Domingo,27/10/2019
VIVER
E REZAR COM SIMPLICIDADE E HUMILDADE
XXX DOMINGO COMUM “C”
15b
O Senhor é um juiz que não faz discriminação
de pessoas. 16 Ele não é parcial em
prejuízo do pobre, mas escuta, sim, as súplicas dos oprimidos; 17 jamais despreza a súplica do órfão,
nem da viúva, quando desabafa suas mágoas. 20
Quem serve a Deus como ele o quer, será bem acolhido e suas súplicas subirão
até as nuvens. 21 A prece do humilde atravessa as nuvens: enquanto não chegar não terá
repouso; e não descansará até que o Altíssimo intervenha, 22ª
faça justiça aos justos e execute o
julgamento.
Segunda Leitura: 2Tm 4,6-8.16-18
Caríssimo: 6
Quanto a mim, eu já estou para ser oferecido em sacrifício; aproxima-se o
momento de minha partida. 7 Combati o bom combate,
completei a corrida, guardei a fé. 8
Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me
dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos que esperam com amor
a sua manifestação gloriosa. 16 Na minha primeira
defesa, ninguém me assistiu; todos me abandonaram. Oxalá que não lhes seja
levado em conta. 17 Mas o Senhor esteve a meu lado e me deu forças;
ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente, e ouvida por
todas as nações; e eu fui libertado da boca do leão. 18
O Senhor me libertará de todo mal e me
salvará para o seu Reino celeste. A ele a glória, pelos séculos dos séculos!
Amém.
Evangelho: Lc 18,9-14
Naquele tempo, 9 Jesus
contou esta parábola para alguns que confiavam na sua própria justiça e
desprezavam os outros: 10 “Dois homens subiram ao
Templo para rezar: um era fariseu, o outro cobrador de impostos. 11 O fariseu, de pé, rezava assim em seu
íntimo: ‘Ó Deus, eu te agradeço porque não sou como os outros homens, ladrões,
desonestos, adúlteros, nem como este cobrador de impostos. 12 Eu
jejuo duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda’. 13 O
cobrador de impostos, porém, ficou à distância, e nem se atrevia a levantar os
olhos para o céu; mas batia no peito, dizendo: ‘Meu Deus, tem piedade de mim que sou pecador!’ 14
Eu vos digo: este último voltou para
casa justificado, o outro não. Pois quem se eleva será humilhado, e quem se
humilha será elevado”.
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As leituras deste Domingo nos falam sobre o
como deve ser nossa relação com Deus: com muita humildade por sermos pecadores,
mas confiamos totalmente na misericórdia do Senhor. O centro de tudo é saber-se
e sentir-se pecador e débil. Esta é a Boa Notícia: que sentir-se pecador não é uma
desgraça, mas sim uma alegria.
A Primeira Leitura e
o Salmo
Responsorial de hoje, que em
princípio se referem aos pobres e oprimidos do mundo, hoje podemos entender
como uma canção para esse Deus que "gosta" de salvar aqueles que não
têm como se salvar, que somos todos nós. É necessário, apenas, que o
reconheçamos e nos coloquemos nas mãos deste Deus misericordioso. Deus “jamais despreza a súplica do órfão, nem da
viúva, quando desabafa suas mágoas. ... A
prece do humilde atravessa as nuvens: enquanto não chegar não terá repouso; e
não descansará até que o Altíssimo intervenha, faça justiça aos justos e execute
o julgamento”, lemos na Primeira Leitura de hoje.
E na Segunda Leitura são
Paulo nos relembra que pretender salvar-se mediante o cumprimento da Lei é
impossível, pois ninguém jamais poderia dizer que cumpre a Lei totalmente. O
que salva não é chegar a cumprir tudo o que há que cumprir e sim caminhar pelo caminho
de Jesus Cristo com muita confiança, com muita fé.
No Evangelho de hoje, Jesus sublinha a humildade
do publicano, seu arrependimento e a abstenção de julgar em seu coração, e isto
será o que o justifica e que o faz voltar para a casa com o sentimento profundo
do perdão de Deus.
O fariseu mais que rezar a Deus, se reza a si
mesmo. Ele tem ousadia de dar graças por não ser como os demais homens:
ladroes, injustos e adúlteros. Para ele a salvação não depende de Deus, mas de
si mesmo, de sua própria fidelidade, de sua própria vida. Isso faz que para o
fariseu a Lei seja fonte de direitos diante de Deus. Para ele, as boas obras lhe
fazem merecedor, por direito próprio, da própria salvação. E ao mesmo tempo,
ele despreza quem não vive como ele vive.
A figura do fariseu do Evangelho de hoje
podemos encontrar com certa frequência nos círculos cristãos: homens
cumpridores, seguros de si mesmos, que despezam os que não são como eles.
Todos nós temos em nossas vidas uma série de
atitudes farisaicas que nos leva a acreditar que somos bons, melhores do que
outros. Todos nós, em alguma ocasião, pensamos no que Deus nos dará " como
pagamento justo pelos nossos méritos".
Cristo condena o fariseu não por ser um
religioso, não por levar uma vida moral digna, nem por praticar fiemente o
jejum e o dízimo. O que Cristo critica nele é seu espirito de juízo que o leva
a pensar que não existe outra forma de vida religiosa que possa merecer a graça
de Deus. Cristo quer nos libertar do juízo sobre nossos irmaos na Igreja.
Somos fariseus quando esquecemos a grandeza
de Deus e nosso nada, e cremos que as virtudes próprias exigem o desprezo dos
demais irmãos. Somos fariseus quando nos separamos dos demais irmãos e nos
cremos mais justos, menos egoístas e mais limpos do que os outros. Somos
fariseus quando entendemos que nossas relações com Deus hão de ser
quantitativas e medimos somente nossa religiosidade a partir das missas e orações.
O importante é começarmos po confiar no amor
de Deus, que tudo pode e tudo supera, inclusive nossos erros mais graves; é
reconhecer nossa pequenez, nossa impotência, nosso nada que somente fica pleno
precisamente por esse amor de Deus; é reconhecer que nossa principal obrigação é
tratar de fazer todo o bem que possamos para todos os homens, sem distinção; é
ser reflexo do amor que Deus nos tem, sabendo que nada somos e que estamos
completamente nas mãos de Deus; é ter sempre muito presente que nossa salvação não
é obra obtida pelo homem a base de cumprimentos de normas ou regras e sim dom
generoso do amor de Deus. Se tivermos consciência disso tudo, começaremos a “cumprir”
menos para começarmos a amar mais. Sobretudo, nos sentiremos irmãos de todos, não
superiores a ninguém.
É curioso comprovar que os santos se
consideram sempre uns grandes pecadores, pois eles compreendem de verdade o que
o pecado significa. Somente à luz de Deus é possível reconhecer a própria miséria.
Fora desta luz não se conhece nem reconhece o pecado. A consciência do pecado é
o que paradoxalmente nos aproxima de Deus. Quando se toma consciência do
pecado, em toda sua terrível amargura, aparece a esperança de salvação.
Estendamos um pouco mais nossa reflexão sobre o texto do
Evangelho de hoje!
Continuamos a acompanhar as Lições do Caminho
(Lc 9,51-19,28) dadas por Jesus aos discípulos durante sua caminhada para
Jerusalém onde ele será crucificado e morto. Mas também será ressuscitado e a
partir de Jerusalém, o Senhor vai enviar seus discípulos para o resto do mundo
(At 1,8).
No Domingo anterior o Evangelho falou da
oração perseverante e a fé no Deus que sempre atende as nossas orações. Continuando
o tema da oração vê-se agora como se deve orar. A parábola do fariseu e do
cobrador de impostos (publicano) no evangelho deste domingo é exclusivamente
lucana. Ela não é uma história verdadeira, mas uma história que diz alguma
coisa de verdadeiro, como toda parábola. Nesta parábola o evangelista Lucas
contrapõe duas atitude: a atitude do fariseu que pensa ganhar a salvação com o
seu próprio esforço. Por isso, segundo ele, Deus tem obrigação de atender sua
“oração”. Por outro lado, há outra atitude: a do publicano que reconhece a sua
condição de pecador e pede a Deus a conversão. O publicano se apoia na
misericórdia de Deus e não em suas obras. Para Lucas, a misericórdia é a lei
fundamental da ação de Deus. A atitude tão humilde do publicano diante de Deus,
para o evangelista, serve como o modelo para sua comunidade e seus leitores.
O texto podemos dividir em três partes: v.9 serve como uma introdução; vv.10-14a falam
da parábola do fariseu e publicano e v.14b serve como
uma sentença generalizante.
V.9: “Jesus contou esta parábola para alguns que confiavam na sua própria justiça e
desprezavam os outros”.
Esta pequena introdução é destinada a “alguns
que, convencidos de serem justos, desprezavam os outros”. Com a palavra “alguns”
sublinha-se a mensagem para qualquer um, seja fariseu, publicano ou outra
pessoa, pois sentir-se superior aos outros não é exclusivo para os fariseus.
Todos sabem que um orgulhoso/arrogante não se
preocupa em conhecer a verdade, mas apenas em ocupar uma posição em que ele
possa ser o centro e a norma; livre de qualquer subordinação, ele pretende que
tudo esteja sujeito a si próprio. O orgulhoso/arrogante possui todos os vícios:
ser egoísta, injusto, ingrato, imoral, fanfarrão (está sempre falando de si,
atribuindo a si próprio elogios por façanhas jamais realizadas).
Depois deste versículo introdutório vem a parábola (vv.10-14b). Na parábola temos a encenação de
duas personagens profundamente opostas nas pessoas do fariseus e do publicano,
para representar os dois papeis. O fariseu representa o” justo” reconhecido
como tal no judaísmo e o publicano que é enriquecido ilegalmente como cobrador
de impostos, por isso é considerado um pecador público.
O fariseu de nossa parábola observou
escrupulosamente todos os mandamentos até os mais detalhes e as proibições da
lei. A lei prescrevia um único jejum público por ano, no dia da expiação (Lv
16,29-39). Porém, o nosso fariseu jejuava duas vezes por semana, nas segundas e
nas quintas-feiras, para compensar os pecados dos outros e atrair sobre seu
povo as bênçãos de Deus. Por isso, era uma obra de merecimento adicional. Além
disso, a lei prescrevia o dízimo do trigo, do vinho novo, do azeite, dos
primogênitos do gado e do rebanho a fim de poder ajudar o serviço do Templo e
as obras de caridade (Dt 14,22-29). Mas o nosso fariseu paga o dízimo de todos
os seus rendimentos e de todos os alimentos que compra e até mesmo as ervas do
jardim (Lc 11,42). Ele ora como todos os devotos judeus: de pé, com os braços
levantados e a cabeça erguida. Ele agradece a Deus. Esta é a forma clássica da
oração bíblica e judaica: o louvor e o agradecimento a Deus (cf. Lc 10,21).
Este homem piedoso, com efeito, se preocupa com o futuro do seu povo. É
exatamente o contrário duma pessoa interessada ou egoísta. Ele se sacrifica
pelo bem comum. Até aqui ninguém conseguiria descobrir nele alguma
transgressão.
Qual, então, a falha do fariseu?
Segundo, ele não age por
amor, pois menospreza o pecador. Ele dá graças a Deus não porque Deus é a fonte
de toda justiça, mas porque não é “como o resto dos homens: ladrões, injustos,
adúlteros e nem como este publicano”. Ele se preocupa com o futuro da nação mas
não ama o seu povo. Fica sozinho com a contagem de seus méritos. Até mesmo a
palavra “obrigado” /”agradecer” perde o seu significado, porque é dita apenas
em função de si mesmo. Essa palavra mais sagrada e mais expressiva da
gratuidade do amor é profanada pela arrogância do “eu”. Até mesmo o nome de
Deus é o pressuposto de um interlocutor de um diálogo que não houve. Na
realidade, o fariseu está concentrado apenas em si mesmo. A sua prece é um
falso diálogo, que tudo contamina e profana: Deus, o agradecimento, a si mesmo,
aos outros. Deus é apenas uma oportunidade para ele falar de si mesmo, e a
egolatria, arrogante e presunçosa, transforma-se em desprezo pelos outros.
O resultado dessa prece são as trevas de uma
vida que permanece a mesma: com o silêncio de Deus, a distância hostil dos
outros e o retorno mortificante ao próprio pecado.
Um perigo que corremos na nossa vida
espiritual e comunitária é o de nos imaginarmos perfeitos, santos, inteligentes
e piedosos. Consequentemente, corremos o perigo de nos colocarmos acima dos
outros na própria oração e na vida cotidiana com os demais. Nós sentimo-nos
superiores aos demais. O ato de julgar encontra-se, por vezes, naqueles mesmos (todos
nós) que guardam o domingo. O ir à igreja pode ser motivo para se sentir à
vontade para olhar de modo severo a quem não vai. Isto é o sinal de que não
houve a prece(oração). Assim a finalidade de ir à igreja não é mais o serviço
ou a missão, mas é o destacar-se. O resultado não é o compromisso, mas o
julgamento, que aumenta ainda mais a distância.
Somos fariseus cada vez que apelamos à nossa
boa consciência, ao cumprimento cultual, à cultura ou status religioso e
social, para nos julgarem melhores e desprezarem os “novos publicanos”:
marginalizados, alcoólicos, toxicodependentes, divorciados, mães solteiras,
prostitutas, vigaristas, oportunistas etc.... Com isto corremos o perigo de
estarmos excluídos da misericórdia divina, que somente alcançaremos
confessando-nos pecadores e miseráveis diante da tamanha santidade de Deus. O
farisaísmo nos impede de ver o que somos e falseia a nossa relação com Deus e
com os irmãos, nossos próximos. Precisamos, por isso, pedir a Deus que nos ilumine
para que possamos nos ver tal como somos e nos reconhecer pecadores. Com este
reconhecimento correremos sempre ao encontro do Senhor para que ele nos perdoe
e nos fortaleça dia após dia até o nosso encontro definitivo com ele na vida
eterna.
E o publicano? Por que Jesus o justifica na
sua oração? Qual é a sua virtude se ele é um publicano (um pecador público)?
A lei dizia que, para salvar-se, o publicano
deveria restituir tudo o que roubou e mais 20 ou 25% dos juros e ainda deveria
abandonar imediatamente a sua profissão como cobrador de impostos. Condições
tão difíceis de ser cumpridas que os rabinos concordavam em afirmar que para os
publicanos a salvação era praticamente impossível. É claro que o publicano não
é um santo; pelo contrário, ele é chamado, literalmente “o pecador”, não “um
pecador”. É um ladrão diplomado, um explorador nojento. Ele sabe disto e nem
procura a mínima desculpa. Ele reconhece diante de Deus quem ele é realmente.
Ele nem tem a coragem de levantar os olhos para o céu e de erguer as mãos, como
era praxe, para rezar. Ele olha para o chão e bate no peito como aquele que
está numa situação de desespero, suplica com a fórmula do pecador que não sabe
fazer o elenco de seus pecador, dizendo: ”Meu
Deus, tem piedade de mim, pecador!” (cf. Sl 51,3). É a oração do pobre que
confia totalmente em Deus. Sua “segurança” é a misericórdia de Deus. A Primeira
Leitura nos diz: “A prece do humilde atravessa as nuvens:
enquanto não chegar não terá repouso; e não descansará até que o Altíssimo
intervenha, faça justiça aos justos e execute o julgamento” (Eclo
35,21-22ª). O humilde se sente muito pequeno e limitado diante da santidade de
Deus. Ao lado da sarça ardente da santidade de Deus, sente-se vivamente o
limite de ser criação e o peso do próprio pecado. Quem confessa sua pobreza e
sua incapacidade ou sua pecaminosidade, confiando ilimitadamente na ação
salvífica de Deus por meio de Jesus Cristo, obtém a vida nova em Deus. Nele
Deus se glorifica.
O mistério do amor, quando presente na prece,
preocupa o coração da pessoa antes de inundá-lo de alegria (cf. Lc 1,29;
5,8;18,3; Mt 8,8). O temor da santidade de Deus revela a transparência e a
verdade de uma consciência frágil ou de ser pecador. A ausência de temor a Deus
(como aconteceu com o fariseu) dá margem à indiferença diante dele, ao risco de
desprezá-lo, à perda do bom senso. A proximidade da santidade de Deus faz
perceber entre sua luz e a sombra do pecado entre os meandros do coração. Este
é o indício do verdadeiro encontro com Deus numa verdadeira oração. A única
riqueza do cobrador de impostos é uma consciência verdadeira, que se torna
espaço vital para acolher a dádiva de Deus com sua misericórdia e sua justiça.
O cobrador de impostos descobre imediatamente a presença libertadora do amor e
se abre à confiança e ao poder renovador da prece.
A lição final da parábola (v.14 a),
introduzida com força e autoridade (Eu
vos digo …): “Eu vos digo: este
último voltou para casa justificado, o outro não”.
O segredo da justificativa interior é a humildade. A humildade
gera a verdade. O orgulho, no entanto, é a raiz de toda falsidade. Quando a pessoa não
aceita a si própria e a seus limites, termina por aceitar qualquer compromisso
para alcançar as próprias intenções: o seu coração torna-se uma central
desordenada de pensamentos e de palavras distorcidas e enganadoras. A humildade
do cobrador de impostos torna possível um grande desejo de autenticidade, que
faz surgir uma visão verdadeira de si e o torna disponível ao perdão de Deus,
ao dom de sua graça. A humildade abre o coração à luz que vem de Deus e é fonte
de paz. A humildade é a pureza na oração: Deus é Deus e o ser humano é apenas
um pobre mendicante de misericórdia. A humildade na oração e na vida é o terreno
livre para acolher a semente da justiça. O terreno fértil da santidade.
A sentença final (v.14b) é uma adição que já
encontramos em Lc 14,11 (cf. Mt 23,12). Ali tem um nítido sentido escatológico:
na hora do Julgamento final “todo aquele que se exalta será humilhado e quem se
humilha será exaltado”. Aqui temos o mesmo sentido, dado ao discurso sobre o
Dia do Filho do Homem (Lc 17,22-37). O julgamento e a ação de Deus se
qualificam por um reviravolta total da situação do homem que está diante dele (cf.
Lc 1,51-53).
A nossa vida de cada dia, com
certeza, facilmente nos desgasta, se não pomos amor em todos os nossos atos,
mesmo nos mais simples e humildes. O egoísmo nos fecha os olhos e só os abrimos
para ver o que nos interessa. A vaidade nos faz perder tempo em coisas fúteis e
sem valor. O exagerado cuidado das coisas terrenas pode levar-nos a esquecer os
valores espirituais. O farisaísmo, infelizmente, continua vivo. Ele é uma
atitude religiosa que nos impede ver-nos como somos e que deturpa nossa relação
com Deus e com os irmãos. Uma falsa humildade é a forma mais refinada de
orgulho.
O publicano não deve ser considerado como um
modelo de vida virtuosa. Ele é somente a imagem da única atitude certa que o
homem deve assumir diante de Deus. É o pobre que sabe poder oferecer a Deus só
o seu coração. O homem, na verdade, não possui nada que o torne digno da
complacência divina. O universo todo é de Deus. Ele que o criou. Tudo é
presente de Deus. E sabemos que cada vez que viemos para a igreja para falar
com Deus, na verdade, viemos para escutá-Lo porque só Ele tem palavra da vida
eterna. E cada vez que viemos para oferecer algo a Deus, na verdade, viemos
para receber a Sua bênção para que possamos sair do templo/igreja firmes e esperançosos.
Sempre que nós rezamos de verdade, a nossa oração é eficaz não
porque modificamos Deus, mas porque nos modificamos, assim saímos diferentes do
que entramos.
O mais
difícil da oração não é tanto saber se Deus nos escuta, mas conseguir que nós O
escutemos. Não peçamos a Deus que governe a nossa vida e o mundo através de
milagres; peçamos-Lhe o milagre de amar e nós veremos que nosso amor transforma
as pessoas e o mundo. Por isso, se a nossa oração nos afasta dos homens, isto
significa que não nos encontramos ainda com Deus dos homens mas com a nossa
fantasia. Rezemos diante de Deus como uma criança, mas logo voltemos à nossa
vida com nossa responsabilidade de adultos.
Por tudo isto, pedimos a Deus que tenhamos um
coração de uma criança diante Dele para sermos capazes de nos abandonarmos
totalmente nas mãos de Deus porque o resto Ele é que vai tomar conta; um
coração de irmão diante do nosso próximo, porque cada um é irmão de muitos pelo
simples fato de chamar Deus de “Pai Nosso” e um coração de juiz para nós mesmos
para sabermos distinguir o que é certo e o que é errado, o que pode ser mudado
e o que não pode e sabedoria para distinguir os dois.
P.
Vitus Gustama,SVD
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