segunda-feira, 7 de outubro de 2019

09/10/2019
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PAI-NOSSO
REZAR O PAI NOSSO É VIVER A VIDA DE UMA MANEIRA NOVA COMO IRMÃO DE TODOS
Quarta-Feira da XXVII Semana Comum


Primeira Leitura: Jonas 4,1-11
1 Este desfecho causou em Jonas profunda mágoa e irritação; 2 orou então ao Senhor, dizendo: “Peço-te me ouças, Senhor: não era isto que eu receava, quando ainda estava em minha terra? Por isso, antecipei-me, fugindo para Társis. Sabia que és um Deus benigno e misericordioso, paciente e cheio de bondade, e que facilmente perdoas a punição. 3 E agora, Senhor, peço que me tires a minha vida, para mim é melhor morrer do que viver”. 4 Disse o Senhor: “Achas que tens boas razões para irar-te?” 5 Jonas saiu da cidade e estabeleceu-se na parte oriental e ali fez para si uma cabana, onde repousava à sombra, a ver o que ia acontecer à cidade. 6 O Senhor fez nascer uma hera, que cresceu sobre a cabana, para dar sombra à cabeça de Jonas e abrandar seu aborrecimento. E Jonas alegrou-se grandemente por causa da hera. 7 Mas, ao raiar do dia seguinte, Deus determinou que um verme atacasse a hera, e ela secou. 8 Quando o sol se levantou, mandou Deus do oriente um vento quente; e o sol bateu forte sobre a cabeça de Jonas, que se sentiu desfalecer; teve vontade de morrer, e disse: “Para mim é melhor morrer do que viver”. 9 Disse Deus a Jonas: “Achas que tens boas razões para irar-te por esta hera?” “Sim, respondeu ele, tenho razão até para morrer de raiva”.10 O Senhor replicou-lhe: “Tu sofres por causa desta planta, que não te custou trabalho e não fizeste crescer, que nasceu numa noite e na outra morreu. 11 E eu não haveria de salvar esta grande cidade de Nínive, em que vivem cento e vinte mil seres humanos, que não sabem distinguir a mão direita da esquerda, e um grande número de animais?


Evangelho: Lc 11, 1-4
1 Um dia, Jesus estava rezando num certo lugar. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: “Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos”. 2 Jesus respondeu: “Quando rezardes, dizei: ‘Pai, santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino. 3 Dá-nos a cada dia o pão de que precisamos, 4 e perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todos os nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação”.
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Deus Se Alegra Pelo Pecador Arrependido

Continuamos a acompanhar a leitura do livro do profeta Jonas. Estamos no último capitulo de seu livro. Jonas ficou irritado porque Deus perdoou Nínive.

A peintência dos ninivitas, longe de alegrar o profeta Jonas, causa-lhe uma grande tristeza e se queixa a Deus porque não aconteceu a destruição da cidade de Nínive através de seu anúncio: “Peço-te me ouças, Senhor: não era isto que eu receava, quando ainda estava em minha terra? Por isso, antecipei-me, fugindo para Társis. Sabia que és um Deus benigno e misericordioso, paciente e cheio de bondade, e que facilmente perdoas a punição. E agora, Senhor, peço que me tires a minha vida, para mim é melhor morrer do que viver”.

Isto mostra o temperamento mesquinho e fechado do profeta. Jonas, o anti-profeta, mostra, na verdade, um coração mesquinho. Sua reação diante do perdão de Deus é inimaginável: ele se irrita e entra em uma crise de depressão, a ponto de desejar a própria morte. Ele acredita que seu bom nome foi comprometido por não tornar realidade suas predições falsas, e ele não se importa com a glória da conversão de uma cidade populosa, Nínive.  

Na verdade, todos os profetas do AntigoTestamento se alegram com o arrependimento dos destinatários de seus alertas e pregam sempre no pressuposto de que o Senhor concede perdão a quem volta para Ele novamente. Jonas, no entanto, simboliza aqui o judeu ressentido, que considera os gentios como necessariamente destinados para a reprovação, sem esperança de reabilitação.

O hagiógrafo é satisfeito em contrastar a atitude fechada, mesquinha e temperamental de Jonas com a magnanimidade aberta do Deus dos judeus. Como pode irritar-se um profeta diante do povo convertido e que Deus o perdoa? Como pode reprovar Deus que é misericordioso: “Sabia que és um Deus benigno e misericordioso, paciente e cheio de bondade, e que facilmente perdoas a punição”?

Por causa da destruição da ramagem do arbusto (uma hera) que Deus lhe havia proporcionado a alegria momentâneo do descanso, Jonas volta a irritar-se e mais uma vez deseja a própria morte: “Para mim é melhor morrer do que viver”.

A questão que o comportamento de Jonas quer nos mostrar é esta: como é possível perdoar quem, de forma sistemática e continuada, está causando dano a outras pessoas? Como é possível que Deus seja “justo” com os que oprimem outros povos, se lhes perdoa? Econtramos a resposta mais completa no Evangelho, quando Jesus, no Sermão da Montanha, nos pede que amemos nossos inimigos (Mt 5,44), e o próprio Jesus aceita a paixão e morte, embora inocente. Com isso, Jesus quer colocar em evidência que o único caminho para que as relações entre as pessoas e os povos se tornem sólidas na justiça, no amor, e, consequentemente, na paz é amar até os que nos oprimem, isto é, continuar a querer o bem para para todos. Muitas vezes ignoramos que ser homens e mulheres em plenitude e, por conseguinte, nossa salvação não depende apenas de nosso esforço, mas, principalmente, do amor gratuito de Deus “que nos amou” primeiro (1Jo 4,10), e que nos faz transcender, sair de nós mesmos. O homem não é mais autônomo à medida que vai se apoiando mais em suas próprias forças e possibilidades, mas à medida que transcende a si mesmo, que se abre a uma realidade pessoal maior que a sua e que não é outra senão a de um Amor absoluto que Deus tem por todos os homens e, portanto, também pelos opressores.

Por isso, a pergunta é inevitável: Deus não vai sentir compaixão pela grande cidade, por seus habitantes? Deus quer levar Jonas a uma nova descoberta de que uma planta é importante, mas a vida humana é mais valiosa. Deus odeia pecado, mas ama o pecador por causa de sua misericórdia. Por isso, Deus respondeu: “Tu sofres por causa desta planta, que não te custou trabalho e não fizeste crescer, que nasceu numa noite e na outra morreu. E eu não haveria de salvar esta grande cidade de Nínive, em que vivem cento e vinte mil seres humanos, que não sabem distinguir a mão direita da esquerda, e um grande número de animais?”.

Acreditamos no amor de Deus, "bom e misericordioso, rico em piedade com os que o invocam". E vamos também ter um coração mais aberto e tolerante para este mundo que parece estar em decadência pela maldade, intolerância, corrupção, injustiça social e assim por diante. Seguramente, nossa atitude não será tão ridícula como a de Jonas. Não sejamos anunciadores da desgraça alheia, pois a mesma pode cair sobre nós. O mal atrai o mal; o bem atrai o bem. Pense no bem para que o bem pense em você. Não pense no mal para que o mal não pense em você!

Deus É o Pai De Todos e Todos São Filhos De Deus

Continuamos a caminhar ao lado do Senhor na Sua viagem para Jerusalém ouvindo suas ultimas e importantes lições para nossa vida como seus seguidores (Lc 9,58-19,28). Hoje Ele nos ensina a rezarmos como filhos e filhas diante de Deus como nosso Pai comum. Para Lucas, rezar é um compromisso de vida, uma maneira de ser. Por isso, a oração de Jesus, o Pai Nosso, é uma aceitação incondicional da vontade do Pai celeste. O Pai Nosso é a oração dos filhos.

No seu livro: Pai Nosso, o Papa Francisco escreveu: “’Pai’: sem dizer, sem ouvir essa palavra não se pode rezar. A quem eu rezo? Ao Deus Todo-poderoso? Muito distante, não conseguiria sentir sua presença aqui perto de mim; nem mesmo Jesus sentiria. A quem eu rezo? Ao Deus cósmico? Está na moda em nossos dias orar ao Deus cósmico: é a modalidade politeísta típica de uma cultura light. Você deve rezar ao Pai! é uma palavra forte, ‘Pi’. Você deve rezar Àquele que o criou, que lhe deu a vida. Ele a deu a todos, é claro, mas ‘todos’ é muito impessoal. Ele deu a vida a você e também a mim. E também é Ele que acompanha você no seu caminho, conhece toda a sua vida; o que é bom e aquilo que não é tão bom. Temos um Pai muito perto de nós, que nos abraça. Mas ‘Pai’ em que sentido? Meu Pai/ não, Nosso Pai! porque não sou filho único, ninguém de nós o é; e se não posso ser irmão, dificilmente poderei tornar-me filho desse Pai, porque Ele é o pai de todos. E se não estou em paz com meus irmãos, não posso chamar a Deus de ‘Pai’” (Papa Francisco: Pai Nosso, Ed. Planeta, 2018 pp.11-12).

No texto do evangelho do dia anterior (Lc 10,38-42) Jesus disse a Marta que ela estava agitada demasiadamente. O mundo moderno se parece com Marta: vive na agitação. Por estar na agitação acaba não conhecendo ninguém e o essencial na vida. É a perda do foco essencial.  Quem corre demais acaba não ouvindo o grito de alguém à beira de uma estrada.

Lucas nos relatou que Jesus estava rezando. Ele saiu do mundo de agitação para o mundo de serenidade a fim de encarar tudo na serenidade, inclusive a cruz fruto de sua fidelidade à vontade do Pai. Jesus reza porque necessita viajar ao centro de sua experiência filial, porque necessita respirar o carinho de seu Abba, Papaizinho celeste. O centro de Jesus é o Pai celeste. E do centro Jesus se conecta com tudo e com todos. Viajar ao centro que é Deus é viajar ao santuário de nossa identidade, onde nos descobrimos de um modo novo. Por isso, orar é como respirar. Orar é viver a vida de uma maneira nova. A vida, antes de ser vivida, precisa ser rezada.

Rezar significa abrir-se para Deus. Nossa vida não pode estar centrada em nós mesmos ou só nas coisas deste mundo. Rezar é saber escutar a Palavra d’Aquele que é maior do que nosso cérebro e dirigir-lhe, pessoal e comunitariamente nossa palavra de louvor e de súplica com confiança de filhos. A oração é mais do que recitar umas fórmulas, é, sobretudo, uma convicção íntima de que Deus é nosso Pai e que quer nosso bem. A oração nos situa diante de Deus e nos faz reconhecer tal como somos já que somos criados à imagem de Deus. A oração vai nos descobrindo o que temos de ser em cada momento. A oração nos humaniza, faz-nos mais humanos, mais criaturas, e não criadores. Se não rezarmos é impossível que nos conheçamos a fundo, porque não saberemos o que poderíamos ser, não saberemos até onde vamos. A oração nos possibilita dizermos em profundidade o que somos, o que pensamos e o que vivemos e para onde vamos.

Quando Jesus terminou sua oração, um dos discípulos pediu a Jesus: “Senhor, ensina-nos a rezar...”. Em outras palavras: Como devemos rezar e o que devemos pedir. 

A resposta de Jesus sobre como devemos rezar é esta: “Quando orardes, dizei: Pai...”. A oração, segundo Jesus, é um trato do tipo “Pai-Filho”. Trata-se de um assunto familiar baseado em uma relação de familiaridade e amor. Todos nós, para Jesus, somos filhos e filhas de Deus, independentemente de nossa maneira viver. Os filhos de cada família neste mundo são muito mais filhos de Deus do que de cada família, pois vieram de Deus através de cada família para que ela cuide bem deles. Um dia eles voltarão para o Pai comum que é Deus. Na educação dos filhos, o Pai comum que é Deus deve ser contado para que os filhos possam crescer na graça e na sabedoria diante de Deus e diante dos homens a exemplo de Jesus Cristo (cf. Lc 2,52). Maria (e José) na educação de Jesus contava com Deus. Maria, a mãe do Senhor, foi uma grande educadora, pois “Jesus crescia em estatura, em sabedoria e graça, diante de Deus e dos homens” (Lc 2,52).

Quando orardes, dizei: Pai...”. “Pai” ou “filho” é um conceito de relacionamento. Quando alguém chama o outro de pai, porque ele se reconhece ou se considera filho. Deus é chamado de “Abba”, que significa “Papaizinho” ou “Pai querido”. Acentua-se uma afetuosa relação. Ao chamar Deus de “Abba” sentimos ou experimentamos, ao mesmo tempo, o aspecto paternal e maternal de Deus. No “Abba” encontramos força, acolhimento e amor. Ao chamar Deus de “Abba” nos sentimos em casa. Estando em casa, o Pai sabe muito bem cuidar de nós amorosamente.

A imagem de Deus como Pai nos fala de uma relação baseada no afeto e na intimidade, e não no poder e na autoridade. Segundo Jesus, na oração devemos ver Deus como Pai e devemos falar como filhos. Isto quer nos dizer que devemos estar num ambiente familiar. Numa família pai ou mãe sabe muito bem das necessidades fundamentais de seus filhos. Um verdadeiro pai dá ao filho aquilo do qual ele necessita, mesmo que ele não faça nenhum pedido. Nem sempre um pai dá aquilo que o filho quer, mas dá ao filho aquilo do qual ele necessita. Jesus ensina a estarmos num ambiente familiar com Deus. Na oração devemos ter uma atitude filial de comunhão com o Pai. Deus sempre nos atende de acordo com nossa necessidade e não de acordo com nosso pedido. Pode também coincidir entre aquilo que pedimos e aquilo que Deus quer pela nossa salvação. Neste sentido, o não-atender é uma forma de atender, pois Deus quer somente nosso bem (cf. Mt 7,11).

O que devemos pedir? Jesus nos responde: ”Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o vosso nome; venha o vosso Reino; dai-nos hoje o pão necessário ao nosso sustento; perdoai-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos àqueles que nos ofenderam; e não nos deixeis cair em tentação”.

Deus é chamado para que Ele próprio santifique Seu nome. Nome é pessoa. Neste sentido o nome é Deus, enquanto se revela. Deus se santifica a si próprio quando se revela totalmente diferente. Deus se santifica pela sua auto-revelação como Pai misericordioso; quando se revela aos pequenos e os faz seus filhos.  

O Pai Nosso é uma oração entranhável que nos ajuda a nos situarmos na relação justa diante de Deus. Jesus nos ensina que na oração, Deus, nosso Pai, deve ser centro de nossa vida: “Santificado seja o vosso nome; venha o vosso Reino”. Depois pedimos por nós: que nos dê o pão de nossa subsistência. O pedido do pão de vida é reconhecer Deus como a única fonte de vida.   Que nos perdoe as culpas cometidas. O perdão das dívidas (pecados) é um convite a imitar a gratuidade de Deus (cf. Mt 5,45). Que nos dê força para não cair na tentação. Trata-se de acolher a salvação.

O Reino de Deus consiste na vivência do amor fraterno, na prática da justiça, na vida de retidão e de honestidade, na igualdade. “Venha o Teu Reino!”.

“Dá-nos cada dia o pão necessário”. Jesus usa a palavra “nos” e não “me”: “Dá-nos” e não “Dá-me”. Todos têm que ter o acesso para o alimento. Ninguém pode acumular o pão enquanto a maioria está passando fome. Não podemos deixar o próximo morrer de fome enquanto guardamos o pão. O pão é indispensável para a vida de todos.

“Perdoa-nos as nossas dívidas, pois também nós perdoamos a todos os nossos devedores”. Viver já difícil. É mais ainda conviver. Os conflitos são inevitáveis. As brigas podem acontecer. É preciso ter espaço para o mútuo perdão e para a reconciliação. Para Jesus não há perdão recebido de Deus sem o perdão dado aos outros. O perdão dado aos outros é o perdão recebido de Deus.

“Não nos deixeis cair em tentação”. Ninguém está isento de qualquer tentação. Tentação é sinal de predileção. Quem é tentado é porque está andando com o Senhor. O que se pede é para não cair na tentação e não para ficar isento da tentação. Pede-se a força de Deus para não cair na tentação.

Jesus é o nosso melhor modelo: Ele se dedica continuamente a evangelizar e atender às pessoas, especialmente as mais necessitadas e, ao mesmo tempo, reza com uma atitude filial diante do Deus Pai.

Para Jesus, rezar é um compromisso de vida, uma maneira de ser. Devemos rezar e viver aquilo que Jesus ensina. A vida deve ser uma só: na oração e na prática. Se ficarmos de joelhos diante de Deus, não devemos usar os mesmos pés para pisar sobre os demais. Quando chamamos a Deus como Pai, então devemos nos comportar como filhos e filhas de Deus entre nós, é convivermos como irmãos e irmãs do mesmo Pai do céu. Tratar mal um filho significa desrespeitar o Pai. Tratar bem um filho é agradar ao Pai. Portanto, rezar é um compromisso de vida, uma maneira de ser.

Temos que estar atentos sobre o perigo de cairmos na rotina ao rezar o Pai Nosso, pois essa rotina tira todo o gosto e prazer que merecem o Pai Nosso quando o rezarmos. Quando invocamos a Deus como Pai somos introduzidos no âmbito familiar de Deus e somos conduzidos ao sentido mais profundo de nossa comunicação com Ele. Rezar o Pai Nosso significa realizar o querer divino sobre nossa vida e sobre a história dos homens. A realização do querer divino tem como conseqüência a possibilidade d uma vida digna em que todos têm acesso ao alimento de todos os dias e que se experimenta Deus no perdão dos pecados. 
P.Vitus Gustama,svd

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