quarta-feira, 2 de outubro de 2019

05/10/2019
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MANTER LIGADO A DEUS PARA MANTER O NOME ESCRITO NO CÉU
Sábado Da XXVI Semana Comum


Primeira Leitura: Br 4,5-12.27-29
5 Coragem, meu povo, que sois a lembrança viva de Israel: 6 fostes vendidos às nações, mas não para serdes exterminados; por terdes provocado a ira de Deus é que fostes entregues aos inimigos. 7 Exasperastes aquele que vos criou, oferecendo sacrifícios aos demônios, e não a Deus. 8 Esquecestes o Deus que vos alimentou, o Deus eterno, e entristecestes aquela que vos nutriu, Jerusalém. 9 Ela viu desabar sobre vós a ira de Deus e disse: “Escutai, vizinhas de Sião: Deus fez cair sobre mim uma grande aflição. 10 Eu vi o cativeiro de meus filhos e filhas, que o eterno lhes infligiu. 11 Eu os havia criado com alegria; com lágrimas e luto os vi partir. 12 Ninguém se alegre por ver-me viúva e abandonada por muitos! Por causa dos pecados de meus filhos, fiquei deserta; eles se desviaram da lei de Deus. 27 Animai-vos, meus filhos, e clamai a Deus; ele, que vos fez sofrer, há de lembrar-se de vós. 28 Como por livre vontade vos desviastes de Deus, agora, voltando, buscai-o com zelo dez vezes maior; 29 aquele que trouxe sofrimento para vós, para vós trará, com a vossa salvação, eterna alegria.


Evangelho: Lc 10,17-24
Naquele tempo, 17 os setenta e dois voltaram muito contentes, dizendo: “Senhor, até os demônios nos obedeceram por causa do teu nome”. 18 Jesus respondeu: “Eu vi Satanás cair do céu, como um relâmpago. 19 Eu vos dei o poder de pisar em cima de cobras e escorpiões e sobre toda a força do inimigo. E nada vos poderá fazer mal. 20 Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem. Antes, ficai alegres porque vossos nomes estão escritos no céu”. 21 Naquele momento, Jesus exultou no Espírito Santo e disse: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado. 22 Tudo me foi entregue pelo meu Pai. Ninguém conhece quem é o Filho, a não ser o Pai; e ninguém conhece quem é o Pai, a não ser o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar”. 23 Jesus voltou-se para os discípulos e disse-lhes em particular: “Felizes os olhos que veem o que vós vedes! 24 Pois eu vos digo que muitos profetas e reis quiseram ver o que estais vendo, e não puderam ver; quiseram ouvir o que estais ouvindo, e não puderam ouvir”.
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Voltar Para Deus Para Voltar a Ser Feliz


Esquecestes o Deus que vos alimentou, o Deus eterno, e entristecestes aquela que vos nutriu, Jerusalém. ... Como por livre vontade vos desviastes de Deus, agora, voltando, buscai-o com zelo dez vezes maior”, escreveu o profeta Baruc.


O livro do profeta Baruc tem apenas cinco capítulos (para a maioria dos estudiosos o capitulo 6 é considerado como um escrito independente). O livro é atribuído a Baruc (Baruc significa o “Bendito”) conhecido pela traição judaica como o secretário do profeta Jeremias. Consequentemente, o livro de Baruc está bem vinculado aos escritos de inspiração do profeta Jeremias. Neste livro há a preocupação sobre a sorte dos judeus exilados. Porém, há esperança de que Deus fará uma aliança eterna com seu povo. A volta dos judeus da Babilônia para a terra natal aconteceu em 539 a.C através do Edito de Ciro, o persa, que derrotou a Babilônia. O livro reflete acontecimentos do fim do exílio


No texto de hoje, que lemos na Primeira leitura, o profeta Baruc anima o povo a voltar decididamente a Deus: “Esquecestes o Deus que vos alimentou, o Deus eterno, e entristecestes aquela que vos nutriu, Jerusalém. ... Como por livre vontade vos desviastes de Deus, agora, voltando, buscai-o com zelo dez vezes maior”.


Através desta afirmação se repete a ideia de que as desgraças estão bem merecidas. O próprio povo procurou a desgraça ao afastar-se do Deus que cuidava dele: “Por terdes provocado a ira de Deus é que fostes entregues aos inimigos”.


Mas o que prevalece é a esperança: “Animai-vos, meus filhos, e clamai a Deus; ele, que vos fez sofrer, há de lembrar-se de vós”. Para isso, o povo tem que se converter: “Como por livre vontade vos desviastes de Deus, agora, voltando, buscai-o com zelo dez vezes maior”. O desterro ajudou o povo judeu a amadurecer sua fé em Deus.


As provas da vida nos amaciam ou nos tornam moderados em tudo, vão nos instruindo e nos fazem revisarmos nossos caminhos e reorientarmos a direção de nossas vidas cotidianas. “A vida é uma batalha onde tombamos devido a ferimentos que recebemos ao fugir” (William L. Sullivan). Nossas experiências nesta vida são um composto de muitas lições, lições que facilitam nosso crescimento espiritual, psicológico e social, e criam oportunidades nas quais somos incentivados a dar contribuições que somente nós podemos oferecer. Podemos ter certeza de que não há uma lição que não resulte em bem para nós se soubermos refletir sobre ele. Muitas vezes acontece que aquilo que precisamos vivenciar, aprender, compreender nos é apresentado repetidas vezes até que demos atenção a ele. A lição não será adiada por muito tempo. As experiências continuarão nos cercando, oferecendo-nos oportunidades para nosso crescimento. O processo de viver inclui muitas dimensões. Podemos alegremente antecipar períodos de euforia, mas também estejamos preparados para nossos sofrimentos. Todos os acontecimentos devem ser encarados como necessidades da vida e alguns deles só requerem a simples aceitação, por exemplo a morte de um ente-querido. Se eu entender que toda situação traz consigo um beneficio ou uma bênção, então não permanecerei na minha tristeza nem no meu desespero.


Para nós, os diversos acontecimentos da vida, tanto as desgraças como nossas falhas e pecados querem nos recordar que somos frágeis e nos urgem a adotarmos uma atitude diante de Deus e diante dos outros, não de arrogância e autossuficiência e sim de humildade. A partir da humildade aprendemos que não devemos aparentar mais do que somos. É na humildade e da humildade que germinam nossos autênticos valores. O humilde reverencia o sagrado, pois ele se reconhece “terra”, “pó”, mas é “pó” vivente por causa do hálito que é soprado nele pelo Criador (cf. Gn 2,7; Jo 20,22). É precisos mantermos a ligação com Deus. É preciso voltar sempre para Deus embora tenhamos desviado dos mandamentos do Senhor: “Como por livre vontade vos desviastes de Deus, agora, voltando, buscai-o com zelo dez vezes maior”.


Viver Em Ação De Graças Por Ter Nome Escrito No Céu


O texto do evangelho de hoje se encontra no contexto da volta dos setenta (e dois) discípulos da missão que o Senhor lhes tinha confiado anteriormente (Lc 10,1-12). Os discípulos voltaram da missão alegres, entusiasmados, empolgados por ter sido capazes de libertar os homens do mal, moral e físico pelo uso que fizeram do poder messiânico (o nome) de Jesus: “Senhor, até os demônios nos obedeceram por causa do teu nome”, relataram os discípulos a Jesus.  Todas as forças do mal considerados como inimigos de Deus e dos seres humanos tinham sido desarticulados pelos discípulos através do uso do poder recebido de Jesus. Isto significa que o poder sobre o mal que os discípulos têm é o fruto de sua comunhão plena com Jesus. Estar em plena comunhão com Jesus significa estar em pleno poder de Jesus, poder que liberta e não escraviza. Somente a fé em Jesus, isto é, estar nele e com ele, é que se pode derrotar qualquer poder que escraviza.


E Jesus lhes explica que uma vitória semelhante é o sinal da derrota das forças do mal que dominavam os homens até então: “Eu vi satanás cair do céu como um relâmpago” (Lc 10,18). Trata-se de uma queda brusca e rápida (relâmpago) e de uma grande altura (do céu). Altura de onde inicia a queda de uma coisa ou de uma pessoa determina o impacto sobre o que caiu ao chegar à terra.


Por que caiu do céu (satanás caiu do céu)? O tema da queda de satanás do céu pertence ao mito apocalíptico judaico, em que se alude à presença de satanás sobre o céu. Certamente, segundo esse mito, seu lugar e sua função se diferenciam do lugar e da função de Deus, porém pensa-se que satanás põe o trono nas esferas superiores e domina desde ali toda a marcha dos homens sobre o mundo. Mas a chegada de Jesus abole o estado de escravidão que permite o homem ter acesso à liberdade. A presença de Jesus é a derrota do poder do mal. Basta estar com Jesus e estar nele, o triunfo do poder do mal (satanás) termina seu reinado.


Mas para não cair na ilusão do poder e na idéia de domínio, para não ficar apenas na empolgação, Jesus alerta aos discípulos que o mais importante é ter os nomes escritos no céu. Ter nome escrito no céu é mais importante do que qualquer poder ou domínio na terra. Esta afirmação nos leva ao Livro do Êxodo onde encontramos uma explicação: somente são aqueles que participam do Reino de Deus e vivem conforme as suas exigências têm nome escrito no céu (cf. Ex 32,32). Não há nada que seja melhor para um ser humano do que ter seu nome escrito no céu, no livro da vida: “O vencedor será assim revestido de vestes brancas. Jamais apagarei o seu nome do livro da vida, e o proclamarei diante do meu Pai e dos seus anjos”, diz-nos o Livro de Apocalipse de São João (Ap 3,5). Esta é a grande mensagem do evangelho de hoje. Em outras palavras, os discípulos devem ficar alegres por pertencer a Deus ou participar da grande família do Reino (nome escrito no céu), por estar a serviço de Deus (libertar os homens da escravidão do mal), por gozar da proteção divina (nenhum mal consegue vencê-los), e por ter neles o germe da vida eterna que acaba com as forças da morte.


À luz desta experiência se situa a função dos discípulos missionários. Sua vitória sobre satanás se traduz no fato de que são capazes de vencer (superar) o mal do mundo (Lc 10,19) desde que mantinham sua pertença ao Reino e usem o poder conferido para libertar os outros e não para escravizá-los. Por isso, são declarados felizes: “Felizes os olhos que vêem o que vós vedes. Pois eu vos digo que muitos profetas e reis quiseram ver o que estais vendo e não puderam ver; quiseram ouvir o que estais ouvindo e não puderam ouvir” (Lc 10,23-24). Os discípulos são felizes porque estão experimentando aquela plenitude messiânica que os antigos profetas e os reis de Israel sonhavam experimentar. No entanto, mais uma vez, sua autentica grandeza está no fato de seu encontro pessoal com Deus: seus nomes pertencem ao Reino dos céus (Lc 10,20).


Quem mantiver sua pertença à Família de Deus não estará fadado a ser escravo do poder do mal, mas será revestido do poder de Deus para superar todo mal no mundo e libertar os outros escravizados pelo mal. E quem mantiver unido a Deus, mesmo que seja frágil, ele será um instrumento eficaz nas mãos de Deus para pôr fim ao reino do mal e fazer triunfar o amor fraterna, a solidariedade fraterna, a bondade, compaixão e assim por diante. O espaço totalmente ocupado pelo bem, o mal não tem vez. Quem se mantiver assim até o fim, seu nome estará escrito no céu.


Que seu nome e meu nome estejam escritos no livro da vida, no céu. Para isso, é preciso que aprendamos a ser pequenos e simples diante de Deus. Os pequenos e os simples se mantém abertos ao mistério de Deus e compreendem a verdade de Jesus Cristo: “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos” (Lc 10,21ª). A missão se estrutura como expansão do amor em que se unem Deus e o Cristo (Filho). Nesse amor, revelado aos pequenos e escondido para todos os grandes deste mundo, se fundamenta a derrota das forças destruidoras da história. “Com o amor não somente avanço, mas vôo. Um só ato de amor nos fará conhecer melhor Jesus. O amor nos aproximará dele durante toda a eternidade. Eu não conheço outro meio para chegar à perfeição a não ser o amor”, dizia Santa Tereza do Menino Jesus e da Sagrada Face.
P. Vitus Gustama,svd

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