quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Domingo,11/11/2018 
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AS VIÚVAS QUE NOS ENSINAM A TER FÉ E A PRATICAR A GENEROSIDADE: QUEM CONFIAM EM DEUS É GENEROSO
XXXII DOMINGO COMUM “B”


ILeitura:1Rs 17,10-16
Naqueles dias, 10 Elias pôs-se a caminho e foi para Sarepta. Ao chegar à porta da cidade, viu uma viúva apanhando lenha. Ele chamou-a e disse: “Por favor, traze-me um pouco de água numa vasilha para eu beber”. 11 Quando ela ia buscar água, Elias gritou-lhe: “Por favor, traze-me também um pedaço de pão em tua mão”. 12 Ela respondeu: “Pela vida do Senhor, teu Deus, não tenho pão. Só tenho um punhado de farinha numa vasilha e um pouco de azeite na jarra. Eu estava apanhando dois pedaços de lenha, a fim de preparar esse resto para mim e meu filho, para comermos e depois esperar a morte”. 13 Elias replicou-lhe: “Não te preocupes! Vai e faze como disseste. Mas, primeiro, prepara-me com isso um pãozinho e traze-o. Depois farás o mesmo para ti e teu filho. 14 Porque assim fala o Senhor, Deus de Israel: ‘A vasilha de farinha não acabará e a jarra de azeite não diminuirá, até o dia em que o Senhor enviar a chuva sobre a face da terra’”. 15 A mulher foi e fez como Elias lhe tinha dito. E comeram, ele e ela e sua casa, durante muito tempo. 16 A farinha da vasilha não acabou nem diminuiu o óleo da jarra, conforme o que o Senhor tinha dito por intermédio de Elias.


II Leitura: Hb 9,24-28
24 Cristo não entrou num santuário feito por mão humana, imagem do verdadeiro, mas no próprio céu, a fim de comparecer, agora, na presença de Deus, em nosso favor. 25 E não foi para se oferecer a si muitas vezes, como o sumo sacerdote que, cada ano, entra no Santuário com sangue alheio. 26 Porque, se assim fosse, deveria ter sofrido muitas vezes, desde a fundação do mundo. Mas foi agora, na plenitude dos tempos, que, uma vez por todas, ele se manifestou para destruir o pecado pelo sacrifício de si mesmo. 27 O destino de todo homem é morrer uma só vez e, depois, vem o julgamento. 28 Do mesmo modo, também Cristo, oferecido uma vez por todas, para tirar os pecados da multidão, aparecerá uma segunda vez, fora do pecado, para salvar aqueles que o esperam.


Evangelho: Mc 12,38-44
Naquele tempo, 38 Jesus dizia, no seu ensinamento a uma grande multidão: “Tomai cuidado com os doutores da Lei! Eles gostam de andar com roupas vistosas, de ser cumprimentados nas praças públicas; 39 gostam das primeiras cadeiras nas sinagogas e dos melhores lugares nos banquetes. 40 Eles devoram as casas das viúvas, fingindo fazer longas orações. Por isso eles receberão a pior condenação”. 41 Jesus estava sentado no Templo, diante do cofre das esmolas, e observava como a multidão depositava suas moedas no cofre. Muitos ricos depositavam grandes quantias. 42 Então chegou uma pobre viúva que deu duas pequenas moedas, que não valiam quase nada. 43 Jesus chamou os discípulos e disse: “Em verdade vos digo, esta pobre viúva deu mais do que todos os outros que ofereceram esmolas. 44 Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver”.
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Duas mulheres ocupam as leituras deste Domingo e dão cor para as leituras. Além de ser pobres, as duas são viúvas.


Uma delas é uma viúva que vive num povoado situado ao Sul de Sidon, Sarepta, e que, presumindo que chegou ao fim de sua existência, se prepara para terminar escualidas provisões e morrer depois, junto a seu filho: “Pela vida do Senhor, teu Deus, não tenho pão. Só tenho um punhado de farinha numa vasilha e um pouco de azeite na jarra. Eu estava apanhando dois pedaços de lenha, a fim de preparar esse resto para mim e meu filho, para comermos e depois esperar a morte”. Comer para depois morrer!


Em qualquer momento e cultura ser viúva é símbolo de solidão e vazio. É assim a viúva de Sarpeta. Pois bem, a ela foi o profeta Elias e com ela acontece milagre, um milagre arrancado pela fé cega e a generosidade sem limites daquela mulher. O profeta Elias lhe pede de comer e a viúva entregou o que tinha sem reservar nada, confiada na promessa daquele homem que ela não conhecia, mas que falava em nome de Deus. E o Deus de Israel estava com ela, que velava totalmente para que a "A vasilha de farinha não acabe jamais e a jarra de azeite não diminuia”. Toda a força de Deus parece colocada a serviço de uma mulher pobre, fraca, abandonada e ignorada.


A outra mulher que protagoniza hoje as leituras é também pobre e insignificante que o Evangelho nos relata. Não sabemos nem sequer seu nome. Também era viúva. Também tinha por conseguinte, uma situação difícil. Diante dela estão os ricos tirando abundantemente de sua riqueza para colocar na bandeja do Templo, mas ficam despercebidos diante do olhar de Cristo. Mas, de repente, entre as esplêndidas ofertas, duas moedas saíram da mão da viúva como oferta, e tudo o que ela tinha. O olhar de Cristo se concentra nessa viúva e a elgiou: Em verdade vos digo, esta pobre viúva deu mais do que todos os outros que ofereceram esmolas. Todos deram do que tinham de sobra, enquanto ela, na sua pobreza, ofereceu tudo aquilo que possuía para viver”.


São duas mulheres que chegaram como uma flecha até o coração de Deus. Duas mulheres que merecem, na Sagrada Escritura, as honras de uma primeira página. Duas mulheres pouco decorativas, possivelmente enrugadas, envelhecidas, encurvadas por tantos e tantos problemas. Duas mulheres que atravessaram o tempo para chegar até nós e nos golpear com seu exemplo esplêndido. Não importa que não saibamos seu nome nem a cor de seus olhos. O verdadeiro interessante é que duas mulheres foram, por um momento, protagonistas de uma história vivida com Deus e cumpriram perfeitamente seu papel nessa história.


São duas histórias preciosas e estimulantes, com uma clara lição: para conseguir que o coração de Deus se sinta “tocado”, não é necessariamente ser importante, nem saber muito, nem ser “letrado”, nem impactar com o brilho de roupas de marca. Para chegar ao coração de Deus é preciso dar quanto se tem, crer em suas promessas sem reservar-se nada, pôr a vida “na bandeja” e esperar confiadamente no milagre que Ele fará que não se acabe nunca a esperança, a ilusão, a inquietude, essa especial farinha e esse azeite sobrenatural que se necessita para caminhar pela vida cristã, ainda que, às vezes, nos sintamos nesse caminho tão angustiados, como a viúva de Sarepta. Deus sabe o que fazer para seus fieis.


Seguramente, as duas viúvas não poderiam nos dar uma definição correta de fé, de consagração nem de abnegação. Mas elas entendem vitalmente que não só de pão vive o homem, e deram tudo seu pão ou tudo o que tinham. Não foi um gesto suicida de desespero e sim uma confiança total em Deus.


O que move um homem, como as viúvas, para dar sua vida (tudo que elas tinham) para Deus? Somente parece existir uma resposta: sentir-se profundamente querido por Deus. As viúvas não podiam dar graças a Deus pelos bens materiais de que desfrutavam, mas, apesar disso, algo em seu interior lhes fazia sentir-se queridas e devedoras de Deus. Elas pertencem ao grupo de pessoas anônimas que guardam nelas a essência da humanidade e a irradiam, ainda que muitos as julguem como pessoas inúteis e descartáveis. Nelas se encarna Deus da bondade e da generosidade.


Estas duas mulheres são modelo de crentes. São pessoas abertas a Deus e confiam n´Ele. Pouca coisa elas têm, mas não se aferram zelosamente ao pouco que têm. Não dão os restos ou as sobras e sim tudo que necessitam para viver. Deus não quer que lhe demos o que nos sobra, e ainda de maneira exibicionista como se quiséssemos demonstrar nossa “generosidade” para obter mérito. O primeiro mandamento, que vale para todos: “Amarás teu Deus com todo teu coração...” (Evangelho do Domingo anterior). Da mesma maneira, o segundo é “amarás a teu próximo como a ti mesmo” (e não dar-lhes o que te sobra).


A oferta da viúva do Evangelho é o cumprimento do primeiro mandamento. A viúva deixa para Deus a preocupação da vida. Ela faz uma escolha clara entre Deus e os bens materiais. Esta opção é possível porque confiar em Deus e amar aos irmaos é mais importante do que todas as questões de dinheiro. É o critério fundamental para a vida dos discípulos de Jesus. É chegar a viver livre no Reino de Deus. A viúva não pede nem espera nenhum milagre, nem se contenta com recitar o primeiro mandamento (Shemá), e sim que o vive e pratica. Ela não está perto do Reino (Mc 12,34), e sim está dento dele. O importante não é dar muito ou pouco e sim dar-se a si mesmo. Jesus dá tudo e se dá a si mesmo; se entregou a si mesmo pelos homens.


A exemplo das duas viúvas pobres, devemos manter a confiança em Deus como motor de nossa vida, de nossas relações, de nossa caridade e solidariedade, independentemente de nossa situação. Ao mesmo tempo, devemos manter a confiança na Sagrada Escritura: devemos lê-la, escutá-la e meditá-la.


Estas duas mulheres são duas “pobres” no sentido bíblico dos “anawim” (pobres de Javé), os que Jesus proclama bem-aventurados, os que põem sua esperança em Deus totalmente.


Alguém talvez diga que são duas mulheres “alienadas”. E que o Templo (Deus, religião) e os “profetas” devoram os bens dos pobres, no lugar de ajudá-los a tomar consciência de sua situação injusta de dependência e opressão, e a lutar por sua libertação. Cuidado! “O Senhor é fiel para sempre, faz justiça aos que são oprimidos; Ele dá alimento aos famintos, é o Senhor quem liberta os cativos. O Senhor abre os olhos aos cegos, o Senhor faz erguer-se o caído; o Senhor ama aquele que é justo. É o Senhor quem protege o estrangeiro. Quem ampara a viúva e o órfão” (Salmo Responsorial, Sl 145). E Jesus, que elogia o gesto daquela pobre viúva, critica aos que “devoram as casas das viúvas” e recorda que Elias “foi enviado” a socorrer aquela viúva “quando houve uma grande fome em todo país” (Lc 4,25-26). Naturalmente, a generosidade da viúva do Evangelho não autoriza qualquer uso que façam de suas “duas moedas” e de tantas outras doações, os responsáveis do Templo.


A Missa é a mesa dos pobres, dos que confiam plenamente no Senhor, em seu dom, em seu alimento, em sua Palavra. É a mesa dos pecadores, conscientes de sê-lo e, por isso mesmo, abertos à conversçao. É a mesa dos que se oferecem a Deus junto com a oferenda de Jesus Cristo.


Aprofundemos mais um pouco nossa reflexão sobre o Evangelho de hoje, especialmente sobre a generosidade da pobre viúva contra a cobiça dos escribas que se encontra na segunda parte do Evangelho de hoje.


Nesta segunda parte do texto, Marcos apresenta a cena da viúva que deposita o seu humilde óbolo no cofre do templo. E Jesus se encontra no templo, mais exatamente numa sala ou corredor do pátio reservado às mulheres, onde estão colocadas as 13 trombetas ou caixas em forma de funil para receber as ofertas, subdividas segundo as intenções dos oferecedores. A pobre viúva depositou, como oferta livre para o culto, duas moedinhas dentre as menores em circulação. As duas moedas juntas perfaziam um quadrante, isto é um quarto de asse romano. Um asse, por sua vez, era décima-sexta parte de um denário, e um denário era a diária de um trabalhador no campo (cf. Mt 20,2). Poucas coisas se podiam comprar com um quadrante. O valor desta oferta, observa Jesus, deriva do fato de que por meio dela aquela mulher expressou o dom total de si mesma; realizou, sempre conforme a interpretação hebraica, o mandamento do amor a Deus com tudo aquilo que possuía para viver.


Marcos quer sublinhar, assim, a simpatia de Jesus pelos pobres, isto é, a gente humilde e simples, completamente aberta e disponível a Deus. O lugar do encontro com Deus é justamente através do coração pobre, totalmente aberto e disponível para Deus e não através do poder cultual ou institucional. Por isso, Jesus proclama solenemente o gesto da viúva, contrastando-o com a solenidade ostensiva dos ricos: “Em verdade eu vos digo que esta viúva que é pobre lançou mais do que todos os que ofereceram moedas ao Tesouro. Pois todos os outros deram do que lhes sobrava. Ela, porém, na sua penúria, ofereceu tudo o que tinha, tudo que possuía para viver”(vv.43-44).


Deste texto podemos tirar uma lição de que como é diferente o que é importante para Deus daquilo que é importante para os homens. Como são diferentes as medidas. Nós costumamos impressionar-nos com o que é grande, chamativo. Deus comove-se com os pequenos detalhes de amor. É claro que também se comove com os gestos que costumamos considerar de grande importância, mas somente quando realizados com o mesmo espírito de retidão, de humildade e de amor.


Na nossa experiência cotidiana, “poucas vezes se apresentam grandes ocasiões de servir a Deus, mas as pequenas continuamente. Pois deves compreender que quem for fiel no pouco será constituído no muito. Faze, pois, todas as tuas coisas para a honra de Deus, e as farás todas bem. Quer comas, quer bebas, quer durmas, quer te divirtas, quer junto ao fogão, se souberes aproveitar essas tarefas, progredirás muito aos olhos de Deus realizando tudo isso porque assim quer Deus que o faças” (São Francisco de Sales, Introdução à Vida devota III).


Não basta que aquilo que se realiza seja bom; deve, além disso, ser uma obra bem terminada. S. Tomás de Aquino ensina que para que haja virtude é preciso reparar em duas coisas: naquilo que se faz e no modo de fazê-lo. O modo de fazê-lo é com o amor. O amor é que torna importante as pequenas coisas. Quando tudo se faz com o amor, ele se torna uma obra-prima. E nada é pequeno quando o amor é grande. Ou nas palavras do Papa Paulo VI: “ Nada é pequeno na Santa Liturgia, quando se pensa na grandeza d´Aquele a quem se dirige”.


A viúva do Evangelho é o reflexo da generosidade de Deus que criou tudo por amor e dá tudo por amor; até o próprio filho amado Ele não poupou a fim de nos resgatar (cf. Jo 3,16). Ser de Deus é servir e dar, não aquilo que um tem e sim a si mesmo. Jesus não é o turista rico que veio visitar a terra subdesenvolvida da humanidade. Ele é o servidor de todos. Seu modo de ser Deus é a pobreza: dar tudo a fim de salvar todos.


Com sua oferta, a viúva se dá a si mesma. Ela faz de Deus o valor supremo acima de sua própria pessoa e faz depender sua vida de Deus, pois não tem mais meios de subsistência. Só uma pessoa de uma fé muito profunda, como essa viúva, será capaz de fazer essa “loucura”. Através de sua oferta a viúva traduz em pratica aquilo que Jesus disse anteriormente: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com toda a tua força!” (Mc 12,30). Uma entrega total, ainda que de aparência modesta, tem muito mais valor do que uma entrega parcial ainda que de uma aparência volumosa. O que vale é a totalidade do dom. A viúva é exemplo de um amor total a Deus, manifestado no total desprendimento dos bens materiais; é a antítese dos dirigentes do evangelho de hoje, infiéis a Deus por seu amor aos bens materiais.


Quando o coração humano se deixar arrebatar por Deus e o experimentar fortemente, então a esperança de poder possuir Deus se converte na força que move a vida. Basta ver como a esperança de Deus fez santos crianças, jovens e adultos, mulheres e homens que foram capazes de dar a vida pelo bem da humanidade como tradução da fé em Deus-generoso. Mas também é verdade que a falta de ilusão (ilusão é falta de correspondência entre a sensação e o objeto percebido) por Deus conduz muitos outros cristãos à mediocridade, à tibieza, à avareza e assim por diante. Por mais que tentemos para possuir nesta terra, nada conseguiremos. Nada podemos possuir. Temos apenas o usufruto das coisas deste mundo. Largaremos um dia assim que terminarmos nossa caminhada histórica.


Olhando para sua maneira de ser, o que é que essa viúva quer corrigir e purificar em você hoje? O que falta em você para ter a maneira de viver dessa viúva? Será que a fé na providência divina? Será que o desprendimento? Será que a generosidade? Será que a esperança?
P. Vitus Gustama,SVD

2 comentários:

Unknown disse...

Muito bom.

Vitus Gustama disse...

Muito obrigado, Júlia. Tenha uma boa reflexão.

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