terça-feira, 29 de agosto de 2023

31/08/2023-Quintaf Da XXI Semana Comum

ESTEJAMOS VIGILANTES, POIS O SENHOR VIRÁ REPENTINAMENT

Quinta-Feira Da XXI Semana Comum

Primeira Leitura: 1Ts 3,7-13

Irmãos,7 ficamos confortados, em meio a toda angústia e tribulação, pela notícia acerca de vossa fé. 8 Agora sentimo-nos reviver, porque vós estais firmes no Senhor. 9 Como podemos agradecer a Deus por toda a alegria que nos invade diante do nosso Deus, por causa de vós? 10 Noite e dia rezamos efusivamente para vos rever e completar o que ainda falta na vossa fé. 11 Que o próprio Deus e nosso Pai, e nosso Senhor Jesus dirijam os nossos passos até vós. 12 O Senhor vos conceda que o amor entre vós e para com todos aumente e transborde sempre mais, a exemplo do amor que temos por vós. 13 Que assim ele confirme os vossos corações numa santidade sem defeito aos olhos de Deus, nosso Pai, no dia da vinda de nosso Senhor Jesus, com todos os seus santos.

Evangelho: Mt 24,42-51

Naquele tempo disse Jesus aos seus discípulos: 42 “Ficai atentos! porque não sabeis em que dia virá o Senhor. 43 Compreendei bem isso: se o dono da casa soubesse a que horas viria o ladrão, certamente vigiaria e não deixaria que a sua casa fosse arrombada. 44 Por isso, também vós ficai preparados! Porque na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá. 45 Qual é o empregado fiel e prudente, que o senhor colocou como responsável pelos demais empregados, para lhes dar alimento na hora certa? 46 Feliz o empregado, cujo senhor o encontrar agindo assim, quando voltar. 47 Em verdade vos digo, ele lhe confiará a administração de todos os seus bens. 48 Mas, se o empregado mau pensar: ‘Meu senhor está demorando’, 49 e começar a bater nos companheiros, a comer e a beber com os bêbados; 50 então o senhor desse empregado virá no dia em que ele não espera, e na hora que ele não sabe. 51 Ele o partirá ao meio e lhe imporá a sorte dos hipócritas. Ali haverá choro e ranger de dentes”.

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Viver Solidamente Na Fé e No Amor Na Esperança Da Segunda Vinda Do Senhor 

Noite e dia rezamos efusivamente para vos rever e completar o que ainda falta na vossa fé... O Senhor vos conceda que o amor entre vós e para com todos aumente e transborde sempre mais, a exemplo do amor que temos por vós.... Que assim ele confirme os vossos corações numa santidade sem defeito aos olhos de Deus, nosso Pai, no dia da vinda de nosso Senhor Jesus, com todos os seus santos”, é a oração e o desejo de São Paulo para os tessalonicenses. 

Estamos no ano 51 depois de Cristo, e São Paulo está longe da comunidade cristã tessalonicense. Depois de uma evangelização tão curta (algumas semanas), São Paulo tem uma preocupação de que a fé dos tessalonicenses seja frágil e cheia de lacunas. A causa da perseguição, São Paulo era obrigado a sair da Tessalônica antes do tempo que ele queria. Por isso, podemos entender o sentido da frase “Noite e dia rezamos efusivamente para vos rever e completar o que ainda falta na vossa fé”. 

São Paulo conclui a primeira parte de sua carta aos tessalonicenses com uma oração: de ação de graças, de um desejo e de uma súplica.  Ação de graças porque através da notícia de Timoteo enviado para a Tessalônica São Paulo fica sabendo que os cristãos de Tessalônica continuam firmes na fé. Surge então o desejo de São Paulo para voltar a visitar a comunidade tessalonicense. Embora a comunidade tessalonicense se mntenham firmes na fé. E ele suplica a comunidade de Tessalonica que cresça e fique abundante no amor que é essencial para a vida cristâ. 

Em outras palavras, a oração de São Paulo se desenvolve segundo uma estrutura bem precisa: vv.10-11 fazem a alusão à fé dos tessalonicenses; o v.12 recorda sua caridade e o v.13, sua esperança (Fé Esperança e Caridade- Virtudes teologais). 

A fé e o amor sólidos assegrurarão os cristãos de Tessalônica uma santidade irreprovável. Mas a comunidade deve crescer sem cessar na esperança da Parusia do Senhor (1Ts 5,23; 1Cor 1,8). 

O cristão não pode ter a fé sem o amor e nem o amor sem a esperança. Com a vivência do amor, da fé e da esperança inseparadamente, o cristão é capacitado a dar a todas as coisas um sentido novo em Jesus Cristo: o sentido que ele dá à vida, à morte e à ressurreição do homem-Deus, o sentido que ele dá à vida dos homens, entre eles e o sentido que ele dá à peregrinação terrestre da humanidade. Além disso, o amor amadurecido pela fraternidade e aberto a todos (amor ágape) constitui a melhor preparação e a mais sólida grantia para o encontro decisivo com o Deus de amor (cf. 1Jo 4,8.16). 

Viver Na Permanente Vigilância Faz Parte Inseparavel De Nossa Fé No Deus Que Virá Na Sua Parusia

 Não enganes a ti mesmo. Gostes ou não, não és mais que um convidado, um transeunte, um peregrino neste mundo. Podes, pois, adoçar teu caminho; porém, por mais que queiras, não poderás converter-te em residente(Santo Agostinho. In ps. 120,14) 

O conjunto de Mt 24,1-25,46 forma o quinto Discurso de Jesus no evangelho de Mateus: o Discurso sobre o fim do mundo. Trata-se de um discurso apocalíptico-escatológico. 

O termo “apocalipse” é muito longe da linguagem moderna que suscita imediatamente idéias de catástrofe, de desastre total, de comoções cósmicas aterradoras. No entanto, a linguagem apocalíptica quer expressar a fé e a esperança numa orientação divina da história humana e da criação. Os autores de apocalipses, diante do desenvolvimento de fatos inevitáveis, de catástrofes, de ruínas e de mudanças históricas, cantam sua esperança no cumprimento das promessas movidos pela fé no triunfo de Deus, aparentemente impossível, porém seguro: Deus triunfará sobre o mal. Conseqüentemente eles querem transmitir a força, o ânimo e a perseverança em seguir os mandamentos do Senhor, pois no fim a última palavra será a Palavra de Deus e não a do homem. 

Na primeira parte do quinto discurso de Jesus (Mt 24,4-41), ao revelar o futuro dos discípulos, um futuro “presente”, Jesus quer ajudá-los a entender como devem viver na história a missão que lhes é confiada para pregar o Evangelho do Reino a todas as nações (24,14; 28,18-20), confiando em Sua Palavra (Mt 24,25).

O quinto discurso é chamado também de “o discurso escatológico”. “Escatologia” é o discurso sobre o que ocorrerá no fim. Quando falamos de realidades futuras e finais (escatologia), o texto assinala duas expressões: “Vinda do Senhor” e “Fim do mundo”. Quando intentamos a viver à espera do encontro com o Senhor, que terá lugar para o final da história, então dizemos que estamos dando um “sentido escatológico” para nossa existência. O mandato será: “Vigiai porque não conheceis nem o dia nem a hora”. O discurso termina falando do “encontro” com o Senhor glorioso (Mt 25,31-46). 

O texto do evangelho de hoje começa com a seguinte ordem: “Ficai atentos! Porque não sabeis em que dia virá o Senhor”. Esta é a mensagem que a Palavra de Deus dirige a cada um de nós hoje. “Ficai atentos! Estejais vigilantes!”. Por um lado, é a certeza da vinda-regresso do Senhor. Por outro lado, a incerteza do “quando” desta vinda. Esse fato põe, de manifesto, a importância do tema sobre a vigilância. São João Crisóstomo dizia: “Se os homens conhecessem o momento de sua morte, eles se preparariam com grande empenho e cuidado para essa hora”. Jesus nos disse isto com parábolas que encontramos neste quinto discurso. 

“Ficai atentos! Porque não sabeis em que dia virá o Senhor”. Ficai atentos! Estejam vigilantes! Velar ou vigiar, em sentido estrito, significa renunciar ao sono da noite para terminar um trabalho urgente e importante ou para não ser surpreendido pelo inimigo. Em um sentido mais simbólico significa lutar contra a negligência para estar sempre em estado de disponibilidade. É viver uma vida atenta à voz do Senhor e vigilante diante dos sinais da realidade. 

Vigiar significa não distrair-se, não adormecer-se. Vigiar faz parte inseparável da própria atenção. O cristão não pode ser alienado. Ser vigilante faz parte do discipulado. Quem é vigilante nota com facilidade o que está acontecendo ao redor. A vigilância é a atitude própria do amor que vela. O amor mantém o coração alerta e a disponibilidade para ajudar. No meio de uma sociedade que parece muito contente com os valores que tem, o cristão é convidado a viver na esperança vigilante. Vigiar significa ter o olhar posto nos “bens de cima”. Vigiar é viver despertos, em tensão, mas não com angústia e sim com seriedade. O cristão precisa se esforçar por buscar sempre as “coisas do alto”, os valores que o edificam e salvam, como a fraternidade, o amor, a solidariedade, o projeto de Deus, entre “as coisas de baixo”, como egoísmo, ganância, exploração, arrogância, ódio e assim por diante. Em outras palavras, nós cristãos temos que ser protagonistas não somente da espera do Reino, mas também de sua construção desde agora neste mundo. 

A vigilância perseverante nos leva a ser considerados bem-aventurados pelo Senhor quando vier: “Feliz o empregados cujo senhor o encontrar agindo assim quando voltar” (Mt 24,46). Será que o Senhor vai me considerar bem-aventurado quando ele chegar? É a pergunta que nos faz vigilantes e nos faz revermos nossas atitudes. Estou suficientemente atento e disponível para escutar os sinais, através dos quais Deus me apresenta as suas propostas? 

A vigilância, para um cristão, não é opcional. O futuro de cada homem é imprevisível. A imprevisibilidade do futuro reclama vigilância. O homem prudente, sensato não considera a atitude vigilante como algo simplesmente possível, uma entre outras muitas opções. A vigilância é a melhor opção. Vigiar para ser capazes de dominar os acontecimentos, no lugar de ser dominados por eles. Vigiar para não perder jamais a paz. Vigiar para descobrir a escritura de Deus nas páginas da história. Vigiar para saber descobrir a ação do Espírito no nosso interior. Vigiar para manter íntegras a fé, a esperança e a caridade. A vigilância não é um opcional e sim uma necessidade vital. Vigiar é viver como o lavrador que semeia e está sempre pensando em ter boa colheita, e como o desportista que, desde o primeiro esforço, sonha em chegar primeiro à meta. 

Um cristão não pode ser nem estar alienado. Ele deve estar em alerta constante, sempre pronto para a ação, e preparado para servir dia e noite. Servir para o cristão não é opcional, é lei constitutiva da vida cristã. O Senhor voltará com toda segurança no nosso encontro derradeiro. O discípulo não pode ficar adormecido. Ele deve permanecer alerta, sempre em tensão e em atenção. Somente assim ele assegurará a comunhão com o Senhor no gozo e no amor. 

É sábio quem vive na vigilância permanente e sabe olhar para o futuro. Não é porque não saiba gozar da vida presente e cumprir suas tarefas de hoje e sim porque sabe que é peregrino nesta vida e o importante é assegurar-se sua continuidade na vida eterna. É viver com uma meta e uma esperança. Por isso, o trabalho neste mundo para o cristão é um compromisso pessoal para transformar-se a si mesmo e para transformar o mundo em que vive.     

A fé é sempre um êxodo, uma saída, o começo de um caminho até o futuro de Deus que nos traz a salvação. Quem crê está sempre de passo, vive como um estrangeiro, como um nômade. Assim viveu Abraão, inclusive na terra que Deus lhe havia prometido (Gn 17,8; 20,1; 21,23; 24,37). A “terra prometida” é o símbolo da cidade futura, da cidade que Deus constrói para os que a buscam e põem nela toda sua esperança. No campo aberto pela promessa de Deus, o homem de fé se arrisca investindo toda sua vida e gera nova vida sobre sua debilidade ou fraqueza. 

O cristianismo não está preocupado pela futurologia que se sustenta nas possibilidades humanas, nas previsões e tendências atuais para prever o futuro, e sim radicalmente pelo futuro que provem da promessa de Deus. Para Deus promessa significa certeza: “As minhas Palavras não passarão”, disse Jesus (Mc 13,31). Para Jesus o depois se inicia como algo já presente no agora. Isto que dizer que já agora temos que viver como viveremos depois, como rezamos no Pai-Nosso: “assim na terra como no céu”.

P. Vitus Gustama,svd

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