Domingo,17/11/2019
VIVER
O PRESENTE COM UMA VISÃO PARA O FUTURO
XXXIII DOMINGO DO
TEMPO COMUM “C”
Primeira Leitura: Malaquias 3,19-20a
19 Eis que virá o dia, abrasador como
fornalha, em que todos os soberbos e ímpios serão como palha; e esse dia
vindouro haverá de queimá-los, diz o Senhor dos exércitos, tal que não lhes deixará raiz nem ramo.20ª Para vós, que
temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo salvação em suas asas.
Segunda Leitura: 2Tessalonicenses 3,7-12
Irmãos: 7 Bem sabeis
como deveis seguir o nosso exemplo, pois não temos vivido entre vós na
ociosidade. 8 De ninguém recebemos de graça o pão que comemos. Pelo contrário, trabalhamos com
esforço e cansaço, de dia e de noite, para não sermos pesados a ninguém.
9 Não que não tivéssemos o direito de fazê-lo, mas queríamos apresentar-nos
como exemplo a ser imitado. 10 Com efeito, quando estávamos entre vós, demos
esta regra: “Quem não quer trabalhar, também não deve comer”. 11 Ora, ouvimos
dizer que entre vós há alguns que vivem à toa, muito ocupados em não fazer
nada. 12 Em nome do Senhor Jesus Cristo, ordenamos e exortamos a estas pessoas
que, trabalhando, comam na tranquilidade o seu próprio pão.
Evangelho: Lc 21,5-19
Naquele tempo, 5 algumas
pessoas comentavam a respeito do Templo que era enfeitado com belas pedras e
com ofertas votivas. Jesus disse: 6 “Vós admirais estas coisas? Dias virão em
que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído”. 7 Mas
eles perguntaram: “Mestre, quando acontecerá isto? E qual vai ser o sinal de
que estas coisas estão para acontecer?” 8 Jesus respondeu: “Cuidado para não serdes
enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu!’ e ainda: ‘O
tempo está próximo’. Não sigais essa gente! 9 Quando ouvirdes falar de guerras e
revoluções, não fiqueis apavorados. É preciso que estas coisas aconteçam
primeiro, mas não será logo o fim”. 10 E Jesus continuou: “Um povo
se levantará contra outro povo, um país atacará outro país. 11 Haverá grandes
terremotos, fomes e pestes em muitos lugares; acontecerão coisas pavorosas e
grandes sinais serão vistos no céu. 12 Antes, porém, que estas coisas aconteçam,
sereis presos e perseguidos; sereis entregues às sinagogas e postos na prisão;
sereis levados diante de reis e governadores por causa do meu nome. 13 Esta
será a ocasião em que testemunhareis a vossa fé. 14 Fazei o firme propósito de
não planejar com antecedência a própria defesa; 15 porque eu vos darei palavras
tão acertadas, que nenhum dos inimigos vos poderá resistir ou rebater. 16 Sereis
entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos, parentes e amigos. E eles
matarão alguns de vós. 17 Todos vos odiarão por causa do meu nome.
18 Mas vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça. 19 É permanecendo
firmes que ireis ganhar a vida!”
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“Para vós, que temeis o meu
nome, nascerá o sol da justiça, trazendo salvação em suas asas. É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!”
Estamos no penúltimo Domingo do Tempo Comum. Quando
o Ano litúrgico chega a seu fim, a ESPERANÇA
da Igreja se reanima. As leituras bíblico-liturgicas se apresentam
especialmente carregadas com a mensagem escatológica, isto é, referente ao último
que há de suceder, à vinda do Senhor e ao Dia de Juízo. No presente domingo,
inclusive a Segunda Leitura (2Ts 3,7-12) tem este sentido escatológico que é
evidente nas outras duas leituras (Ml 3,19-20ª; Lc 21,5-19).
Por isso, podemos entender que nos dois
últimos domingos do Tempo Comum (e no primeiro domingo do Advento) as leituras
da missa só falam das COISAS FINAIS (escatologia)
como lemos na Primeira Leitura e no Evangelho deste domingo. “Eis que virá o dia, abrasador como fornalha, em que todos
os soberbos e ímpios serão como palha; e esse dia vindouro haverá de
queimá-los, tal que não lhes deixará raiz nem ramo”, assim lemos
na Primeira
Leitura. “Dias virão em que não ficará pedra sobre
pedra. Tudo será destruído”, escreveu são Lucas
no Evangelho
de hoje. Com a festa do Cristo Rei (próximo domingo) terminamos o ano litúrgico
de um ciclo para começar outro ciclo litúrgico começando com o Primeiro Domingo
do Advento.
Para os gregos, o tempo tem um caráter
cíclico: parece que os séculos e os anos giram em círculo, trazendo de novo
indefectivelmente os mesmos sucessos. Pelo qual não há que esperar-se nada de
novo substancialmente.
O homem da Bíblia, pelo contrário, considera
a história como uma trajetória horizontal, o tempo tem um desenvolvimento
linear, a história caminha, progride, sob a guia de Deus, até um término bem
definido. Pelo qual não se repete jamais da mesma maneira e sim que está aberta
para a novidade, para o inesperado, à esperança.
Precisamente as leituras de hoje falam deste
fim. Mas em todo caso há que recordar que o fim do mundo ocorre para cada um de
nós em nossa própria morte. O pensamento da possibilidade ou da certeza de
nossa morte nos ajuda a vivermos com mais correção e seriedade. O término de
nossa vida é certo, mas o tempo é incerto, isto é, não sabemos do quando disso
vai acontecer. Santo
Agostinho dizia: “Se Deus ocultou
essa hora (o fim), é para que sejamos fieis durante todos os dias”.
Nós cristãos temos que encarar este tempo intermédio (tempo antre o nascimento
e a vinda do Senhor) com fidelidade à Palavra de Deus, dando provas de lucidez
contra as sugestões dos falsos messias-salvadores: “Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome,
dizendo: ‘Sou eu!’ e ainda: ‘O tempo está próximo’”, e estando sempre
dispostos a dar testemunho de nossa fé diante de qualquer pessoa e situação e
com qualquer preço: “Sereis presos e
perseguidos; sereis entregues às sinagogas e postos na prisão; sereis levados
diante de reis e governadores por causa do meu nome. Esta será a ocasião em que testemunhareis a vossa fé.”.
Por isso, é bom momento para fazermos um
balanço mais ou menos rápido do passado, para anotar os fracassos e para
intensificar os êxitos. Não corrigir os erros é uma forma de cometer outros
erros. Ao mesmo tempo, é necessário celebrar no tom de ação de graças os êxitos
que alcançamos.
Deus Dá a Cada Um O Que Lhe
Corresponde
“Eis que
virá o dia, abrasador como fornalha, em que todos os soberbos e ímpios serão
como palha; e esse dia vindouro haverá de queimá-los, tal que não lhes deixará
raiz nem ramo. Para vós, que temeis o meu nome, nascerá o
sol da justiça, trazendo salvação em suas asas”. Assim escreveu o profeta Malaquias no texto da Primeira
Leitura de hoje (“Malaquias”, Heb. “Meu mensageiro”, Ml 3,1). É o sexto
oráculo do profeta Malaquias (Ml 3,13-21, segundo o texto hebraico). Este oráculo
nos fala do futuro triunfo da justiça divina.
Malaquias é um profeta pós-exílio que exerceu
seu ministério profético em meados do século V a.C. O livro de Malaquias indica
que o moral dos habitantes judeus em Jerusalém e nos arredores estava em nível
muito baixo na época. As colheitas eram fracas por causa da seca e de nuvens de
gafanhotos. As esperanças anteriores de que com a restauração do Templo de
Jerusalém, surgiria uma nação judaica independente e próspera, não se
realizaram. O profeta reclama do relaxamento moral dos seus contemporâneos,
especialmente os sacerdotes que aceitaram oferendas com imperfeições/defeitos
(cf. Ml 1,8). O profeta alerta que chegará um dia de acerto de contas, quando
os transgressores serão punidos e apenas os fieis preservados. Mas até esse
dia, o Senhor é compassivo e dará a cada um a oportunidade de se arrepender
(cf. Ml 3,23-24)
A imagem de fogo ardente, que queima e
consome o arrogante/soberbo é clássica na literatura profética para indicar o juízo
de Deus para o malvado: será completamente aniquilado (cf. Am 1,4ss; Is 30;47;
Ez 21,1ss).
Para o justo, em contraposição, começa um tempo
de paz e de prosperidade. Como o sol matutino rompe a escuridão da noite, assim
a próxima manifestação do Senhor iluminará este mundo de trevas em que lutam os
justos.
Em outras palavras, para os justos o Dia de
Javé, o Dia do Juizo será um juízo de salvação, para os ímpios, de condenação. Os
ímpios serão tratados como a palha, e os troncos secos que não dão fruto, serão
jogados ao fogo e entregues à destruição.
A expressão “Dia de Javé”, utilizada por
outros profetas quer sublinhar a justiça e a recompensa de Deus que fará
desaparecer os malvados como palha no fogo, e premiará os bons com bênçãos e
felicidade.
Assim, o dia de Javé era considerado como uma
intervenção de Deus na história. Rodeado de metáforas (fogo, palha, trevas, luz,
sol) o profeta Malaquias quer ensinar a certeza de uma fé em um Deus que ama e não
abandona seus fieis, os justos, apesar dos sofrimentos e perseguções, que um
dia, “o dia de Javé”, Deus vai intervir na história dos homens e vai fazer uma
justiça exemplar. Deus sabe dar a cada um dos homens o que lhe corresponde.
Hoje o profeta Malaquias deixa a seguinte
mensagem de Deus para cada um de nós: “Para vós, que
temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo salvação em suas asas”.
Preço De Uma Fidelidade e De
Perseverança
É permanecendo firmes que ireis
ganhar a vida!”, lemos no Evangelho.
Com o texto do Evangelho de hojem continuamos
com o tema de juízo. É o juízo último. O juízo de Deus cumprido já na
atualidade conhecido pelos contemporâneos de Lucas, é a destruição do Templo de
Jerusalém. O deslumbrante esplendor do Templo não podia preservá-lo da destruição.
Tudo que é caduco, todo brilho falso conhecerá seu fim. O tempo progride e as
coisas ficam caducadas. Somente o amor fraterno embleza a vida eternamente,
pois “Deus é amor” (1Jo 4,8).
Viver conforme os ensinamentos de Jesus
Cristo, praticar a ética, a honestidade, a justiça, a verdade tem seu preço
alto no meio da sociedade da maldade: “Sereis
presos e perseguidos; sereis entregues às sinagogas e postos na prisão; sereis
levados diante de reis e governadores por causa do meu nome”, alerta-nos o
Senhor.
Uma vida difícil, sublinha o autor do
evangelho de Lucas (Lc 21,12-19), que pede a todos os cristãos constância e paciente
tenacidade, a única coisa que pode mantê-los firmes no meio da turbulência e
proporcionar-lhes "salvação": “É permanecendo
firmes que ireis ganhar a vida!” (Lc 21,19).
Fidelidade! Perseverança! Paciência!
Esperança! Deus é fiel eternamente para seus justos.
O impaciente pode terminar no desalento, no
cansaço ou na resignação amarga. Ele já não espera mais nada. O homem paciente,
pelo contrário, não se irrita nem se deixa deprimir pela tristeza. O homem
paciente contempla a vida com respeito e até com simpatia. Ele não antecipa o
juízo de Deus, não pretende impor sua própria justiça a sua maneira. O homem
paciente luta e combate dia após dia precisamente porque vive animado por uma
esperança: “Se nós trabalhamos e lutamos é porque
colocamos a nossa esperança no Deus vivo, Salvador de todos os homens,
sobretudo dos que têm fé”, escreveu são Paulo a Timóteo (1Tm
4,10).
Toda vez que celebramos a Eucaristia (Santa
Missa) recordamos o passado: “proclamais
a Morte do Senhor”, como dizia são Paulo (1Cor 11,26), mas com um olhar
profético para o futuro: “Até que Ele
vehna”. Cada Eucaristia nos faz vivermos uma certa tensão entre o passado e
o futuro, concentrados ambos no presente. Em uma das aclamações que mais vezes
repetimos se condensa esta situação: “Anunciamos,
Senhor, a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor Jesus!”.
Outras expressões também nos fazem familiares deste olhar para o futuro: “Todas as vezes que comemos deste pão e
bebemos deste cálice, anunciamos, Senhor, a vossa morte, enquanto esperamos a
vossa vinda”. Nosso destino e o do mundo está no futuro, e se chama Deus.
Mas o futuro já está no HOJE de cada
dia (cf. Mt 28,20). E a Eucaristia é nosso alimento para o caminho (viático). E
o caminho é o próprio Senhor Jesus pelo qual chegaremos à comunhão com o Pai do céu
(cf. Jo 14,6).
"Conceda-nos
a viver felizes em seu serviço" (Oração da Coleta deste Domingo). Façamos
nossa esta bela oração! Não apenas avançamos em direção à "alegria plena e
verdadeira", mas já começamos a experimentá-la na vida cotidiana, se
realmente encontrarmos o Autor de tudo no nosso hoje e O servirmos com
"alegria", mesmo nas circunstâncias mais severas.
As leituras de hoje são uma chamada enérgica
a não vivermos adormecidos. Deus nos ama, mas também nos exige fidelidade a seu
amor até as últimas consequências. E devemos estar conscientes de que esta
fidelidade pode nos acarretar problemas, inclusive perseguções: “Sereis presos e perseguidos; sereis
entregues às sinagogas e postos na prisão; sereis levados diante de reis e
governadores por causa do meu nome. Esta será a ocasião em que testemunhareis a
vossa fé”.
Neste fim do Ano Liturgico, pois o próximo
Domingo é a festa do Cristo Rei, e logo nos dispomos a começar o Advento, é
oportuna a recomendação que nos faz são Paulo na Segunda Leitura de hoje, isto é,
não podemos viver desocupados e na indolência para não nos tornar “pesados a
ninguém”. Em termos mais gerais pode-se dizer que o cristianismo, com toda sua
carga real de espiritualidade, não deve ser obstáculo para uma atividade humana
produtiva. A
teologia do trabalho, a construção do Reino com o trabalho humano normal, é
algo que também deve entrar em nossas considerações. O santo Papa João Paulo II, em sua encíclica Laborem
Exercens, nos fala sobre o trabalho humano, que podemos vivê-lo,
dando-lhe todo o significado cristão; para todo filho de Deus, o trabalho deve
ser uma razão de realização pessoal, deve envolver um desejo de colaborar com o
trabalho criativo de Deus para o serviço da comunidade humana à luz do mistério
pascal, isto é, da cruz e ressurreição de Cristo. São Paulo escreveu: “Quem não quer trabalhar, também
não deve comer”. O moivo desta expressão respondia à crença em uma
iminente vinda do Senhor e consequentemente, alguns irmãos da Igreja de Tessalônica
se desentenderam do trabalho diáro vivendo no ócio total.
Como seres criados por Deus, que confiamos na
vinda do Senhor, a melhor maneira de nos manter vigilantes na vida diária é
através de nosso trabalho que não somente é fonte de realização essoal, e sim
também uma clara ocasião de crescer como pessoas e portanto, é uma oportunidade
para receber a bênção de Deus que nos mandou cultivar a terra através do qual
participamos e colaboramos na atividade criadora de Deus que entregou sua obra ao
homem para que continue trabalhando em proveito da humanidade, tendo presente
que o mais importante não é o proveito próprio e sim adiantar na dignidade
humana, na solidariedade, na união fraterna, na paz e na autêntica liberdade.
Como cristãos devemos aprender que o trabalho
não contradiz nosso encontro pessoal com o Senhor através da oração onde
pedimos que venha a nós o Reino, que nos dê o pão de cada dia. E mais ainda que
na celebração da Eucaristia devemos estar conscientes daquilo que ofertamos
para ser transformado no Corpo e no Sangue do Senhor: o pão e o vinho, fruto do
trabalho do homem e recebido, por sua vez, da generosidade de Deus que criou a
terra para a humanidade.
Estendamos Nossa Reflexão Sobre O Texto Do Evangelho
De Lucas Proclamado Neste Domingo!
Como os dois outros evangelhos sinóticos (Mt 24-25; Mc 13), também o evangelho
de Lucas encerra a atividade de Jesus em Jerusalém (Lc19,29-21,38), antes de sua prisão,
com o discurso sobre o fim/escatológico (Lc
21,5-38).
Em seu lugar atual na tradição sinótica esse discurso é considerado como um
discurso de despedida de Jesus que deixa à sua comunidade os últimos conselhos
e advertências. Para Lucas a destruição de Jerusalém era um fato e as
perseguições à comunidade primitiva uma realidade. Tanto Mateus como Lucas
inspiram seu discurso escatológico do evangelho de Marcos capítulo 13.
Mas Lucas tem seu próprio estilo. No discurso
ele projeta a sua visão da história da salvação em três momentos: a destruição
de Jerusalém (julgamento sobre Jerusalém), tempo da missão da Igreja e enfim, a
vinda do Filho do Homem que trará a plenitude do Reino de Deus (parusia). Ao
redimensionar a perspectiva escatológica deste discurso Lucas quer chamar a
atenção de dois grupos, seja o dos fanáticos que esperam com impaciência o fim,
daqueles que confundem os próprios sonhos com a realidade; Lucas convida os
cristãos a refletir sobre o que devem fazer para que o mundo seja mais humano e
fraterno; seja o dos decepcionados e resignados que não esperam mais nada, para
a necessidade do empenho presente, no Tempo da Igreja. Este é o tempo oportuno
do testemunho em meio às perseguições violentas, e a confiança e a esperança
perseverante na espera da libertação com a vinda gloriosa do Senhor
Ressuscitado, o Filho do Homem. Os cristãos não podem se entregar a utopia
futurista, perdendo o laço com a realidade histórica e cotidiana, a realidade
do presente embora ela esteja cheia de mentiras, de corrupções, violências,
perturbações absurdas que podem levar a desejar o fim ou no mínimo o desejo que
aconteça o mal para os malvados. Se o Senhor havia vencido a morte, pensa
Lucas, a comunidade cristã não está caminhando rumo à uma utopia anônima, mas o
Filho do Homem, que é garantia e primícia da libertação humana. A nossa esperança,
por isso, não será fraudada pois ela tem um nome: Jesus Cristo (cf. Rm 8,31.35.37). Com esse discurso,
então, o evangelista deseja fortalecer a esperança de sua comunidade.
O fim de Jerusalém é, para Lucas, uma
prefiguração do fim (não podemos esquecer que o evangelho de Lucas foi escrito
depois da destruição de Jerusalém que aconteceu em 70 d. C na guerra dos judeus
contra Roma em 66-70 d.C). Ele é o fim de toda uma etapa da história salvífica,
mas não é o sinal da chegada do fim. Esse não é o fim dos tempos, mas o fim do
templo. O que Jesus está dizendo aqui na versão de Lucas desse discurso é que
haverá muitos perigos e dificuldades esperando seus seguidores (cf. At
7,54-60;12,1-2).
Segundo Jesus, cada dificuldade ou perseguição
deve se tornar uma oportunidade de dar testemunho dele: “Mas isto será para vós uma
ocasião de dar testemunho de mim” (v.13).
A palavra “testemunhar/testemunho/testemunha”
é um das palavras preferidas por Lucas, especialmente nos Atos dos Apóstolos (aparece
13 vezes em Atos). Na parte central dos grandes discursos que dão ritmo a Atos,
Pedro repete: “Nós somos testemunhas” (cf. At 2,32;3,15;10,41). Ser testemunha
era a identidade dos discípulos de Jesus. O anúncio da palavra de
Deus e o testemunho de vida são palavras-chaves e inseparáveis na obra de
Lucas, de modo especial na segunda obra (tos dos Apóstolos). Testemunhar
significa provar com a própria vida aquilo que se fala, se professa e no que se
acredita, assumindo todas as conseqüências.
Mas testemunhar quem? Não se trata de testemunhar uma idéia, um
conjunto de verdades; o conteúdo do anúncio não é teoria nem sistema, mas é o
próprio Jesus Cristo Ressuscitado. Por isso, o anúncio pode ser
feito por todos e para todos, porque não pressupõe nem culturas nem diplomas.
Sendo o próprio Jesus Cristo, é suficiente tê-Lo encontrado como aquele que dá
sentido a toda a vida. Para anunciar Jesus Cristo Ressuscitado não se requerem
qualidades específicas, mas uma fidelidade. Testemunhar Jesus é provar com a própria
vida que é ele o sentido profundo de nossa vida e da vida do mundo.
Na escolha de um caminho de vida, não basta o
entusiasmo do primeiro momento nem as afirmações exaltadas de amor a Jesus. A
salvação para cada um de nós e para melhorar o mundo, a família, o trabalho,
depende da perseverança no caminho da justiça, do amor e da fraternidade. Por
isso, Jesus disse: “Com vossa perseverança salvareis vossas
vidas” (Lc 21,19).
O que significa perseverar?
Perseverar significa a capacidade de resistir
diante de cada dificuldade. A capacidade de resistir carece muitas vezes de um
elevado grau de força de ânimo. A capacidade de resistir, entendida como
perseverança, remete para as nossas forças interiores e para as nossas firmes
decisões. Como disse o filósofo romano, Epicteto (55 d.C-135 d.C. Um dos seus
discípulos era Marco Aurélio): “Cada dificuldade na vida nos oferece uma oportunidade
para nos voltarmos para dentro de nós mesmos e recorrermos aos nossos recursos
interiores escondidos ou mesmo desconhecidos. As provações que suportamos podem
e devem revelar-nos quais são as nossas forças. As pessoas prudentes enxergam
além do incidente em si e procuram criar o hábito de utilizá-lo da maneira mais
saudável. Você possui forças que provavelmente desconhece. Encontre a que necessita
nesse momento. Use-a” (cf. A
Arte de Viver, Editora Sextante).
Esta capacidade não é só para utilizar em
casos alarmantes. Ao contrário, só conseguiremos avançar no nosso caminho, se
procurarmos aproveitar plenamente as diferentes oportunidades de momento, tendo
os olhos sempre postos na meta. Só assim, a nossa capacidade de resistir pode e
deve fortalecer-se, mesmo no meio das dificuldades. É aí que ela se torna mais
necessária.
A capacidade de resistir precisa haurir a
confiança em Deus, confiança que tem que ser sempre renovada na oração. Como
cristãos rezamos sem cessar, pedindo a graça da perseverança final. Estamos,
todavia, conscientes de que isto leva consigo a disponibilidade para mudar/ se
converter, porque estamos conscientes de que a nossa fidelidade é continuamente
posta à prova e de que está exposta a contínuas tentações. Podemos ser tentados
tanto do exterior(escândalo) como do interior. É precisamente no momento da
tentação que entra em ação a capacidade de resistir (lembre-se de que o nosso
velho Adão está sempre à espreita/observar ocultamente).
A espera faz com que cada cristão seja capaz
de desistir em momentos de provação e de luta contra os sintomas do cansaço
humano. Não devemos ignorar que nos finais do século primeiro, a cristandade
primitiva teve que operar uma difícil mudança ao passar de uma espera próxima
para uma espera constante do Senhor. Só a força muito profunda da sua fé lhe
permitiu manter tão grande disponibilidade para essa mudança, expressando assim
a sua capacidade de resistir.
Aquele que estiver aberto à capacidade de
resistir e rezar com perseverança para a alcançar, poderá dizer com o Apóstolo
Paulo: “Tudo posso nAquele que me dá força” (Fl 4,13).
Lucas convida, assim, a comunidade cristã a
trilhar o caminho da fidelidade e da coragem, o caminho que o próprio Senhor
trilhou, mesmo diante da repressão violenta das estruturas do poder, sinagogas,
e reis, mesmo perante a morte violenta (Lc 21,12). Lucas não fornece
informações sobre o fim, mas refunda a esperança no acontecimento central da
morte e ressurreição de Jesus. Se Jesus Cristo venceu a morte, o maior inimigo
da humanidade, o cristão não tem mais nenhuma razão de ter medo. Se o mal
avançar, a confiança em Deus deve avançar também porque Deus sempre terá a
última palavra e não o mundo. Ele convida os cristãos a olharem para a história
para decifrar seus sinais, e reconhecer a presença de Deus pois tudo que
acontece neste mundo está sempre sob o olhar de Deus. O que importa para uma
comunidade cristã é a vivacidade de esperança. É a esperança que arranca o
homem de uma existência sem futuro e sem expectativas. A tristeza e o desânimo
são um sinal da ausência de uma verdadeira esperança cristã que no fundo provém
de uma falta de fé.
Este discurso, portanto, é o discurso sobre o
Senhor Ressuscitado, o Homem fiel até a morte para dar a todos um futuro novo e
diferente e para afirmar aos cristãos ou para quem quer que seja, que vale a
pena lutar pelo que é digno, como o amor, a justiça, a paz etc, pois tudo isto
tem a vitória sobre a morte como o ponto final. Os cristão devem sempre tomar
cuidado para não relaxar, pervertendo o testemunho e acabando por assumir os
vícios provocados pela sociedade injusta. O julgamento está sempre operando na
história. Os cristãos devem, portanto, estar sempre de prontidão, vigiando e
praticando a justiça. Somente a sua perseverança na prática e no anúncio da
justiça lhes permitirá ser considerados justos e inocentes no dia do
julgamento: “Com vossa perseverança salvareis vossas vidas” (.19).
Mas Lucas faz também algum alerta. Quando
ocorrem perturbações políticas, guerras, quando se alastram a fome, as
epidemias, as injustiças, quando a situação de miséria se torna insuportável e
quando um século está para terminar, facilmente, se espalham no meio do povo
boatos sobre o fim do mundo. Normalmente esses tempos difíceis criam um clima
favorável para a atividade dos “visionários”: os devaneios, as supostas “revelações”
ou “aparições” se alastram como o fogo nas folhagens secas e há sempre algum
cristão simplório que acaba se deixando fisgar pelos fanáticos de alguma seita.
Lucas narra este episódio para alertar as
suas comunidades sobre aqueles que confundem os próprios sonhos com a
realidade. Ele convida seus cristãos a abandonar estas pessoas e refletir, ao
contrário, sobre o que fazer, concretamente, para que o mundo (pelo menos no
lugar onde estou) seja melhor, seja um lugar de muito amor e fraternidade.
Portanto a verdadeira preocupação dos cristãos não é o fim do mundo mas saber o
que se deve fazer hoje para que cada um se torne um sinal da esperança onde há
desespero e desânimo, e para que cada um seja a mão de Deus para ajudar aqueles
que estão precisando de nossa ajuda ...etc.
Não precisamos ficar esperando nenhum grande
sinal ou recado do além. A palavra de Deus já é um grande recado de Deus mais
visível. Basta lê-la e traduzi-la na vida cotidiana. Vamos fazer a cada dia
melhor do que o dia anterior com tudo que estiver ao nosso alcance; vamos
resistir, com oração contínua, ao mal com perseverante firmeza, autocontrole
começando com as coisas pequenas de cada dia. É assim que o nosso hoje se torne
melhor que o nosso ontem e o nosso amanhã ficará melhor ainda do que o nosso
hoje. Cada dia temos que conquistar algo de bom na nossa vida. É só assim que
estaremos preparados para qualquer encontro com Deus nos apelos da vida.
Como sabemos muito bem, que o futuro a Deus
pertence, do presente temos que cuidar agora. Nos tempos de hoje, podemos
captar o recado de São Paulo na segunda leitura de hoje, numa frase de uma
canção que maioria de nós sabe: “Quando Jesus passar eu quero estar no meu
lugar”. E “o lugar melhor é o lugar onde
Deus quer”, disse São José Freinademetz: onde tem mais amor, vida, perdão,
fraternidade, partilha, justiça.... Que o Senhor Jesus me encontre nestes
lugares. Que o Senhor encontre a minha família no lugar onde Deus quer.
P.
Vitus Gustama,SVD
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