16/11/2019
PARA ALCANÇAR A LIBERTAÇÃO TOTAL É PRECISO COLOCAR A ORAÇÃO NA VIDA
E A VIDA NA ORAÇÃO
Sábado
da XXXII Semana Comum
18,14 Quando um tranquilo silêncio envolvia
todas as coisas e a noite chegava ao meio de seu curso, 15 a tua palavra
onipotente, vinda do alto do céu, do seu trono real, precipitou-se, como
guerreiro impiedoso, no meio de uma terra condenada ao extermínio; como espada
afiada, levava teu decreto irrevogável; 16 defendendo-se, encheu tudo de morte
e, mesmo estando sobre a terra, ela atingia o céu. 19,6 Então, a criação inteira,
obediente às tuas ordens, foi de novo remodelada em cada espécie de seres, para
que teus filhos fossem preservados de todo perigo. 7 Apareceu a nuvem para dar
sombra ao acampamento, e a terra enxuta surgiu onde antes era água: o mar
Vermelho tornou-se caminho desimpedido, e as ondas violentas se transformaram
em campo verdejante, 8 por onde passaram, como um só povo, os que eram
protegidos por tua mão, contemplando coisas assombrosas. 9 Como cavalos soltos
na pastagem e como cordeiros, correndo aos saltos, glorificaram-te a ti,
Senhor, seu libertador.
Evangelho: Lc 18,1-8
Naquele
tempo: 1 Jesus contou aos discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a
necessidade de rezar sempre, e nunca desistir, dizendo: 2 'Numa cidade havia um
juiz que não temia a Deus, e não respeitava homem algum. 3 Na mesma cidade
havia uma viúva, que vinha à procura do juiz, pedindo: `Faze-me justiça contra
o meu adversário!' 4 Durante muito tempo, o juiz se recusou. Por fim, ele
pensou: 'Eu não temo a Deus, e não respeito homem algum. 5 Mas esta viúva já me
está aborrecendo. Vou fazer-lhe justiça, para que ela não venha a agredir-me!''
6 E o Senhor acrescentou: 'Escutai o que diz este juiz injusto. 7 E Deus, não
fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que vai
fazê-los esperar? 8 Eu vos digo que Deus lhes fará justiça bem depressa. Mas o
Filho do homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?'
____________________
Deus Tem a Última Palavra Para Nossa Vida
“Quando um tranquilo
silêncio envolvia todas as coisas e a noite chegava ao meio de seu curso, a tua
palavra onipotente, vinda do alto do céu, do seu trono real, precipitou-se,
como guerreiro impiedoso, no meio de uma terra condenada ao extermínio; como espada
afiada, levava teu decreto irrevogável”.
Estamos no último capítulo do livro de
Sabedoria sobre o qual temos refletido durante esta semana que está terminando.
O autor do Livro da Sabedoria termina seu
estudo com uma reflexão sobre as relações entre o Egito e Israel. O autor recorda
as "pragas do Egito" que libertaram seus ancestrais da escravidão. A
descrição do êxodo do povo eleito no texto é cósmica: no silêncio da noite
sucede a intervenção poderosa de Deus e Sua Palavra desce como espada afiada,
pisa a terra e enche o céu e sombra de morte cobre os inimigos do povo eleito.
A intervenção de Deus é aqui dramatizada à
maneira épica. A água, os animais, o mar Vermelho, intervem para “salvar” os
hebreus: “A criação inteira, obediente às tuas ordens, foi de novo remodelada em
cada espécie de seres, para que teus filhos fossem preservados de todo perigo”.
O autor da Sabedoria interpreta tudo isso como sinal de que há uma correlação entre
a “salvação dos justos” e o “equilíbrio cósmico”.
Desta maneira, o autor quer nos dizer também que
a Palavra de Deus é sempre “ativa” no coração dos homens e no dos
acontecimentos: “A tua palavra onipotente, vinda do alto do céu, do seu trono real,
precipitou-se, como guerreiro impiedoso, no meio de uma terra condenada ao
extermínio; como espada afiada, levava teu decreto irrevogável”. A Palavra
de Deus que no princípio criou tudo, está sempre presente sobre a terra para
preparar uma “nova criação” muito além da morte.
Aquela noite da libertação do povo hebreu da
mão de seus opressores, em que a Palavraa de Deus se manifestou como salvação
para os hebreus, cumprindo o Decreto Divino de condenar os egípcios
(opressores) e salvar os hebreus, é somente uma figura daquele outro momento em
que a “Palavra se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14), manifestando-se com
todo seu poder salvador para nos libertar da escravidão do pecado para podermos
participar da Vida Divina (libertação definitiva).
O êxodo dos hebreus foi uma poderosa figura
do definitivo Exodo da morte e ressurreição de Jesus, sua passagem através da
morte para a nova existência, guiando como novo Moisés o povo para a salvação
definitiva. Se a saída do Egito foi o acontecimento decisivo para Israel, para
nós e com maior motivo é a Páscoa de Jesus que continuamente nos comunica em
seus sacramentos e na celebração de cada domingo, e sobretudo, da Tríduo Pascal
de cada ano. À luz desta Páscoa temos de interpretar a história e os pequenos
ou grandes acontecimentos de nossa vida a partir da Páscoa para que nos
mantenhamos no optimismo e na confiança de Deus apesar das dificuldades.
Esta leitura nos prepara para a celebração do
domingo e nos ajuda a refrescar nossa admiração pelas maravilhas que Deus
operou na nossa vida diariamente. Diante das maravilhas de Deus nossa gratidão
e nossos louvores e cantos são insuficientes. Diante das maravilhas de Deus
temos muito mais a razão para agradecer do que para murmurar. O Salmo Responsorial
de hoje (Sl 104) nos ajuda a não esquecermos as maravilhas de Deus: “Lembrai sempre as maravilhas do Senhor!
Cantai, entoai salmos para ele, publicai todas as suas maravilhas! Gloriai-vos
em seu nome que é santo, exulte o coração que busca a Deus!”. Toda vez que
fizermos a ação de graças a Deus por tudo na nossa vida, por toda a criação
maravilhosa, ganharemos novas forças para seguir adiante e não teremos medo de
enfrentar as dificuldades, pois com o Senhor tudo é possível (Cf. Lc 1,37).
A Bondade Infinita De Deus Nos
Faz Persverantes Na Oração
O evangelista Lucas é conhecido como uma
pessoa orante, e a sua comunidade é uma comunidade orante, porque ele dá uma
atenção particular à oração. Por isso, seu evangelho é chamado também de o
“Evangelho de Oração”. A oração envolve o evangelho inteiro desde o primeiro
capítulo que abre com uma solene liturgia no Templo de Jerusalém (Lc 1,1-10)
até a reunião dos discípulos, depois da ascensão, novamente no Templo para
louvar a Deus (Lc 24,53).
A oração é uma percepção da realidade que
logo se desabrocha em louvor, em adoração, em agradecimento e em pedido de
piedade Àquele que é a origem do ser. Por isso, quem sabe viver
conscientemente, sabe também rezar bem. E quem sabe rezar bem, também sabe
viver conscientemente. “Vive de tal modo que sua vida seja uma oração”
(Santo Agostinho: In ps. 91,3). O homem que ora inspira o mundo, olha para o
mundo com compaixão e, nesse olhar, penetra a fonte de todo ser. A oração é mais do
que recitar umas fórmulas, é, sobretudo, uma convicção íntima de que Deus é
nosso Pai e que quer nosso bem. Orar/rezar é uma maneira mais eficaz para
aproximar a terra para o céu; é uma maneira de encurtar a distância entre o céu
e a terra; é meio direto para penetrar no céu a fim de conversar com o Pai do
céu. A oração derruba o muro que nos separa de
Deus, pois na oração conversamos diretamente com o céu, isto é, com Deus.
Distanciar-se da oração significa distanciar-se do céu. É impossível chamar
Deus de Pai sem conversar com Ele permanentemente.
” Jesus contou aos discípulos uma parábola
para mostrar-lhes a necessidade de rezar
sempre, e nunca desistir...” (Lc 18,1), assim o evangelista Lucas nos relatou
sobre a importância da oração na vida de quem acredita em Deus.
O advérbio “sempre” confere à oração um
duplo significado. O rezar “sempre” é o programa de quem crê, chamado a
aceitar, a cada dia, o desafio da história: convoca ao compromisso de colocar a
“prece na vida” e “vida na prece”. Oração e vida se fundem em uma recíproca
imanência. Uma é a vida da outra. A prece transforma em unidade os fragmentos
da existência quotidiana diante de Deus. Se a prece tem lugar na existência
quotidiana do cristão, a própria vida está na prece. Por isso, a prece não é
apenas um barco salva-vidas para quem estiver afundando. Para o cristão, falar
com Deus significa usar a linguagem da vida e da história na conversa com o Pai
do céu. Seria impossível imaginar um filho não conversar com seu pai morando na
mesma casa.
Este versículo introdutório (Lc 18,1) é
seguido pela parábola sobre o juiz desonesto e a viúva insistente. Com
a história da viúva, que tão insistente, venceu, pelo cansaço, o juiz
desinteressado que não estava nem um pouco inclinado a atendê-la, Jesus quer
nos recomendar a perseverança na oração. São três as razões porque devemos ser
perseverantes nas nossas orações: Primeiro, a bondade e a misericórdia
de Deus. Segundo, o amor de Deus por cada um de nós (Deus ama cada um na
sua individualidade). Terceiro, o interesse que nos mostramos
perseverantes na oração. Por isso, o modo como a pessoa reza depende da imagem
de Deus que traz no seu coração. Quanto mais correta for esta imagem, mais
disposição terá para a oração e mais confiante e perseverante esta será.
A
pessoa de fé é sempre perseverante, porque ela sabe a quem recorrer e em quem
acredita, sem se importar com as circunstâncias. Aquele que crê, tem absoluta
certeza de ser atendido. A oração que não foi atendida é uma forma de Deus
atender nosso pedido, pois Deus tem a sabedoria infinita. Se Deus “não nos
atender” é para o nosso bem maior, pois Deus sabe muito bem de nossas
necessidades. Se Ele atender nosso pedido é para nossa salvação. E se Ele não
atender nossa oração é para nossa salvação também. Sem duvida nenhuma, Deus
sempre nos atende, pois Ele quer nossa salvação. “Quando
a oração brota da alma como uma necessidade da própria alma, converte-se em
chave de ouro, em santo e eficaz sinal que abre as portas do céu e torna
possível um encontro com Deus. O homem se eleva em oração e Deus se inclina em
misericórdia”, dizia Santo Agostinho (In
ps. 85,7).
A vontade de Deus de querer nos salvar é o
motivo de nossa perseverança na nossa oração. E acabamos aprendendo o que
devemos pedir e o que não devemos pedir a Deus nas nossas orações. Neste
sentido, a oração não deixa de ser um caminho pedagógico.
“Jesus contou aos discípulos uma parábola,
para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, e nunca desistir”. A oração
perseverante é expressão e o alimento da fé em Deus. Fé e oração estão sempre
intimamente unidas. Para orar é preciso crer e para crer é necessário orar. A
oração é um exercício de fé. Se há quem consagre a sua vida à oração, é para
manter viva e ativa essa fé que Jesus deseja encontrar no coração de todos (Lc
18,8). A oração deve ser como uma respiração permanente. Ninguém sobreviveria
sem respirar e sem o ar do qual ele respira. Assim também um cristão: não
viveria como bom cristão sem uma oração perseverante. E aquele que crê não quer
obrigar Deus a fazer a própria vontade, utilizá-lo para realizar seus desejos,
mas para obter a graça de conformar sua vontade à de Deus.
Além disso, a parábola da viúva insistente
quer nos ensinar que, para atingir objetivos superiores às nossas forças,
precisamos orar sem cessar, pois há objetivos que não podem ser alcançados sem
a oração. Por exemplo: onde conseguir a força para perdoar quem nos prejudicou,
a não ser na oração? Ou, onde conseguir a força para não fraquejar diante dos
maus desejos da ambição, da inveja, da cobiça, do ódio, do rancor, da vingança
a não ser na oração? Se por um instante sequer deixarmos cair os braços, isto
é, se pararmos de rezar imediatamente as forças do mal prevalecerão, seremos
derrotados e os desastres que sofremos serão assustadores. Se pararmos de
rezar, erraremos o caminho. Quem aprender a ficar de joelho em oração e adoração, vai
conseguir ficar firme e inabalável diante das dificuldades da vida, pois ele
sabe e acredita que Deus está com ele e ele está com Deus.
P. Vitus Gustama,svd
Nenhum comentário:
Postar um comentário