sexta-feira, 8 de novembro de 2019

12/11/2019
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SER SERVO JUSTO DO SENHOR
Terça-Feira da XXXII Semana Comum


Primeira Leitura: Sb 2,23–3,9
2,23 Deus criou o homem para a imortalidade e o fez à imagem de sua própria natureza; 24 foi por inveja do diabo que a morte entrou no mundo, e experimentam-na os que a ele pertencem. 3,1 A vida dos justos está nas mãos de Deus, e nenhum tormento os atingirá. 2 Aos olhos dos insensatos parecem ter morrido; sua saída do mundo foi considerada uma desgraça, 3 e sua partida do meio de nós, uma destruição; mas eles estão em paz. 4 Aos olhos dos homens parecem ter sido castigados, mas sua esperança é cheia de imortalidade; 5 tendo sofrido leves correções, serão cumulados de grandes bens, porque Deus os pôs à prova e os achou dignos de si. 6 Provou-os como se prova o ouro no fogo e aceitou-os como ofertas de holocausto; 7 no dia do seu julgamento hão de brilhar, correndo como centelhas no meio da palha; 8 vão julgar as nações e dominar os povos, e o Senhor reinará sobre eles para sempre. 9 Os que nele confiam compreenderão a verdade, e os que perseveram no amor ficarão junto dele, porque a graça e a misericórdia são para seus eleitos.


Evangelho: Lc 17,7-10
Naquele tempo, disse Jesus: 7 “Se algum de vós tem um empregado que trabalha a terra ou cuida dos animais, por acaso vai dizer-lhe, quando ele volta do campo: ‘Vem depressa para a mesa?’ 8 Pelo contrário, não vai dizer ao empregado: ‘Prepara-me o jantar, cinge-te e serve-me, enquanto eu como e bebo; depois disso poderás comer e beber?’ 9 Será que vai agradecer ao empregado, porque fez o que lhe havia mandado? 10 Assim também vós: quando tiverdes feito tudo o que vos mandaram, dizei: ‘Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer’”.
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Ser Justo É Estar Com Deus Eternamente
A vida dos justos está nas mãos de Deus, e nenhum tormento os atingirá. Os que nele confiam compreenderão a verdade, e os que perseveram no amor ficarão junto dele, porque a graça e a misericórdia são para seus eleitos”.


Continuamos a acompanhar a leitura do Livro de Sabedoria. É um livro cujo ano de composição continua em discussão.  Alguns autores sugerem que o Livro foi escrito no tempo de Augusto: entre o ano 30 antes de Cristo e o ano 14 da era cristã. Outros dizem que sua redação aconteceu entre os anos 80 e 30 antes de Cristo. Este livro foi escrito por um judeu alexandrino de língua e cultura gregas (helenistas) e tem como destinatário os israelitas de diáspora em Alexandria do Egito. Os israelitas de Alexandria se eencontram nas seguintes situações: Há grande variedade de religiões e sistemas filosóficos (estoicismo e epicurismo) que proporcionam sabedoria e salvação juntamente com o conhecimento do sentido da vida. Há também ambiente de hedonismo e moralidade contrários aos costumes israelitas. Por fim, há a perseguição vinda dos ímpios contra os israelitas.


Para manter sua identidade como parte do povo da Aliança, um judeu escreveu este livro para os israelitas nestes ambientes. O autor pretende estimular os israelitas de diáspora para que continuem fieis à tradição do povo da aliança. Além disso, o autor do livro também pretende estabelecer o dialogo entre a religião judaica e a cultura grega (helenista) com o intuito de atrair os pagãos para a fé de Israel.


Um dos aspectos em que o livro de Sabedoria nos apresenta, em relação ao resto do Antigo Testamento é seu avanço na reflexão sobre a vida futuro (vida além da morte) como nos apresenta o texto da Primeira Leitura de hoje.


A vida dos justos está nas mãos de Deus e nenhum tormento os atingirá”. Deus criou o homem para a vida, para a “existência!”, para “existir”! Pois Deus “em Si-Mesmo” é o Grande Vivente, é o Grande Existente. E o homem, que cre n´Ele, participa dessa realidade de Deus, pois é “imagem de Deus”.


A morte é um incidente de trânsito. E o autor do livro de Sabedoria se atreve a escrever que não é Deus quem previu e quis a morte. Para aceitar estas Palavras há que admitir que “a vida humana não se destrói e sim que se transforma” por esse momento que chamamos “a morte”.  A morte é uma “passagem para Deus”. A morte não é um cair no vazio, no nada, e sim estar nos braços do Pai do céu, pronto para nos acolher.


Se nossa fé nessas Palavras divinas for muito viva em nós, não teremos medo algum, pois a morte não significa acabou tudo. Tudo começa. Tudo continua. No fundo, trata-se de que, durante nossa vida, vivamos já em estado de oferenda e de sacrifício a Deus. Neste caso, a morte é a consagração da vida.


Sabemos muito bem que a interrogação sobre a vida e a morte preocupa todos os homens. Mas, antes de mais nada, o texto da Primeira Leitura de hoje nos diz: “Deus criou o homem para a imortalidade e o fez à imagem de sua própria natureza”. O horror da morte é eliminado por esta afirmação. De fato, não morremos e sim partimos para a eternidade. Como é a vida eterna? É a mesma pergunta de um bebê dentro da barriga da mãe: “Como é a vida fora daqui?”. Em segundos e minutos o bebê logo o saberá e o conehcerá assim que sair do seu mundo do ventre materno para o mundo dos que o esperam com amor.


O mal, o pecado e como consequência, a morte, segundo o texto, entrou depois “por inveja do diabo”. Mas seja qual for a origem da morte, o que é mais importante é o além da morte. Os justos estão destinados à vida e não à morte: “A vida dos justos está nas mãos de Deus, e nenhum tormento os atingirá. Aos olhos dos insensatos parecem ter morrido; sua saída do mundo foi considerada uma desgraça, e sua partida do meio de nós, uma destruição; mas eles estão em paz”, afirma o autor do Livro de Sabedoria.


Esta perspectiva é que dá sentido e esperança para nossa vida e nossa luta de cada dia para viver uma vida de honestidade e de justiça, de amor e de vondade, pois tudo isto é destinado para a eternidade com Deus.


Com os olhos humanos, a morte é um mistério sem sentido, um fatalismo sem esperança. Mas as palavras do livro de Sabedori que lemos hoje nos orienta para uma visão mais luminosa da vida após a morte. Os justos viverão em Deus, no amor, na felicidade sem fim. As tribulações e as provas para o justo ficam impotentes diante da intensidade do que se espera em Deus: “Tendo sofrido leves correções, serão cumulados de grandes bens, porque Deus os pôs à prova e os achou dignos de si. Provou-os como se prova o ouro no fogo e aceitou-os como ofertas de holocausto”.


A sabedoria humana se contenta com a perspectiva daqui deste mundo.  E por isso, a morte ela considera como desgraça total: “Aos olhos dos insensatos os justos parecem ter morrido; sua saída do mundo foi considerada uma desgraça, e sua partida do meio de nós, uma destruição”. Mas não é assim nos planos de Deus. O homem mundando pensa apenas nas coisas mundanas e passageiras, briga por que aquilo que não lhe pertence e que não o leva na hora da morte. É a morte vã!


Deus nos criou para que fôssemos imortais. Temos a esperança certa de chegar a onde chegou Jesus Cristo, nossa Cabeça e Princípio. Jesus Cristo nos convida a tomarmos nossa cruz de cada dia e a segui-Lo, para que estejamos também onde Ele estiver. Estamos a caminho para a eternidade. Esperamos que não esqueçamos esta vocação para a qual somos chamados. Imitemos são Paulo que corre atrás de Cristo para alcançar a coroa da vitória da qual, junto a Cristo, somos coherdeiros. Certo que seremos aprovados com muitas tentações, perseguições e tribulações que temos que padecer, mas continuamos depositando nossa fé em Cristo Jesus. Estando com Cristo Ressuscitado, não tenham medo da morte, pois nossa vida está nas mãos de Deus. E se permanecermos fieis a Ele, ainda que tenhamos que passar pela morte, não pereceremos como os animais e sim que será nossa a vida eterna, que Deus reservou para os seus fieis.


Por isso, graças à ressurreição de Jesus Cristo motivo pelo qual temos razoes maiores que o autor do livro de Sabedoria. Como Cristo ressuscitado nossa existência é destinada para a glória: “Os que nele confiam compreenderão a verdade, e os que perseveram no amor ficarão junto dele, porque a graça e a misericórdia são para seus eleitos”.


No ano litúrgico, na celebração de um santo ou santa, a Igreja não escolheu o dia em que nasceu para este mundo e sim no dia em que partiu deste mundo, seu autentico “dies natalis”, pois a morte do ponto de vista cristão é o verdadeiro nascimento para a vida eterna. “Creio na comunhão dos santos.... Creio na ressurreição da carne... Creio na vida eterna”. Assim rezamos e afirmamos nas nossas orações e celebrações, mesmo que não estejamos conscientes do valor dessas afirmações.


Somos Simples Servos Do Senhor, Pois Fazemos O Que devemos

Continuamos a acompanhar Jesus no seu caminho para Jerusalém onde será crucificado, morto e glorificado (Lc 9,51-19,28). Continuamos também a escutar atentamente suas ultimas e importantes lições para todos nós, cristãos. Por isso, essa parte é chamada de Lições do caminho.


O texto do evangelho de hoje nos narra a parábola do agricultor que explora sem remorso seu servo. Precisamos saber de que no costume da antigüidade não existia contrato de trabalho que determinasse os limites de horário de trabalho ou reconhecesse horas extras de trabalho. O servo era propriedade do seu senhor, sem direitos à recompensa e ao reconhecimento. Por isso, se lêssemos literalmente esta parábola, ela traria um choque para nós ou se justificaria todo tipo de escravidão existente ainda na sociedade atual. Mas as parábolas de Jesus se servem das experiências reais para falar de outra coisa. É claro que Jesus não aprova a conduta daquele senhor que é abusiva e arbitrária, mas serve-se de uma realidade do seu tempo para ilustrar qual deve ser a atitude da criatura (ser humano) em relação ao Criador (Deus). O ser humano deve estar consciente de que tudo de bom procede do Senhor.


Logo depois de dizer que a fé nos faz realizar grandes obras no texto do evangelho do dia anterior (cf. Lc 17,1-6), Jesus nos mostra que, nem por isso, temos que ficar nos exibindo, vaidosos com o que pudermos realizar. Quando nós fazemos algo, em primeiro lugar, é porque a graça de Deus nos acompanha: “Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer”.  Servo inútil, no Evangelho de hoje, é aquele que une com simplicidade fé e serviço sem esperar outra recompensa que não seja a alegria de estar trabalhando por uma boa causa. Por isso, Santo Ambrósio comenta: “Não te julgues mais por tu seres chamado filho de Deus, deves, sim, reconhecer a graça, mas não deves esquecer a tua natureza, nem te envaideças por teres servido fielmente, já que esse era o teu dever. O sol cumpre a sua tarefa, a lua obedece, os anjos também servem”. Servir ao Senhor no irmão e pela comunidade é uma graça que Deus nos dá. Temos que agradecer a Deus por ser úteis para os outros no serviço fraterno. Mas temos que admitir que se Deus não nos ajudar, seremos incapazes de levar a cabo o que Ele nos encomendou. A graça divina é a única coisa que pode potenciar os nossos talentos humanos para trabalharmos por Cristo no irmão com quem ele se identifica (cf. Mt 25,40.45). Sem a graça santificante, para nada serviríamos. Santo Agostinho compara a necessidade do auxílio divino à da luz para podermos ver. É o olho que vê, mas não poderia fazê-lo se não houvesse luz, pois mesmo que tenhamos olhos saudáveis, eles não funcionam na escuridão. Do mesmo modo, podemos abrir as janelas de nossa casa, mas se não houver a luz (sol), a sala não será iluminada. Mesmo que abramos a janela à noite escura, a sala continuará escura, se não houver nenhuma lâmpada (luz).


Lucas também quer sublinhar o tema da gratuidade da fé. Quer-se afirmar firmemente que a fé é antes de tudo um dom. Nossa capacidade de viver a fé, de cumprir o “que lhe havia mandado” é também graça. Deus nos dá o tempo suficiente para viver nossa fé. Por isso, a afirmação de “inutilidade”, de que somos pobres servidores, é perfeitamente coerente com uma fé profundamente comprometida. A vida de fé é sempre um dom que acolhemos na medida em que amamos Deus e os demais. Fazemos o mínimo, de acordo com nossa capacidade, e Deus faz o máximo: “Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer”.


Em conseqüência, paradoxalmente, os servos verdadeiramente úteis são os que se reconhecem “inúteis”. “O serviço do Senhor é livre. É um serviço de total liberdade, no qual não é a necessidade quem serve, e sim o amor. Faz-te escravo da caridade, uma vez que a verdade te faz livre” (Santo Agostinho). Somente os que vivem e reconhecem esse dom podem ser portadores da gratuidade do amor de Deus aos demais.


A alegria de um cristão consiste em entregar-se sem reservas, à missão recebida, sem nada exigir. Basta-lhe a consciência do dever cumprido. A partir desta humildade na fé, tudo quanto façamos, por mais duro e esgotante que seja, resta-nos somente dizer: “Fiz tudo o que devia fazer”. Tudo mais está entregue à benevolência de Deus. O cristão que não serve, não serve como cristão.O amor autêntico é sempre contemplativo, permitindo-nos servir o outro não por necessidade ou vaidade, mas porque ele é belo, independentemente da sua aparência: Do amor, pelo qual uma pessoa é agradável a outra, depende que lhe dê algo de graça” (Papa Francisco: Evangelii Gaudium n. 199).


Todos na comunidade, na verdade, somos pobres e simples servos de Deus. São Paulo diz: “Evangelizar não é glória para mim, senão necessidade. Ai de mim se não evangelizar. Eu que, sendo totalmente livre, fiz-me escravo de todos para ganhar a todos...” (1Cor 9,16.19).  Este texto é convite para vestirmos a humildade, pois, na verdade, fazemos muito pouco para Deus no próximo em comparação às bênçãos de Deus que recebemos diariamente.


Com esta parábola, Jesus também quer dizer a todos os seguidores de Cristo, que o serviço prestado deve ser desinteressado e gratuito. Assim está sendo desmantelada toda pretensão humana que tenta de alguma maneira servir-se de Deus ou condicioná-lo através de uma relação religiosa de tipo contratual ou contabilizável, segundo o modelo farisaico. E esta crítica à religiosidade mercantil e pretensiosa é tanto mais urgente quanto mais na comunidade a função ou o serviço goza de certo prestígio ou de responsabilidade. Não é por acaso que a parábola do servo sem pretensões é dirigida aos discípulos. Todos na comunidade são pobres e simples servos (cf. 1 Cor 9,16.19-23).


Outro cerne dessa parte diz respeito à atitude da pessoa. A atitude de um arrogante vê Deus muito feliz pelo fato da pessoa realizar o bom serviço. No entanto, a atitude adequada é a de agradecimento por termos privilégio e a oportunidade de servir a Deus. Seja qual for a recompensa que obtivermos por servir a Deus, na verdade, não a merecemos, mas a ganhamos porque Deus é gracioso. Nenhum cristão pode gabar-se diante de Deus (Rm 3,27). Os servos fiéis entendem isso, pelo que prosseguem em seu trabalho para Deus, motivados pelo amor a Deus e não por um senso de importância própria ou cobiça pela recompensa. Deus nos criou e tudo de bom vem dele.  Não podemos, por isso, nos vangloriar de nenhum bem que tenhamos recebido de Deus (cf. Ef 2,8). Todos os nossos méritos provêm de Deus. Evita-se assim qualquer auto-justificação farisaica. O que temos que fazer diante de tudo isto é agradecer a Deus. Temos que procurar sempre as razões para agradecer a Deus e não os motivos para reclamar a Deus por tudo que não anda bem na nossa vida. Deus já deu tudo para nós. O que fazemos é muito pouco em comparação com tudo que Deus nos deu através da sua criação. Somos nós que não sabemos nos comportar diante de tantos dons divinos que recebemos. Somos, às vezes, como os peixes que nadam na água que ainda perguntam se existe a água, ou onde está a água.


Para chegar até este ponto, para a fé ser viva e atuante, precisamos alimentá-la de diversas formas, todos os dias, sobretudo com a oração, com a reflexão, com a leitura da Palavra de Deus, com a participação na vida da Igreja e com o serviço ao próximo etc.. Sem alimentarmos a nossa fé com tudo isso, ficaremos frágeis e nos tornamos inconstantes.


Senhor, ajuda-me a ser aquele que espera sem cansaço, escuta sem fadiga, recebe com bondade, dá com amor. Ajuda-me a ser aquela presença que atrai, a amizade repousante e enriquecedora, a paz que irradia alegria e serenidade. Amém!
P. Vitus Gustama,svd

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