sexta-feira, 15 de novembro de 2019

18/11/2019
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É PRECISO ENXERGAR A PRESENÇA DE DEUS E DO IRMÃO NECESSITADO
Segunda-Feira da XXXIII Semana Comum


Primeira Leitura:  1Macabeus 1,10-15.41-43.54-57.62-64
Naqueles dias, 10 brotou uma raiz iníqua, Antíoco Epífanes, filho do rei Antíoco. Estivera em Roma, como refém, e subiu ao trono no ano cento e trinta e sete da era dos gregos. 11 Naqueles dias, apareceram em Israel pessoas ímpias, que seduziram a muitos, dizendo: “Vamos fazer uma aliança com as nações vizinhas, pois, desde que nos isolamos delas, muitas desgraças nos aconteceram”. 12 Estas palavras agradaram, 13 e alguns do povo entusiasmaram-se e foram procurar o rei, que os autorizou a seguir os costumes pagãos. 14 Edificaram em Jerusalém um ginásio, de acordo com as normas dos gentios. 15 Aboliram o uso da circuncisão e renunciaram à aliança sagrada. Associaram-se com os pagãos e venderam-se para fazer o mal. 41 Então o rei Antíoco publicou um decreto para todo o reino, ordenando que todos formassem um só povo, obrigando cada um a abandonar seus costumes particulares. 42 Todos os pagãos acataram a ordem do rei 43 e inclusive muitos israelitas adotaram sua religião, sacrificando aos ídolos e profanando o sábado. 54 No dia quinze do mês de Casleu, no ano cento e quarenta e cinco, Antíoco fez erigir sobre o altar dos sacrifícios a Abominação da desolação. E pelas cidades circunvizinhas de Judá construíram altares. 55 Queimavam incenso junto às portas das casas e nas ruas. 56 Os livros da Lei, que lhes caíam nas mãos, eram atirados ao fogo, depois de rasgados. 57 Em virtude do decreto real, era condenado à morte todo aquele em cuja casa fosse encontrado um livro da Aliança, assim como qualquer pessoa que continuasse a observar a Lei. 62 Mas muitos israelitas resistiram e decidiram firmemente não comer alimentos impuros. 63 Preferiram a morte a contaminar-se com aqueles alimentos. E, não querendo violar a aliança sagrada, esses foram trucidados. 64 Uma cólera terrível se abateu sobre Israel.


Evangelho: Lc 18,35-43
35 Quando Jesus se aproximava de Jericó, um cego estava sentado à beira do caminho, pedindo esmolas. 36 Ouvindo a multidão passar, ele perguntou o que estava acontecendo. 37 Disseram-lhe que Jesus Nazareno estava passando por ali. 38 Então o cego gritou: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!” 39 As pessoas que iam na frente mandavam que ele ficasse calado. Mas ele gritava mais ainda: “Filho de Davi, tem piedade de mim!” 40 Jesus parou e mandou que levassem o cego até ele. Quando o cego chegou perto, Jesus perguntou: 41 “Que queres que eu faça por ti?” O cego respondeu: “Senhor, eu quero enxergar de novo”. 42 Jesus disse: “Enxerga, pois, de novo. A tua fé te salvou”. 43 No mesmo instante, o cego começou a ver de novo e seguia Jesus, glorificando a Deus. Vendo isso, todo o povo deu louvores a Deus.
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Estar No Mundo Sem Ser Do Mundo


Durante esta semana que é a penúltima semana do Ano litúrgico lemos uma seleção dos livros dos Macabeus. Na Bíblia católica há dois livros dos Macabeus que são considerados “deuterocanônicos”: foram declarados inspirados por Deus nos concílios de Florença (1441), de Trento (1546) e Vaticano I (1870). Na verdade há quatro livros. Para os judeus e para os protestantes todos os quatro são apócrifos. E por isso, estes livros não se encontram ou não figuram em suas Bíblias. Apócrifo é a palavra grega (apócryphos) que significa escondido, secreto, oculto. Os livros apócrifos são chamados assim porque não eram de uso público ou não eram usados oficialmente na liturgia e no ensino. Há outros livros apócrifos do AT como também há livros apócrifos do NT. Dos quatro livros dos Macabeus dois deles são considerados pela Igreja católica como apócrifos: o 3º Macabeus (130-100 a.C) e 4º Macabeus (século I a.C).


Este Livro relata a “resistência”. Depois de duzentos anos de ocupação persa, a Palestina está agora ocupada pelo Império Macedônia (Norte de Grécia). À morte de Alexandre Magno que conquistou pelas armas seu imenso Império, os judeus são submetidos ao reino grego de Egito. Em 198 a.C os israelitas passam s depender da autoridade dos gregos de Síria. Sob essa dinastia, Antíoco IV Epifanes (175-163 a.C) quer impor a todos os seus súditos a cultura grega, que lhe parece ser a única verdadeiramente humana.


Os dois livros partem de uma ideia: a fé de Israel está correndo perigo, pois há oposição evidente entre o judaísmo (2Mc 2,21;8,1; 14,38) e o helenismo (2Mc 4,13-14; 11,2-3). Há tentação forte da parte do povo israelita de adotar a civilização grega que é mais elevada e desenvolvida do que a civilização judaica. Mas tem um preço alto a pagar: renunciar aos valores sagrados, que significa uma traição à fé da Aliança. Israel teve de lutar ao longo de sua história contra o sincretismo religioso. E agora tem que lutar contra outro tipo de sincretismo que o helenismo propõe. Uma parte do povo adotou o helenismo (apostasia). Mas a maioria conservadora recusou, pois o povo israelita é um povo eleito (2Mc 1,25). A identidade como o povo eleito conduz o povo para um nacionalismo feroz através do martírio. O povo israelita acredita que aquele que morre pela lei, ele experimentará a ressurreição dos justos (2Mc 7,9).


Nesta luta o povo israelita tem uma convicção forte de que Deus não abandona seu povo da Aliança e por isso, o povo se apoia sempre em Deus na sua luta. As principais armas que o povo usa para cada batalha são a oração, o jejum e a leitura da Bíblia (1Mc 3,48), pois quem decide a batalha é o próprio Deus.


A Primeira Leitura de hoje nos narra a diversa reação dos israelitas diante da ordem de adotar a religião oficial pagã. A Pelestina, sob o poder dos Selêucidas, é invadida pela civilização grega. Para os israelitas foi um tempo difícil: “Uma cólera terrível se abateu sobre Israel”. O pecado dos judeus apóstatas não era a aceitação ou não da cultura helênica, mas "aboliram o uso da circuncisão e renunciaram à aliança sagrada. Associaram-se com os pagãos e venderam-se para fazer o mal” e "Eles ofereceram sacrifícios aos ídolos e profanaram o sábado".


A tentação da secularização cuja tendência é o secularismo, continua existente. Mas para começar digamos que “secular”, “secularidade” e “secularização” fazem referência a “ser e estar no mundo” (no século). Quando falamos de secularidade para a Igreja ou para o cristianismo, entendemos com isso como “a maneira peculiar de ser Igreja encarnada”, no mundo e para o mundo. Certamente como sacramento de salvação.


Enquanto que secularização denotaria, em sentido negativo, a autonomia total do mundano e a separação com relação ao cristianismo e à Igreja. Em outras palavras, estaríamos falando de laicismo. O Vaticano II, em Gaudium et Spes, admite uma “relativa otonomia” do civil, isto é, uma sã secularidade.


Os elementos que devemos levar em conta são os seguintes: Primeiro, o Ser e o Fazer (identidade: Qual é nossa identidade, e missão: Como devemos atuar a partir de nossa identidade) de uma Igreja que vive no mundo e para o mundo, exerce sua missão no mundo e por meio do mundo. É uma Igreja plenamente encarnada. Podemos estar no mundo, mas sem ser do mundo (sem ser mundano). Segundo, o Ser e o Fazer dos fieis leigos. Porque neles e por eles a Igreja vive “em plenitude e profundidade” a inserção no mundo: Sal da terra e luz do mundo. Esta “índole secular”, é a chave para entender a teologia e espiritualidade laical. Terceiro, o Ser e o Fazer dos presbíteros (diocesanos/seculares). Se a perfeição do presbítero diocesano ou secular consiste em viver a radicalidade da caridade pastoral, então está se encarnando na vivência no século.


Todas as formas de vida na Igreja estão no século, são seculares, ainda que a grande diferença sejam as formas de viver os dons do Espirito. Neste sentido, convem não nos esquecermos que nós cristaos estamos no mundo sem ser do mundo. A pastoral, no terreno da secularidade, se move entre a inserção real e trans-secularidade. Porque a logica e dialética do Reino de Deus é esta: “Já presente, mas não realizado em plenitude”. Estamos permanentemente na mudança de tempo.


Podemos ser modernos e assumir todos os progressos da ciência e da cultura, mas o que não temos que perder é nossa fé e nosso estilo cristão de vida. Somos “o sal da terra” e “a luz do mundo” (Mt 5,13-14). Ai está nosso testemunho: ser fortes para lutar contra corrente. Ou pode seguir corrente sem nos deixar levar pela correnteza do modernismo. Os judeus fieis foram assim com todas as consequências: “Muitos israelitas resistiram e decidiram firmemente não comer alimentos impuros. Preferiram a morte a contaminar-se com aqueles alimentos. E, não querendo violar a aliança sagrada, esses foram trucidados”. Nos seus lábios põem o Salmo Responsorial de hoje: “Quando vejo os renegados, sinto nojo, porque foram infiéis à vossa lei.... Mesmo que os ímpios me amarrem com seus laços, nem assim hei de esquecer a vossa lei”.


Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno. Eles não sou do mundo como eu não sou do mundo” (Jo 17,15-16), assim rezou Jesus na despedida dos seus discípulos, antes de sua condenação e morte.


É essencial para nossa fé que seja encarnada, que esteja imersa no coração do mundo pagão. Deus não quis nunca que seu povo fosse um povo protegido dentro dos templos, encerrado em suas fronteiras: os crentes dentro, e os pagãos fora. Deus quis, e isto é um fato, que os crentes fossem “dispersos”, encarnados, testemunhas, fermento, em meio dos que precisam de Deus.


Senhor Que Eu Enxergue Sua Presença Para Entender o Sentido Da Minha Vida


Continuamos escutando as ultimas e importantes lições dadas por Jesus no seu caminho para Jerusalém (Lc 9,51-19,28).


No Evangelho deste dia o evangelista Lucas conta como Jesus, depois de anunciar sua Paixão e ressurreição, curou um cego dentro do contexto de uma subida para Jerusalém. A incredulidade dos apóstolos é um tema freqüente nos anúncios da Paixão e da subida para Jerusalém. Os apóstolos ficam como que cegos diante deste anúncio. Jesus não para de dar lições para que os apóstolos possam entender o sentido da missão de Jesus que, um dia, eles devem levá-la adiante.


Por isso, a intenção do evangelista Lucas é bem clara ao colocar este episódio aqui: para compreender o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus é preciso abrir os olhos da fé para poder entender as Escrituras. Os meios humanos são inadequados. É preciso deixar-se conduzir por outro para descobrir a Luz.


Como Deus é Luz, ele colocou seus olhos nos olhos de Jesus para poder olhar para nosso mundo como ninguém neste mundo. E como Jesus é a Luz do mundo (cf. Jo 8,12), ele devolveu a visão para o mendigo cego: “Enxerga, pois, de novo. Tua fé te salvou!”, disse Jesus ao cego.


Um provérbio árabe diz: “Vem a mim com teu coração e eu te darei meus olhos”. Jesus também nos diz: “Vem a mim com teu coração!”. Temos que nos aproximar de Jesus com nosso coração, com nossa coragem de ver, de vê-Lo todo e de ver o mundo e os outros homens como Deus os vê: com amor e compaixão. A fé também é um grito de socorro: “Jesus, tem piedade de mim!”. Jamais podemos desistir de gritar a Jesus para pedir socorro, como pediu o cego mendigo. Somente os olhos de Jesus podem nos fazer ver com alegria a vida até nas suas dores. 


Não há nada que seja mais belo ou formoso na vida do que poder ver: ver o rosto da mãe ou do pai, ver o sorriso de uma criança, ver os olhos da pessoa amada, ver uma passagem, ver o sol, a natureza, a obra dos homens, ver “as obras dos dedos de Deus” (Sl 8,4) e assim por diante. Jesus nos chamou para ver: “Venham e vejam!” (Jo 1,39), disse Jesus aos dois discípulos de João que mais tarde se tornarão discípulos seus. É para ver a vida a partir de uma perspectiva especial para poder caminhar na direção certa.


O olhar é um dom precioso e fascinante legado pelo Criador. É uma das áreas humanas que mais chama a atenção das pessoas. O olhar é como uma bússola a guiar nossos passos, nossos gestos, nossas atitudes. O olhar sempre está aí atento a um ou outro detalhe. Os olhos determinam um pouco ou muito do que somos. E o olhar é sempre anterior às nossas palavras.


É tão natural olhar, que nem nos damos conta desse misterioso gesto. Muitas vezes olhamos; poucas vezes, porém, nos encontramos. Alguns se limitam a olhar os outros para anotar seus possíveis defeitos. Não deixa de ser a mais trágica expressão de nossa crueldade. O olhar superficial jamais enxerga alguém; os outros são objetos de curiosidade, de conversa.


O cego da nossa história está sentado à beira do caminho e pede esmola. O estar sentado significa acomodação, instalação, conformismo. Ele está privado da luz e da liberdade e está conformado com a sua triste situação, sabendo que, por si só, é incapaz de sair dela. E o pedir esmola indica a situação de escravidão e de dependência em que o homem se encontra.


Num diálogo público com o cego, Jesus pergunta ao cego sobre o que ele quer: “O que queres que eu faça por ti?”. E o cego sabe muito bem daquilo que ele quer: “Senhor, que eu veja!”. “Enxerga, pois, de novo. Tua fé te salvou” é a resposta de Jesus. E aconteceu o milagre. A Palavra de Jesus devolve ao cego a vista como símbolo da fé. Por isso, o evangelista Lucas nota que esse homem, depois que ficou curado, “seguia a Jesus”. É um corte radical com o passado, com a vida velha, com a anterior situação, com tudo aquilo em que se apostou anteriormente, a fim de começar uma vida nova ao lado de Jesus.


Diante de Jesus e com Jesus não há situação por difícil que seja que não haja solução. É preciso, no entanto, que não nos fechemos no nosso egoísmo e na nossa auto-suficiência, surdos e cegos aos apelos de Deus; é preciso que as nossas preocupações com os valores efêmeros não nos distraiam do essencial; é preciso que aprendamos a reconhecer os desafios de Deus nesses acontecimentos banais com que, tantas vezes, Deus nos interpela e questiona.


Uma das razões que nos impedem de sermos autenticamente nós mesmos e encontrar nosso caminho é não compreender até que ponto estamos cegos. Mas a tragédia está no fato de que não estamos conscientes de nossa cegueira. Vivemos num mundo de coisas que captam ou chamam nossa atenção e se impõem. O que é invisível, ao contrário, que não se impõe, nós devemos buscá-lo e descobri-lo. O mundo exterior pretende nossa atenção. Enquanto que Deus se dirige a nós com discrição.


Ser incapaz de perceber o invisível, ou ver somente o mundo da experiência significa ficar-se fora do mundo da experiência, significa ficar-se fora do pleno conhecimento, significa ficar-se fora da experiência da realidade total que é o mundo de Deus e Deus no coração do mundo.


Além de ser incapaz de perceber o invisível, o egoísmo reduz o homem a seus próprios desejos e interesses, lhe fecha os olhos e o coração, o paralisa à margem do caminho por onde percorre a vida. O homem que vegeta em seu egoísmo tem um coração demasiado estreito para acolher o próximo e demasiado estreito para receber Deus.


O encontro com o próximo é indispensável para o encontro com Deus, pois isto é o primeiro que cremos: que Deus se fez homem (Jo 1,14). Não é possível escutar a Palavra de Deus, se não estamos dispostos a escutar os homens. Por isso, a dificuldade da fé não é outra coisa que nosso próprio egoísmo, nossa auto-suficiência, porque a fé é abertura, encontro, aceitação.


O cego que voltou a ver é o símbolo de todos os homens que desejam ver, caminhar e viver. Sobretudo é um símbolo para todos em tempos de crise, de obscuridade, de desorientação. É um símbolo para o homem que, apesar de tudo, busca e continua buscando sua direção ou seu guia para sua vida. Junto ao homem que busca, Jesus passa como a Vida, a Luz e o Caminho para o homem. Com Jesus o homem se encontra consigo mesmo e com Deus que direciona a vida para sua plenitude. A fé em Jesus é uma luz que ilumina a vida. A luz da fé ilumina e dá sentido à nossa vida porque põe claridade na origem, de onde viemos e no término, no fim de nosso destino.


O cego não pede outra coisa a não ser a capacidade de enxergar de novo: “Senhor, que eu possa enxergar de novo”. A luz divina que opera nele não lhe permite ver outra coisa na vida a não ser o caminho que Jesus traçou que ele precisa trilhar para chegar à vida eterna.


E os nossos olhos servem para enxergar o caminho de Jesus ou para ver os defeitos dos outros? Quem enxerga apenas os defeitos dos outros é porque a luz divina ainda não operou na sua vida. Precisamos rezar com o cego mendigo: “Senhor que eu possa enxergar de novo!”.
P. Vitus Gustama,svd

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