sexta-feira, 20 de julho de 2018

23/07/2018
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CRER NUM DEUS JUSTO QUE CABE NO CORAÇÃO DO HOMEM QUE AMA
Segunda-Feira Da XVI Semana Comum


 
Primeira Leitura: Mq 6,1-4.6-8
1 Ouvi o que diz o Senhor: “Levanta-te, convoca um julgamento perante os montes e faze com que as colinas ouçam tua voz”. 2 Ouvi, montes, as razões do Senhor em juízo, escutai-o, fundamentos da terra; a pendência do Senhor é com seu povo, ele disputa em juízo contra Israel. 3 “Povo meu, que é que te fiz? Em que te fui penoso? Responde-me. 4 Eu te retirei da terra do Egito e te libertei da casa da servidão, e pus à tua frente Moisés, Aarão e Maria”. 6 “Que oferta farei ao Senhor, digna dele, ao ajoelhar-me diante do Deus altíssimo? Acaso oferecerei holocaustos e novilhos de um ano? 7 Acaso agradam ao Senhor carneiros aos milhares e torrentes de óleo? Porventura ofertaria eu o meu primogênito, por um crime meu, o fruto do meu sangue pelos pecados da minha vida?” 8 Foi-te revelado, ó homem, o que é o bem, e o que o Senhor exige de ti: principalmente praticar a justiça e amar a misericórdia, e caminhar solícito com teu Deus.


Evangelho: Mt 12,38-42
Naquele tempo, 38 alguns mestres da Lei e fariseus disseram a Jesus: “Mestre, queremos ver um sinal realizado por ti”. 39 Jesus respondeu-lhes: “Uma geração má e adúltera busca um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser o sinal do profeta Jonas. 40 Com efeito, assim como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim também o Filho do Homem estará três dias e três noites no seio da terra. 41 No dia do juízo, os habitantes de Nínive se levantarão contra essa geração e a condenarão, porque se converteram diante da pregação de Jonas. E aqui está quem é maior do que Jonas. 42 No dia do juízo, a rainha do Sul se levantará contra essa geração, e a condenará, porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E aqui está quem é maior do que Sa­lomão”.
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Chamados a Criar Silêncio Para Ouvir Deus Que Nos Chama à Conversão


Ouvi o que diz o Senhor: ‘Levanta-te, convoca um julgamento perante os montes e faze com que as colinas ouçam tua voz’”, lemos na Primeira Leitura tirada do profeta Miqueias. 


Como já se sabe que “Miqueias”, em hebraico, significa “Quem é como Javé (Yahweh)?”.  Um nome semelhante é “Michael” (Miguel): “Quem é como Elohim?”. Para o profeta Miqueias o Deus de Israel é incomparável, pois Ele perdoa a iniquidade e se esquece da transgressão (Cf. Mq 7,18). Em outras palavras, Deus é misericordioso que está do lado do pecador e não do pecado. Essa ideia proporciona a base para o pensamento e a proclamação do profeta em todo seu livro.


Miqueias viveu em tempos do rei Acaz (736-716 a.C) e Ezequias (716-687 a.C), e, portanto, foi contemporâneo do profeta Isaías, chamado por Deus para fazer ouvir Sua Palavra nos difíceis tempos anteriores à ruina de Judá. Do profeta Miqueias conhecemos, sobretudo, seu oráculo sobre Belém que lemos no Advento, porque anuncia que deste pequeno povo sairá aquele que governará e apascentará Israel (Mq 5,1; Mt 2,6).


Miqueias se enfrenta com os poderosos de sua época e denuncia com valentia seus despropósitos, pois os poderosos abusam do poder, tramam iniquidades, são cobiçados pelos bens alheios, roubam enquanto puderem, oprimem os demais, são idiólatras de si mesmos (egolatria). E,  consequentemente, o profeta Miqueias anuncia-lhes o castigo de Deus.


Miqueias não pode ficar em silêncio diante das injustiças que são cometidos pelos poderosos (econômicos e politicos) contra Seu povo. O texto de hoje constitui uma chamada à conversão, a fazer o que é reto diante dos olhos do Senhor. Em sua reflexão, Miqueias quer mostrar ao povo a incoerência de seu comportamento diante de Deus. Com este fim, Miqueias se apresenta em primeiro lugar como o porta-voz de Deus diante do país. Deus tem um pleito, uma causa pública com seu povo. O povo, com seu comportamento injusto, mostra não reconhecer a retidão da atuação de Deus em sua história passada quando resgatou o povo da escravidão do Egito. Por isso, Deus lança as seguintes perguntas retóricas: “Povo meu, que é que te fiz? Em que te fui penoso? Responda-me!”. O povo não pode ou não consegue responder. Miqueias convoca o povo para que faça sua reflexão: olhar suas próprias injustiças em contraste com a retidão e fidelidade de Deus. A ignorância ou o esquecimento da história, que recorda a atuação de Deus, não justifica o comportamento injusto do povo. a injustiça não é questão de esquecimento. O homem leva consigo o juízo de suas obras, enquanto sabe, e lhe é ensinado quais são obras boas e obras más.


Uma experiência profunda com Deus nos leva a não separarmos o ato litúrgico da justiça social para com os pobres e débeis. Por isso, podemos entender a seguinte convocação do profeta Miqueias: “Ouvi o que diz o Senhor: ‘Levanta-te, convoca um julgamento perante os montes e faze com que as colinas ouçam tua voz... Ouvi, montes, as razões do Senhor em juízo, escutai-o, fundamentos da terra’”, assim disse o profeta Miqueias na Primeira Leitura.


Na Bíblia, os montes são um dos lugares escolhidos para os encontros com Deus: Monte de Sinai, Monte de Tabor, Monte Sião, Monte do Carmelo, Monte das bem-aventuranças e assim por diante. Todas as montanhas de Palestina desempenharam um papel do simbolismo do encontro com Deus. Na montanha se encontra o ar mais puro, mais vivificante, o silêncio fecundo, de grandes espaços; a impressão de imutabilidade, de fortaleza, de um vigor superior à fragilidade humana. Montanha é o lugar de topo, próximo do céu, lugar para o qual há que subir para ter uma visão ampla sobre a realidade. Montanha é o lugar há silêncio para possibilitar  o diálogo com Deus para que se alcance o vigor superior às fragilidades humanas e as visõe s de mediocridade. Ver tudo a partir de Deus ganha uma visão ampla sobre a vida e seus acontecimentos. Para esta situação é que o povo é convocado. No texto de hoje, Deus toma as montanhas como testemunha para o juízo que quer fazer contra Seu povo: “Ouvi, montes, as razões do Senhor em juízo, escutai-o, fundamentos da terra”.


Os perigos do poder e do dinheiro continuam sendo atuais. Em nosso mundo e nosso tempo continuamos presenciando a exploração e o abandono dos débeis, dos pobres, dos últimos, e presenciamos as injustiças flagrantes, as corrupções desenfreadas cometidas frequentemente, o abuso do poder para o próprio interesse da parte dos poderosos e dos políticos sem escrúpulo. Todo corrupto é preguiçoso, pois ele não quer trabalhar muito para ganhar muito. Ele trabalha o mínimo possível para ganhar o máximo por meios desonestos.


Precisamos estar conscientes de que a vida leva em si mesma os próprios princípios da retidão, pois a vida é um dom de Deus, veio do Deus Justo e fiel. A vida vinda de Deus é pura e imaculada. Por isso, a injustiça não é questão de esquecimento, pois o homem leva consigo o juízo de suas obras e sabe quais são as obras boas que devem ser feitas e as obras más que devem ser evitadas: “Foi-te revelado, ó homem, o que é o bem, e o que o Senhor exige de ti: principalmente praticar a justiça e amar a misericórdia, e caminhar solícito com teu Deus”. A lei de Deus não está escrita em um papel e sim no coração do homem. Nenhum homem é capaz de se mentir a si mesmo. O próprio homem é a testemunha da própria vida. Se a vida que vem de Deus é pura e imaculada, logo a vida deve voltar para Deus do jeito que veio: pura e imaculada. Fora disso significa a exclusão da salvação eterna.


Tudo Na Vida Fala De Deus. É Preciso Criar o Silêncio Para Captar Seu Significado


“Mestre, queremos um sinal realizado por Ti”.  


Sempre estamos tentados em fazer para Deus esta pergunta: “Senhor, queremos um sinal realizado por Ti”. Além disso, queremos ainda mais fazer uma ladainhas de perguntas para Deus. Por que Deus não escreveu seu Nome no céu para o ser humano ler e acreditar nele sem dificuldade? Por que Ele não nos dá uma prova expressa de Sua existência de maneira que nossa dúvida se torne impossível? Assim os ateus, os pagãos e os adeptos de qualquer religião ficariam tranquilos? Por que Deus não faz, então, este sinal? Simplesmente porque Deus não é o que pensamos.


A imagem de Deus que temos nem sempre é o próprio Deus. Até acontece muitas vezes que ficamos mais com uma suposta imagem de Deus do que com o próprio Deus. Agarramos, muitas vezes, uma suposta imagem de Deus do que o próprio Deus.  Deus é um Deus de amor (1Jo 4,8.16), e estamos sempre tentados a atribui-lhe outro papel. Deus não quer ser servidor dos caprichos dos homens. Deus é diferente e é o Diferente por excelência.


O sinal de Deus, por excelência, é a morte de Jesus na cruz por amor aos homens (Jo 3,16; 13,1) e a sua ressurreição, pois Deus é a Vida (Jo 14,6). É o mistério pascal de Jesus Cristo.


Pedimos “sinais” a Deus.  E ele nos dá muitos sinais na nossa vida; mas não sabemos vê-los nem sabemos interpretá-los. O mundo e a história estão cheios de sinais de Deus. Um dos objetivos da “revisão de vida” é o de aprender uns dos outros a ver e a ler os sinais de Deus nos acontecimentos e na própria vida de cada um de nós. Deus trabalha no mundo. Nele é que o mistério pascal continua se realizando. Deus nos dá sinais, mas são sinais discretos e não espetaculares. É preciso ter muita serenidade para captar e entender os sinais de Deus na nossa vida e os sinais que estão ao nosso redor.


Deus está tão próximo de Deus. “Estava no mundo e o mundo não O conheceu”, escreveu são João (Jo 1,10). Deus continua atuando nos olhos dos que choram, nos que sofrem por serem justos, honestos, e verdadeiros; nos que trabalham pela paz apesar da resistência diante da reconciliação; em quantos trabalham pela erradicação da fome e da pobreza apesar da exploração e da corrupção de alguns grupos insensíveis às questões sociais; em todo o homem e a mulher que procuram Deus com coração sincero apesar das dores encontradas na vida. A sua vontade de rezar e de meditar a Palavra de Deus é sinal de que o Espírito de Deus continua atuando em você. O Espírito de Deus continua atuando em você quando reza por si e pelos outros; está em quantos estão sempre prontos para ajudar quem está em necessidade. Numa palavra, em tudo o que é bondade e amor, paz e bem porque tudo isto é reflexo e semente do sinal básico do sacramento perene do próprio Deus. Em tudo que aconteceu e acontece e acontecerá na nossa vida Deus quer nos dizer alguma coisa a respeito de nossa salvação, mas que nem sempre sabemos criar o silêncio para ouvir a mensagem de Deus. O silêncio é o vazio fecundo que possibilita a presença do Eterno, ou da Plenitude na nossa vida.


Jesus não quer que nossa fé se baseie unicamente nas coisas maravilhosas (milagres etc.) e sim na Sua Palavra: “Se vocês não vissem sinais, não acreditariam” (Jo 4,48). Temos sorte do dom da fé. Para crer em Jesus Cristo não necessitamos de milagres novos. Basta ter a fé, seremos felizes (Jo 20,29; cf. Hb 11,1). Sua ressurreição é suficiente para qualquer cristão. A ressurreição de Jesus é o maior de todos os milagres que nos leva a termos a esperança de que temos um futuro com Deus. A fé não é ciosa de provas exatas, nem se apóia em novas aparições nem em milagres espetaculares ou em revelações pessoais. Jesus já nos felicitou: “Felizes os que crêem sem terem visto” (Jo 20,29). Deus está muito mais no nosso coração do que na nossa cabeça. O coração sente aquilo que os olhos não vêem. Deus cabe no nosso coração e não na nossa cabeça.


O Concilio Vaticano II, através de um dos seus famosos documentos, chamado Gaudium et Spes, afirma: “é dever da Igreja investigar a todo o momento os sinais dos tempos, e interpretá-los à luz do Evangelho; para que assim possa responder, de modo adaptado em cada geração, às eternas perguntas dos homens acerca do sentido da vida presente e da vida futura, e da relação entre ambas. É, por isso, necessário conhecer e compreender o mundo em que vivemos, as suas esperanças e aspirações, e o seu caráter tantas vezes dramático” (GS, no.4).
P. Vitus Gustama,svd

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