quarta-feira, 13 de novembro de 2019

16/11/2019
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PARA ALCANÇAR A LIBERTAÇÃO TOTAL É PRECISO COLOCAR A ORAÇÃO NA VIDA E A VIDA NA ORAÇÃO
Sábado da XXXII Semana Comum

Primeira Leitura: Sb 18,14-16; 19,6-9
18,14 Quando um tranquilo silêncio envolvia todas as coisas e a noite chegava ao meio de seu curso, 15 a tua palavra onipotente, vinda do alto do céu, do seu trono real, precipitou-se, como guerreiro impiedoso, no meio de uma terra condenada ao extermínio; como espada afiada, levava teu decreto irrevogável; 16 defendendo-se, encheu tudo de morte e, mesmo estando sobre a terra, ela atingia o céu. 19,6 Então, a criação inteira, obediente às tuas ordens, foi de novo remodelada em cada espécie de seres, para que teus filhos fossem preservados de todo perigo. 7 Apareceu a nuvem para dar sombra ao acampamento, e a terra enxuta surgiu onde antes era água: o mar Vermelho tornou-se caminho desimpedido, e as ondas violentas se transformaram em campo verdejante, 8 por onde passaram, como um só povo, os que eram protegidos por tua mão, contemplando coisas assombrosas. 9 Como cavalos soltos na pastagem e como cordeiros, correndo aos saltos, glorificaram-te a ti, Senhor, seu libertador.


Evangelho: Lc 18,1-8
Naquele tempo: 1 Jesus contou aos discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, e nunca desistir, dizendo: 2 'Numa cidade havia um juiz que não temia a Deus, e não respeitava homem algum. 3 Na mesma cidade havia uma viúva, que vinha à procura do juiz, pedindo: `Faze-me justiça contra o meu adversário!' 4 Durante muito tempo, o juiz se recusou. Por fim, ele pensou: 'Eu não temo a Deus, e não respeito homem algum. 5 Mas esta viúva já me está aborrecendo. Vou fazer-lhe justiça, para que ela não venha a agredir-me!'' 6 E o Senhor acrescentou: 'Escutai o que diz este juiz injusto. 7 E Deus, não fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar? 8 Eu vos digo que Deus lhes fará justiça bem depressa. Mas o Filho do homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?'
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Deus Tem a Última Palavra Para Nossa Vida


Quando um tranquilo silêncio envolvia todas as coisas e a noite chegava ao meio de seu curso, a tua palavra onipotente, vinda do alto do céu, do seu trono real, precipitou-se, como guerreiro impiedoso, no meio de uma terra condenada ao extermínio; como espada afiada, levava teu decreto irrevogável”.


Estamos no último capítulo do livro de Sabedoria sobre o qual temos refletido durante esta semana que está terminando.


O autor do Livro da Sabedoria termina seu estudo com uma reflexão sobre as relações entre o Egito e Israel. O autor recorda as "pragas do Egito" que libertaram seus ancestrais da escravidão. A descrição do êxodo do povo eleito no texto é cósmica: no silêncio da noite sucede a intervenção poderosa de Deus e Sua Palavra desce como espada afiada, pisa a terra e enche o céu e sombra de morte cobre os inimigos do povo eleito.


A intervenção de Deus é aqui dramatizada à maneira épica. A água, os animais, o mar Vermelho, intervem para “salvar” os hebreus: “A criação inteira, obediente às tuas ordens, foi de novo remodelada em cada espécie de seres, para que teus filhos fossem preservados de todo perigo”. O autor da Sabedoria interpreta tudo isso como sinal de que há uma correlação entre a “salvação dos justos” e o “equilíbrio cósmico”.


Desta maneira, o autor quer nos dizer também que a Palavra de Deus é sempre “ativa” no coração dos homens e no dos acontecimentos: “A tua palavra onipotente, vinda do alto do céu, do seu trono real, precipitou-se, como guerreiro impiedoso, no meio de uma terra condenada ao extermínio; como espada afiada, levava teu decreto irrevogável”. A Palavra de Deus que no princípio criou tudo, está sempre presente sobre a terra para preparar uma “nova criação” muito além da morte.


Aquela noite da libertação do povo hebreu da mão de seus opressores, em que a Palavraa de Deus se manifestou como salvação para os hebreus, cumprindo o Decreto Divino de condenar os egípcios (opressores) e salvar os hebreus, é somente uma figura daquele outro momento em que a “Palavra se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14), manifestando-se com todo seu poder salvador para nos libertar da escravidão do pecado para podermos participar da Vida Divina (libertação definitiva).


O êxodo dos hebreus foi uma poderosa figura do definitivo Exodo da morte e ressurreição de Jesus, sua passagem através da morte para a nova existência, guiando como novo Moisés o povo para a salvação definitiva. Se a saída do Egito foi o acontecimento decisivo para Israel, para nós e com maior motivo é a Páscoa de Jesus que continuamente nos comunica em seus sacramentos e na celebração de cada domingo, e sobretudo, da Tríduo Pascal de cada ano. À luz desta Páscoa temos de interpretar a história e os pequenos ou grandes acontecimentos de nossa vida a partir da Páscoa para que nos mantenhamos no optimismo e na confiança de Deus apesar das dificuldades.


Esta leitura nos prepara para a celebração do domingo e nos ajuda a refrescar nossa admiração pelas maravilhas que Deus operou na nossa vida diariamente. Diante das maravilhas de Deus nossa gratidão e nossos louvores e cantos são insuficientes. Diante das maravilhas de Deus temos muito mais a razão para agradecer do que para murmurar.  O Salmo Responsorial de hoje (Sl 104) nos ajuda a não esquecermos as maravilhas de Deus: “Lembrai sempre as maravilhas do Senhor! Cantai, entoai salmos para ele, publicai todas as suas maravilhas! Gloriai-vos em seu nome que é santo, exulte o coração que busca a Deus!”. Toda vez que fizermos a ação de graças a Deus por tudo na nossa vida, por toda a criação maravilhosa, ganharemos novas forças para seguir adiante e não teremos medo de enfrentar as dificuldades, pois com o Senhor tudo é possível (Cf. Lc 1,37).


A Bondade Infinita De Deus Nos Faz Persverantes Na Oração


O evangelista Lucas é conhecido como uma pessoa orante, e a sua comunidade é uma comunidade orante, porque ele dá uma atenção particular à oração. Por isso, seu evangelho é chamado também de o “Evangelho de Oração”. A oração envolve o evangelho inteiro desde o primeiro capítulo que abre com uma solene liturgia no Templo de Jerusalém (Lc 1,1-10) até a reunião dos discípulos, depois da ascensão, novamente no Templo para louvar a Deus (Lc 24,53).


A oração é uma percepção da realidade que logo se desabrocha em louvor, em adoração, em agradecimento e em pedido de piedade Àquele que é a origem do ser. Por isso, quem sabe viver conscientemente, sabe também rezar bem. E quem sabe rezar bem, também sabe viver conscientemente. “Vive de tal modo que sua vida seja uma oração” (Santo Agostinho: In ps. 91,3). O homem que ora inspira o mundo, olha para o mundo com compaixão e, nesse olhar, penetra a fonte de todo ser. A oração é mais do que recitar umas fórmulas, é, sobretudo, uma convicção íntima de que Deus é nosso Pai e que quer nosso bem. Orar/rezar é uma maneira mais eficaz para aproximar a terra para o céu; é uma maneira de encurtar a distância entre o céu e a terra; é meio direto para penetrar no céu a fim de conversar com o Pai do céu. A oração derruba o muro que nos separa de Deus, pois na oração conversamos diretamente com o céu, isto é, com Deus. Distanciar-se da oração significa distanciar-se do céu. É impossível chamar Deus de Pai sem conversar com Ele permanentemente. 


” Jesus contou aos discípulos uma parábola para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, e nunca desistir...” (Lc 18,1), assim o evangelista Lucas nos relatou sobre a importância da oração na vida de quem acredita em Deus.


O advérbio “sempre” confere à oração um duplo significado. O rezar “sempre” é o programa de quem crê, chamado a aceitar, a cada dia, o desafio da história: convoca ao compromisso de colocar a “prece na vida” e “vida na prece”. Oração e vida se fundem em uma recíproca imanência. Uma é a vida da outra. A prece transforma em unidade os fragmentos da existência quotidiana diante de Deus. Se a prece tem lugar na existência quotidiana do cristão, a própria vida está na prece. Por isso, a prece não é apenas um barco salva-vidas para quem estiver afundando. Para o cristão, falar com Deus significa usar a linguagem da vida e da história na conversa com o Pai do céu. Seria impossível imaginar um filho não conversar com seu pai morando na mesma casa.


Este versículo introdutório (Lc 18,1) é seguido pela parábola sobre o juiz desonesto e a viúva insistente. Com a história da viúva, que tão insistente, venceu, pelo cansaço, o juiz desinteressado que não estava nem um pouco inclinado a atendê-la, Jesus quer nos recomendar a perseverança na oração. São três as razões porque devemos ser perseverantes nas nossas orações: Primeiro, a bondade e a misericórdia de Deus. Segundo, o amor de Deus por cada um de nós (Deus ama cada um na sua individualidade). Terceiro, o interesse que nos mostramos perseverantes na oração. Por isso, o modo como a pessoa reza depende da imagem de Deus que traz no seu coração. Quanto mais correta for esta imagem, mais disposição terá para a oração e mais confiante e perseverante esta será.


A pessoa de fé é sempre perseverante, porque ela sabe a quem recorrer e em quem acredita, sem se importar com as circunstâncias. Aquele que crê, tem absoluta certeza de ser atendido. A oração que não foi atendida é uma forma de Deus atender nosso pedido, pois Deus tem a sabedoria infinita. Se Deus “não nos atender” é para o nosso bem maior, pois Deus sabe muito bem de nossas necessidades. Se Ele atender nosso pedido é para nossa salvação. E se Ele não atender nossa oração é para nossa salvação também. Sem duvida nenhuma, Deus sempre nos atende, pois Ele quer nossa salvação. Quando a oração brota da alma como uma necessidade da própria alma, converte-se em chave de ouro, em santo e eficaz sinal que abre as portas do céu e torna possível um encontro com Deus. O homem se eleva em oração e Deus se inclina em misericórdia”, dizia Santo Agostinho (In ps. 85,7).


A vontade de Deus de querer nos salvar é o motivo de nossa perseverança na nossa oração. E acabamos aprendendo o que devemos pedir e o que não devemos pedir a Deus nas nossas orações. Neste sentido, a oração não deixa de ser um caminho pedagógico.


“Jesus contou aos discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, e nunca desistir”. A oração perseverante é expressão e o alimento da fé em Deus. Fé e oração estão sempre intimamente unidas. Para orar é preciso crer e para crer é necessário orar. A oração é um exercício de fé. Se há quem consagre a sua vida à oração, é para manter viva e ativa essa fé que Jesus deseja encontrar no coração de todos (Lc 18,8). A oração deve ser como uma respiração permanente. Ninguém sobreviveria sem respirar e sem o ar do qual ele respira. Assim também um cristão: não viveria como bom cristão sem uma oração perseverante. E aquele que crê não quer obrigar Deus a fazer a própria vontade, utilizá-lo para realizar seus desejos, mas para obter a graça de conformar sua vontade à de Deus.


Além disso, a parábola da viúva insistente quer nos ensinar que, para atingir objetivos superiores às nossas forças, precisamos orar sem cessar, pois há objetivos que não podem ser alcançados sem a oração. Por exemplo: onde conseguir a força para perdoar quem nos prejudicou, a não ser na oração? Ou, onde conseguir a força para não fraquejar diante dos maus desejos da ambição, da inveja, da cobiça, do ódio, do rancor, da vingança a não ser na oração? Se por um instante sequer deixarmos cair os braços, isto é, se pararmos de rezar imediatamente as forças do mal prevalecerão, seremos derrotados e os desastres que sofremos serão assustadores. Se pararmos de rezar, erraremos o caminho. Quem aprender a ficar de joelho em oração e adoração, vai conseguir ficar firme e inabalável diante das dificuldades da vida, pois ele sabe e acredita que Deus está com ele e ele está com Deus.
P. Vitus Gustama,svd

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