quarta-feira, 30 de outubro de 2019

01/11/2019
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O SER HUMANO É MAIS SAGRADO DO QUE QUALQUER LEI POR SAGRADA QUE ELA PAREÇA SER
Sexta-Feira da XXX Semana Comum


Primeira Leitura: Rm 9,1-5
Irmãos, 1 não estou mentindo, mas, em Cristo, digo a verdade, apoiado no testemunho do Espírito Santo e da minha consciência: 2 Tenho no coração uma grande tristeza e uma dor contínua, 3 a ponto de desejar ser eu mesmo segregado por Cristo em favor de meus irmãos, os de minha raça. 4 Eles são israelitas. A eles pertencem a filiação adotiva, a glória, as alianças, as leis, o culto, as promessas 5 e também os patriarcas. Deles é que descende, quanto à sua humanidade, Cristo, o qual está acima de todos – Deus bendito para sempre! – Amém!


Evangelho: Lc 14,1-6
1 Aconteceu que, num dia de sábado, Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus. E eles o observavam. 2 Diante de Jesus, havia um hidrópico. 3 Tomando a palavra, Jesus falou aos mestres da Lei e aos fariseus: “A Lei permite curar em dia de sábado, ou não?” 4 Mas eles ficaram em silêncio. Então Jesus tomou o homem pela mão, curou-o e despediu-o. 5 Depois lhes disse: “Se algum de vós tem um filho ou um boi que caiu num poço, não o tira logo, mesmo em dia de sábado?” 6 E eles não foram capazes de responder a isso.
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Aceitar Jesus Como Messias Que Veio Para Nos Salvar


Tenho no coração uma grande tristeza e uma dor contínua, a ponto de desejar ser eu mesmo segregado por Cristo em favor de meus irmãos, os de minha raça. Eles são israelitas”.


Depois do capitulo oitavo, sobre a vida no Espirito, São Paulo dedica três capítulos, isto é, do nono ao décimo primeiro capítulo da Carta aos Romanos, para expressar a dor que sente pela obstinação de seu povo de Israel e para refletir sobre o seu futuro.


São Paulo se sente judeu e desejaria que todos os seus “irmãos de raça e sangue” aceitassem Cristo, como ele o fez. Mas não é assim na realidade.  São Paulo chama os judeus de irmãos, forma muito explícita de amor e de bem-querer. Mas so mesmo tempo, sente uma dor profunda por vê-los, como irmãos, afastados de Cristo.  A maioria do povo eleito ficou fora da Igreja cristã, no sentido de não aceitar Cristo como Messias: “Tenho no coração uma grande tristeza e uma dor contínua”. Mas ao mesmo tempo, São Paulo reconhece que Israel tem valores muito ricos que deixou em herança para a Igreja: “A eles pertencem a filiação adotiva, a glória, as alianças, as leis, o culto, as promessas e também os patriarcas”. Desde povo nasceu o Messias, Jesus. São Paulo não consegue entender como esse povo não aceitou Jesus, o Messias?!


Nós olhamos com respeito para este mistério de obstinação. Jesus nasceu no povo judeu, da família judia, descendente da casa de Davi. Seus primeiros seguidores eram judeus. Creram nele, mas a maioria o recusou. Respeitamos sua sensibilidade e lhes agradecemos pela herança que nos deixaram: os Salmos, sua capacidade de oração, sua veneração pela Palavra de Deus, os livros inspirados do Antigo Testamento, suas festas, as grandes categorias da aliança, do memorial ou da assembleia (Qahal). Seria bom se todos aceitassem Jesus Cristo como Salvador, o Messias esperado por séculos.  


Também experimentamos dor pela falta de crença ou de fé de muitos na sociedade de hoje, pela perda da fé e dos valores cristaos que resulta na corrupção sem tamanho e sem limite, na violência que termina no assassinato de tantas pessoas, especialmente muitos jovens e mulheres vítimas da violência desenfreda e na desigualdade gritante em que poucos retém muito, e a maioria ficam sem nada.


Cada família deve desempenhar seu papel pela mudança ou melhroria da sociedade do ponto de vista ético. Jesus cresceu na família de muitos valores a ponto de ele ter crescido na graça e na sabedoria diante de Deus e diante dos homens (Cf. Lc 2,52). Uma família que não tem lugar para Deus, e para a ética, prepara o terreno ou espaço para a agressão, a violência, a briga, a desunião, a discórdia, a injustiça, a desonestidade e assim por diante.


A família é a primeira e insubstituível escola criadora de humanidade, exemplo e estímulo para as relações comunitárias mais amplas, justas, verdadeiras, mediante a transmissão de virtudes e valores pelos pais. Numa sociedade que corre o perigo de ser cada vez mais despersonalizada e massificada, e, portanto, inumana e desumanizadora, a família possui e comunica, portanto, hoje energias/forças formidáveis capazes de tirar o homem do anonimato, de mantê-lo consciente de sua dignidade pessoal, de enriquecê-lo com profunda humanidade mediante a vivencia de valores. Por isso, a família, ainda que relativizada, mantém todo seu valor singular. Família é o lugar onde a vida começa e o amor jamais termina. Por isso, o Papa João Paulo II tinha razão ao dizer: “O futuro da humanidade passa pela família”.


É Preciso Fazer o Bem Em Qualquer Lugar e Momento


Continuamos escutando as últimas e importantes lições de Jesus na sua última viagem para Jerusalém (Lc 9,58-19,28), pois lá ele será crucificado, morto e glorificado.


Na passagem do evangelho de hoje, Jesus quer nos relembrar que o ser humano é mais sagrado e importante do que qualquer lei por sagrada que ela pareça ser, pois em cada ser humano há o hálito divino (Gn 2,7) que o torna o templo do Espírito Santo (1Cor 3,16-17; 6,19).


Aconteceu que, num dia de sábado, Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus...”, assim o evangelista Lucas nos relatou.


Era sábado (shabbat). O Sábado era o dia em que o povo eleito comemorava os grandes benefícios de Deus: a criação (Ex 20,8-11) e a libertação da escravidão do Egito (Dt 5,12-15). Era o dia o qual o Senhor abençoava acima de outros dias da semana (Jubileus 2,31s). Era o dia de reconhecimento de que Deus santificava o povo (cf. Ex 31,13; cf. Hb 4,9). No Sábado os judeus costumavam comer festivamente.


E nesse dia (Sábado) os judeus costumavam convidar as pessoas para a refeição festiva, mas não era qualquer convidado. O convidado de honra para a refeição festiva, além de escribas e fariseus, segundo o evangelho de hoje, era Jesus, pois ele era tratado como mestre. Jesus tinha fama na região toda (Lc 7,17). O povo considerava Jesus como o grande profeta (Lc 7,16; 24,19). Durante este tipo de refeição, costumavam aparecer algumas pessoas sem ser convidadas para ver o convidado de honra (cf. Lc 7,37). Podemos entender porque um hidrópico se encontrou nessa refeição.


Diante de Jesus, havia um hidrópico”, prossegue Lucas. Para os fariseus e escribas qualquer doença era fruto do pecado cometido e consequentemente, era castigado por Deus. E a causa da hidropisia, segundo eles, era a luxúria. Em vez de se concentrar na refeição, os fariseus e escribas ficam olhando para Jesus e o hidrópico para observar o que Jesus vai fazer com o hidrópico, pois curar um doente faz parte dos 39 trabalhos proibidos no Sábado.


Qual é a posição de Jesus diante de um necessitado como esse hidrópico? Ele quer ajudar e curar o hidrópico mesmo sendo proibido, pois no Sábado. Mas antes de curá-lo Jesus lança uma pergunta bem fundamental com o intuito de que os fariseus e escribas possam refletir sobre a pergunta: “A Lei permite curar em dia de sábado, ou não? ... Se algum de vós tem um filho ou um boi que caiu num poço, não o tira logo, mesmo em dia de sábado?”. Trata-se de uma nova maneira de conceber o “descanso” do Sábado, ou do domingo, no nosso caso, como cristãos. Com essa afirmação Jesus quer dizer aos fariseus e escribas e a todos nós que o Sábado ou o Domingo (para nós) é o dia da benevolência divina, o dia da redenção, da libertação, da misericórdia de Deus para os pobres, os excluídos, os perdidos, os pecadores, da ressurreição (para nós cristãos) e assim por diante. É o dia, por excelência, para fazer o bem, curar, salvar, ajudar, se solidarizar. É um dia de abertura aos demais: vida de família e de comunidade. É um dia de “saber descansar juntos”, cultivando valores humanos importantes. É um dia de caridade para partilhar o que somos e temos. Ao contrário, os fariseus e os escribas se preocupam com o descanso no Sábado e esquecem a vontade salvífica e amorosa de Deus pelo homem.


O homem hidrópico foi libertado por Jesus de sua hidropisia. A cura é sinal bastante evidente de que Deus está com Jesus e que Jesus age em virtude e no poder de Deus (At 10,38). Se curar um doente fosse proibido por Deus no Sábado, o homem não ficaria libertado de sua hidropisia.


Deus “pensa” na salvação do homem eternamente. Cada um de nós, seres humanos, está no pensamento de Deus, desde o princípio, pois o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus (Gn1,26; 3,22b).  Para Deus ninguém é anônimo, pois Ele chama cada um de nós pelo nome (cf. Is 43,1). O nome de cada um de nós está tatuado nas palmas das mãos de Deus (cf. Is 49,16). E o nome significa pessoa. Em cada nome está a missão de cada um. Em função da importância do homem, Deus até enviou seu Filho unigênito para salvar a humanidade (cf. Jo 3,16). E por causa do amor sem limite de Deus pelo ser humano, o salmista chegou a fazer uma pergunta retórica em forma de oração: “Ó Senhor, nosso Deus, como é glorioso vosso nome em toda a terra! Vossa majestade se estende, triunfante, por cima de todos os céus... Quando contemplo o firmamento, obra de vossos dedos, a lua e as estrelas que lá fixastes: Que é o homem, digo-me então, para pensardes nele? Que são os filhos de Adão, para que vos ocupeis com eles?” (Sl 8,2.4-5).


Jesus põe o ser humano acima de qualquer lei por sagrada que ela pareça ser. Que lugar ocupa o ser humano nas nossas atividades pastorais, nos movimentos, na política, na economia e assim por diante? De que maneira tratamos o ser humano que para Deus ele está acima de tudo? As regras são importantes desde que ajudem o ser humano a se desenvolver para viver na sua dignidade. Será que somos escravos das regras e das normas litúrgicas esquecendo o ser humano? Será que ao colocar as normas acima do ser humano, sem querer, manifestamos nosso pouco amor pelas pessoas? Será que sabemos acolher as pessoas ou nos preocupamos com nossas “atividades pastorais?”.


Na sua Carta Apostólica, Dies Domini, o Papa João Paulo II escreveu: “O domingo, de fato, recorda, no ritmo semanal do tempo, o dia da ressurreição de Cristo. É a Páscoa da semana, na qual se celebra a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte, o cumprimento n'Ele da primeira criação e o início da « nova criação » (cf. 2 Cor 5,17). É o dia da evocação adorante e grata do primeiro dia do mundo e, ao mesmo tempo, da prefiguração, vivida na esperança, do « último dia », quando Cristo vier na glória (cf. Act 1,11; 1 Tes 4,13-17) e renovar todas as coisas (cf. Ap 21,5).[Dies Domini,no.1]... “Há-de-se implorar a graça da descoberta sempre mais profunda deste dia, não só para viver em plenitude as exigências próprias da fé, mas também para dar resposta concreta aos anseios íntimos e verdadeiros existentes em todo ser humano. O tempo dado a Cristo, nunca é tempo perdido, mas tempo conquistado para a profunda humanização das nossas relações e da nossa vida” (no.7) ... “Recebendo o Pão da vida, os discípulos de Cristo preparam-se para enfrentar, com a força do Ressuscitado e do seu Espírito, as obrigações que os esperam na sua vida ordinária. Com efeito, para o fiel que compreendeu o sentido daquilo que realizou, a Celebração Eucarística não pode exaurir-se no interior do templo. Como as primeiras testemunhas da ressurreição, também os cristãos, convocados cada domingo para viver e confessar a presença do Ressuscitado, são chamados, na sua vida quotidiana, a tornarem-se evangelizadores e testemunhas. A oração depois-da-comunhão e o rito de conclusão — a bênção e a despedida — hão-de ser, sob este aspecto, melhor entendidos e valorizados, para que todos os participantes na Eucaristia sintam mais profundamente a responsabilidade que daí lhes advém. Terminada a assembleia, o discípulo de Cristo volta ao seu ambiente quotidiano, com o compromisso de fazer, de toda a sua vida, um dom, um sacrifício espiritual agradável a Deus (cf. Rom 12,1). Ele sente-se devedor para com os irmãos daquilo que recebeu na celebração, tal como sucedeu com os discípulos de Emaús que, depois de terem reconhecido Cristo ressuscitado na « fracção do pão » (cf. Lc 24,30-32), sentiram a exigência de ir imediatamente partilhar com seus irmãos a alegria de terem encontrado o Senhor (cf. Lc 24,33-35)” (n. 45).


A partir de tudo que foi dito vem a pergunta: De que maneira nós vivemos o nosso Domingo, que é o Dia do Senhor e também é o dia da Igreja? Nós simplesmente cumprimos preceito ao ir à igreja aos domingos ou será que temos consciência de vamos escutar as lições do Senhor através de Sua Palavra proclamada e medita durante a celebração dominical?


Para Rezar e Refletir:
“Quando contemplo o firmamento, obra de vossos dedos, a lua e as estrelas que lá fixastes: Que é o homem, digo-me então, para pensardes nele? Que são os filhos de Adão, para que vos ocupeis com eles? Ó Senhor, nosso Deus, como é glorioso vosso nome em toda a terra!” (Sl 8).


“Que é o homem, de quem cuidas? Um ponto de poeira num cosmos de luz. Mas, no ponto que sou eu, há outra criação ainda mais maravilhosa do que o firmamento e as estrelas. O prodígio do meu corpo, o segredo das minhas células, o relâmpago que há nos meus nervos, o palácio do meu coração... E a animação da minha alma, a centelha do meu entendimento, o frêmito do meu sentimento, o pilar da minha fé. O milagre que está dentro de mim, bem como a Sua assinatura a ele aposta. Sorrio em reconhecimento quando vejo que fizeste de mim o rei da tua criação, inferior tão-somente, a Ti mesmo. Conheço a minha pequenez e a minha grandeza, a minha dignidade e a minha insignificância... Grande é o Teu nome, ó Senhor, por toda a terra... Quando encontro uma dificuldade na vida e penso em Ti, não é para pedir-Te que a remova, mas para que me dês forças para enfrentá-la; não é para impor-Te a minha solução, mas para que eu tome a Tua como minha. Eis por que És a minha fortaleza: porque És o meu ser (Carlos G. Vallés: Busco Tua Face, Senhor. Ed. Loyola).
P. Vitus Gustama,svd

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