domingo, 13 de outubro de 2019

Evangelista Lucas, 18/10/2019
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SÃO LUCAS, EVANGELISTA
18 de Outubro


Primeira Leitura: 2Tm 4,10-17b
Caríssimo, 10 Demas me abandonou por amor deste mundo, e foi para Tessalônica. Crescente foi para a Galácia, Tito para a Dalmácia. 11 Só Lucas está comigo. Toma contigo Marcos e traze-o, porque me é útil para o ministério. 12 Mandei Tíquico a Éfeso. 13 Quando vieres, traze contigo a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos. 14 Alexandre, o ferreiro, tem-me causado muito dano; o Senhor lhe pagará segundo as suas obras! 15 Evita-o também tu, pois ele fez forte oposição às nossas palavras. 16 Na minha primeira defesa, ninguém me assistiu; todos me abandonaram. Oxalá que não lhes seja levado em conta. 17 Mas o Senhor esteve a meu lado e me deu forças, ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente, e ouvida por todas as nações.


Evangelho: Lc 10,1-9
Naquele tempo, 1 o Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos e os enviou dois a dois, na sua frente, a toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir. 2 E dizia-lhes: “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso, pedi ao dono da messe que mande trabalhadores para a colheita. 3 Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos. 4 Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias, e não cumprimenteis ninguém pelo caminho! 5 Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa!’ 6 Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele; se não, ela voltará para vós. 7 Permanecei naquela mesma casa, comei e bebei do que tiverem, porque o trabalhador merece o seu salário. Não passeis de casa em casa. 8 Quando entrardes numa cidade e fordes bem recebidos, comei do que vos servirem, 9 curai os doentes que nela houver e dizei ao povo: ‘o Reino de Deus está próximo de vós’”.
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I. O Evangelista Lucas


Não temos autobiografia do evangelista Lucas. Mas através de suas duas obras (o evangelho de Lucas e os Atos dos Apóstolos) podemos saber e conhecer quem é Lucas. Aqui coloquei apenas algumas pinceladas sobre o perfil do evangelista Lucas. Tudo fica aberto para qualquer acréscimo.


Lucas é um homem culto. O seu grego é um dos mais apurados do Novo Testamento. É um escritor de bom gosto. Em vez de usar palavra “prostituta” ele usa a expressão “mulher pecadora”.


É um homem da cidade. Nas suas obras ele fala constantemente de cidades (40 vezes. Hoje em dia mais de dois terços da população mundial moram nas cidades, o que exige a coragem de ousar novos caminhos na nova evangelização).


Ele tem certa visão universal. Em vez de usar a expressão “o mar da Galiléia”, ele usa a expressão “o lago da Galiléia” (o lago da Galiléia tem 13 km por 8 km de tamanho).


É um homem muito sensível para a questão social: ele ataca as desigualdades entre os ricos e os pobres, defende a dignidade da mulher (mulher era inferior em tudo), se preocupa com o faminto, com o pobre, com aquele que chora.


Ele é um homem de extrema bondade e compaixão em relação aos fracassados na vida em todos os sentidos. Podemos encontrar tudo isso, como exemplo, a parábola do filho pródigo que é uma das grandes peças da literatura universal e uma das mais conhecidas parábolas jamais contados, quase que é um evangelho dentro do evangelho. Ele crê que o fracasso não deva vencer o homem; deve-se dar sempre um salto por cima de todos os fracassos e “começar” sempre confiando na misericórdia de Deus sem limites (“começar” é o termo que Lucas usa). Para Lucas, a misericórdia é o critério supremo da vida cristã. A misericórdia supera ou vence o próprio juízo de Deus.


Lucas é um homem extremamente ecumênico. Na sua orientação ecumênica ele envolve os próprios judeus. Ele mostra para com os judeus a mais profunda simpatia e preocupação. Ele tem uma profunda clareza sobre a salvação trazida por Jesus. A salvação é para todos, sem fronteiras nem preconceitos.


Lucas é chamado de “o evangelista da oração”. O evangelho de Lucas é o único que inicia (Lc 1,8-10) e termina (Lc 24,53) seu evangelho com o tema da oração. Neste evangelho, Jesus orou em cada decisão importante e em todo momento decisivo de sua vida. Ele orou no batismo (3,21), antes de escolher os discípulos (6,12), em Cesaréia de Filipe na profissão da fé de Pedro (9,8), no monte Tabor na transfiguração (9,28s), no Jardim de Getsêmani (22,39-46), na cruz (23,34.46) e ensinou aos discípulos o Pai-Nosso, oração-modelo (11,1ss). Neste Evangelho encontramos várias parábolas sobre a oração (Lc 11,5-8; 18,1-14). Jesus foi transfigurado enquanto rezava (Lc 9,29). Neste evangelho podemos encontrar as orações mais conhecidas e citadas pela Igreja: o Magnificat (1,46-56); o Benedictus (1,67-79); o Glória (2,14); o Nunc Dimittis (2,29-32). Além disso, Lucas ainda coloca três parábolas sobre oração (11,5-13; 18,1-8; 18,9-13).


A oração é a expressão mais viva da fé. Quem tem fé precisa orar e quem ora porque tem fé. Quem vive profundamente reza. Por isso, quem sabe viver, saber também rezar. E quem sabe rezar, sabe também viver. A oração é também o lugar da revelação. Deus se manifesta quando alguém está em sintonia com Deus e com a realidade. Na oração verdadeira Deus se revela. Por isso, empobrecer a oração significa empobrecer toda a teologia. No seguimento de Jesus, a oração sustenta a caminhada do cristão. Na medida em que ele reza verdadeiramente, a sua vida se transforma. A vida e a oração se tornam uma unidade. Quem reza desligando-se da realidade é uma alienação, é uma fuga. Um verdadeiro cristão reza aquilo que ele vive e vive aquilo que ele reza. Por isso, quem sabe viver bem sabe também rezar bem e quem sabe rezar bem também sabe viver bem.


O evangelho de Lucas é o evangelho de alegria. O verbo “alegrar-se” ocorre 7 vezes em Lucas e nunca nos demais evangelhos. O substantivo “alegria” ocorre 12 vezes em Lucas, e 16 vezes nos três outros evangelhos (1,14.44.47.58; 2,10;10,17.20.21;15,8-10.11. 36; 19,6.37; 24,52-53). A alegria é o fruto de uma oração profunda. A alegria é a característica do cristão verdadeiro que vive na esperança, na expectativa e na certeza da ressurreição; que vive na certeza de uma vitória sobre o fracasso. A alegria é em Lucas um mandamento de Jesus: “Alegrai-vos porque vossos nomes estão inscritos nos céus” (Lc 10,20). A tristeza e o desânimo são um sinal da ausência de uma verdadeira esperança cristã que no fundo provém de uma falta de fé.


O evangelho de Lucas é o evangelho do Espírito. Lucas - Atos (dos Apóstolos) seria “um verdadeiro tratado de pneumatologia” (ciência sobre o Espírito Santo), segundo Lina Boff. Lucas divide a história da salvação em três etapas: 1). O tempo de Israel; 2). O tempo de Jesus; 3). O tempo da Igreja. E como fio condutor destes três tempos ou etapas é o Espírito Santo. O Espírito Santo é que conduz e guia todos estes tempos. O Espírito Santo funda a missão de Jesus e funda a missão da Igreja. O Espírito Santo é o ponto de união entre o Antigo testamento e o Novo Testamento. O Espírito Santo está no início e no decurso do ministério de Jesus. Ele está no início e na caminhada da Igreja: as comunidades são fruto e manifestação do Espírito Santo. O Espírito Santo é dinamismo, abertura para o novo, dom e compromisso, força que leva a enfrentar o novo e o desconhecido.


Símbolo do Evangelho de Lucas é TOURO- Refere-se ao ofício de Zacarias. Como sacerdote Zacarias oferecia sacrifícios. Jesus vem suprimir esses sacrifícios de animais (Leia a Carta aos Hebreus).


II. Mesnagem Do Evangelho Proclamado Neste Dia


Depois de ter enviado em missão os Doze (Lc 9,1ss), Jesus envia os setenta (e dois) discípulos a uma missão. Jesus envia seus discípulos depois que lhes recomendou que roguem ao Dono da messe que envie os trabalhadores da mesma (Lc 10,2). Daí que a oração não deve ser entendida somente como um apoio à missão e sim que é também e sobretudo, parte integral da mesma missão. Não há missão sem oração. Para um autêntico apóstolo, a oração significa já estar em missão, e a missão tem seu começo na oração.


Ao enviar seus discípulos em missão, Jesus lhes ensina uma metodologia muito concreta: a imagem dos “cordeiros em meio de lobos” (Lc 10,3), não deixa nenhum lugar para o equívoco. Do mesmo modo que Jesus, Pastor, se fez cordeiro por amor a nós, também todo verdadeiro pastor da comunidade deve estar disposto a fazer-se cordeiro, disposto para o sacrifício por amor.


Toda vez que celebramos a festa de um dos Apóstolos, a Igreja nos convida a levantarmos nossos olhos para os campos cobertos de messe e a pedirmos ao Dono da messe que envie mais trabalhadores. Hoje mais do que nunca, necessitamos de mais homens e mulheres que, com generosidade, entreguem toda a sua vida à construção do Reino da fraternidade e da paz.


Hoje, de modo particular, ao celebrar um dos evangelistas, a Igreja necessita muitos e muitos de santos evangelizadores que, com sua pregação e com o testemunho de sua vida, sejam um instrumento de Deus como foi são Lucas, para que o mundo conheça o amor de Deus. Mas não somente necessita da generosidade dos chamados a ser apóstolos, mas também daqueles que fazem possível a ação dos enviados.


Ao enviar os 70 (e dois) discípulos para a missão Jesus lhes dá as seguintes recomendações:


Primeiro, Deus quer que mudem as relações entre os seres humanos; que todos se vejam como iguais e se tratem como irmãos. Por isso, eles têm que viver como uma família, sem competições e sem ambições. O Reino não é tarefa para gente solitária. Por isso, Jesus envia os 70 (e dois) de dois em dois para que se ajudem, se confrontem e se complementem. Quando se compartilhar o que se tem, haverá sobra. Esta é a experiência do grupo de Jesus e daqueles que querem ser discípulos de Jesus.


Segundo, o Reino de Deus que eles anunciarão vai vencer o mal e a morte, porque o Reino de Deus vai ter a última palavra e não o mal. Por isso, o mal não tem futuro. Deus quer que todos tenham vida (Jo 10,10). Por isso, todos têm que optar pela vida e não pela morte eterna, e pelo bem e não pelo mal.


Terceiro, todos devem pôr toda sua confiança no Pai celeste, mas nos meios humanos. Isso é condição fundamental para quem quer colaborar com o Reino de Deus. É a pobreza no espírito. Essa pobreza no espírito lhes dará liberdade e será um testemunho maior do que mil palavras de que o Reino não se impõe pela força e sim que se oferece como amor e por isso, livre de todo poder. E devem aprender a reconstruir as relações de confiança formando uma comunidade de irmãos como o próprio Deus quer. Devemos abandonar nossos egoísmos, deixar a auto-suficiência e nos entregar nas mãos de Deus para que o Reino de Deus aconteça aqui e agora.


O fundamental que os discípulos devem ter em conta é que eles estão trabalhando na construção do Reino de Deus e não por seu próprio reino. Se cada um se preocupar em construir o próprio reino, haverá guerra permanente e disputa permanente, pois cada um quer defender o próprio reino e não o Reino de Deus. Quem tem consciência de que trabalha pelo Reino de Deus, também acredita na providência divina.


O envio dos 70 (e dois) tem, então, como horizonte fundamental o Reino de Deus. Este constitui o conteúdo de toda pregação cristã e o horizonte que jamais devemos perder de vista quando referimos à ação da Igreja no mundo. A Igreja existe em função do Reino. A Igreja existe a serviço do Reino de Deus. A Igreja não é o Reino de Deus.


A missão serve tanto para formar missionários como para despertar os que são visitados para serem também missionários. Todos são enviados para fazer missão.


Jesus saiu do Pai ao nosso encontro para nos salvar e nos indica o caminho para a eternidade. Ele próprio é o Caminho (cf. Jo 14,6). Ele é o verdadeiro missionário. Durante sua passagem neste mundo Jesus vivia saindo ao encontro dos necessitados: doentes, abandonados, marginalizados, pecadores, publicanos e assim por diante. Ele desempenhou seu papel como um verdadeiro pastor que vai procurar as ovelhas perdidas por amor. Ele ama cada ser humano de maneira particular.


A partir da vida de Jesus entendemos que a missão é uma saída ao encontro dos outros para formar uma comunhão de irmãos cujo Pai comum é o próprio Deus. Talvez as seguintes palavras de dois grandes personagens na evangelização nos ajudem a entendermos este pensamento. Primeiro, é a reflexão do Dom Hélder Câmara que dizia: “Missão é partir, caminhar, deixar tudo, sair de si, quebrar a crosta do egoísmo que nos fecha no nosso eu. É parar de dar voltas ao redor de nós mesmos como se fôssemos o centro do mundo e da vida. Missão é sempre partir, mas não devorar quilômetros. É sobretudo abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los e encontrá-los. E se, para encontrá-los e amá-los, é preciso atravessar os mares e voar lá nos céus, então missão é partir até os confins do mundo”.


Segundo, a famosa reflexão do Papa Francisco na sua exortação apostólica, Evangelii Gaudium, que nos escreveu: “Saiamos, saiamos para oferecer a todos a vida de Jesus Cristo! Repito aqui, para toda a Igreja: prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos. Se alguma coisa nos deve santamente inquietar e preocupar a nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força, a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de vida. Mais do que o temor de falhar, espero que nos mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção, nas normas que nos transformam em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta e Jesus repete-nos sem cessar: «Dai-lhes vós mesmos de comer» [Mc 6, 37] (EG n. 49).


Sair de si é a primeira expressão necessária para descobrir a existência dos outros e os valores de nossa vida: sair de casa, sair de nossos recintos e acomodações, sair de nossos preconceitos e ideologias, sair de nossos interesses egoístas, preferencias e confortos, rotinas e mediocridades, sair de nossas preocupações habituais para estender as mãos a fim levantar quem se encontra caído na vida. Caminhar para o outro significa começar a conhecê-lo. A solidariedade pede um encontro com os outros, com os necessitados. Ao ir em direção ao outro, a pessoa se converterá radicalmente. Santo Isidoro de Sevilha dizia: “Se tu permaneceres no bem, a tristeza se afastará de ti; se perseverares na justiça, a tristeza não te assaltará. Nem a peste nem a morte causarão terror, se viveres bem e piedosamente”.


É bom cada um perguntar-se: “O que é que tenho contribuído na missão do Reino de Deus? O que é que tenho feito até agora na evangelização? Qual é o lugar da Palavra de Deus na minha vida? Será que faço parte daqueles que criticam muito, mas nada colaboram?”.
P. Vitus Gustama,svd

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