quarta-feira, 2 de outubro de 2019

FRANCISCO DE ASSIS, 04 DE OUTUBRO
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FRANCISCO DE ASSIS E O RESPEITO PELA FRATERNIDADE E PELA NATUREZA


No dia o4 de outubro a Igreja celebra a festa de São Francisco de Assis. Nasceu em Assis (Itália) em 1182. Era filho de um rico comerciante de tecidos (Pedro Bernardone). Batizado com o nome de Giovanni di Pietro Bernardone. Porém, como seu pai era comerciante de tecidos preciosos comprados na França, trocaram-lhe o seu nome para Francesco, ou seja, "o francês". Francisco gostava de festas em companhia de outros jovens e foi coroado "rei da festa". No outono de 1205, Francisco em oração na capelinha de São Damião, escuta do grande Crucificado uma ordem: "Francisco, vai e repara a minha casa que está para ruir". Esta "minha casa" era a Igreja de então. No entanto, Francisco entendeu como sendo a própria capela de São Damião que estava necessitando de reparos. E ele começou a restaurá-la. O conflito com seu pai começou quando Francisco distribuiu para os pobres tanto dinheiro como tecidos. Todos achavam, inclusive seus colegas jovens festeiros, que Francisco ou um covarde, ou um louco, ou um jovem que fora muito mimado. Um dia, indo para Roma, ao encontrar com um pobre, Francisco trocou com ele as suas ricas roupas, e exprimentou o que é a vida de pobre. E ele disse aos pais e amigos: "Estou começando a enxergar uma luz no fundo do túnel". Com seus 25 anos Francisco abandonou sua casa para seguir a Jesus e começou a reforma da "Casa" de Cristo, a Igreja. Pelo testemunho de sua vida muitos jovens começaram a fazer parte do grupo de Francisco. O grupo vivia de esmolas e de seu trabalho, sem receber dinheiro. E começaram a sair pelo mundo afora, de dois em dois para pregar o Evangelho. E o número do grupo foi aumentando. Francisco, sem querer fundar Ordem religiosa, resolveu ir a Roma para pedir ao Papa uma aprovação de seu tipo de vida. Em maio de 1210 o Papa Inocêncio III aprovou o pedido. No dia 3 de Outubro d 1226 faleceu. Foi canonizado no dia 6 de julho de 1228.


São Francisco deu a sua Ordem (Congregação) o nome de "Frades Menores" por humildade, porque queria que seus irmãos fossem servos de todos e sempre buscassem os lugares mais humildes. Ele frequentemente exortava seus companheiros a fazer trabalho manual e, embora lhes permitisse pedir esmolas, era proibido de aceitar dinheiro. Pedir esmola não era uma vergonha para ele, pois era uma maneira de imitar a pobreza de Cristo. O santo não permitia que seus irmãos pregassem em uma diocese sem a permissão expressa do bispo local. Entre outras coisas, ele afirmou que "se algum dos frades se afastasse da fé católica em obras ou palavras e não se corrigisse, ele deveria ser expulso da irmandade (Congregação)". Todas as cidades queriam ter o privilégio de abrigar os novos frades e as comunidades se multiplicaram na Úmbria, Toscana, Lombardia e Ancona.


Os contemporâneos de São Francisco falavam com freqüência do carinho de Francisco de Assis pelos animais e do poder que tinha sobre eles. Por exemplo, é a famosa repreensão que dirigiu às andorinhas quando estava pregando em Alviano: “Irmãs andorinhas, agora é minha vez para falar. Vocês cantaram bastante!”. Famosa também são as anedotas sobre os passarinhos que vinham escutar Francisco de Assis quando cantava as grandezas do Criador, do coelhinho que não queria separar-se dele no Lago Trasimeno e do lobo amansado (domesticado) pelo São Francisco.


São Francisco trata tudo como irmão e irmã. Por que ele chegou a esta compreensão e a este tipo de tratamento? A resposta é: Porque ele tem uma fascinante experiência de Deus. Qual é esta experiência?


Esta experiência consiste, antes de tudo, numa nova aproximação de Deus, num olhar novo sobre Deus. O Deus que São Francisco descobre não é o Deus dos senhores da Igreja, nem o Deus das guerras santas e das cruzadas. Nem sequer o Senhor benfeitor que de sua posição dominante derrama seus bens para os fieis subordinados. Segundo São Francisco, Deus deixou sua posição dominante. “O Senhor da majestade se fez irmão nosso”, disse São Francisco de Assis (2 Cel 198); se fez um de nós, o mais pobre dentre nós; caminhou conosco. Olhem, irmãos, exclamem, a humildade de Deus...” (CtaO 28). Essa visão encheu Francisco de Assis de grande felicidade. Por isso, ele gostava de repetir o Sl 68,33: “Ó, vós, humildes, olhai e alegrai-vos!”. E ao rezar este versículo, Francisco exultava de alegria porque não somente acreditava, mas o experimentava.


Esta humanidade de Deus não era para Francisco um simples objeto de devoção, mas inspirava todo seu comportamento, todas as suas relações; era acolhida como um novo princípio de sociedade. Onde há caridade e sabedoria, não há medo nem ignorância. Onde há paciência e humildade, não há ira nem perturbação. Onde à pobreza se une a alegria, não há cobiça nem avareza. Onde há paz e meditação, não há nervosismo nem dissipação. Onde há misericórdia e prudência, não há dureza do coração”, dizia São Francisco de Assis.


Deus vem a nós pelos caminhos da humanidade e por nossa parte, somente podemos ir a Ele pelos caminhos da humanidade. O próximo é a passagem obrigatória para chegar até Deus. Para São Francisco Deus revela verdadeiramente Seu rosto somente onde se instaura uma comunidade humana fraterna, onde as relações de dominação são extintas. Ele escreveu: “Nunca devemos desejar estar acima dos outros e sim devemos ser servos... aqueles e aquelas que cumprirem essas coisas e perseverarem até o fim, o Espírito Santo pousará e fará neles habitação e morada (2CtaF 47-48).


Esse novo olhar sobre Deus é acompanhado de uma nova visão do mundo. Francisco aprendeu a olhar para os seres e as coisas deixando de lado toda vontade de apropriação e de dominação. Ele olhava tudo, não em relação a seus interesses ou suas ambições e sim como criaturas de Deus, digna de amizade. Pela nova visão sobre Deus (humanidade de Deus) Ele descobriu o esplendor e a profunda unidade das criaturas.


Esta fascinante experiência do mundo, a partir da fascinante experiência de Deus, esta alegria pura de existir em meio das coisas, Francisco a expressou com muita precisão no seu Canto do irmão Sol: “Louvado sejas, meu Senhor, com todas as criaturas, especialmente o senhor irmão Sol, que clareia o dia e com sua luz nos ilumina. E ele é belo e radiante, com grande esplendor: de Ti, Altíssimo, é imagem. Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã Lua e as estrelas, que no céu formastes claras e preciosas e belas. Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão Vento, pelo ar ou pelo nublado ou sereno, e todo o tempo, pelo qual às criaturas Tu dás sustento. Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água que é muito útil e humilde, e preciosa e casta. Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão Fogo, pelo qual iluminas a noite, e ele é belo e jucundo e vigoroso e forte. Louvado sejas, meu Senhor, por nossa irmã a mãe Terra, que nos sustenta e governa, e produz frutos diversos e coloridas flores e ervas.


Este Cântico manifesta uma adesão sem reservas, entusiasta ao mundo, à mesma matéria (somos também, e voltaremos ao ). É um sim ao universo, uma afirmação do valor dos seres e das coisas, tal como os recebemos das mãos do Criador. Por amor a Deus que se humaniza, Francisco fraterniza com todas as criaturas, escuta sua voz, admira sua formosura. E com elas ele louva ao Altíssimo Deus. Ele chama a terra de “nossa mãe terra”. É aquela que gera, que cuida com ternura, que conserva, que não deixa faltar nada e que nos abriga. A mãe terra precisa ser tratada com carinho, com respeito conservando-a intacta e pura como a recebemos das mãos do Criador.


Diante do mundo que tem como paixão o dinheiro este canto do irmão Sol se eleva como um protesto e uma chamada de atenção. A fraternidade universal que canta Francisco de Assis é uma tarefa que temos que realizar e construir, pois nisto está o sentido do mundo. Fraternizar com todas as criaturas, como fez Francisco de Assis significa converter toda a hostilidade em uma fraternidade onde tudo e todos são tratados com respeito e com cuidado carinhoso.


No mínimo, cada domingo, renovamos esse nosso compromisso quando professamos o nosso Credo onde encontra a seguinte frase: “Creio em Deus, Pai todo poderoso. Criador do céu e da terra”. Se professamos que Deus é o Criador da terra, logo temos que tratar a natureza com respeito, pois é de Deus. Se uma pessoa construir uma casa com muito suor e de repente outra pessoa derruba, gratuitamente, a mesma, qual será a reação do dono da casa?


Somos também da natureza, pois fomos feitos de barro (Gn 2,7). Agredir a Terra é agredir a nós mesmos. Quando um dia não sobrar nenhuma árvore, nenhum pássaro, nenhum peixe ou animal, nenhuma planta, nenhuma gota de água nesta Terra, todos vão entender que o dinheiro não pode ser comido e que o ouro e pedras preciosas não podem ser comidos. Assim desaparecerá o ser humano da face da terra.


A degradação crescente de nossa mãe terra, que é nossa casa comum é o fruto da falta de respeito ao Criador. Cuidar e saber cuidar faz parte do amor e do respeito. Por isso, faz parte do ser do cristão, pois ele não somente acredita em Deus, mas em Deus de amor (1Jo 4,8.16; Jo 3,16) cujo mandamento é o amor (Jo 13,34-35; 15,12).


Salve, rainha sabedoria, o Senhor te guarde por tua santa irmã, a pura simplicidade. Senhora santa pobreza, o Senhor te guarde por tua irmã, a humildade. Senhora santa caridade, o Senhor te guarde por tua santa irmã obediência. Santíssimas virtudes todas, guarde-vos o Senhor, de quem procedeis, vinde a nós!” (São Francisco de Assis)
P. Vitus Gustama,svd

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