentar-se à minha sombra e a cultivar o trigo, e florescerão com a videira, cuja fama se iguala à do vinho do Líbano. 9 Que tem ainda Efraim a ver com ídolos? Sou eu que o atendo e que olho por ele. Sou como o cipreste sempre verde: de mim procede o teu fruto. 10 Compreenda estas palavras o homem sábio, reflita sobre elas o bom entendedor! São retos os caminhos do Senhor e, por eles, andarão os justos, enquanto os maus ali tropeçam e caem”.


Evangelho: Mt 10, 16-23
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 16 “Eis que eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, portanto, prudentes como as serpentes e simples como as pombas. 17 Cuidado com os homens, porque eles vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas. 18 Vós sereis levados diante de governadores e reis, por minha causa, para dar testemunho diante deles e das nações. 19 Quando vos entregarem, não fiqueis preocupados como falar ou o que dizer. Então naquele momento vos será indicado o que deveis dizer. 20 Com efeito, não sereis vós que havereis de falar, mas sim o Espírito do vosso Pai é que falará através de vós. 21 O irmão entregará à morte o próprio irmão; o pai entregará o filho; os filhos se levantarão contra seus pais, e os matarão. 22 Vós sereis odiados por todos, por causa de meu nome. Mas quem perseverar até o fim, esse será salvo. 23 Quando vos perseguirem numa cidade, fugi para outra. Em verdade vos digo, vós não aca­bareis de percorrer as cidades de Israel, antes que venha o Filho do Homem.
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Somos Chamados a Voltar Ao Deus De Amor: Conversão


Assim fala o Senhor: Volta, Israel, para o Senhor, teu Deus, porque estavas caído em teu pecado... Hei de curar sua perversidade e me será fácil amá-los, deles afastou-se a minha cólera”, assim lemos na Primeira Leitura da conclusão do Livro do profeta Oseias.


Terminamos hoje a leitura do livro do profeta Oseias com perspectivas de reconciliação/conversão e de esperança. Oseias termina seu livro com o canto à conversão ao Deus de amor que lemos no texto da Primeira Leitura de hoje. É esta a expiação que Deus quer: a do coração contrito e obediente que se deixa conduzir e moldar por Deus, e que reconheça que somente em Deus se encontra a Vida e a felicidade, expressas paradisiacamente por um povo agrícola através do uso dos termos no campo: orvalho, florescer, lírio, oliveira, trigo, cipreste, perfume, plantas etc..


O texto que hoje meditamos são as palavras finais da mensagem profética de Oseias. Na realidade, são as únicas palavras de consolo e esperança que aparecem em seus longos quatorze capítulos. Mas Oseias não é um profeta melancólico. É muito mais profunda a mensagem de seu livro sobre o amor fiel de Deus ao povo infiel. O profeta Oseias se oferece a si mesmo como símbolo e matéria de ensinamento. É sua própria vida que tem valor de sinal em meio de um terrível drama, o mais lastimoso de todos os dramas: a traição de sua mulher. Oseias se casou com uma mulher a quem ele ama muito. Mas esta lhe é infiel. Oseias vai atrás dela amando-a para toma-la de volta como esposa. Este episódio doloroso do profeta, com que começa sua mensagem, se converte no símbolo do amor que Deus tem a seu povo. Israel, com quem Deus se desposou, viveu como uma mulher infiel, como uma prostituta, e consequentemente, provocou o furor e os zelos de seu esposo divino. Este continua querendo esta esposa. Se acontece a castiga é para atrai-la para si e devolver-lhe a alegria do primeiro amor.


Por isso, podemos entender que o livro do profeta Oseias começa e termina com uma chamada à conversão. Na Bíblia, a noção básica da conversão é a mudança (metanoia). É uma mudança total do próprio modo de pensar e de agir, uma renovação total e integral do eu. É um abandono total em Deus para que possamos produzir bons frutos na convivência. Envolve voltar-se do pecado, da morte e das trevas para a graça, a nova vida e luz. A ação dual de voltar-se leva a pessoa a um novo nível de existência humana. A conversão conduz as pessoas juntas à maturidade espiritual, que se reflete em sua aversão ao mal e sua atração pelo bem. Por isso, o móvel da conversão não é tanto a ameaça de castigo ou de perder a salvação, e sim a fascinação de penetrar na vida do amor trinitário divino, o amor que nos humaniza, diviniza e salva.


Embora a conversão seja experiência individual, o entendimento bíblico é que é sempre relacional. Esta relação é bidirecional, sendo vertical e horizontal. A conversão nos leva a um novo relacionamento com Deus, relação filial, e com outros seres humanos, numa relação de fraternidade. Por isso, o chamado bíblico à conversão é apropriadamente dirigido a comunidades e não simplesmente a indivíduos.


O Salmo Responsorial (Sl 49/50) conhecido como “Miserere” está em sintonia com a Primeira Leitura ao pedir o perdão ao Senhor: “Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia! Na imensidão de vosso amor, purificai-me! Lavai-me todo inteiro do pecado, e apagai completamente a minha culpa!”. Neste Salmo, o salmista se reconhece pecador por natureza e suplica a Deus que afaste de sua vista seu pecado, e necessita de um novo coração, uma mudança radical do mais íntimo do ser, uma renovação total (conversão) para poder viver na alegria da salvação: “Criai em mim um coração que seja puro, dai-me de novo um espírito decidido. Ó Senhor, não me afasteis de vossa face, nem retireis de mim o vosso Santo Espírito! Dai-me de novo a alegria de ser salvo e confirmai-me com espírito generoso! Abri meus lábios, ó Senhor, para cantar, e minha boca anunciará vosso louvor!”.


Dentro da chamada à conversão o oráculo final do Livro do profeta Oseias é de esperança, uma esperança fundada no amor gratuito de Deus, um tema que recorre todo o livro. Nesta chamada, Deus anuncia a vitória do amor sobre a cólera, esse amor gratuito que não põe condições: “Serei como orvalho para Israel; ele florescerá como o lírio e lançará raízes como plantas do Líbano”. Oseias utiliza em todo livro figuras e símbolos para expressar o amor mútuo e a alegria do relacionamento amoroso entre Javé e o povo: Javé é o orvalho e haverá novas flores, arvores arraigadas e aromas especiais; haverá abundancia de trigos e vinhos, figuras que se encontram também no Livro Cântico dos Cânticos.


O Livro de Oseias comoveu profundamente aos homens do AT. E não é de estranhar que os evangelistas se inspirem nele e o citem com alguma frequência. A comunidade cristã viu em suas páginas a imagem do amor que Cristo tem à sua Igreja.


Somos chamados a aperfeiçoar nossa existência todos os dias, pois Deus nos inspira a pulsão para o ser-mais e melhor. Por isso, o homem somente é fiel a si mesmo quando aceita transformar-se todos os dias pelo amor de Deus, pois o homem está sempre em processo de amadurecimento. Voltar ao amor é tornar-se divino, pois Deus é Amor (cf. 1Jo 4,8.16). Temos que fazer proposito: romper com toda idolatria em nossa vida, mudar nosso coração, aceitar o amor de Deus. Um coração amoroso torna nossa vida mais leve, pois tudo que se ama é suportável ou carregável. Na alegria do amor, tudo tem solução, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16).


Ser Missionário Do Senhor É  Ser Missionário Prudente, Simples e Perseverante


Estamos ainda no discurso de Jesus sobre a missão (Mt 9,36-11,1).  No texto do evangelho de hoje Jesus nos recorda que a luta do discípulo na missão contra o mal está em desvantagem: “Eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos”. “Ovelha” é a presa fácil para o lobo. Ovelha é mansa, indefesa para qualquer ataque. Lobo é feroz, forte e persistente. Os discípulos estão bem advertidos: parecem ser entregues, mansos e sem defesa (como ovelhas) para a brutalidade e a força de seus adversários (como lobos). Jesus não esconde a verdade aos cristãos: o evangelho provoca, muitas vezes, a oposição e perseguição. Isto não espanta Jesus. Ele pede aos cristãos para se manterem valentes como Ele até o fim. Jesus salvou a humanidade comportando-se como ovelha ou na linguagem do evangelista João (Jo 1,29.36) como cordeiro: simples e manso (cf. Mt 11,28-30), e não como lobo.


1. Ser Missionário É Ser Prudente


Os cristãos estão no meio do mundo feroz como o lobo pronto para pegar sua presa (ovelha). Por isso, Jesus alerta aos cristãos para que sejam prudentes: “Sede, portanto, prudentes como as serpentes”.


A palavra “prudente” vem do latim “prudens-prudentis” que significa “precavido, competente”. A prudência é a capacidade de ver, de compenetrar-se e de ajustar-se à realidade. Uma “ovelha prudente” precisa saber como ela deve se comportar no meio de lobos para não virar uma presa fácil. A prudência oferece a possibilidade ou a capacidade de discernir o correto do incorreto, o bom do mau, o verdadeiro do falso, o medo paralisante do medo prudente, o sensato do insensato para que se tenha uma guia correta para cada ação. A prudência é a faculdade que nos permite vermos e aprendermos a realidade como ela é para que possamos nos comportar corretamente ou precisamente. Todo homem sábio vive de acordo com a prudência. Seus pensamentos e atos são guiados pela prudência. A prudência nos mantém na nossa integridade.


2. Ser Missionário É Ser Simples


Jesus também quer que cada cristão seja simples:  Sede simples como as pombas”.


O simples não se louva nem se despreza. Ele é o que é, simplesmente, sem desvios, sem afetação. É a vida sem frases e sem exageros. O simples não simula nada, pois simular a humildade e a simplicidade significa arrogância de quem puxa tudo para seu lado. Santo Agostinho dizia: “Simular humildade é a maior das soberbas” (De sanc. vir. 43,44). O simples é capaz de reduzir o mais complexo ao mais simples. O presente é sua eternidade, e o satisfaz.


A simplicidade aprende a se desprender, acolher o que vem sem nada guardar como coisa sua. Simplicidade é nudez, despojamento, pobreza. Simplicidade é liberdade, leveza, transparência. A simplicidade é a transparência do olhar, pureza do coração, sinceridade do discurso, retidão da alma e do comportamento. A simplicidade é a espontaneidade, a improvisação alegre, desprendimento, desprezo do prevalecer. A simplicidade é o esquecimento de si, é nisso que ele é uma virtude. A simplicidade é a virtude dos sábios e a sabedoria dos santos. Não é por acaso que Jesus faz o seguinte convite: “Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas” (Mt 11,29). Através da simplicidade alcançaremos o repouso para nosso coração ou para nossa vida.


O Reino de Deus se revela na debilidade de Jesus e de seus mensageiros. São Paulo dirá também que “é na fraqueza que se revela totalmente a minha força. Portanto, prefiro gloriar-me das minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo. Eis por que sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, no profundo desgosto sofrido por amor de Cristo. Porque quando me sinto fraco, então é que sou forte.” (2Cor 12,9-10). Toda a historia da Igreja confirma esta verdade. São os pequenos e humildes que fizeram as maiores obras. Por essa razão, vem a pergunta para cada um de nós: “Será que creio verdadeiramente que a força de Deus é capaz de fazer grandes coisas na minha debilidade e através da minha fraqueza?


O discípulo deve ser pobre em espírito, e deve estar desarmado para possibilitar qualquer diálogo. Ele é somente rico na fé e na validez do anuncio, pois trata-se da Palavra de Deus que tem por objetivo salvar os homens e será a ultima palavra para a humanidade. A missão exige um ambiente de debilidade para forçar o discípulo a ter fé permanentemente em Deus e para tirar qualquer tipo de ilusão como discípulo. É Deus quem opera e não os homens. Os homens são instrumentos nas mãos de Deus.


Mas a debilidade não é presunção nem superficialidade nem ingenuidade. “Sejam simples e prudentes”, são as palavras de Jesus. A simplicidade é lealdade, transparência, confiança na verdade e, portanto, é uma recusa de qualquer meio de violência. A prudência é a capacidade e a humildade de valorizar e de levar em consideração as situações concretas. Mas trata-se sempre, por suposto, da prudência de Cristo, não da prudência do mundo baseada em cálculos cínicos, em diplomacia interesseira e de compromisso sempre em busca de uma salvação própria, que é uma manifestação do egoísmo. O egoísmo não convive com o amor, pois o amor leva o homem ao encontro do outro para oferecer-lhe ajuda. O egoísmo devora tudo o que o outro tem.


A oposição e a perseguição vêem, muitas vezes, da própria família: “O irmão entregará seu irmão à morte. O pai, seu filho. Os filhos levantar-se-ão contra seus pais e os matarão”. O ódio pode nascer em qualquer pessoa e em qualquer lugar. Jesus nos sugere uma só solução: “Permanecei fieis!”. É conservar a firmeza e o valor, contra toda decepção, contra toda oposição e contra todo fracasso. O que conta é a salvação eterna. Precisamos saber que Jesus está conosco. Na obscuridade do fracasso estamos seguros de que Jesus, com toda certeza, virá e salvará os seus. Mas Jesus nos alerta e nos afirma: “Aquele que perseverar até o fim, será salvo”. Será que sou perseverante em tudo como cristão? Perseverança é a capacidade de resistir até o fim por causa da meta (nobre) a ser alcançada.


3. Ser Missionário É Ser Perseverante


Mas quem perseverar até o fim, esse será salvo”.


Perseverar significa a capacidade de resistir diante de cada dificuldade, porque acreditamos que Deus nos sustenta e nos levanta em qualquer situação. Quando você somente acredita na sua própria força, em pouco tempo você vai cair no desespero, pois sua força tem seu limite. Mas se você se apoiar em Deus, a sua força nunca vai ter o fim, pois Deus o abastece com sua graça: “Quando me sinto fraco, na verdade sou forte pois a graça de Deus me sustenta e me levanta”, dizia São Paulo(cf. 2Cor 12,10). Aquele que estiver aberto à graça de Deus para ter a capacidade de resistir e rezar com perseverança para a alcançar, poderá dizer com o Apóstolo Paulo: “Tudo posso nAquele que  me dá força”(Fl 4,13). Com esta fé Deus nos convida a remetermos para nossas forças interiores, como dizia o filósofo romano, Epicteto(55 d.C-135 d.C):
  • Cada dificuldade na vida nos oferece uma oportunidade para nos voltarmos para dentro de nós mesmos e recorrermos aos nossos recursos interiores escondidos ou mesmo desconhecidos. As provações que suportamos podem e devem revelar-nos quais são as nossas forças. As pessoas prudentes enxergam além do incidente em si e procuram criar o hábito de utilizá-lo da maneira mais saudável. Você possui forças que provavelmente desconhece. Encontre a que necessita nesse momento. Use-a(cf. A Arte de Viver, Editora Sextante).
             
    Esta capacidade não é só para utilizar em casos alarmantes. Ao contrário, só conseguiremos avançar no nosso caminho, se procurarmos aproveitar plenamente as diferentes oportunidades de momento, tendo os olhos sempre postos na meta. Só assim, a nossa capacidade de resistir pode e deve fortalecer-se, mesmo no meio das dificuldades. É aí que ela se torna mais necessária.
              
    A capacidade de resistir precisa ser sempre renovada na oração. Como cristãos rezamos sem cessar, pedindo a graça da perseverança final. Estamos, todavia, conscientes de que isto leva consigo a disponibilidade para mudar/ se converter, porque estamos conscientes de que a nossa fidelidade é continuamente posta à prova e de que está exposta a contínuas tentações.
     
    “Aquele que perseverar até o fim, será salvo”. Será que sou perseverante em tudo como cristão? Perseverança é a capacidade de resistir até o fim por causa da meta (nobre) a ser alcançada. Mas será que tenho metas claras para minha vida e minha salvação? Será que eu vivo com objetivo claro? Em tudo que eu fizer e falar deve ter objetivo claro para não fazer por fazer ou falar por falar.
    P.Vitus Gustama, SVD

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